Nota da Autora: Desculpem a ausência, estou mesmo enrolada. Esse capítulo foi escrito em tempo recorde, dois dias. Espero que gostem e não vou mentir, continua angst. Só um pouco de paciência. Ah! E o proximo só depois do dia 20, pois estarei viajando.... enjoy!
Cap.16
Tori arregalou
os olhos levantando-se da cadeira ja no intuito de acudir Kate.
- Detetive,
está tudo bem? – ela se preocupou em afasta-la dos cacos de vidro e limpar a
sujeira na mesa deixada pelo café. Puxou uma cadeira e fez Beckett se sentar –
o que foi, por que você ficou tão abalada?
- Tori, me dá
um minuto para raciocinar... – ela baixou a cabeça segurando-a com as duas
mãos. De todas as pessoas, aquele desgraçado era o único que ela não gostaria
de topar. Ele estar envolvido em tudo isso significava duas coisas muito
importantes: o dinheiro seria usado para financiar sua campanha suja para a
presidência e sua vida e de Castle estavam correndo perigo. Ela teria que agir
com muita cautela com relação a Bracken. Se divulgasse essa informação agora,
qualquer chance de prendê-lo estaria arruinada. Precisaria jogar com as cartas
certas, esperar para encurrala-lo. Entendia porque ela o viu no Capitólio.
Estava a um passo de travar mais uma batalha entre eles, se conseguisse agir
certo poderia ser o fim de uma guerra contra ela, Castle e principalmente sua
mãe. Controlar suas emoções, essa era a chave de tudo.
Ela ergueu a
cabeça passando as mãos no cabelo, suspirou antes de virar-se para Tori a fim
de dar a ela suas orientações. Se a técnica não quisesse colaborar, teria um
grande problema nas mãos.
- Tori,
preciso que se sente e me escute com a máxima atenção. Não me interrompa e nem
faça perguntas antes de eu terminar de explicar o que temos a fazer – a técnica
que já limpara a sujeira, se colocou sentada de frente para Beckett pronta para
ouvi-la, vendo que a moça apenas a aguardava, Beckett falou – o nome que você
descobriu é muito poderoso. O senador Bracken é um futuro candidato a
presidencia dos Estados Unidos. Por motivos que eu não posso revelar, eu e ele
já nos encontramos algumas vezes ao longo do caminho e posso garantir que não
foi nada amistoso. Esse homem que inspira confiança em muitos novaiorquinos tem
uma longa história de falcatruas e violência. O problema é que ele é esperto
demais. Muitos já pagaram por seus crimes e Denver não será diferente. Claro
que o senador do Alabama tem culpa no cartório, mas iremos descobrir até onde
ele está disposto a ir quando eu o pressionar contra a parede, se ele não
revelar nada de Bracken teremos a velha história se repetindo. Não posso correr
riscos, Tori. Você vai gravar e guardar muito bem essa evidência que descobriu,
não pode mostra-la a ninguém. Terei que usa-la quando chegar a hora. Pense como
o momento do all-in em um jogo de poquer, preciso ter certeza de que não
jogarei a chance de prendê-lo no lixo. Posso contar com você, Tori?
- Quando você
fala crimes, o quão sério é isso?
- Muito grave.
Crimes que podem acabar com a reputação dele. Não se iluda, ele não irá hesitar
em eliminar quem esteja em seu caminho.
- Então,
ninguém pode saber?
- Ninguém, nem
os rapazes, nem McQuinn. Muito menos a Capitã. Somos somente eu e você, Tori. O
que me diz? – Beckett tinha medo que ela amarelasse e se isso acontecesse, a
informação chegaria aos ouvidos da capitã e Gates não pensaria duas vezes antes
de afasta-la do caso e do distrito. Viu a moça a sua frente remexer as mãos
repetidas vezes. O gesto de engolir em seco também ficou evidente como uma clássica
demonstração de nervosismo. Ela estava ponderando suas alternativas.
- Se você foi
capaz de arriscar sua vida e a do seu bebê para trazer um homem como o senador
Denver à justiça, eu posso guardar um segredo como esse. É o mínimo que poderia
fazer, detetive.
- Certo,
obrigada Tori e por favor, não me chame de detetive. A moça sorriu.
Meia hora
depois, Gates bateu à porta da sala.
- Beckett,
pode vir a minha sala um minuto?
- Claro. Ela
seguiu a capitã sem dizer nada até que a porta da sala estivesse fechada.
- Muito bem,
Beckett. Vamos colocar algumas coisas em perspectiva. Hoje aqui nesse distrito
durante essa investigação você é mera ouvinte. Poderá entrar na sala com meus
detetives, porém irá apenas analisar a cena. Claro que eu sei que como esse
caso era seu, conhece detalhes que podem passar batido aos demais. Mesmo assim,
não quero intromissão. Combine um sinal e faça com que eles saiam da sala para
que você possa orientá-los. Se preferir poderá ficar observando pelo vidro e
colocamos um microfone ligado a eles para que você dê dicas. Na verdade, esse
seria o jeito melhor de lidarmos com isso.
- Capitã, com
todo o respeito, não posso concordar com isso. Esse homem tentou matar a mim e
ao meu marido. Ele queria destruir nossas vidas em nome da ganância. Foi a mim
que ele temeu e enfrentou da última vez em Washington, eu tenho a chance de
quebra-lo. Ele não sabe das gravações. Tudo isso seria um choque para ele.
- Beckett é
exatamente por isso que não quero você no interrogatório. Pelo que você acabou
de falar. Esse homem te colocou em perigo, mas não sabe do que você fez. Ele
sequer sabe que você está viva! Não entende? Você é o nosso elemento surpresa!
Quando ele se recusar a cooperar e dizer o nome do capanga e seu paradeiro é
quando a gravação entrará em cena. Sim, porque para todos os efeitos queremos
apenas as informações do suspeito de provocar o acidente ao Mr. Castle.
Precisamos da ponta solta para então puxarmos todo o novelo e desenrolarmos o
caso a fim de prende-lo. Esse homem sairá daqui direto para a cadeia.
Cozinharemos um pouco ele por aqui até que tenhamos o capanga em nossas mãos
depois, prisão. Claro que os advogados tentarão coloca-lo para responder o
processo em liberdade, mas sendo esse um caso federal cabe a outra instância
decidir o que farão. Nossa obrigação é obter respostas.
- Capitã Gates
não me tire completamente da investigação. Sei que ele tem uma dúvida se estou
viva ou morta então porque não brincar com isso? Usar ao nosso favor? Sei que
posso quebra-lo...
- É claro que
pode. Kate, escute por um instante. Esse homem lhe quer morta. Ele não se
importa com você ou com o seu bebê. Não pode arriscar tudo!
- Eu preciso!
Por mim, por Castle! – a voz de Kate já estava alterada – não posso ser apenas
uma voz nas sombras, ele precisa me ver acabando com cada pedacinho dele. Desmoronando
seu castelo de cartas.
- Kate, você
sabia que o senador Denver esteve no hospital quando você estava internada
querendo saber se sobrevivera? Não? – ela viu a confusão no rosto dela – pois
esteve. E pelo depoimento da enfermeira tudo indica que era para se certificar
de que você não teria chance. Entende agora minha preocupação? Sei que você é a
nossa arma secreta e acredite ninguém mais do que eu aqui quer fazer justiça
para você e sua família, mas terá que confiar em mim.
- Por que não
me contou? Escondeu de mim informações importantes?
- Não escondi.
