sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

[Castle Fic] One Night Only !!! - Cap.43


Nota da Autora: Sei que vocês estão loucas para ver o angst acabar, ver Caskett juntos e todo o resto. Aqui vai algumas novidades para vocês: sim, fora esse capitulo apenas mais 2 cenas no proximo e aliviamos no angst. Também vamos começar a rir mais nessa fic, afinal a S4 tá cheia de momentos cuties (no AU da minha fic, claro!) e quem sabe apareçam algumas surpresas no caminho....hahaha! Esse capitulo é enorme! Quase 8K palavras para vocês abordando somente Rise! Enjoy! 

Cap.43  

Kate olhava desconfiada para a amiga. Não sabia o que estava prestes a enfrentar. O fato de Dana ter lido seu caderno com informações tão pessoais e intimas a deixava desconfortável. Conhecendo a terapeuta, tinha certeza que ela traria o assunto do relacionamento de volta a conversa, mesmo sabendo que ela não estava preparada para falar sobre isso. Suspirou.

- Não tenho como escapar disso, então melhor arrancar o band-aid de uma vez, será menos doloroso. Só uma pergunta: precisarei de álcool para passar por isso?

- Claro que não, Kate. Trata-se de uma conversa franca. Mas se a pergunta foi apenas um pretexto para você ganhar mais tempo antes que eu comece a falar, um café não faria mal a ninguém.

- Ótimo, vou fazer agora – ela se levantou prontamente – e ao contrário do que você pensa, não estou tentando ganhar tempo. Apenas sei que algumas conversas ficam bem mais fáceis com álcool.

- Boa tentativa, mas não acredito nem por um segundo nas suas palavras e intenções – quando Kate voltou com duas canecas de café na mão entregando uma a Dana, ela decidiu que não perderia mais tempo e começou a falar.

- Foi uma leitura muito interessante a do seu caderninho vermelho. Devo dizer que me impressionou com as discussões que criou. Você realmente colocou seus sentimentos no papel o que me fez pensar se você não é melhor escrevendo que falando. Acho que achei a terapia perfeita para você, porem como sou teimosa insistirei na falada. O que não falta sai assuntos a discutir. Parabéns, Kate. Você soube como usar a ferramenta. Eu escolhi dois assuntos para hoje que estão interligados. Estou falando de sua autoestima.

- Autoestima?

- Sim, eu fiquei surpresa ao ler o que escreveu. Para alguém que é tão confiante e determinada em seu trabalho como detetive, você realmente é um desastre na sua vida pessoal. Quase não acreditei quando li o que escreveu sobre o que Castle trouxe para sua vida e o que você considerava que tinha feito. Basicamente nada. Você se menosprezou totalmente dizendo que não tinha nada a oferecer a Castle. Como pode dizer isso? Você é cega ou gosta de se fingir de cega?

- Por que está me acusando? Eu realmente não tenho nada a oferecer a ele além de estar ao meu lado resolvendo crimes. Ele é um milionário pode ter tudo o que quiser, a mulher que quiser, eu sou apenas uma policial.

- Sim, ele pode ter tudo e ainda assim escolheu você. Acha que troca qualquer viagem para a Europa de primeira classe para estar ao seu lado numa cena de crime suja, com sangue por todo lado e um corpo fedorento porque ele acha divertido? Ele faz para estar com você. Kate, quando diz que não pode oferecer nada a Castle, você não está raciocinando direito. Por causa de você, ele voltou a escrever, ele encontrou sua musa, mais do que isso, ele a colocou em um pedestal. O trabalho na NYPD possibilitou conhece-la melhor não porque ele queria fazer pesquisa para Nikki, mas porque era uma maneira de desvendar o mistério por tras de Kate Beckett. E aos poucos, ele conseguiu alcançar lugares e respostas que ninguém conseguia a anos com você. Quando leio o livro, consigo ver a fantasia de um relacionamento entre vocês através de Nikki e Rook – ela tomou um gole do café antes de continuar.

