quarta-feira, 30 de novembro de 2016

[Castle Fic] Baby Boom - Cap.16



Nota da Autora: No capitulo anterior, eu fiquei tão empolgada com os comentários que recebi, em especial o que publiquei na minha nota que acabei esquecendo de comentar sobre uma das cenas mais  interessantes entre Kate e Dylan. Felizmente ainda temos nesse capitulo. Muito do que acontece com Kate, são experiências minhas com meu amado sobrinho. Por isso BB é tão gostosa de escrever porque me faz relembrar momentos apaixonantes que vivi com ele. Ah como tenho saudades! Esse do vinculo materno talvez tenha sido a melhor delas e torna-se muito difícil explicar em palavras o que se sente. O lado médico aqui relatado é mero ilustrativo para trazer uma veracidade racional a nossa personagem. O capitulo está grande! Divirtam-se! E algumas pessoas vão vibrar muito com uma parte da história, certo Martha, Carlinha e outras LOL... e as referências continuam surgindo aqui e ali... enjoy!


Cap.16  


Ainda encucada com o acontecimento de uma hora atrás, Beckett decide pesquisar na internet sobre o que experimentara com Dylan. Após ler vários relatos, ela encontrou o parecer de uma médica quanto ao fato.  

"Algumas vezes, bebês que deixaram de ser amamentados cedo tendem a demonstrar interesse por reviver esse momento quando mais velhos. Por exemplo, se o bebê deixou de mamar no peito aos três, quatro meses de vida, por volta dos sete ou oito meses pode tentar reestabelecer essa rotina. Isso nada mais é que a necessidade de manter o vínculo materno que ele compartilha com a mãe desde a sua concepção. Por isso, mamãe, nada de pânico. Você não precisa amamenta-lo outra vez, a mamadeira será suficiente, apenas curta o momento, é uma troca de carinho, uma maneira de dizer "eu te amo". Bebês mais sensíveis ao carinho e a falta da mãe, tendem a ter esse tipo de comportamento. Não brigue, nem o rejeite por isso. "  

Ao terminar de ler, Beckett fechou os olhos. Então o que ela temia nessa história desde o início estava acontecendo. Dylan a escolheu como mãe. A mentira contada por ela e Castle começava a ser distorcida. Esses dias de convivência com Castle e o bebê provaram ser uma batalha, porém mostrava o quanto sua vida era pequena, insignificante. Antes de Dylan, tirando seu trabalho lutando por justiça ao lado do escritor, ela devia acrescentar, sua vida  pessoal era chata, sem propósito.  

Então, essa fofura de bebê apareceu, bagunçando sua rotina de ponta cabeça, de repente, se mudara para o loft de Castle, ela se viu envolvida pelo doce sorriso, a pele macia, os olhos azuis e todas as maravilhas que faziam um bebê ser perfeito. E essa era apenas uma parte da história, sua admiração por Castle cresceu, vê-lo atuar como pai tocou seu coração. Era inevitável não se apaixonar por ele, não se curvar aos sorrisos, beijos e abraços. Pequenos gestos que lhe roubavam o chão sempre que aconteciam. Como esse ultimo beijo…

Para alguém que tinha uma vida pessoal quase tediosa, Kate Beckett descobriu as maravilhas e dificuldades da maternidade e seus verdadeiros sentimentos por Rick Castle em menos de 20 dias.  

Suspirou.  

Ela estava pensando direito? Acabara de admitir que estava apaixonada por Castle? Sorriu. Não seria novidade. Afinal, o sentimento viera à tona naquele beijo. Ela lutará até agora. Por que? Porque não queria destruir o que eles tinham, a parceria, a sincronia como ela sentira novamente tendo-o ao seu lado na delegacia os últimos dias. E agora tinha Dylan. 

Ele era a prioridade, ele fora o motivo pelo qual Beckett viera parar ali no loft em primeiro lugar. A tal aventura estava chegando ao fim e embora tenha sido uma experiência incrível, ela não estava pronta para assumir uma criança com Castle.  

Três dias. Era o tempo que ela tinha ao lado deles. Beckett decidiu que usariam esses dias para curtir ao máximo e agradecer a Castle por ter mostrado o quanto é importante ter uma família. Às vezes, ela esquecia que não tinha mais a sua. Estava certa que acharia o melhor momento para conversar com Castle. A prioridade era Dylan e a adoção agora.  

Naquela noite ela tivera dois sonhos.  

O primeiro estava nos Hamptons com Castle e Dylan. O garoto já andava, tentava desajeitadamente fincar os pés na areia. Ela o observava sorrindo. Castle a abraçava por trás. Ela podia ouvir Dylan dizendo "mamma". De repente, o sonho mudara. Kate se via em uma estrada escura de frente para uma encruzilhada. De um lado, estava Dylan sentado no chão olhando para ela, do outro um corpo ensanguentado representando seu trabalho. Ao seu lado, sua mãe apareceu.  

— Olá, Katie. Ainda lutando? Por que faz isso, filha? Olhe para esse bebê lindo, ele é seu. Ele a escolheu. E não foi apenas o bebê - nesse instante, Castle aparece e põe Dylan nos braços - você não precisa fazer uma escolha, pode ter o melhor dos dois mundos. Suas investigações ao lado do seu parceiro e escritor preferido, sua luta por justiça. Não gostaria de voltar para casa após um longo dia e encontrar essa gostosura esperando por você? Até quando pretende lutar, Katie? Escute seu coração.  

Beckett acordou em seguida. O coração acelerado. Respirando fundo, ela checou o celular. Seis da manhã. Precisava trabalhar. Com uma rápida olhada na câmera, atestou que Dylan ainda dormia. Entrou no banheiro. Diante do espelho, ela examinava seu reflexo lembrando do sonho. Por que sua mãe insistia em aparecer em seus sonhos? O melhor dos dois mundos. Começava a achar que seu subconsciente estava mandando-lhe mensagens subliminares. Talvez devesse parar de pensar demais. Desde que essa saga começara, ela se vira diante de experiências novas e inusitadas. Apesar de algumas realmente apavorantes, cuidar de Dylan tornou-se um prazer, não uma obrigação ou um favor como pensara no início. Ela gostara do ambiente, das descobertas, da companhia de Castle.  