Pedi para omitirem e os meus detetives fizeram isso. Quero fechar um acordo com
você. Fique atrás do vidro, dê orientações. Se o senador não cooperar com a
localização do seu capanga, você entra quando precisarmos arrancar o outro
crime, o federal. Não iremos revelar que você está viva. Deixe-o perguntar, dê
a ele o benefício da dúvida. Posso contar com você? – Kate suspirou, queria
muito participar disso tudo, olhar nos olhos do safado e acusa-lo. A estratégia
de Gates era boa, mas precisava de ajustes.
- Eu aceito,
mas teremos que mudar uma parte desse plano.
- Sou toda
ouvidos – disse Gates.
Washington -
uma hora antes
O senador
Robert Denver estava sentado em seu gabinete olhando fixamente para um
documento federal. A sua frente, dois detetives da NYPD e um agente federal
aguardavam-no. O semblante sério não demonstrava nem de longe a raiva e o medo
que o dominavam por dentro. Se esta intimação fosse apenas da polícia, ele
conseguiria burla-la, porém o papel timbrado do tribunal superior de justiça e
a carta em anexo do próprio bureau tornava tudo oficialmente federal. Até ali
tratava-se de uma conversa de esclarecimento como o agente a sua frente
dissera, além disso lhe deu total liberdade de contatar seu superior para
qualquer dúvida pertinente a isso. O que o irritava era o fato da jurisdição
não estar em DC, do contrário poderia fazer algumas ligações e acionar alguns
delegados e tenentes corruptos para livra-lo dessa por conta de favores do
passado. New York era outra história.
- Posso saber
por que devo ir a New York?
- Claro,
senador. O crime que estamos investigando aconteceu lá, portanto obedecemos à
jurisdição correta. Estamos falando de uma tentativa de homicídio.
- E o que eu
tenho a ver com isso? Não vivo em New York.
- Desculpe,
senhor. É parte da investigação a qual não podemos revelar. O senhor precisará
nos acompanhar até o 12th distrito da NYPD – disse Ryan.
- Preciso de
advogado?
- É uma
decisão sua, senhor. Acreditamos que saiba melhor do que nós.
- Vou encarar
isso como uma prestação de serviços para o país, como cidadão. Vocês entendem
que para eu me deslocar daqui de repente preciso refazer minha agenda, remarcar
compromissos. Será que podem me dar alguns minutos para alguns telefonemas?
Preciso avisar minha familia também – os três se entreolharam e levando em
consideração que não podiam expo-lo ainda, Esposito assentiu.
- Tudo bem. O
senhor tem dez minutos.
- Dez? Não
consigo fazer nem um telefonema em dez minutos. Quero pelo menos vinte.
- Tudo bem,
vinte – se vingaria dele na sala de interrogatório pensou Espo.
Enquanto eles
esperavam do lado de fora, o senador pegou o telefone e discou.
- Onde quer
que esteja, venha para New York. A polícia está na nossa cola e você já sabe o
que isso significa. A sua prisão. A coisa é grande. Envolve os federais.
Mandarei outra pessoa lhe dar intruções.
Desligou e em
seguida acionou a esposa. Explicou que surgira uma viagem de emergência e
ficaria o final de semana fora. Disse que ia deixar umas orientações para
Joseph, seu advogado, caso precisasse de seus serviços nesse período. Falou com
o advogado e o deixou de sobreaviso, disse que postergaria a reunião deles na
parte da tarde, mas que ele poderia dar andamento ao projeto discutido. Sua
última ligação foi para Bracken, novamente desmarcando uma reunião, porém
garantindo que o orçamento do projeto do Alabama estava em ordem e portanto
poderia ser executado.
O projeto do
Alabama ao qual se referia era o acordo prévio que firmaram caso a intimação
dele ocorresse. Estava entrando numa enrascada e infelizmente não conseguia
imaginar se haveria uma saída para ele. O sócio tivera razão. Nada o salvaria.
Ele manteria a máscara por quanto pudesse aguentar. Seu maior temor era não
saber ao certo até onde os federais chegaram no esquema. Basicamente a merda
não respingaria nele, pelo contrario, o afundaria.
Mantendo a
pose, ele pegou o paletó e a pasta deixando a sala. Despediu-se da secretária e
cordialmente chamou os detetives.
- Podemos ir?
O dever para com o meu país me chama. Ryan olhou para Esposito que deu um meio
sorriso. Na sua mente ele respondera ao senador “certo, aposto que está
sentindo seu rabo assando, babaca. Vamos ver por quanto tempo você irá manter
esse disfarce.”
A viagem para
New York foi tranquila. Nenhuma palavra trocada e apenas uma parada feita.
Esposito insistiu várias vezes se o senador não gostaria de ir ao banheiro
imaginando que ele se recusaria mesmo que estivesse a beira de urinar. Assim
que cruzaram os limites de Manhattan, Esposito pediu a McQuinn que estava
dirigindo para seguir diretamente para o distrito. Ele ligou para Gates
avisando que estavam no caminho. Quando as portas do elevador do quarto andar
se abriram, os detetives e o agente federal saíram acompanhando o senador.
Ninguém o algemara ou o escoltara, a princípio sua presença ali era cordial.
Beckett estava escondida na sala de observação. Gates estava com ela. Esposito
pediu para que Ryan acomodasse o senador na sala de interrogatório alertando
para lhe servir café e água se ele desejasse. Comentou também que a sala era
apenas uma precaução já que o assunto era sigiloso. Dali foi direto encontrar
com Gates, seguindo as ordens que recebera durante seu último contato com a
capitã.
Gates explicou
como a estratégia de interrogatório iria funcionar. Tori já preparava o ponto
de áudio para que ele mantivesse a comunicação com Beckett e prendia a seu
corpo. Fizeram o primeiro teste e estava funcionando. A gravação com a confissão
somente seria mostrada em último caso. Quando ele realmente se recusasse a
cooperar apontando o capanga.
- Mas e quanto
ao crime de corrupção?
- Iremos
devagar. Baby steps, detetive Esposito. Agora entre lá e comece a fritar nosso
convidado. Mal posso esperar para vê-lo pular da cadeira.
O senador
estava sentado tomando um café. Parecia que estava ali para uma visita, mas
para o olhar de um detetive treinado, era possivel ver que havia medo em seus
olhos. Começavam a surgir pequenas gotas de suor envolta da testa gorda, a
entrada de Esposito apenas piorou a ansiedade. A luta interna estava apenas
começando pensou Ryan.
- Muito bem
senador Denver, já vi que o senhor está acomodado e com uma caneca de café a
mão. Sinal de que podemos começar. Apenas para lembra-lo que esta é uma
investigação de tentativa de homicídio contra o Sr. Richard Castle que
encontra-se internado em um hospital de New York em coma a alguns meses. Após
uma investigação minuciosa finalmente conseguimos boas pistas. É por isso que o
senhor está aqui hoje, pois acreditamos que o senhor como um cidadão americano
e cumpridor do seu dever, seja como parlamentar ou como pessoa comum, pode nos
auxiliar a pegar os culpados – ele apontou para McQuinn – este aqui é o agente
federal McQuinn que nos ajudou a encontrar algumas pontas soltas na nossa
história e está como parceiro nessa investigação principal. Preliminar a esse
momento, o senhor declarou não querer seu advogado. Continua com esse
pensamento?
- Sim,
continuo. Como o detetive disse quero exercer meu papel de civil.
- Certo, ótimo
– Esposito puxa da pasta, a primeira imagem de Smith – reconhece esse homem? –
o senador olhou a foto proveniente da camera de rua e tranquilamente respondeu.
- Não, não
reconheço.