- Você diz que não tem impacto na vida de Castle, o que significa ter um livro ou melhor uma serie baseada em você? E sobre dedicar o livro a você? Eu pesquisei sobre todas as dedicatórias de Castle nos livros antigos que escreveu. Sabe o que descobri, Kate? Que ele somente dedica seus livros para as pessoas que realmente importam ou significam algo para ele. Encontrei apenas duas mulheres, Kyra e você. Isso diz muita coisa. Nem as ex-mulheres dele tiveram dedicatórias. Minha conclusão sobre o assunto? Pare de se diminuir em um relacionamento. Precisa-se de duas pessoas para dançar o tango.

- Você está querendo me dizer que devo continuar a me relacionar com Castle porque ele me valoriza através dos seus livros?

- Pelo amor de Deus, Kate. Não se faça de desentendida. Sabe muito bem ao que me refiro. Você se lembra de uma de nossas primeiras conversas quando você reclamava que Castle era imaturo e superficial além de mulherengo? Esse Rick Castle não existe mais, ele mudou por sua causa. Então, não venha me dizer que você não tem nada a oferecer para o escritor nesse relacionamento.

Kate ficou calada por uns segundos. Não tinha argumentos para rebater o que Dana dissera. Por outro lado, ela queria que a terapeuta estivesse errada, infelizmente não estava. Castle era outra pessoa, nesses três anos que estiveram secretamente juntos com idas e vindas que acontecem em relacionamentos, ele se mostrou divertido, responsável e amável. Ele se importa com ela. A superficialidade desapareceu e tinha certeza que o motivo que a seguia não era para fazer pesquisa para seus livros.

- Dana, eu sou um perigo para Castle. Tenho inimigos que querem me ver morta. Tenho uma batalha que preciso lutar. Não irei desistir de prender o assassino da minha mãe. É pessoal e não vou arrastar Castle comigo nessa jornada. Não posso. Ele tem família, uma filha. O que direi a Alexis se o pai dela for assassinado por minha culpa? Por que estava lutando pela minha causa pessoal? É egoísmo da minha parte assumir que ele me seguiria porque quer me ajudar sem que eu analise as consequências. Ainda não sei com quem estou lutando, mas ele é muito poderoso. Não posso arriscar mais vidas nisso.

- O seu discurso é muito bonito. A sua preocupação com Castle e a família dele. Admiro seu gesto. Já parou para pensar que em nenhum momento você perguntou a Castle o que ele queria? É assim que as coisas funcionam em um relacionamento, Kate. Você pergunta, entende os medos e as necessidades do outro. Não decide pelos dois. É uma via de mão dupla.

- E é por isso que não temos um relacionamento. Não posso fingir que está tudo bem entre nós e sair por aí caçando assassinos no meio da noite, arriscando a minha vida enquanto Castle me espera em casa com o jantar. Não consigo ter esse tipo de relação enquanto não resolver o assassinato da minha mãe.

- E você acha que Castle ficaria em casa esperando por isso? Ele nunca deixaria você fazer isso sozinha. Lembra quando me disse que ele pediu para que esquecesse o caso? Qual foi o próximo passo dele após vocês brigarem, após você expulsa-lo de sua vida? Ele não desistiu. Ele continuou lá e graças a teimosia de Castle, Montgomery manteve-a viva. Foi porque ele estava ao seu lado no púlpito que você está viva hoje. Consegue entender isso?

- Ele é um inconsequente! Ele sabia que podia morrer! Ele é teimoso demais para não pensar no que poderia ter acontecido. Isso me irrita!

- Ele é teimoso, sim. Mas a teimosia dele tem uma explicação. Ele fez tudo isso por amor, Kate. Não me diga que não consegue entender isso – Dana viu a expressão no rosto dela mudar, era como se concordasse pela primeira vez com o sentimento e isso trouxesse uma outra variável ao problema, dor – Kate, você sabe o quanto eu gosto de você. Torço pela sua felicidade, porém por causa da sua teimosia talvez seja tarde demais.

- O que você quer dizer com isso?

- Castle está magoado. Da última vez que conversamos, ele comentou que não entendia o porquê do seu silêncio, porque não queria sua ajuda para se recuperar. Essa distância que você impôs a ele, deixou-o triste e amargo. Ele me disse... – Dana mordiscou o próprio lábio ao ver a ansiedade no olhar de Kate, ela sabia que as próximas palavras poderiam ser muito danosas a amiga, contudo ela precisava da verdade – ele me disse que se você não queria falar com ele, então era um sinal de que ele precisava se afastar. Ele não iria correr atrás de você, Kate. Na minha opinião, se você não ligar para ele com uma boa explicação, Castle não a escutará. Talvez ele sequer atenda o seu telefonema.