Castle.  

Ela o conhecia há três anos, quase quatro. Nesse período, eles passaram por uma transição. Do cara irritante, mulherengo e fútil para o homem carinhoso, amigo, pai responsável, gentil. Quando ele a convidou para ir aos Hamptons para o verão, ela já começava a gostar dele. Infelizmente, seu medo e seu timing acabaram por arruinar sua chance. Foi doloroso vê-lo com a ex-mulher. Então conheceu Josh e pensou que ele poderia fazê-la esquecer. Pura ilusão. Quando aquele beijo aconteceu, ela sabia que a forma que gostava de Castle não era a mesma que se gosta de um amigo, mas seus sentimentos estavam confusos, ainda sem definição. Até agora.  

A chegada de Dylan em suas vidas mudara isso, o bebê a mudara, desafiara a detetive a olhar sua vida até ali sobre outra ótica, de diferente perspectiva.  

Beckett passou a mão no rosto. Não podia negar. Ela estava apaixonada por Castle. Mas o que isso significava agora? Ela não poderia simplesmente contar para ele.  

Dylan. 

Primeiro teriam que cuidar do bebê e garantir o que prometera a Castle quando embarcara nessa aventura. Depois pensaria nela. Esperara três anos para entender o que se passava entre eles, não compreendia tudo, mas reconhecia. O que seriam mais três dias? Uma semana? Ela conseguiria.  

De fato, Beckett prometeu a si mesma que aproveitaria os últimos dias no loft como deveria.  
Desceu as escadas e encontrou Castle preparando o café.  

— Hey, bom dia - entregou a caneca para Beckett.  

— Bom dia. Dylan ainda dorme?  

— Sim, mas logo deve acordar com fome. Vou fazer o leite. Coma um croissant, tem geleia e queijo.  

— Você vai comigo para o distrito?  

— Vou. Por que?  

— Nada, é que está cedo e nem sabemos se temos um caso.  

— Se quiser posso ir depois.  

— Não, Castle. Pode vir comigo, já disse que gosto da sua companhia - ela sorriu. Comeu um pouco perdida em seus pensamentos. De repente, ela falou - acha que a agente Wilson virá hoje? Ainda temos a terceira visita e tecnicamente apenas três dias.  

— Não sei. Ela nunca avisa.  

— Só espero que ela não venha aqui quando nenhum de nós estiver.  

— Minha mãe estará aqui, Alexis... 

— Eu sei, mas não somos nós - Castle sorriu diante da preocupação dela - e-eu não quero que isso dê errado...  

— Não vai - ele acariciou a mão dela e entregou a mamadeira - quer acorda-lo? Você disse que não queria deixar de alimenta-lo.  

— E-eu não sei. Talvez você deva fazer isso hoje - lembrando-se do que aconteceu ontem. Castle percebeu o medo nos olhos dela. Então ele tinha entendido certo. Aquele momento estranho logo após ela deixar o quarto de Dylan tinha uma explicação e estava relacionado com a mancha que vira em sua blusa.  

— Não, esse papel é seu. Você me fez jurar que ia deixa-la alimenta-lo. Por que está relutando? - ela desviou o olhar. Era estranho dizer aquilo a ele. Era intimo. Suspirou - aconteceu algo ontem? - ela não responderia. 

— Tudo bem, eu vou.  

Com todo o carinho, ela pegou o bebê no colo e levou-o até a poltrona para dar o leite. Felizmente, nada aconteceu.  

Dez minutos depois, ela aparece na sala com Dylan em seu colo. Castle já estava pronto esperando por ela. Martha tomava café.  

— Bom dia, Katherine. Pode colocar essa fofura no carrinho, sei que precisam sair - nesse instante o celular de Beckett toca. Esposito.  

— Beckett - ela escutou os detalhes, Castle se aproximou tirando o bebê de seu colo e acomodando-o no carrinho. Ao desligar, comentou - temos um homicídio. Vamos direto para a cena do crime - ela se inclinou diante do carrinho e beijou a cabecinha do bebê - comporte-se baby boy, vejo você mais tarde - ajeitou o elefante no braço do bebê e sorrindo seguiu para a porta com Castle atrás de si.  

O caso era um clássico de vingança. Mesmo assim, as teorias boladas por Castle eram as mais absurdas. O nível de implicância com Esposito estava demais, o que arrancou risadas dela e de Ryan fazendo-a esquecer de uma preocupação que se instalara em sua mente. A terceira visita.  

Ao fim do dia, eles prenderam o culpado e despedindo-se dos detetives desejou-lhes um ótimo final de semana.  

— Você deve estar aliviada, não Beckett? Seus dias no loft estão chegando ao fim - disse Espo - imagina conviver com Castle 21 dias! Eu não aguento um sem ter vontade de soca-lo.  

— Javi! - Ryan o repreendeu.  

— Hey! Estou bem aqui - disse Castle.  

— Sim, Espo falta pouco, ele não é tão irritante assim, mas se passa dos limites sempre tem um jeito de repreende-lo. Vou me mudar em breve, mas o que quero saber é se o sacrifício valeu a pena. Se Castle conseguir a guarda de Dylan, acho que está tudo bem.  

— Que bom que alguém tem maturidade aqui e entende o quanto isso é importante. Vamos, detetive? - deixaram o distrito. Durante todo o caminho até o loft, eles não trocaram uma palavra. Castle não sabia ao certo o que se passava na mente da detetive. Assim que chegaram no loft, Kate pergunta a Martha por Dylan. Descobre que estava dormindo. Um pouco frustrada, faz uma nova pergunta.  

— Algum sinal da agente Wilson?  

— Não, querida, mas imagino que se quisesse falar com vocês ligaria para os seus telefones, não? - sem responder, Beckett notou que Alexis estava remexendo na geladeira.  

— Está com fome, Alexis? Já que Dylan está dormindo, posso cozinhar o jantar. 

— Imagina, Beckett. Não precisa.  

— Eu quero, Castle. Não vejo problema algum. Acha que pode esperar, Alexis?  

— Claro.  

— Eu volto já. Vou trocar de roupa.  

Castle observou-a subir as escadas. Ela estava preocupada? Porque esse silêncio não era normal.  