- Hum, essa
foto não ajuda. Talvez essa outra. E agora? – era uma foto mais nítida tirada
de arquivos da NYPD.
- Desculpe,
mas não conheço esse homem – não tinha como negar era o seu capanga mesmo,
muito melhor que a primeira, precisava saber como chegaram a ele - Quem é ele?
- Ele é Andrew
Chong Smith. Um carinha bem complicado, cheio de problemas com a justiça
inclusive a federal. Roubo, drogas, mortes um currículo que impressiona –
respondeu Esposito – aqui ele é o nosso principal suspeito de tentar assassinar
Castle. O mais interessante é que o Sr. Smith hoje se considera um profissional
e usou um intermediário para “fingir” um acidente de carro em plena New York,
sabe aqueles casos clássicos de “hit and run”, senador? – ele permaneceu calado
ouvindo Ryan.
- Só que ele
teve o azar de não contratar alguém a sua altura. O sujeito que dirigia a van
não era tão bom quanto ele pensava, não terminou o serviço e ainda o dedurou.
Que coisa, não? Infelizmente nosso problema é que ao consultarmos o suposto
endereço do Sr. Smith não o encontramos e parece estar desocupado a um bom
tempo.
- Certo,
detetives. Eu aprecio uma boa história, mas ainda não entendi porque me
arrastaram de DC até aqui para conta-la. Não vejo a relevância disso.
- Ah,
imaginamos que o senhor diria isso... interessante.
Kate observava
a dinâmica pelo vidro. Sentia a raiva domina-la cada vez que o senador se
fingia de inocente. A vontade que tinha era de pular no pescoço dele.
- Aperte ele,
Espo. Jogue na cara. Cínico filho da mãe! – ela falava pelo microfone.
- Senador, nós
queremos saber o paradeiro do Sr. Smith.
- Desculpe
detetive, mas acredito que o senhor está me confundindo com outra pessoa. Por
que saberia onde essa pessoa está? Nunca o vi na vida.
- Senador, a
coisa é um pouco mais complicada do que aparenta. Devemos facilitar a sua
resposta, mas se quer meu conselho diria para o senhor parar de fingir e
responder a nossa pergunta o quanto antes. Onde está o Sr. Smith?
- Falei e vou
repetir. Não conheço esse homem. Gostaria muito de ajuda-los, mas não posso. Se
foi por esse motivo que me arrastaram de Washington até aqui, você cometeu um
erro muito grande. Meu tempo é precioso para ficar brincando de jogos.
Acreditava que o dinheiro público estava melhor empregado. Pelo que vi aqui,
temos muitas oportunidades de rever custos e salvar orçamentos para projetos
que realmente nos tragam retorno.
- É essa a sua
palavra final? Tem certeza que não quer nos contar nada?
- Francamente!
Cadê o seu superior? O seu Capitão? Não passo nem mais um minuto aqui nesse
distrito – ele se levantou da cadeira fingindo indignação - E vou reportar a
conduta indevida de vocês para o Comandante.
- Sente-se
senador. É nossa palavra final de gentileza – disse Ryan.
- Agora, Espo
– Kate dissera pelo microfone.
- O senhor
teve sua chance. Se tem uma coisa que eu admiro é alguém com habilidade para
informatica. Bem, o agente McQuinn aqui tem uma mão excelente para decifrar
códigos e quebrar barreiras. Com a ajuda dele, nos deparamos com uma quantia
razoável de depósito na conta do Sr. Smith e não qualquer conta. Ele tem duas,
uma delas disfarçada em nome de um suposto laranja. Ao investigarmos de onde
vinham os pagamentos encontramos uma empresa chamada “Pins” que gerencia uma
rede de boates espalhadas por New York, Washington, Chicago e Boston. A
companhia está registrada em nome de Jon Snow. Curioso o fato de nosso expert
ser um nerd de carteirinha afinal o nome do proprietário é ficticio, bastardo o
que o instigou a cavar mais. Vou deixar para ele comentar suas descobertas.
McQuinn, pode mostrar o que descobriu?
- Com prazer,
Esposito – ele jogou na tela usada por Tori naquela mesma sala – está vendo a
empresa Pins na tela? É como está registrada na receita federal. Vê o nome Jon
Snow? Eu peguei as informações documentais e qual não foi minha surpresa ao ver
que o cara era uma espécie de laranja? Assim cavei mais e encontrei uma nova
camada e depois de uma, devo acrescentar, divertida caçada cheguei a esse IP –
ele mostrou o número na tela – que está ligado e registrado ao Capitólio mais
precisamente ao senhor, senador – novamente outra tela apareceu mostrando o
nome de Robert Denver, o senador estava sério, mas os detetives puderam
constatar o medo no olhar – aqui temos a folha de pagamento vinculada à empresa
e olhe o nome que aparece na terceira linha de cima para baixo: Sr. Smith. Lembrando
que todos são pagos pelo governo.
- Interessante.
Continua não o conhecendo, senador? – perguntou Esposito – Excelente utilização
do dinheiro público. Continuará mentindo? Por que mentiu para nós? – ele bateu
na mesa – me diga o endereço ou onde encontro Andrew Smith, agora!
O senador
permaneceu calado e prendeu a respiração por alguns instantes.
- Onde está
Andrew Smith, senador... – Esposito insistia com a voz elevada – onde está seu
funcionário? Até quando pretendia mentir para nós? Continuamos esperando, mas
estamos ficando sem paciência. Tick tack. O relógio está andando – Ryan
intercedeu fazendo sua parte da estratégia.
- Acho que o
senador precisa de um tempo para respirar, buscar na memória os dados corretos
do Sr. Smith. Sabe como é talvez um telefonema, enfim. Não vamos atrapalhar.
Certamente o nosso senador sabe que se negar a fornecer os dados poderá ele
mesmo ser indiciado pela tentativa de homicidio, é co-responsável por tê-lo
contratado. Ainda esperamos o motivo senhor senador. O que será que seus
eleitores do Alabama irão pensar ao saber que anda mandando matar pessoas e
sustenta criminosos com verba de gabinete? Tick tack, o relógio não para. O senhor
tem exatamente uma hora – Ryan já ia fechando a porta da sala quando retornou
para alfineta-lo mais uma vez – ah! Gostaria de lembrar que estamos apenas
começando. E fechou a porta.
Sozinho, o
senador baixou a cabeça suspirando profundamente. Estava acontecendo exatamente
como o seu sócio o advertira. Maldita hora que agiu pela emoção. Se não tivesse
se preocupado tanto com aquela agente irritante talvez não estivesse passando
por isso. Não havia escapatória, se os federais detectaram a folha de
pagamento, devem ter encontrado mais. Quem sabe que tipo de evidência eles tem
ainda em mãos. Sua única alegria era saber que pelo menos a agente estava fora
do caminho. Smith pode ter errado com o escritor e pagaria por isso, mas
acertara com a mulher. Hora de dividir a culpa com alguém.
Ele pegou o
celular e discou. Beckett o observava pelo vidro. Ela percebera que seu castelo
de cartas começava a desmoronar. Apesar de manter a pose, o senador já
demonstrava um ar de preocupação e sim, tinha um certo medo no olhar. Ao vê-lo
pegar o celular, ela virou-se para Gates questionando.
- Como ele
está com esse aparelho? Não deveriamos tê-lo tirado? Ele está sob
interrogatório. Aquele celular é uma fonte de informação para o caso e
certamente um meio de chegar a Smith.