Dana percebeu que ela tinha lagrimas nos olhos. As mãos não paravam quietas, os pés batiam insistentemente sobre o assoalho da cabana. Pressionara demais jogando a realidade na cara dela, ainda não terminara.

- Kate, o que você realmente se lembra do dia em que levou o tiro? Sem joguinhos dessa vez. Eu sei que você se lembra de algo.

- Não importa o que eu me lembro, não fará diferença. Dana por que você disse que Castle me ama e agora afirma que ele não quer me ver ou falar comigo?

- Me diga você, a ideia de afasta-lo da sua vida foi inteiramente sua. Você o magoou após ele ter arriscado a própria vida para salva-la tantas vezes. O que você se lembra, Kate?

- Não muito. Lembro do discurso. De olhar para ele, e de uma dor. Eu caí. Minha visão começou a falhar, eu pude ver Castle perto de mim. Ele falava algo, eu não sei o que era. Eu podia ver. Havia desespero em seus olhos. Depois, tudo ficou escuro.

- Você não se lembra o que ele lhe disse?

- Não! Eu tenho pesadelos com isso! Eu não consigo me lembrar será que você entende agora porque é tão difícil falar daquele dia? Por que é tão difícil me lembrar de Castle sem pensar na dor que vi em seus olhos? Eu não posso tirar essa dor dele, pelo que você falou eu apenas piorei quando o afastei. Eu disse uma vez para Castle que era uma pessoa destruída, quebrada. Isso só prova que tenho razão e por isso não posso ter um relacionamento com Castle.

- Então você vai trair seu próprio coração? Vai negar a si mesma a chance de ser feliz? Castle pode estar magoado, porém se você o procurar e disser o que precisa ser dito, ele entenderá porque ele te ama. O que a impede de procura-lo, Kate? Pegue o telefone. Ligue.

- E-eu não sei o que dizer. Não estou preparada.

- Ligue. Você acha que não está preparada, seu coração está.

Kate pegou o celular e selecionou o nome de Castle. A ligação chamou duas vezes e uma mensagem de voz foi recebida “o telefone está fora da área de serviço ou temporariamente desligado”.

- Ele ainda deve estar voando para Atlanta ou qualquer outro lugar na costa leste. Pode tentar mais tarde.

- Não! – a voz de Kate era enérgica – não tentarei de novo porque isso foi um erro. Castle não atender essa ligação é um ótimo sinal de que eu deveria deixar as coisas como estão. É a confirmação que devo me concentrar em ficar bem para voltar ao trabalho. Não posso me distrair com sentimentos ou relacionamentos. Eu tenho um assassino para caçar. Acabou.

- Kate Beckett, eu detesto ter que lhe dizer isso, mas não está nem perto de acabar. Você pode se fechar em seu mundo, erguer seus muros e mentir para se mesma que não precisa de alguém, de Castle. Infelizmente para o seu plano é tarde demais. Você já está ligada a Castle. O que sente por ele não irá desaparecer. Não adianta tentar esquece-lo porque não irá conseguir. Mais cedo ou mais tarde, terá que encarar o que seu coração quer. Eu esperarei, porém desde já eu posso dizer que está cometendo um grande erro não insistindo em resolver as coisas com Castle.

- Pare, Dana. Estou cansada de seus conselhos e teorias. Essa sessão de terapia acabou.

- Tudo bem, acabou. Vou lhe dizer uma última coisa, dessa vez não como sua terapeuta, mas como sua amiga. Você precisa de Castle a seu lado. E se não está disposta a revelar seus sentimentos verdadeiros a ele, meu conselho é que ao menos mantenha a parceria. Deixe Castle voltar ao 12th, continuar caçando assassinos ao seu lado. Com alguma sorte, em um determinado momento você verá o que está bem diante de seus olhos. Você assumirá de uma vez por toda que é louca pelo cara – ela se levantou da cadeira – te vejo na próxima semana. Divirta-se com as aventuras de Nikki Heat.