— Algo não faz sentido.  

— Do que você está falando, Richard?  

— Beckett. Ela passou o trajeto todo calada, agora esse jantar.  

— Richard, deixe a moça - Beckett acabava de descer, vestia calça jeans e uma blusa de manga três quartos. Foi direto para a geladeira. sabia que tinha pedaços de frango quase descongelados. Colocou no microondas para trazê-los a temperatura ideal para tempera-los. Em uma assadeira, ela colocou os pedaços dos frangos e começou a colocar as ervas, os temperos, em uma assadeira menor, ela colocou uma couve-flor inteira. Castle se aproximou dela.  

— Precisa de ajuda?  

— Não, está tudo sob controle. Por que você não serve um vinho para nós? Isso inclui a sua mãe. Não fique com medo, vai gostar do jantar. Apenas me deixe cozinhar.  

Ele fez o que ela pediu. Colocou a taça de vinho dela sobre o balcão e foi se juntar a mãe e a filha. De longe, Castle a observava. Como todas as vezes, era um prazer admirar tudo o que ela fazia. Mesmo cozinhando, ela tinha domínio de tudo. Martha teve que chamá-lo três vezes para que ele prestasse atenção no que ela dizia. Meia hora depois, Beckett anunciava que precisava apenas de mais quinze minutos. Satisfeita com o andamento do jantar, ela foi checar Dylan. Achou-o acordado.  Brincou um pouco com ele e entregou-o para Castle a fim de checar o frango no forno. Tudo parecia pronto. Assim que colocou a assadeira na mesa chamou-os para jantar.  

— Venham, não é bom comer frio. Infelizmente o arroz é o resto do almoço de ontem que esquentei, não tem mais. Esse frango é bem simples e fácil de fazer e tem a couve-flor de forno gratinada. Estou retribuindo o jantar que Alexis fez outro dia para nós.  

— Você sabe que não precisa fazer isso - disse Castle. 

— Eu sei, mas eu quis.  

— Está com um cheiro maravilhoso esse frango. Qual o segredo?  

— Ele é marinado e assado com muitas ervas especialmente orégano. Leva bastante cebola, alho, um pouco de vinho branco, pimenta do reino, mas o rei é o orégano.  

— Vamos provar - disse Martha - hum... isso é uma delicia, tão suculento. Como você fez isso tão rápido? 

— Essa é a melhor parte da receita. Leva somente vinte minutos no forno. Não é nada demais, apenas queria retribuir o jantar da outra noite que Alexis e Ashley fizeram. 

— Está tão bom que por mim pode repetir a gentileza quantas vezes quiser, Kate - disse Alexis. 

Eles continuaram comendo e conversando. Dylan estava no carrinho entre Castle e Beckett. De vez em quando ela mexia com o menino. Ao terminarem, Castle a proibiu de arrumar a cozinha. Ele colocou tudo na lavadora de louças e serviu mais uma taça de vinho para ela sentando-se ao seu lado no sofá. Beckett pegou Dylan no colo, brincava com o bebê. Apesar do sorriso, Castle sabia que havia algo incomodando-a. Finalmente, Dylan começou a dar sinais de sono. 

— Vou coloca-lo para dormir, tudo bem? 

— Claro, vá em frente - Castle deixou que ela ficasse sozinha com o bebê por um tempo. Não resistindo, ele foi espia-la. Beckett tinha um dos livros do Babar nas mãos. Lia para Dylan, imitando as vozes dos elefantes. Uma grossa, outra fina, isso sem falar nas emoções. Podia ouvir a gargalhada do menino. Aos poucos, ele foi se acalmando, abraçado ao bicho de pelúcia e com o polegar na boca. 

— Ah, baby boy… você é tão lindo, fica sereno quando dorme, alheio a qualquer preocupação do mundo. Melhor assim, a inocência faz bem, deixe que eu e seu pai nos encarregamos de tornar tudo mais fácil para você. 

Ouvir essas palavras de Beckett, apenas serviu para confirmar o que ele já suspeitava. Ela estava remoendo pensamentos, estava fazendo suas análises e algo não devia estar saindo como ela gostaria e planejara. O problema era que Beckett era muito boa em compartamentalizar, mesmo questionada, ela podia esquecer o que a afligia. Decidiu voltar a sala.

— Ele dormiu - disse Beckett aparecendo cinco minutos depois. 

— Ótimo. Quer mais vinho? Você tomou apenas uma taça, nem deu para relaxar ainda. 

— Eu aceito - ela sentou-se outra vez ao lado de Castle e esperou que ele lhe desse a bebida. Sozinhos por fim, ele resolveu não fazer rodeios, perguntou no ato.  

— O que está acontecendo, Beckett? - ela o olhava com uma interrogação na testa - não adianta querer disfarçar. Você não deu uma palavra depois que saímos do distrito, não conversou. Aqui perguntou algumas coisas da minha mãe e Alexis, mas está claramente me evitando. Mesmo quando estava sorrindo com Dylan, eu pude perceber que você está tensa. O que há de errado? Foi algo que eu fiz? 

— Não está acontecendo nada. Está tudo bem. 

— Beckett, por favor. Conheço esse “está tudo bem”. Na verdade, é o oposto do que significa. 

— Como você pode me conhecer tanto? Isso me irrita! - ele apenas riu. 

— Ah, admissão. Esse é o primeiro passo. Vai me dizer o que eu fiz, agora? 

— Castle, você não fez nada. Não estou evitando-o. E-eu acho que quem fez algo errado fui eu. Estamos no dia 18, após o fim de semana, acabou o período de avaliação. Devíamos ter três visitas, tivemos apenas duas. Eu estraguei tudo. Não devia ter inventado que precisava trabalhar. A agente Wilson provavelmente percebeu que a ideia de nós dois adotando uma criança não vai funcionar. Que mãe é essa que deixa o filho em casa para caçar assassinos? É claro que esse não é um ambiente adequado para criar uma criança. Os dois podem morrer a qualquer momento… deveria ter escolhido outra pessoa, Castle. 