- Não,
Beckett. Lembre-se que ele está aqui apenas sob uma intimação. Sua presença foi
consensual e para todos os efeitos, até estar dentro daquela sala era um dever
cívico ajudar a polícia em uma investigação. Não usamos mandado para segurar
sua cooperação, mas não se preocupe já estou trabalhando nisso especialmente
após a segunda parte do interrogatório. No mínimo o senador terá seus bens
congelados para avaliação da receita federal. Sem dinheiro e preso, me parece
um ótimo desfecho para a história não?
- Sim, é
melhor do que nada. Ainda assim, não me garante a volta de Castle – Gates
percebeu que ela engolira em seco para segurar a emoção – quando entrarei lá?
- Logo após os
rapazes arrancarem a localização do bandido, então seremos eu e o agente
McQuinn. Ao meu sinal, você entrará em cena. Algo me diz que ele pensa
realmente que você está morta.
O senador
Denver fez uma nova ligação.
- Sou eu. O
que você previra está acontecendo. Acho que vai ter que procurar outro sócio.
- Descubra o
quanto eles sabem. Se houver qualquer posibilidade disso respingar em mim,
quero saber. Nada pode atrapalhar o meu futuro, o planejo há anos. Chame seu
advogado, você irá precisar.
- Tudo bem. E
desligou resignado. Ele olhava perdido para o visor do telefone enquanto a
mente vagava pensando em como tudo aquilo podia ter acontecido. A menos de um
ano atrás ele se tornara o senador mais votado do Alabama com uma conta
bancária de causar inveja a qualquer empresário, os negócios crescendo em
faturamento a cada ano e um futuro brilhante a sua frente com um mar de
possibilidades inclusive uma secretaria garantida no governo do próximo
presidente americano. Agora, ele estava em uma sala de interrogatório de um
distrito de polícia de New York acusado de cúmplice numa tentativa de
homicídio. Tudo porque uma mulherzinha irritante resolveu fuçar sua vida.
Uma mensagem
surgiu no visor do aparelho. Era a localização de Andrew. Ryan entrou na sala
acompanhado de Gates. Esposito ficou observando através do vidro. Eles já
trocaram a escuta para a capitã e ele fazia companhia a Beckett.
- Espo, quando
ele entregar o endereço vai achar que estará livre por um tempo. Vocês tem que
trazer esse cara aqui hoje.
- Não se
preocupe, nós traremos. E talvez você esteja errada. Ele sabe que temos mais
coisas contra ele, nem por um segundo pensou que estaria livre. Apenas vai nos
enrolar o quanto puder, mas não queremos isso. Com o endereço pegaremos o seu
capanga e usaremos todas as nossas provas para prendê-lo e leva-lo para a
prisão. Veja, Ryan vai quebrar o silêncio.
- Então
senador Denver, espero sinceramente que tenha um endereço para mim. Veja bem
minha capitã está cobrando a prisão do nosso suspeito e o senhor não está
cooperando atrasando meu trabalho.
- Senador
Denver, esperava um pouco mais do senhor – disse Gates – sou a Capitã Gates
responsável por esse distrito e, a meu ver, temos um problema. Fui informada
que o senhor tem informações vitais para nos ajudar a prender um bandido com
uma ficha no mínimo ultrajante para começo de conversa. Estou falando da
localização desse suspeito. Temos um crime para solucionar e o senhor não está
facilitando nosso trabalho. Portanto, vou perguntar uma última vez, caso não
obtenha resposta vou ser obrigada a reportar ao meu superioir sua conduta em
obstrução da justiça. Onde está Andrew Smith?
- Capitã, não
estou dificultando a investigação. Aqui – mostrou o visor do celular – este é o
endereço que possuo – Ryan copiou rapidamente a informação e correu para buscar
o bandido junto com Esposito. Gates permaneceu na sala com McQuinn. Era a hora
de colocar as outras acusações na mesa.
- Agora Sr.
Denver, temos outro assunto a tratar com o senhor. Investigando o seu capanga
ou se preferir educadamente falando seu empregado, o FBI encontrou muitas
evidências do seu envolvimento com uma operação de importaçào onde há sonegação
de impostos, entrada de substâncias ilegais e envolvimento com a máfia chinesa.
Agente McQuinn, você poderia mostrar detalhadamente as suas descobertas?
- Claro, Capitã
– durante duas horas McQuinn explanou todo o caso de Beckett com as mortes envolvidas,
operaçõess ilegais, desvios de dinheiro para o exterior e todos os links que
levavam Denver à máfia através de Michael Chong e Damien. Os faturamentos na
venda ilegal de toxicos recebidos das boates Spin. Todas as peças fechando um
quebra-cabeça que não só destruiriam sua reputação como lhe renderiam anos e
anos de cadeia. Ao terminar sua explicação, ele sentou-se ao lado da Capitã.
Gates agradeceu e levantou-se. Começou a caminhar pela sala em silêncio para
aumentar ainda mais a ansiedade e o nervosismo do senador. Quando percebeu que
ele estava quase no limite, ela o fitou e falou.
- Sabe senador
as evidências apontadas contra o senhor são muito graves. Crimes imperdoáveis
contra o meu país. Como membro das forças de ordem e justiça, eu não posso esboçar
outra face se não a da indignação. Também não posso fechar os olhos diante de
tanta podridão por isso o FBI está aqui. Mas sabe o que me causa mais nojo em
toda essa história, Senador? – ela se aproximou dele apoiando-se na mesa com os
olhos fixos ao dele – o fato de você querer matar inocentes para livrar seus
crimes de colarinho branco, perseguir uma agente competente e deixa-la sem chão
ao mandar assassinar o marido dela e para que? Pro dinheiro podre continuar
correndo? Diga, por quê? Confesse!
O senador
prendeu a respiração por uns segundos. Estava vermelho. Não ia se intimidar
frente a essa capitã mesmo sabendo que estava em um beco sem saída. Os federais
desencavaram muita coisa, informações suficientes para destitui-lo do cargo de
senador, mas lutaria enquanto pudesse.
- Capitã, seus
detetives já me interrogaram sobre esse suposto homicídio e ao contrário do que
diz, eles apenas me pediram o nome do culpado. Estou aqui para ajudar. Não há
razão para me acusar.
- Não precisa
passar essa pose e o discurso de bom samaritano senador porque eu sei muito bem
o que o senhor disse aos meus detetives. Se pensa que ainda poderá se safar de
tudo o que mencionamos aqui está muito enganado. Trata-se de uma questão de
tempo, basta o seu capanga confessar o que fez e a mando de quem.
- Acredito que
a senhora ainda não entendeu. Não tive nada a ver com esse suposto crime. O meu
empregado é responsável pelos seus atos.
- Tem certeza
que não gostaria de contar a verdade? Nada mais a declarar? – ela cruzara os
braços fitando-o com seriedade.
- Por que
deveria? – retrucou o senador.
- Pois bem,
felizmente Kate Beckett sabia do que o senhor era capaz. Essa investigação do
FBI foi toda dela. Arriscou e o resultado – Gates retirou do bolso um gravador
colocando-o sobre a mesa, apertou o play – ouça você mesmo.
No silêncio da
sala, as vozes da gravação demonstravam toda a conversa entre Beckett, o
senador e seu capanga. As declarações contra ela, seu marido e a confissão.
Tudo em palavras afirmando seu envolvimento em alto e bom som. A cada minuto,
Gates podia perceber a mudança nas feições do homem a sua frente. De perplexo
para nervoso passando por momentos de ansiedade e culminando em pura irritação.
Assim que a gravação terminou, ele suspirou fundo.
- Isso é ilegal!