Dana virou as costas para Kate sem lhe dar a chance de falar novamente. Saia da cabana com o coração apertado. Fora dura com a amiga, mas ela precisava baixar a guarda e entender que essa distância estava lhe fazendo mais mal do que bem. Somente esperava que o outro elemento desse relacionamento não tivesse jogado a toalha de vez.

Castle acabara de desembarcar em Atlanta. O voo fora bom, mas ele não estava no melhor dos humores. Um chofer com uma limusine o esperava no saguão do aeroporto para leva-lo direto ao hotel. Sentado no banco de trás, ele ligou o celular. Foi direto a sua agenda e ligou para a filha informando que chegara bem a cidade e que estava indo para o hotel descansar um pouco. Assim que desligou, ele reparou que tinha duas ligações perdidas e uma mensagem. Primeiro as ligações. Gina ligara enquanto ele estava no voo. No mínimo queria falar sobre algo chato que esquecera. Depois falaria com ela, sabia que se não ligasse ela o procuraria de qualquer forma.

A segunda ligação fez seu coração disparar. Kate. Ela tentara falar com ele enfim. Talvez seja obra de Dana. Uma ponta de esperança surgiu em seu rosto. A mensagem. Poderia ser dela, não? Ao checar o remetente, ficou frustrado. Não era Kate, era Dana. Ele abriu a mensagem e se deparou com três fotos de Kate. Dana escrevera.

“Sei que está chateado, mas eis a prova de que mesmo recusando-se a ligar para você, ela não o tira do pensamento. Vê o sorriso com o café? É por sua causa. Paciência, Castle. Beijos, Dana.”  

Ele sorriu. Ela parecia bem melhor. Sua aparência estava mais saudável, serena. Dana vinha fazendo um bom trabalho. Mas, e a ligação? Acontecera depois que as fotos foram enviadas. Deveria ligar retornando? Era o correto a fazer, não? Podia ligar e agir casualmente. Somente para ter certeza de que ela ligara. E fazer papel de bobo novamente? Repetir o que você decidiu não tentar? Ele não iria ceder dessa vez. Se ela ligara uma vez, sinal de que pensara em falar com ele. Se Kate realmente quisesse conversar, teria que ligar de volta.

E por um ato de teimosia e orgulho ferido, ele se negou o direito de falar com sua amada. O gesto lhe custou mais um mês sem notícias de Kate.

Afastados, ambos seguiram seus caminhos. Kate dedicou-se em melhorar o suficiente para voltar ao trabalho. Estava cansada de não fazer nada. Dana continuou ajudando-a uma vez por semana em melhorar. Não comentava mais sobre relacionamento. Na verdade, ela mesmo ficara um pouco frustrada ao não receber nenhuma notícia de Castle após o envio das fotos. Ele realmente cumprira com sua palavra de não insistir no assunto.

Kate voltaria ao trabalho na próxima semana, Dana sabia que Castle estava de volta a Nova York. Torcia muito para um reencontro dos dois, porem admitia estar preocupada com a reação dele já que em nenhum momento retornou a sua mensagem ou mesmo ligou para ela querendo saber de Kate. Parece que levou a sério a decisão de não ter notícias. Pensando justamente nisso, a terapeuta decide procura-lo. Ao checar o calendário de eventos no site dele, vê que haverá uma tarde de autógrafos na Barnes & Noble da 5ª avenida. Ótima forma de encontra-lo e ter uma pequena conversa.

Barnes & Noble – tarde de sexta-feira

Dana entra na livraria e logo se depara com um banner gigante com a foto de Rick Castle e outro com a capa de Heat Rises quase do seu tamanho. O lugar parece bem cheio, muitos leitores pelas prateleiras e vários na fila para receber um autografo do seu escritor favorito. Ela pega uma cópia do livro e dirige-se ao caixa para compra-lo. Assim que é atendida, ela entra em outra fila. A dos fãs de Castle. Meia-hora depois, ela está frente a frente com ele.

- Olá, Rick. Pode assinar para mim? Apenas Dana – ele ergueu os olhos do papel para fita-la. Um breve sorriso apareceu no seu rosto – o que? Achou que eu estava brincando quando disse que queria meu exemplar autografado? Aqui estou eu para consegui-lo. Esperei na fila e tudo.