— Do que você está falando? A agente Wilson gostou da primeira visita, ela conversou com Alexis e minha filha é a prova viva de que é possível criar uma criança aqui, por que essa dúvida toda agora, Beckett? Você não pode se culpar por trabalhar. Hoje em dia, todas as mães trabalham. Tempos modernos. 

— Castle, e se ela desistiu da terceira visita? Lembra o que seu advogado disse. Fazem três, as vezes quatro se quisessem confirmar algo. Mas nós só tivemos duas. Tem algo errado. 

— Beckett, ainda temos três dias. 

— Dois deles são fim de semana. Ela não vai aparecer aqui na segunda, no ultimo dia. Tem alguma forma de você consultar seu advogado? 

— Ele não terá detalhes do processo… 

— Mas ele já deve ter passado por outros casos de custodia de bebê, adoção, deve ter colegas de profissão que tiveram casos diferentes. Ele pode perguntar se isso é normal - ele sabia que ela estava preocupada, também desconfiava que essa não era a sua única preocupação, mas diante da importância, Castle escolheu não questiona-la mais. 

— Tudo bem, amanhã eu falo com Andrew. Mas, quero que me prometa uma coisa: você não vai ficar criando teorias em sua cabeça e nem vai se culpar pelo processo de adoção de Dylan. Fui claro? 

— Falar é fácil. Não foi você que pôs tudo a perder. 

— Kate, você não fez nada disso. As duas visitas foram muito boas. Eu sei que vamos conseguir a guarda do Dylan. 

— Você não pode saber isso, só está falando para eu me sentir melhor. 

— Eu sei, meus instintos e meu coração me dizem isso. Se escutar o seu coração, achará lá no fundo a resposta, será a mesma - ouvir Castle falar igual a mãe em seu sonho a surpreendeu - relaxe, Kate. Curta seus últimos dias aqui no loft, na companhia de Dylan. Eu acho que não está sendo um martírio como Esposito deu a entender, não? Eu percebi que você usou a palavra sacrifício - ah, droga! Ela pensou. 

— Claro que não, Castle. Foi maneira de dizer, disfarce, desculpe se me expressei mal. Tem sido uma aventura e tanto. Pode ter certeza que a mulher que entrou por aquela porta há três semanas atrás não será a mesma que sairá na próxima segunda-feira - ela sorria. 

— Tenho certeza disso. Acho que até consegui amansar a fera e faze-la pensar em bebês no futuro, não? 

— Você é muito convencido! 

— A resposta evasiva… ah, detetive… eu sei que sim. Conheço-a melhor do que você pensa. E Kate, não é porque os 21 dias de avaliação acabaram que você vai desaparecer, ou está proibida de vir ao loft visitar Dylan. A porta estava sempre aberta e de vez em quando posso precisar de seus serviços de babysitter - ela riu. 

— Você confiaria em mim para tomar conta de Dylan sozinha? 

— Kate, eu confio minha vida a você todos os dias, por que não a do meu filho? - ela não esperava ouvir essa declaração. De alguma forma, ela sabia que Castle não estava se referindo apenas a parceria que tinham, ia além. Ele chamou Dylan de filho. Ela suspirou. Por mais que tentasse fingir, ele a lembrava. Castle era apaixonante e ela já fora fisgada. 

— E-eu posso pensar sobre o assunto. 

— Sabe, Beckett, pensar as vezes atrapalha demais - lá estava ele, fitando-a com os intensos olhos azuis, fazendo seu corpo tremer e as sensações adolescentes aflorarem. Beckett virou a taça de uma vez.  

— Eu preciso dormir - colocou a taça sobre a mesa - boa noite, Castle - levantou-se do sofá. 

— Boa noite, Beckett, obrigado pelo jantar.    

Dia #19

Por volta das oito da manhã, Beckett surgiu na sala do loft. Surpresa consigo mesma por não ter ouvido Dylan chorar, ela queria se certificar que estava tudo bem. Foi brindada com uma ótima imagem. O bebê estava sentado no tapetinho segurando seu elefante. Castle estava a sua frente desenhando. Sim, uma folha enorme de papel e vários pincéis e lápis de cera sobre o desenho. Ela vira planetas, naves, um céu cheio de estrelas que ele provavelmente diria ser o cosmos de uma galáxia qualquer. Nesse instante, ele estava trabalhando em um ser extraterrestre. Inacreditável era o jeito como o pequeno prestava atenção no que ele fazia. Não apenas desenhava como fazia barulhos e contava uma historia. Era adorável ver aquele homem enorme curvado sobre um bebê tão pequeno, se divertindo com cada momento. Reparou que ele estava com a calça do pijama, camiseta e descalça. Beckett decidiu implicar. 

Chutando de leve os pés dele e usando seus próprios numa espécie de caricia, falou. 

— Quem diria. Alguém está pensando em mudar de profissão? Escolheu outra arte, Castle? Pintura. Está se sentindo como Nickie, aposto. Se bem que não sei se compraria esse seu quadro. Esse ET não combinou com as demais cores. 

— Ah, bom dia para você, Beckett. Acordou afiada? Olha só, Dylan. Ela não entende do lance e já que dar opinião. Diz para ela que isso é entre mim e você. Daddy sabe das coisas. 

— Daaadaddy… 

— Viu só, Beckett? Sem chance para você - sentindo-se desafiada, ela sentou-se ao lado do menino, pegou sua mãozinha e mordiscou os dedinhos. 

— Hey, baby boy… você está gostando dos rabiscos do daddy? - o menino olhou para ela já esticando a mão para toca-la - bom dia, meu bebê… - não deu outra, ele se jogou para o colo dela. 

— É assim, traidor? Não pode ver uma moça bonita que me abandona? Cadê a honestidade? Quer café? - ele já largara os pincéis levantando-se para ir até a cozinha servi-la. 

— Aceito. 

— Vou fazer uma omelete para você - enquanto se ocupava preparando o café dela, ele completou - estou esperando mais uma hora para ligar para o Andrews, afinal é sábado. Falando nisso, você tem algum plano para o dia de hoje? 

— Não realmente, estava pensando em levar Dylan para passear. 

— Ah, acho ótimo. Podemos ir, sim. Algum lugar em mente? - Beckett se levantou indo na direção dele com o menino no colo. 

— Na verdade, estava pensando em ir sozinha com ele. Algum problema? 