Como alguém grava uma conversa sem permissão? – no rosto vermelho podia-se
reparar nas gotículas de suor presentes na testa, algumas já desciam pela
lateral do rosto – o que pretende com isso, Capitã? Não há valor algum nessa
fita!
- Muito pelo
contrário, senador. Essa é uma cópia. A original está guardada cuidadosamente
conosco. Outro exemplar foi anexado ao processo do FBI encaminhado ao supremo
tribunal de justiça. Não há nada de ilegal, isso não só é a sua confissão como
mandante da tentativa de assassinato, como deixa claro o seu envolvimento na
caçada a uma agente federal. Irônicamente, Kate Beckett gravou seu próprio
atentado.
- Eu irei
contestar! Isso não é justo! – a irritação transbordava pelos poros dele, até
morta aquela mulherzinha o perseguia! Sua situação estava bem pior do que
previra.
- É um direito
seu, pode recorrer. Porém, posso lhe garantir que suas ações não mudarão a
lista de crimes relacionados ao seu nome. Eu lhe dei a oportunidade de se
explicar, até mesmo confessar. Agora é tarde demais, seu processo está sendo
analizado, contudo acredito que o senhor saiba qual o resultado, não? De
qualquer forma, posso enumerar cada crime e o que eles representarão na sua
vida daqui para frente – Gates pigarreou. Esse era o sinal para Beckett
aparecer – vejamos:
- Tentativa de
assassinato de um civil, mandante. Tentativa de assassinato de uma agente
federal, também madante.
- Fraude,
corrupção, sonegação de impostos – a voz de Beckett era firme e ameaçadora
quando entrou na sala já participando do jogo – trafico de drogas, produção de
substâncias ilícitas. Ah, quase esqueci! Assassinatos, vários. Enfim – ela o
encarou apoiando as mãos na mesa – já ultrapassamos cem anos, senador – ele
estava lívido – surpreso em me ver?
- V-você
estava m-morta... não podia ter sobrevivido. Não... – era realmente o fim da
linha.
- E ainda
assim, aqui estou eu. Farei você pagar por cada centavo roubado, cada cidadão
lesado, por todos os crimes sem exceção. Eu tenho apenas uma pergunta. Por que
Castle? Por que assassina-lo?
O senador
ficou calado. Ainda tentava digerir a presença dela naquele recinto. Estava
morta, a enfermeira disse que não tinha chance. Como? Um emaranhado de
perguntas e dúvidas atordoavam-lhe o juízo, mas ele não respondeu a Beckett.
Algo não muito sábio a se fazer.
- Senador
Denver? Por que Castle? – fuzilando-o com os olhos ela gritou batendo com as
mãos na mesa – Responda!
- Não
responderei mais perguntas sem a presença de meu advogado.
- Ah, muito
conveniente. Tudo bem, sua confissão é suficiente. O senhor traiu a confiança
de milhares de americanos que o elegeram para fazer diferença, lutar por eles.
E qual foi sua resposta? Roubou o país bem debaixo de nossos narizes. Seu
mandato irá para o espaço, uma cela de prisão o espera e aposto que sua estadia
na gaiola será muito prazerosa. A mais nova mulherzinha da cadeia – ela tornou
a sentar de frente para ele – sabe o que não faz sentido nessa história,
senador? Apesar da sua fortuna, essa é o tipo de operação que não pode ser
gerida por um milionário sozinho, além da máfia chinesa há alguém mais
injetando dinheiro, fazendo a máquina rodar. Quem é o seu sócio, senador
Denver? Quem é o homem por trás das boates e do dinheiro sujo? Quero um nome! –
ela gritou.
- Não sei do
que você está falando – ele declarou.
- Vamos lá,
senador. Não é hora de ser político, seu rabo está na reta. Se revelar seu
sócio, podemos ganhar alguns anos na sua pena. Não lhe parece interessante?
- Não tenho
sócio algum – afirmou.
- O que me
leva a crer que deve ser alguém muito importante, capaz de fazê-lo enfrentar
anos de cadeia por ele. Confesso que estou comovida com sua demonstração de
lealdade. Pena que não possamos dizer o mesmo do seu funcionário. Acabei de
receber uma mensagem de Ryan que está na sala ao lado onde seu leal capanga
confessou tudo. Exatamente como aconteceu – Beckett brincou com a fita que
retirara do gravador – ainda quer continuar o jogo de gato e rato? Um nome,
senador Denver. Apenas um nome em troca de alguns bons anos de liberdade. Pense
bem – um silêncio insuportável se fez presente na sala, Beckett contava
mentalmente até dez para manter a paciência – Um nome! – ela bateu na mesa bem
a frente dele.
O senador
respirou fundo. Precisava responder o que havia combinado com o seu sócio. Diante
do nível das provas encontradas, assumiria tudo até que se prove o contrário,
ele era único de todo o esquema. Dos assassinatos ao contrabando.
- Não tenho
nenhum sócio. E não falo mais nada sem a presença do meu advogado.
- Correto,
senador. Não pode argumentar que não lhe demos a chance de se explicar e
defender o seu nome dentro de todo o processo que será aberto – Gates olhou
para Beckett e sorrindo estendeu-lhe as algemas – quer fazer as honras, agente
Beckett? Ninguém mais que você merece recitar os direitos do prisioneiro nesse
caso.
- Obrigada,
Capitã – pegando as algemas da mão de sua ex-supervisora, ela caminhou até o
lugar onde o senador sentara. Percebeu a inquietude através dos movimentos
repetitivos que realizava apertando as próprias mãos – levante-se, Senador
Denver – lentamente ele obedeceu, Beckett prendeu as algemas e fechou-as – Senador
Robert Denver, você está preso por tentativa de assassinato duplo, corrupção,
sonegação de impostos e desvio de verba. Tudo o que dizer pode e será usado
contra você no tribunal. Tem direito a advogado, caso não possua o Estado lhe
oferecerá um – ela segurava o braço dele -Nada como algumas noites na cadeia,
não? Ajuda a clarear as ideias. Quais são suas instruções, Capitã Gates?
- Nesse
momento, meus detetives estão anexando o depoimento de Andrew Smith ao processo
da tentativa de assassinato do Sr. Richard Castle e Sra. Kate Beckett. Também,
irei pessoalmente entregar a gravação da nossa conversa com o senador Denver
para o Comandante da NYPD. Por hora, pode aloja-lo na cela do nosso distrito.
Imagino que passará pelo menos umas duas noites conosco antes que o juiz do
supremo decida se deverá pagar fiança ou se será mandado para uma prisão
federal. Deixe-o aos cuidados do Detetive Esposito informando sobre o
telefonema ao qual ele tem direito para chamar seu advogado. Tenha uma ótima
estada em nossos aposentos, senador. Não é o Four Seasons, mas garanto que está
bem acima daquilo que o senhor merece receber do governo americano dada as
circunstâncias.
- Você não
pode fazer isso, Capitã. Não sou um bandido com ficha suja para ser jogado em
uma cela. Sou um membro do poder americano – rebateu o senador cheio de razão.
- Por pouco
tempo – disse Gates – não demorara muito para seu caso ser julgado pela justiça
eleitoral e um conselho de ética. Seu mandato está por um fio. Em poucas
semanas Senador, sua ficha estará tão cheia como a de muitos bandidos, talvez
pior que a deles em podridão – ela abriu a porta – Detetive Esposito, leve o
senador ao seu mais novo aposento. Onde está o capanga dele?
- Numa cela lá
embaixo.
- Ótimo,
certifique-se de que eles não tenham qualquer contato. Não gosto de
conversinhas paralelas no meu distrito.