- É um prazer revê-la, Dana. Obrigado pela consideração.

- O que eu posso dizer? O escritor é bom e eu sou realmente fã de Nikki. Uma pena que ela é muito complicada.

- Existem outras bem mais complicadas que ela, Dana.

- Eu sei. Será que pode me ceder alguns minutos de seu tempo? – ele acenou para a fila atrás dela – depois que a fila acabar, Castle. Pode me encontrar no café, você me deve um tempo. Já faz um mês que não nos falamos.

- Tudo bem, mas terá que esperar um pouco.

- Sem problemas. Aproveito para ler Heat Rises – sorrindo ela pegou seu livro e afastou-se da mesa onde o escritor estava. Dirigiu-se para a área do café e sem cerimônia sentou-se numa das mesas e começou a ler a nova aventura de Nikki Heat.

Somente uma hora depois, Castle aparece sentando-se de frente para ela com dois copos de café.

- Tomei a liberdade de pedir um latte machiatto para você. Quer dividir um brownie?

- Obrigada. Acabou a sessão de autógrafos?

- Sim, por hoje – ele percebeu o livro aberto na mesa – você não estava mentindo quando disse que ia ler...

- E estou adorando! Gostei da dedicatória. Montgomery merece.

- Sim, mas tive que ouvir muito porque quis mudar. Isso não importa mais – ele deu um sorriso cansado.

- Como você está, Castle? Estranhei não ter notícias suas nos últimos dias.

- Trabalhando, seguindo com a minha vida. Por que não fala logo o que quer, Dana? Veio me procurar para falar sobre Kate, não? Não preciso ser um gênio para saber.

- Ela voltará ao distrito na próxima semana. Está bem, não totalmente recuperada e jura não se lembrar o que você disse no dia do tiro. Ela se lembrou de você a protegendo, falando algo, mas as palavras ainda parecem bloqueadas na mente dela. Sei que não era o que você gostaria de ouvir. Se serve de consolo, ela não o esqueceu. Ela está insegura quanto ao relacionamento de vocês. Por acaso você não recebeu as minhas fotos e uma ligação dela? Eu estava lá quando isso aconteceu. Você precisava ver a cara de decepção que ela fez.

- Eu recebi, mas imaginei que se quisesse realmente falar comigo tentaria ligar outra vez. Não foi o caso, o que prova que estava certo. Ela deve ter feito a ligação no impulso, ou devo dizer sob pressão?

- Não foi sob pressão, eu a incentivei a ligar, porem esqueci completamente que você estava voando. Se tem uma culpada nessa história sou eu. Castle, eu conversei muito com Kate. Mesmo confusa é inegável que ela gosta de você. Foram três meses bem difíceis para ela, tenho certeza que não foi mamão com açúcar para você também. Eu só quero que, caso ela lhe procure, não feche a porta. Dê uma nova chance a ela, a vocês dois. Não seja radical.

- Engraçado, você me pede para escuta-la, não ser radical. Mas, não foi exatamente a maneira como Beckett agiu comigo? Por que eu devo ceder sempre?

- Não se trata de ceder. Emocionalmente, você é bem mais evoluído que ela. Você sabe o que é amar e lutar por amor. Kate esqueceu como isso funciona ao longo do tempo, ela está reaprendendo através de você – ele suspirou.

- Não posso prometer nada. E você nem sabe se ela virá me procurar. Não o fez em três meses, por que agora?

- Porque Kate está melhor, quando voltar a sua rotina, ela vai sentir sua falta. Estava acostumada a te-lo do seu lado, especialmente com os novos desafios que tem pela frente. Um novo chefe, a busca pelo seu assassino de aluguel...

- Ela não pode remexer nesse caso, ela vai ser morta! A morte de Montgomery não pode ser em vão. Se ela insistir nisso, eles vão matá-la.

- Você conhece Kate melhor que eu. Ela não vai deixar essa história de lado a menos que alguém a impeça. Acho que já é motivo suficiente para você escuta-la caso ela venha lhe procurar. 

- Você fez isso de proposito, Dana. Isso é manipulação.