— Sozinha? - Castle estava surpreso, tentando disfarçar, completou - claro que não. Pretende sair ainda pela manhã? Almoçar fora, talvez? 

— Sim, você ia fazer sopinha para ele? 

— Ia, mas posso colocar uns potinhos na bolsa se quiser. Acho que vai ser muito bom você sair com ele. O garotão vai gostar. Eu vou aproveitar para dar uma olhada em uns capítulos que Gina mandou para eu fazer umas correções. Não que irei acatar o que aqueles almofadinhas da editora querem, afinal onde está a licença poética, o conhecimento artístico? 

— Entendi, resumindo você não vai aceitar nenhuma sugestão que ela deu e se duvidar ainda vai repetir o mesmo erro ou linha de trabalho somente para irrita-la. 

— Ah, detetive… você me conhece tão bem… 

— Eu tenho alguns anos de prática com a sua mania de irritar todo mundo - ela sorriu. 

— Coma seu omelete. Quer que eu apronte o garoto? - ele perguntou tirando-o de seu colo. 

— Não. Eu faço isso. Mas aceito se quiser arrumar a bolsa dele. E não vou levar o carrinho. Vou usar o canguru. 

— Seu desejo é uma ordem, Beckett - ele sumiu com o bebê para o quarto. Ela terminou de comer e decidiu se arrumar antes de cuidar de Dylan. Quinze minutos depois, ela surge no quarto do menino vestindo uma calça jeans, uma blusa de manga comprida e nos braços a jaqueta de couro marrom. O menino estava no berço enquanto Castle separava fraldas e mamadeiras na bolsa. 

— Tudo pronto, só falta vestir o garotão. Eu também troquei a fralda. 

— Obrigada. Vou fazer isso agora - Castle observou-a tirar o bebê do berço e com todo o cuidado e carinho leva-lo até o trocador. Era incrível como Beckett havia desenvolvido o instinto materno nesses últimos dias. Ele acreditava que a vontade de ser mãe sempre existira , ela apenas negava por conta do que acontecera no passado. Na sua opinião, a perda da mãe criou um bloqueio com relação não apenas a sentimentos, porém também a um vinculo familiar. Dylan conseguiu quebrar um pouco disso. Castle também acreditava que conseguira quebrar outras barreiras. Seriam os dois dias mais difíceis da sua vida, se acostumara a tê-la por perto 24 horas por dia. Em 21 dias, ele tivera mais próximo de Beckett que nos últimos três anos em que conviviam juntos. 

— Acho que está pronto - ela disse levantando o bebê e mostrando para Castle. Dylan vestia o onesie que ela comprara com a frase “handsome like daddy”, uma calça jeans e um moletom da gap azul para combinar com o jeans. Os tênis também eram da cor marinho. 

— Ah, como você está charmoso, garotão. Eu já entendi, Beckett quer exibir você, não? No fundo, está admitindo que sou bonitão, mo-menino - ele se policiou porque quase dissera mommy. Viu a detetive revirando os olhos. 

— Nem tudo é sobre você, Castle. 

— Sim, é verdade. Quase tudo, algumas coisas são sobre o Dylan que indiretamente são sobre a minha pessoa e… 

— Certo, você tirou a manhã para me irritar? 

— Eu sei que você gosta… - ele sorria. Beckett apenas balançou a cabeça. 

— Tudo bem, faça algo útil. Ajude a colocar o Dylan no canguru. 

Ele a ajudou. Com cuidado, ele amarrou o objeto no corpo de Kate ensinando como prende-lo e coloca-lo outra vez. Era impossível fazer isso sem tocar o corpo dela, sem esbarrar as mãos nos seios ou se aproximar demais. Ele pode perceber as reações de Beckett, viu alguns olhares em sua direção, porém não comentou nada. Ela deixou o loft em seguida. 

Beckett não tinha um plano. Ela apenas queria ficar um tempo com o bebê e longe de Castle. A realização de estar apaixonada pelo escritor mexera com sua cabeça e não queria estragar tudo o que fizera até ali por Dylan se precipitando. De fato, ela ainda estava preocupada com o suposto sumiço da agente. Acreditava que tivesse arruinado as chances de Castle, o que era uma atitude típica de Kate Beckett, sempre se sabotando ou assumindo a culpa pelos males do mundo. 

Ela caminhava na rua quando avistou uma loja de bebês anexa a uma de brinquedos. Não resistindo à tentação, ela entrou. De repente, Kate se perdeu admirando as roupinhas, os sapatos, era como se tivesse contaminada com a beleza das coisinhas de bebê. A vendedora fazia o seu papel e adorara ver Dylan. Aliás, todas eram só sorrisos para ela e o bebê. O menino também não deixava por menos, sorria, balbuciava suas silabas e se divertia com as brincadeiras que as moças faziam. Puro charme, como o pai, pensou Beckett. 

O resultado da visita foi duas sacolas de roupas, sapatos e gorrinhos. Também comprou uma manta muito parecida com aquela que Martha descreve-la para ela como sendo a preferida de Castle. Era azul como a noite, cheia de estrelas, planetas e foguetes. 

Passando por algumas lojas na Broadway, Beckett viu algo que chamou sua atenção. Teve que entrar. Ao ver que não se enganara, sorriu. Castle ia simplesmente amar isso. 

Beckett escolheu um lugar calmo para almoçar, um pequeno bistrô no SoHo. Pediu uma sopa e uma salada com salmão. Tirou da bolsa o potinho de sopa de legumes, o babador e aprontou Dylan para comer. Com algumas colheres erradas e risadas, a operação almoço foi um sucesso.   Satisfeita por ele ter comido todo o potinho, Beckett o limpou, pagou a conta e resolveu voltar para o loft porque sabia que logo ele iria querer dormir. 

No caminho para o metro, ela passou pela livraria. Não resistindo, entrou. 

Todas as vezes que ia numa livraria, Kate Beckett fazia uma espécie de ritual. Checava os lançamentos, algumas das recomendações, depois percorria seus corredores preferidos de ficção e sempre passava pela sessão de mistérios para checar os livros de Castle. Era algo que não conseguia evitar. tinha curiosidade em observar se as pessoas compravam os seus livros ou tinham dúvidas, algumas vezes ela os ajudava recomendando a leitura, falando por qual deveriam começar. 