- Sim, senhora
– respondeu Espo que já estava ao lado do prisioneiro. Beckett permanecia segurando
o braço do senador, aproximou a boca do ouvido dele e falou de modo audível apenas
para ele.
- Você não me
engana, tem um sócio e desconfio de quem seja ele. É um velho conhecido meu. Ele
se acha muito poderoso, mas dessa vez não escapará porque já tenho provas
contra ele. Não preciso de você, senador. Apodreça na cadeia – Denver arregalou
os olhos ao ouvir as palavras dela e sentir a pressão em seu braço.
- Agente Beckett,
venha comigo. Quero sua ajuda para reforçar ao Comandante as partes primordiais
da nossa conversa com o Senador Denver – Gates fitou-o cruzando os braços sobre
o peito – qual é o problema, senador? Por que olha tanto para a agente Beckett?
Ainda tem dúvidas se a matou? Posso lhe garantir que a mulher a sua frente não
é um fantasma.
- Você não tem
ideia do que está fazendo. Está se achando inteligente, mas descobrirá que com
certas coisas não se mexe – disse o senador.
- Está me
ameaçando? – perguntou Beckett – lembre-se que está sob a responsabilidade da
polícia. Meça suas palavras, senador.
- Escolheu o
lugar e os jogadores errados como adversários para brincar de detetive, agente.
Depois, não diga que não avisei.
- O senhor
acaba de fazer uma ameaça na frente de testemunhas. Irei relatar suas possíveis
preocupações no meu relatório – disse Beckett.
- Leve-o
Esposito – ordenou a Capitã fazendo sinal para Beckett, elas entraram na sala
reservada fechando a porta atrás de si – Então, Kate como se sente? Satisfeita?
- Bem mais
aliviada sabendo que esse monstro, esse ladrão assassino está atrás das grades.
Entretanto, sabemos que homens poderosos não ficam presos por muito tempo,
Capitã. É só uma questão de horas até algum advogado metido a besta aparece
aqui para soltá-lo.
- Primeiro ele
terá que conseguir um habeas corpus – disse Gates – porém concordo com você.
Apesar de crimes graves, os únicos capazes de mante-lo preso eram assassinatos.
Como mandante e por não ter concluído o crime, provalvemente farão uma concessão
para que aguarde o julgamento em casa – viu a decepção no rosto da sua
ex-detetive quando ela sentou-se suspirando em sinal de frustração.
- Ele
conseguirá se safar da maioria das acusações – declarou inconformada.
- Você está
esquecendo algo crucial, Kate. O fato dele ter cometido um crime contra o
Estado, o país. Será preso, terá seus bens congelados e perderá o que
conquistou de mais importante, o poder. Esse caso fará um barulho desgraçado na
mídia. Posso apostar com você que o Comandante e o juiz do supremo manterão
suas decisões a sete chaves por, no mínimo, umas duas semanas. Será o tempo
necessário para resolver os detalhes desse caso além da divulgação para a
imprensa. Portanto, sigilo absoluto.
- Nem precisa
pedir, Capitã.
- Vamos repassar
os detalhes para nosso relatório? Quero em duas horas sair daqui para uma
conversa com o Comandante. Espero que ele também já tenha um parecer extraoficial
para nos dar – percebeu a confusão no rosto dela – sim, você vai comigo.
- Pensei que a
senhora estivesse apenas instigando o senador.
- Não, falei
sério. O mérito dessa descoberta é seu, o caso foi montado por você. Nada mais
justo que ouvir a sua repercussão.
- Obrigada –
sorrindo, Beckett começou a elencar os pontos que deveriam constar no relatório
oficial. Trabalharam juntas por várias horas. Detalhes se somavam às
descobertas. Deixaram o distrito cerca de três horas depois rumo a central de
polícia de Nova York.
Esposito
desceu escoltando o senador segurando-o pelo braço. Parou em frente a um
telefone fixo antigo e abriu as algemas entregando o fone na mão dele.
- Faça a
ligação para o seu advogado. Três minutos. Não tente nenhuma gracinha.
- E-eu preciso
do número, está no meu celular.
- Nah...tenho
certeza que sabe de cor. Pode ligar antes que eu comece a contar o tempo – a
ameaça surtiu efeito fazendo-o discar o número. Com a voz baixa, ele conversou
com o advogado explicando que estava preso e que providenciasse um habeas
corpus, pois a última coisa que precisava era passar a noite na cadeia. Ao
ouvir isso, Esposito gargalhou. Pelo menos de uma noite ele não iria escapar.
Robert Denver deu as orientações necessárias e por último, pedi para o advogado
seguir o que havia combinado anteriormente. Em outras palavras, Denver deixara
algumas recomendações para serem feitas junto ao seu sócio caso ele não
escapasse. Agora, precisava coloca-las em prática.
- Acabou o
tempo, senador – disse Espo arrancando o receptor e desligando sem cerimônias.
Tornou a algema-lo dessa vez com as mãos para frente – Tudo certo, Martinez?
Posso oferecer a esse cavalheiro nossos melhores aposentos?
- Estou
terminando, detetive - esperou o policial abrir a cela e remexer em algumas
coisas lá dentro. Recebendo o sinal de positivo, entrou com o senador e retirou
as algemas. Fazendo uma vistoria, retirou-lhe o celular, as chaves e
documentos. Entregou ao policial que o assessorava. Dando uma última olhada
para o homem que a poucas horas usufruia e abusava do poder, sorriu – como a
vida dá voltas, não senador? Nada de jatinhos, jantares elegantes. E isso será
apenas o começo. Tenha uma ótima estada. Aproveite porque aqui ainda existe
mordomia, já na prisão federal... – saiu do pequeno cubículo e ordenou – pode
trancar!
Denver olhou
ao seu redor, o espaço mínimo e cru causava-lhe repulsa. Tudo desmoronava e
mesmo estando a caminho do seu próprio calvário, ele ainda era obrigado a
salvar a pele daquele que pretendia ser o futuro presidente dos Estados Unidos.
XXXXXXXXXXX
A reunião com
o Comandante fora tranquila. Beckett sentiu-se um pouco intimidada a princípio,
porém à medida que ouvia sua ex-Capitã explanar sobre o caso ganhando total
atenção dos homens presentes no recinto, começou a relaxar. Gates sabiamente a
introduziu na conversa fazendo com que em pouco tempo, Beckett ocupasse o seu
lugar, algo merecido por direito. De repente, Kate Beckett se viu sob o
conjunto de olhos mais poderosos da NYPD e da justiça. Isso, ao contrário do
que imaginara outras vezes, não trouxe a insegurança. Com maestria, explicou
detalhes e descobertas cruciais de evidências que fizeram o seu time chegar ao
senador Denver.
Foram duas
horas entre expor o caso, discutir e definir os próximos passos. Calcularam que
até o inicio da noite, o advogado de Denver iria entrar com o pedido para
responder ao crime em liberdade. Não seria autorizado até que o Comandante
obtivesse o parecer final do juiz para a cassação do mandato de Robert Denver.
Provavelmente passaria a noite na cadeia, mas mesmo liberado o Comandante
estava disposto a não facilitar a vida de Denver com regalias.