- Não fiz nada, pedi um certo cuidado a você, nem sabia que havia mais história sobre aquele atentado – ela se levantou, pegando o seu livro – obrigada pelo café e pelo autógrafo. Quero ir para casa terminar de ler a aventura de Nikki e Rook. Foi muito bom revê-lo e Castle? Não seja um estranho, se precisar conversar sabe como me encontrar – ele ficou observando a terapeuta desaparecer entre os clientes da livraria. Dana trouxera o assunto Kate Beckett novamente a sua mente. Ela estava voltando ao trabalho. Por mais que negasse abertamente, no fundo ele gostaria de voltar ao distrito e investigar crimes ao lado dela e com os rapazes. 

Uma semana depois...

Ela caminha devagar para fora do elevador e no saguão do 12th distrito. Ao perceberem sua presença, todos os policiais e detetives do recinto lhe dão uma salva de palmas. De repente, ela entendeu. Era bom estar de volta. Esposito e Ryan vieram ao seu encontro para atualiza-la das novidades sob a batuta da nova capitã.

- Então, alguma coisa? – ela perguntou.

- Nada ainda – disse Ryan – tiramos DNA da arma, mas nada apareceu no sistema. Está marcado para caso algo aconteça, espera, Castle não lhe contou sobre isso?

- Não.

- Isso é estranho. Por que ele esconderia isso de você?

- Ele não está escondendo nada, eu não o vejo há um tempo – ela respondeu sem olhar para eles.

- Há quanto tempo exatamente? – perguntou Ryan.

- Praticamente desde o tiro.

- Por que? O que aconteceu?

- Nada aconteceu. Eu só precisava de um tempo – ela já se encaminhava para a área de descanso. Eles a seguiam.

- Ele te deixou sozinha por três meses?

- Pessoal, não é culpa dele. Eu disse que ligaria.

- Por que não ligou – era Esposito quem perguntava – porque ele esteve aqui todos os dias trabalhando no caso...por meses ainda estaria se Gates não o tivesse expulsado.

- Ela o expulsou? Por que?

- Aparentemente sua delegacia não tem lugar para um escritor delirante brincar de policial. Capitã Victoria Gates conhecida como a Gata de aço. Segue todas as regras.

- Uma coisa é certa: ela não é Montgomery.

- Ela não falou com Castle ainda não sabe do banco.

- Que banco?

- Castle sugeriu que checássemos Montgomery, McCallister e Raglan. Ver como eles tinham negócios antigamente. Sabemos que cobravam resgate de bandidos. Talvez usaram esse dinheiro para pagar o mandante da morte de sua mãe. Castle acha que descobriu o banco que usavam.

- A trilha do dinheiro.

- O único problema é que o banco fechou. Ninguém sabe onde foram parar os registros antigos. Tentamos localiza-los, mas foi quando Gates fechou a investigação.

- Ela suspendeu a investigação? – Beckett parecia surpresa – por que?

- Sem novas pistas sobre o atirador e não poderíamos contar o resto sem implicar Montgomery.

Pela primeira vez, Beckett começava a sentir a pressão que seria trabalhar com a nova capitã. Mais que isso, ela estava sentindo-se culpada depois de tudo o que os rapazes lhe contaram sobre Castle. Parece que Dana tinha razão mais uma vez. Precisava reestabelecer-se novamente no distrito. Queria sua arma e seu distintivo. Era hora de encarar a sua nova chefe.

- Detetive Beckett de volta a ativa a partir de hoje – entregou um atestado que recebera do médico e também assinado por Dana como terapeuta.

- Detetive Beckett, sua reputação te procede. A mulher mais jovem da NYPD a se tornar detetive. Ganhou de mim por seis semanas.

- Não sabia que reparavam nisso.

- Reparam em tudo, detetive – disse enquanto examinava os papeis – especialmente os chefões. Parece que passou na sua avaliação psicológica. Seja bem-vinda de volta – entregou-lhe o detetive.

- Obrigada, senhora. Eu também preciso da minha arma.

- Não até se requalificar.

- Como é?