Ela estava na sessão de recomendações ainda quando alguém chamou seu nome. 

— Kate? É você, Beckett? - ela virou-se para fitar a mulher ao seu lado. Conhecia aquele rosto - lembra de mim? Shannon Davis. Fizemos academia juntas. Estou lotada no 24th, roubos. Sargento, agora. 

— Ah, sargento Davis! Claro! Como vai Shannon? 

— Muito bem, não tanto quanto você. Estou vendo que a vida na policia não a impediu de criar sua família, bem diferente do papo de academia, não? Nossa! Que bebê lindo! Esses olhos! Como ele se chama? 

— Esse é o Dylan. 

— Ele lembra muito você, mas esses olhos… tão azuis. 

— São do pai. 

— Espera, você está dizendo que ele é filho daquele escritor que a seguia? Como é mesmo o nome dele? Li a repostagem que fizeram sobre você e o livro. Castle! Isso! 

— Sim, Dylan é filho de Castle - Beckett não sabia explicar, mas a conversa apenas fluía entre as duas, ela perpetuava a mentira criada pelos dois. 

— Parabéns aos dois. Uma família linda. Você merece, Kate. Depois de tudo, você mais do que ninguém merece. Muita saúde e sucesso para vocês. Eu ainda estou tentando convencer meu namorado a casar. Um dia chego lá - elas riram. Shannon se despediu, Beckett continuou seu ritual como se nada tivesse errado com aquela ultima conversa. No corredor de mistérios, ela observou os livros da série Heat e os de Storm. Coleção completa. Ao final do corredor, havia uma mesa com os destaques da sessão. Os livros dele estavam lá juntamente com os de Patterson e Nora Roberts. Ela reparou o livro que Ryan mencionara. Pegou para ler a contracapa. Então, Dylan começou a balbuciar. 

— Daadaddy… daadaddy… 

— O que foi, bebê? Está com saudades do Daddy? Mais um pouco e já vamos para casa, amor. Eu só quero passar na sessão infantil e… - o menino continuava. 

— Daadaddy… daadaddy… 

Então, Beckett entendeu. Havia um banner imenso de Castle ao lado da mesa segurando um exemplar de Heat Wave. Era por isso que Dylan não parava de balbuciar. Ela riu. Aproximou-se do Castle de papelão e o menino esticava as mãozinhas para toca-lo. 

— Sim, baby boy, é o daddy. Mas esse não é o de verdade. Nossa, se eu contar isso para o Castle ele vai babar - com o livro de Nora nas mãos, ela seguiu para a sessão infantil. Essa era uma nova parte que incluíra em sua rotina. O colorido da sessão chamou a atenção de Dylan que ficou excitado diante de tanta novidade. Ela acabou comprando mais dois livros de Babar para o menino. Finalmente, pegou o metro para o loft.  

Ao chegar em casa, encontrou Martha ao piano. Castle não estava na sala. 

— Olá, Katherine. Como foi o passeio? 

— Ótimo. Eu e Dylan nos divertimos muito. Não foi, baby boy? Conta para vovó. Nós vimos o Daddy, não? Martha, você precisava ver. Estávamos na livraria, sessão de mistérios, eu estava checando uns livros e de repente, Dylan começa a dizer “daddy” do seu jeito, tudo porque estava vendo um daqueles cartazes gigantes do tamanho de Castle. Incrível. Eu sei que alguém vai ficar muito convencido depois disso. 

— Se fosse você, não contava para ele. Richard tende a fazer disso algo enorme. 

— O que não querem me contar? Hey… garotão! Como foi o passeio? 

— Por sua conta e risco - disse Martha sorrindo. Beckett contou o que acontecera na livraria. Castle olhava para o menino todo bobo. Ela podia ver o encantamento naqueles olhos azuis. 

— Você reconheceu o Daddy? Oh… isso é grande, e incrível! - ele sorria pegando o menino do canguru - garotão, você é meu orgulho. Está convencida agora, Beckett? Ele sabe muito bem quem é quem. Reconhece cada pessoa que convive com ele. Não são meras silabas ou fonética - ela sabia do que Castle estava falando, mas optou por não comentar. 

— Acho que ele vai dormir logo. O passeio foi cansativo. 

— Estou vendo. Você levou-o para fazer compras, Beckett! Não é bem um programa para garotos. 

— Deixa de ser bobo, Castle. Você é o primeiro que adora comprar coisas. Esqueceu das bonecas russas? Ah, deixa eu te mostrar algo. Você vai adorar - ela remexeu as sacolas procurando por uma pequena sacola azul. De dentro dela, tirou um body e mostrou para ele. Castle abriu a boca surpreso. Beckett comprara um body da NYPD igual sua camiseta azul marinho - é oficial. Combina com ele. 

— Wow! Detetive Dylan Castle. Eu gosto. É lindo, Beckett. Você tem muito bom gosto para presentes. 

— Eu apenas conheço o que o pai dele gosta - ela sorriu - se você não se importar vou levar Dylan lá para cima comigo, no meu quarto - um pouco surpreso, ele responde. 

— C-claro. Pode ficar com ele - Beckett tira o bebê do colo dele, a bolsa da criança pendurada em seu ombro - a propósito, falei com Andrew. Ele disse para você não se preocupar. Tem uma leve impressão de que já ganhamos essa - ela deu de ombros e subiu as escadas. Assim que se viu sozinha com o filho, Martha comentou. 

— Richard, você sabe o que está acontecendo aqui, não? Katherine está tentando passar o máximo de tempo com Dylan, aproveitar os últimos momentos na companhia dele. Ela se apegou demais. Sabe que vai acabar. 

— Mãe, eu não estou cortando-a da vida de Dylan. Pelo contrario, eu disse a ela que a porta estará sempre aberta. É mais que bem-vinda aqui. Eu sei que o bebê sentirá falta dela. Se acostumou com o carinho, o sorriso, os cuidados. 

— Ele a vê como mãe, kiddo. Não foi só o Dylan que se acostumou. O pai também. 

— Eu nunca a afastaria. Dylan precisa dela. 