Depois de
receber vários elogios, Kate Beckett fora dispensada da reunião. Gates
permaneceu com o Comandante para definir parte da estratégia da NYPD frente ao
FBI e ao Capitólio. Toda a operação para manter o senador que logo perderia o
posto na prisão deveria ser mantida em sigilo absoluto. Nada podria vazar para
a imprensa antes do comunicado oficial do FBI e do Supremo para o representante
do Capitólio e o presidente. O senador Bracken era a pessoa que deveria
anunciar sua demissão para a mídia. Pelos cálculos do Comandante, toda essa
movimentação deveria ocorrer no intervalo de duas semanas. Gates sabia
exatamente o que sobraria para ela. Como responsavel pelo distrito que
orquestrou sua prisão, tinha o dever de afastar repórteres, porém teria uma
briga dura com o advogado do suspeito caso não pedisse ajuda de seu superior e
por que não dizer sua interfeência a fim de antecipar qualquer decisão ou
mandado para evitar maiores discussões de poder. Após ouvir os pontos
levantados pela Capitã, ele concordou em conversar com o juiz e preparar a
ordem de prisão adequada para o caso. Informaria em um intervalo máximo de 24h.
Satisfeita, voltou para seu distrito a fim de aguardar o contato.
Após sair do
gabinete do Comandante da polícia de Nova York, Beckett decidiu que, pelo menos
por enquanto, encerrara as atividades investigativas com relação ao senador
Denver. Seu foco estaria voltado ao envolvimento de um outro senador, seu
antigo inimigo. Precisava cavar mais para entender qual a ligação dele nesse
caso. Tinha dinheiro empregado, teria também alguma morte? Poderia estar ali a
chave para desmascara-lo e fazer justiça? Manteria o contato e a busca
concentrada em Tori. Não tinha dúvida que o Comandante iria tornar a vida de
Denver muito difícil, certamente perderia o cargo. Caminhava pensativa pelo
corredor do hospital. Queria ver Castle, dividir com ele o alívio de ter feito
justiça mesmo que parcial.
Nada parecia
ter mudado durante sua ausência. Ele permanecia dormindo, sereno. Ao
aproximar-se da cama, fez um carinho nos cabelos dele. Estavam grandes. A barba
por fazer novamente. Roçou seu rosto de leve no dele para experimentar a
sensação. Suspirou. Beijou-lhe o rosto e os lábios, com os dedos entrelaçados,
começou a contar o que se passara nas salas de interrogatório do distrito. Durante
a narrativa, Kate se pegou chorando. Em seguida, contou sobre a reunião com o
Comandante e os elogios que recebera.
- Sei que
parte da justiça foi feita, ele perderá o mandato, Castle. Pagará pelos seus
crimes, mas e nós? Como ficaremos? – beijou-lhe os dedos, fechando os
olhos. Gostaria de poder comemorar com
Castle a base de champagne, risadas e sexo. Muito sexo. Ela sorriu diante do pensamento
pecaminoso e fútil. Os últimos meses haviam sido extremamente difíceis para
ela. Grávida, sozinha e sem saber o que esperar do futuro. Ele era seu norte.
Estava prestes a iniciar uma família que não faria sentido nenhum sem ele. Se
alguém pedisse para Kate dizer o que mais sentia falta com relação a Castle,
haveria apenas uma resposta.
Tudo.
Sim, era as
piadas, o sorriso, a doçura dos olhos azuis e nesse momento em especial o
toque, os beijos, o calor da pele. Buscando uma forma de amenizar um pouco essa
solidão, ela se deitou ao lado dele, espremendo-se na cama. Com uma das mãos no
peito dele, acabou adormecendo.
Kate acordou
com um barulho na porta. Ainda sonolenta, abriu os olhos procurando se
ambientar no instante em que a enfermeira se aproximava da cama.
- Querida, vai
ficar toda dolorida deitada desse jeito. Por que não foi para casa?
- Não podia, queria
ficar com ele – ao erguer-se constatou exatamente o que a senhora dissera, as
pernas doíam por serem forçadas a manter o equilibrio do corpo em um lugar tão
estreito – acho que... – ela levantou-se com os pés formigando, caimbra – vou
andar um pouco, tomar um suco ou água. Preciso ir ao banheiro.
- Você não vai
continuar aqui desse jeito. Está grávida e não pode fazer o seu bebê sofrer com
isso. Devia ir para casa.
- Não, estou
com saudades de ficar ao lado dele. Vou caminhar um pouco e volto depois –
dizendo isso, saiu do quarto a passos curtos e devagar, ainda tentando ajustar
o ponto de equilibrio do corpo livrando-se da sonolência. As caimbras diminuiam
à medida que andava rumo à cantina do hospital onde pretendia beber algo. Uma
mocinha sorridente estava encostada no balcão observando a tela de seu tablet.
Ao vê-la, a garota tirou os fones que usava e ainda sorrindo a cumprimentou.
Uma cena incomum, pensou Kate, para as três da manhã.
- Olá! Em que
posso lhe ajudar?
- Você tem
leite quente?
- Tenho sim,
vou preparar um especial para você com essência de vanilla e canela. Sente-se –
a moça apontou um banco a sua frente no balcão – quer cookies? Tem uns de aveia
deliciosos. O de chocolate acabou. Você precisa se alimentar, tem um neném aí
dentro. É menino ou menina? – perguntou já preparando o leite.
- Não sei.
Optei por não saber.
- Acho ótimo a
surpresa, mas como saber o que comprar? Sapatinhos de menina ou bonés de
menino?
- Na verdade,
eu gostaria de saber, porém prometi que só faria isso com o pai ao meu lado.
- Ele não está
com você? Desculpa, estou me intrometendo... – colocou a caneca sobre o balcão,
o cheiro da canela inundava o olfato de Kate enchendo-lhe a boca d’água.
- Não! Ele
está aqui no hospital, em coma. Nem sabe que estou esperando um bebê.
- Oh, Deus!
Seus biscoitos. Sinto muito – posando sua mão sobre a dela, continuou – sei que
deve ser duro para você só acho que não devia pensar o pior. Lembre-se que logo
ele estará sorrindo e babando no seu bebê. Basta você acreditar.
- Obrigada.
Posso te perguntar uma coisa? – Kate estava intrigada com a moça.
- Claro!
- Quando
cheguei aqui pensei que ia encontrar alguém mal humorado, com sono. Afinal é
madrugada. De repente, vejo você sorrindo pronta para me ajudar. Achei bem
inusitado. Estou curiosa, alguma razão específica?
- Não
realmente. Quando você chegou, estava vendo uma série, às vezes fico solitária
aqui. Ter alguém para conversar é bom, sempre imagino que todas as pessoas que
circulam nessa cantina tem problemas bem maiores que os meus, isso me dá motivo
para sorrir e tratá-las bem. Gosto de trabalhar esse horário porque consigo
estudar e fazer outras coisas. Se fosse a uma semana atrás, você me pegaria com
a cara nos livros por conta das provas. Faço bioquimica na NYU. No tempo livre,
quero mesmo ler e curtir minhas séries.
- Que bom. O que
você gosta de ler?
- Romances
policiais e suspense.
- Tenho que
ir, quanto devo? – perguntou Kate.
- Por isso?
Nada! É por conta da casa. O próximo você paga.
- Puxa,
obrigada – ela procurou a identificação da moça – Sarah.
- Foi um
prazer... desculpe, não sei o seu nome – Sarah ficou esperando a resposta.
- Kate. Vejo você
por aí.
- Tchau, Kate.
A cantina está sempre às ordens.
Voltando da
cantina, Kate caminhava despreocupada pelo longo corredor do hospital. Estava
escuro, mas isso não era problema para alguém como ela. Um enfermeiro passou ao
seu lado. Pensara que ao comer, seu corpo estaria mais alerta e disposto para
aguentar o resto da noite ao lado de Castle.