- Ficou fora de ação por três meses. Pelo regulamento, não pode tê-la até se requalificar – Beckett tentou falar de seu tiroteio e a única coisa que conseguiu foi a primeira bronca da capitã. Irritada, ela deixou a sala. Os rapazes logo perceberam que ela estava com muita raiva. Ela pediu os arquivos para rastrear o banco. Ryan informou que estavam com Castle por segurança. Não podiam arriscar com Gates. O telefone de Ryan tocou. Tinham um novo homicídio, mas Beckett optou por não participar da investigação. Sentada em sua mesa, ela abriu o arquivo que mantinha com poucas peças sobre a última investigação envolvendo Lockwood. A maioria das evidências e papeis importantes estavam em sua casa.

Seus pensamentos voltaram-se para Castle. Ele não desistira de ajuda-la mesmo que ela o tivesse afastado. Ele tentara. Começara a perceber que talvez fora injusta com ele. Não deveria ter ficado tanto tempo sem falar com ele. Desde aquela tentativa da ligação, ela escolheu não ligar outra vez. Um erro. Três meses sem falar com Castle, o que deveria dizer se fosse encontra-lo agora? Estava preparada para encara-lo? A resposta era não. Kate não sabia o que esperar em um reencontro com o escritor, porém concordou que já se mantivera longe tempo demais. Precisava ficar frente a frente com ele. Fazendo uma rápida pesquisa na internet, ela descobriu onde poderia encontra-lo.

Em uma livraria da cidade...

Castle estava sentado distribuindo autógrafos e ouvindo elogios de uma fila de fãs. Estava cansado de fazer isso ultimamente. Sua vida transformara-se em um calendário de eventos literários onde nada excitante acontecia. Ele sentia falta de ação. Desde a situação com Kate, ele não conseguira escrever. Estava com bloqueio. No fundo, sabia que era falta de inspiração causada pela ausência de sua musa. A raiva que sentia dela, por tê-lo abandonado, era suficiente para fazê-lo não escrever uma única linha de Nikki Heat. Mesmo com a pressão de Gina e da editora.

Acabara de autografar mais um livro. O processo tornara-se quase mecânico agora. Sem olhar para a pessoa a sua frente, ele pegou o livro, abriu a primeira página e perguntou.

- A quem devo dedicar?

- Kate. Pode dedicar a Kate – ele ergueu os olhos do livro surpreso por ouvir aquela voz inconfundível. Lá estava ela, mais linda do que nunca. Ele quase prendera a respiração ao encara-la. Tentando agir naturalmente, ele assinou o livro e devolveu a ela. Nenhuma outra palavra fora dita. Ao termino do trabalho, ele deixava a livraria agradecendo o esforço da equipe. Quando se virou para a rua, viu que ela estava escorada na parede. Aparentemente esperando para falar com ele. Aquilo fez seu sangue ferver. Castle escolheu passar por ela como se não a visse ali. Não adiantou, ela o chamou.

- Castle, espere.

- Esperei três meses. Você nunca ligou – ele respondeu sem nem olhar para ela, continuou andando.

- Olha, eu sei que está com raiva...

- Pode ter certeza que estou – ele retrucou. Virou-se para fita-la – eu a vi morrer naquela ambulância. Sabia disso? Sabe como é ver a vida esvair-se de alguém... – ele se policiou para não dizer as palavras erradas - de alguém que você gosta?

- Eu disse que precisava de tempo.

- Você disse alguns dias.

- Precisei de mais.

- Devia ter dito isso – ele virou as costas para ela. Kate insistiu.

- Castle, eu não podia ligar para você, está bem? Não sem reviver tudo que estava tentando me afastar. Precisei de tempo para digerir tudo.

- Dana ajudou-a com isso? Porque eu também poderia se você me deixasse.

- Sim, ela me ajudou. E não acho que você poderia – chateada, foi sua vez de virar-lhe as costas. Castle a observou caminhar na direção do parque. O mesmo lugar que anos antes representara um marco no relacionamento deles. As palavras de Dana ecoavam em sua mente “dê uma chance a ela. Escute o que tem a dizer”. Droga, Dana! Arrependido, ele a seguiu. Kate estava sentada em um dos balanços, o livro aberto em suas mãos. Castle respirou fundo sentando ao lado dela. Poderia escuta-la, mas não ficaria calado.