— Ela também precisa. Dos dois - Martha acariciou o braço do filho e retornou para o piano. 

Beckett aproveitou bem a tarde com Dylan. Sabendo que o bebê dormiria logo, ela optou por um banho. Na verdade, não ia apenas dar banho no menino. Decidira encher a banheira e aproveita-la com o bebê. A espuma fascinava o pequeno e Kate ria e conversava com ele dentro d’ agua. Foi bem divertido. Com todo o cuidado, ela lavava a cabecinha dele, manteve-o rente ao seu corpo e certificou-se que a agua estava bem baixa antes de o colocar sentado por alguns minutos e observar o jeito da criança brincando com a espuma. 

— Ah, baby boy, isso é divertido, não? - ele batia a agua espirando no rosto de Kate, algumas vezes ele mesmo se assustava fazendo Kate gargalhar, Dylan achava engraçado e ria também. Ela também escondeu pequenos brinquedos na banheira e fez o menino acha-los. Ele adorava brincar de esconde-esconde com objetos. Quando decidiu que já ficaram bastante tempo de molho, ela ergueu-o consigo, esvaziou a banheira e ligou o chuveiro para tirar a espuma de seus corpos. O bebê escorou a cabecinha no ombro dela, claramente com sono. Uma das mãozinhas, estava apertando o seio dela. Um gesto tão puro e carinhoso que a fez suspirar.  

Então aconteceu de novo. A boca do bebê encontrou o seio dela, sugando de leve a pele tentando abocanhar o mamilo. O corpo de Kate estremeceu. Ficou estática vendo a pequena luta do bebê em querer sugar seu seio. Ela não percebeu até que a lagrima caiu marcando o braço do bebê. Estava chorando e não sabia explicar porque. 

Com todo o cuidado, ela afastou a boca de Dylan de seu seio oferencendo-o dedo indicador dobrado para que ele sugasse a junta, o menino aceitou e foi além, agarrou o polegar dela com a mãozinha. Os olhos azuis a fitavam serenos. Kate ainda ficou um tempo sentindo as emoções inexplicáveis se acalmarem. Então, ela o enxugou, vestiu a fralda e colocou outro body no bebê. Também vestiu-se e preparou uma mamadeira para Dylan. 

Sentada na cama, ela aconchegou o menino em seu colo, abriu um dos livros do Babar, o que fez Dylan balbuciar “babababa”. De posse do elefante, ele agarrou o bico da mamadeira e provou o leite enquanto ouvia a voz calma de Beckett lendo a nova historia. Aos poucos, os olhinhos foram se rendendo. Cinco minutos depois, ele dormia em seus braços. Cuidadosamente, ela o colocou na cama ao seu lado, encheu de travesseiros ao redor dele e deitou-se admirando-o. Kate não sabia explicar, mas sentia-se leve. Talvez a palavra correta seja abençoada por poder experimentar um momento assim. 

Certa de que Dylan dormiria umas duas horas pelo menos, ela pegou o outro livro que comprara. Nudez mortal. 

— Vamos ver o que tem de tão especial nessa tal Eve Dallas, baby boy

Por volta de seis da tarde, Castle já estava agoniado. Nem sinal de Beckett descer, nem um chorinho de Dylan. Ele já terminara tudo o que tinha para fazer, jogara uma partida de videogame e estava entediado. Queria passar um tempo com ela, não teriam muitas oportunidades depois que ela fosse embora. 

Beckett ia embora. Não gostava de pensar sobre isso, porém era inevitável. Ele tinha um plano em sua cabeça. Pensara minuciosamente sobre cada passo. Esperaria que ela se mudasse do loft para executa-lo. O maior problema era que ele começara a sentir os efeitos de sua ausência já naquela tarde. Isso o incomodava, contudo não poderia extrapolar o limite que estabelecera, caso contrario, seu plano original de conquista-la não daria certo. 

Você aguentou quase 21 dias, pode aguentar umas duas semanas. Somente o tempo da decisão da adoção ser anunciada - dizia para si mesmo. Ainda não é tarde. Em sua cabeça, eles ainda não perderam a primavera. 

Não se contendo, ele subiu as escadas em busca dela com o pretexto do jantar. A porta do quarto estava escorada. Devagar, ele a abriu. Não pode evitar o sorriso. Kate estava deitada no meio da cama de casal envolta de travesseiros. Dylan estava adormecido em seu peito enquanto ela lia ou melhor, devorava o livro. 

— Se está lendo essa historia para Dylan, devo dizer que é totalmente inapropriada para a idade dele. No papel de pai, devo repreende-la. É praticamente como ler Heat Wave. 

— Castle? Faz tempo que você está ai? 

— Não. Acabei de subir. Quero saber se está de acordo em jantar pizza hoje. Não estou inspirado para cozinhar e depois do jantar de ontem, estão esperando uma receita de chef - ela sorriu enrubescendo. 

— Não foi nada. E tudo bem com pizza. 

— O vinho é especial para compensar. 

— Agora que você falou, percebi o quanto estou com fome. Que horas… - ela checou o celular - nossa! Quase sete da noite. 

— Pelo visto, você gostou da historia de Dallas… reconhece alguém?

— Eu não sou ranzinza como ela! Eu sou… eu levo a sério meu trabalho. 

— Como ela. A aparência, a força, tal qual você quando a conheci. Esfregando seu distintivo na cara das pessoas. E com uma historia, um trauma do passado. A diferença é que Nikki tem um lado mais brincalhão e provocante como você. Eu prefiro a Nikki. 

— Ah, não sei, Castle. Eu consigo ver outras diferenças muito importantes. Como o tal Roarke. Que homem! Bilionário, lindo, inteligente. Ele não tem sobrenome, mas claramente pecado combina com ele. 

— Hey! Mais respeito com a minha criatividade! - a voz um pouco mais alta que antes. 

— Castle, cuidado - ela sussurrou - vai acordar Dylan. Você está com ciúmes de uma personagem, um ser fictício? - ele não disse nada a principio, mas sua cara dizia tudo. 

— Não estou com ciúmes, você está menosprezando minha criação. Rook é um personagem complexo e importante. 