Enganara-se. Apesar de não sentir caimbras, os pés a incomodavam bem
como a coluna. Talvez devesse seguir o conselho da enfermeira e ir para casa.
Voltaria amanhã. Entrou novamente no quarto para se despedir dele, mas não
conseguiu cumprir sua promessa. Tornou a deitar na cama ao seu lado.
XXXXXXX
As coisas para
o lado de Denver não estavam indo bem. Seu advogado não aparecera até às dez da
noite fazendo-o aceitar a noite na cadeia. Era o juiz, só podia ser o juiz –
pensou. Certamente os dados do processo bem como seu nome já deviam ter
alcançado vários conhecidos nos tribunais de Nova York. O Comandante da NYPD fizera
seu trabalho direitinho. Isso era uma humilhação para alguém com tanto dinheiro
e na posição privilegiada dele. Se bem que seu poder e seu cargo de senador
estavam com os dias contados. Nada disso estaria acontecendo se aquele
incompetente do Andrew tivesse matado o escritor. Pensando bem, fora dupla
incompetência, pois o alvo correto a ser eliminado era a agente. Errara as duas
vezes e ao fazer isso, seu castelo começara a ruir.
- E quanto ao
envelope que deixei em seu poder? Entregou ao destinatário? – perguntou o
senador.
- Sim,
conforme solicitado.
- Apenas
avise-o que ainda não acabou. Estão fazendo muitas perguntas, diga que sua
inimiga continua viva e quer encurrala-lo. Ele sabe de quem estou falando. Não acredito
que seja um blefe.
- Certo, farei
isso. Continuarei lutando para tirá-lo daqui. Devo ter notícias pela manhã – o
advogado saiu deixando o seu cliente poderoso a sua própria sorte. Seria uma
longa noite.
Não conseguiu
dormir mais que um cochilo de meia hora, sempre que despertava assustado remoía
sua raiva por estar ali. Tornava a cochilar. Dessa forma, Denver viu o dia
amanhecer, as horas da manhã se arrastarem para apenas no início da tarde ver o
detetive que o enjalou aparecer.
- Como passou
a noite, senador? Sonhos coloridos? – perguntou Esposito sorrindo em tom de
deboche – tem alguém querendo dar uma palavrinha com você.
- Finalmente!
– exclamou o senador – não aguentava mais esse buraco.
- Se você o
senhor não ficaria tão alegrinho – ele olhou para Esposito de cara amarrada -
Mas quem sou eu para estragar a festa? Vamos logo. Não tenho muito tempo.
Na mesma sala
de interrogatório, estavam Gates, o advogado e Ryan esperando por eles. Havia
também um oficial de justiça.
- Sente-se –
ordenou Gates – Senador Denver seu advogado nos procurou pelos meios legais da
justiça com um habeas corpus. Meu Comandante e o juiz do Supremo de comum
acordo negaram sua liberdade em uma primeira tentativa. Por insistência de seu
representante, fechamos um acordo que o permite ficar em liberdade até que o
seu processo corra pelos orgãos pertinentes e a decisão quando aos seus crimes
e consequente julgamento seja concluída. Portanto, perante a lei o senhor
ficara em liberdade condicional. Estará dentro de sua casa, porém deverá usar
uma calcanheira eletrônica para fins de monitoramento. Além disso, qualquer
contato com telefones e outros meios de comunicação incluindo internet estão
proibidos. O FBI designara um agente para monitora-lo e a única pessoa
autorizada a conversar com o senhor será seu advogado e a família. Nenhuma
visita será permitida. O senhor ficará isolado.
- Isso é um
absurdo! – retrucou o senador.
- É isso ou a
cela onde o senhor passou a noite? O que prefere? – Gates olhava-o com
segurança, fria como gostaria de ser diante do homem a sua frente.
- Vocês não
podem me manter preso! Seja do que for que estejam me acusando sou réu primário,
tenho direito a fiança – virou-se para o advogado – diga a eles! Você está aqui
para me defender.
- Será que o
senhor não percebe que está recebendo muito além do que merecia? – disse Gates
- O seu caso, senador, tem consequências duras para o sistema político e
judicial. Estamos lhe garantindo prisão domiciliar até que os trâmites
pertinentes à justiça sejam resolvidos. Quando isso acontecer, o senhor não escapará
de uma prisão federal. Aproveite essa chance. Tem umas duas semanas para curtir
um pouco da vida confortável que leva. Depois que perder seu mandato, não lhe
restará nada.
- Senador
Denver, a Capitã tem razão – o advogado confirmava - Eu já procurei todos os
meios cabíveis para driblar a justiça, infelizmente todos foram negados. Não há
habeas corpus para o senhor. Aceite o acordo. É o melhor que podia conseguir.
- Isso não vai
ficar assim, tenho meus direitos. Vou lutar.
- Claro,
apenas lembre-se que daqui a alguns dias não será mais uma figura de poder,
brevemente se tornará um cidadão comum – frizou a Capitã.
- A senhora não
se cansa de me lembrar, não é verdade? Maldita hora que deram abertura para
colocar mulheres na polícia. Vamos embora daqui. Não quero passar nem mais um
minuto na companhia dessa gente.
Saiu pisando
duro ainda querendo mostrar uma superioridade que não mais convencia às pessoas
presentes naquele distrito. Gates virou-se para seus detetives e ordenou que
fossem se juntar a Tori e ao agente McQuinn a fim de ajudar o promotor a montar
o caso do senador. Qualquer dúvida, deveriam procura-la. Assim que os rapazes
deixaram sua sala, ela se sentou na cadeira e suspirou. Venceram uma batalha,
pensou. Agora, precisavam se preparar para a guerra.
Kate tomara o
desjejum junto a Castle. Apesar de gostar da sensação da barba rasa roçando o
seu rosto quando o beijava ou fazia caricias, pediu a enfermeira para lhe
arranjar loção de barbear e um aparelho, além de toalha e uma pequena vasilha
que ela encheria de água. Sentou-se à beira da cama e cuidadosamente começou a
aplicar o creme no rosto dele e trabalhar com o aparelho de barbear sobre a
face. Gostava desse momento íntimo entre eles, era uma oportunidade de troca de
carinho. Não tinha pressa para agir. Queria muito estender o tempo ao lado
dele. Terminando a atividade, ela enxugou devagar o rosto dele para então aplicar
a loção pós-barba que mantinha no pequeno armário do quarto. A preferida de
Castle. Ao terminar, beijou-lhe o rosto e roçou seu nariz sentindo o cheiro da
pele limpa e macia.
Decidira ir
para casa. Precisava de um banho e esticar as pernas. Mais tarde, ligaria pra
Gates em busca de notícias do senador. Despediu-se da enfermeira e recebeu as
mesmas broncas e conselhos que sempre recebia quando passava muito tempo no
hospital ao lado do marido. Apenas sorria, pois no fundo, ela tinha razão.
Quinze minutos
depois, deixava o hospital. Quando fez menção de abrir seu carro, sentiu um
puxão. Uma pessoa a arrastou colocando um pano sobre sua boca e nariz,
fazendo-a perder a consciência. Duas horas depois, ao despertar percebe estar
em um quarto pequeno e escuro. Ajustando a visão à luminosidade do lugar, viu a
sua frente dois homens. Um deles Kate não conhecia, o outro marcava uma parte
da sua vida impossível de esquecer. Senador Bracken.
- Mas o que...
– não concluiu a pergunta. Um completo choque era o que o semblante de Kate
demonstrava.
- Olá,
detetive. Desculpe pelo mau jeito, o local para visitas é inadequado, porém não
podia adiar nossa conversa.
Continua....