— Eu sei que é - ela colocou o livro sobre a cabeceira, tocou a mão dele - ele é perfeito para a Nikki, da mesma forma que Roarke é perfeito para Eve, Terri é para Nickie… - Castle a olhou curioso, por um momento pensou que ela iria completar o que sua mente queria. Como eu sou perfeita para você. Beckett para Castle. 

— Algo mais que queira acrescentar, Beckett? 

— Não agora, acho que isso é o suficiente - ela sorriu - talvez precise de mais evidências para comentar - de alguma forma, ele sabia que ela não se referia somente ao livro. Com cuidado, ela moveu o bebê de seu colo para o colchão. Agora Dylan estava entre eles, como uma espécie de barreira. Não fora intencional. Isso não parou Castle. 

— Que tipos de evidências? Escritas, faladas… 

— Gestos, outros livros, não sei ao certo. Quando descobrir eu te falo - ela sorriu - eles parecem a gente, de um jeito diferente, consigo ver o que Ryan falou. Mas eu prefiro a visão da Nikki. O lado meio vadia combina com ela - Castle riu. 

— Você odeia quando digo que ela é assim… 

— Não odeio, Nikki não é nem de longe vadia, ela apenas tem um jeito diferente de satisfazer suas necessidades. Eu apenas gosto de implicar com você porque você sempre acha um jeito de implicar comigo também. 

— Somos dois implicantes. Certo, algo mais? 

— Sim, estou morrendo de fome. Por acaso você ja pediu a pizza? 

— E eu achando que tinha amolecido a fera. Lá vem a detetive mandona outra vez. 

— Não se preocupe, Castle. Sei o quanto você aprecia eu ser assim. Adora quando fico mandando em você. 

— Ah, Beckett… assim meu coração não aguenta - ele levou uma das mãos ao peito ficando apoiado no cotovelo. Ela empurrou-o na brincadeira para pedir logo a pizza. O gesto foi maior que o esperado e ele se desequilibrou caindo da cama. No mesmo instante, ela se viu preocupada. Levantou correndo indo até ele. 

— Você está bem? - Castle estava sentado no chão. O barulho acordara Dylan que começou a mover-se na cama. Nenhum dos dois reparara, afinal ela precisava saber se Castle estava bem. 

— Vou sobreviver - então Kate caiu na gargalhada - não é engraçado, a culpa é sua. Para que toda essa violência? - de repente, eles ficaram estáticos. Dylan tinha se mexido, usando o próprio corpo para avançar nos travesseiros e estava bem na beira da cama de onde Castle caíra olhando para os dois. 

— Daadaddy…mamama… 

— Como..como ele… - Kate estava assustada. 

— Ele deve ter se empurrado, usando a barriga. Bebês só engatinham quando tem mais de oito meses. 

— Hey, baby boy… daddy assustou você? - ela se agachou para pegar o bebê no colo - é, daddy sempre faz muito barulho, muita confusão… 

— Hey! Foi você que me empurrou. 

— Mamamama…

— Não ligue para ele, Dylan. Está com fome? Eu também, mas alguém não entendeu isso ainda… 

— Dylan, agradeça todos os dias por seu um bebê. Espere até que possa andar. Ela vai mandar você juntar todos os seus brinquedos, essa fase de carinho vai acabar, pode esperar - ele disse se levantando do chão - não demore para descer. Vou providenciar a pizza, detetive. 

Após a pizza, ela se aproximou de Castle com Dylan no colo. O escritor estava recolhendo os pedaços restantes condensando-os em um único lugar. 

— Teremos pizza para o café da manhã. Algo me diz que você gosta disso. Alexis adora. 

— É gostoso comer pizza gelada do dia seguinte - ela beijou o rosto dele - obrigada pelo jantar, eu sei ser carinhosa quando você merece. E para provar isso, pode fazer Dylan dormir hoje. Eu ja o monopolizei demais para um dia. Ele precisa de um tempo com o “daddy” dele. Lave as mãos para pega-lo. Acho que também precisa de uma troca de fraldas. Ele é rápido depois que come. 

Entregou o bebê para Castle e foi se sentar com Martha no sofá segurando uma taça de vinho. Vendo que o filho já sumira para o quarto do bebê, ela iniciou a conversa. 

— Você se divertiu muito hoje com o Dylan, não? 

— Sim, ele é um bebê muito fofo. Adorável, de verdade. 

— Sabe, Katherine, eu não sabia da sua relutância quanto a bebês. depois desses dias convivendo com você e a criança, fica difícil de imaginar. Sei que está travando uma batalha interna consigo mesma, pelo que esse bebê representa para você. Apegou-se demais a ele, querida. O período de avaliação está acabando, porém você não precisa ser uma estranha nessa casa. Nós adoramos tê-la por perto. Especialmente Dylan e o meu filho. Para o seu próprio bem, Katherine, você precisa voltar para ver o bebê de vez em quando. Checar como ele está, leva-lo para passear. Os dois precisarão disso. Pode não admitir agora, mas sabe que tenho razão.  

Beckett não responde, não quer entrar nessa conversa porque conhece como Martha pode ser em relação ao filho, ao bebê e a toda a situação. Logo estaria falando que ela está pronta, que já é mãe e Kate não queria discutir o assunto. No fundo, ela sabia. Martha estava certa. Afastar-se completamente da vida de Dylan a faria muito mal. Mais do que podia imaginar no momento. 

No quarto do bebê, Castle contava histórias de Babar para o menino que parecia muito esperto para dormir. Então ele desistiu do livro e passou a conversar com o pequeno. 

— Garotão, preciso discutir um assunto muito sério com você. Sobre sua “mamama”. Sabe, você tem que começar a chama-la de “mommy” consegue dizer? “Moo-mmy”… repita “moo-mmy” - o menino olhava para Castle achando aquilo muito estranho. Então ele balbuciou “mamamama”. Castle suspirou - é, vai ser bem difícil usar você para ajudar a Beckett a ficar - sem entender o que ele dizia, Dylan se fez entender. 

— Babababa…


— Ah, você quer mais história? Isso você sabe pedir direitinho. Tudo bem, vou ter que agir sozinho para conquistar de vez sua “mamama”. Hora de ler sobre o rei Babar - dez minutos depois, Dylan estava dormindo. 


Continua...