- Eu gostei da dedicatória.

- Pareceu apropriado.

- Deve ter sido difícil escrever esse final.

- Sim, mas por incrível que pareça eu já havia escrito. Não mudei a história. Uma dolorosa coincidência dada as circunstâncias – um silêncio estranho cresceu entre eles, Castle decidiu que era a hora de confronta-la – por que faz isso, Kate? Por que foge das situações complicadas? Tínhamos um relacionamento e bastou algo difícil acontecer para você me tirar da sua vida. Durante esses três meses, eu poderia tê-la ajudado. Eu queria estar ao seu lado porque isolar-se não era a resposta. Fiquei preocupado e quando vi que aquela ligação não ia acontecer, eu tive muita raiva de você. Ainda estou com raiva. Será que pode ser honesta ao menos uma vez? Você me deve isso.

- Após minha mãe ser morta, algo mudou dentro de mim. É como se eu tivesse construído um murro dentro de mim. Não sei, acho que eu não queria sofrer daquele jeito novamente. Sei que não conseguirei ser o tipo de pessoa que quero. Sei que não... – ela parou por um instante o que fez Castle olhar para ela – não conseguirei ter o tipo de relacionamento que quero até que essa parede seja derrubada. O que não acontecerá até que encerre isso. Eu gosto de você, Castle. Mas, não posso oferecer o que deseja nesse momento.

Ele a observava. Estava sendo sincera, podia ver em seus olhos.

- Então, eu acho que teremos que achar esses caras e acabar com eles. Isso não significa que não estou mais bravo – ela deu o primeiro sorriso desde que o vira.

- Os rapazes contaram o que você fez. Seguiu o rastro do dinheiro, procurou os policiais pagos.

- Só queria que tivesse sido útil. Eu localizei os arquivos. Quando o banco fechou, eles pegaram todo os dados e a papelada e colocaram em um armazém em Union City. Anos depois, houve um incêndio e os arquivos se foram. É só mais um beco sem saída.

- Como o incêndio aconteceu?

- Um acidente. Fiação velha.

- Tem certeza? – alguma teoria já se formava na mente de Beckett.

- Tenho. Foi investigado.

- Você viu o relatório do investigador?

- Não, mas... incendiar um armazém? Parece muito trabalho só por alguns arquivos.

- Não seria mais trabalho dado o que já fizeram. Precisamos ver esse relatório. Só tem um problema, como ajudará se Gates te expulsou?

- Ela não me expulsou. Eu só a deixei pensar que me expulsou porque não havia motivo para ficar.

- Ah! – o motivo, claro, era ela. Isso fora uma massagem no ego de Kate.

- Ela me aceitará de volta. E quanto a você, Kate? Quais são as condições para que eu volte ao distrito para investigar ao seu lado?

- Castle, eu... – ela passou a mão no cabelo – eu ainda não consigo voltar de onde paramos. Eu preciso da sua ajuda, do meu parceiro. Mas, é somente isso que posso oferecer agora. Não estou pronta para simplesmente fingir que está tudo bem quando não está. E não é sua culpa, sou eu. Se aceitar o que peço...

- Significa cada um em seu canto. De volta ao começo, à estaca zero. Nada de noites no loft.

- Você ainda pode me convidar para jantar no loft. E não é estaca zero. Somos parceiros e confio em você. Aparentemente, aquele cara superficial e exibido não existe mais – ela sorriu levantando-se do balanço, esticou a mão para ele - parceiros?

- Parceiros – ele respondeu apertando a mão dela, surpreendendo-a, ele a envolveu em um abraço – seja bem-vinda, detetive Beckett. Aquele distrito não é o mesmo sem você – ela sorriu.

- Obrigada. É bom estar de volta. Mesmo sem minha arma.

- Terá que se requalificar? Ah! Será um passeio no parque para você. Vamos andando? Tenho uma ligação muito importante para fazer.    

Após a conversa com o prefeito, Castle e Beckett puderam ter o prazer de ver Gates engolir em seco as ordens para aceitar o escritor de volta ao 12th. Beckett também conseguiu sua arma de volta. Quanto ao seu compromisso com Beckett, não era bem que Castle desejava, mas já era um começo. Ele aprendera a aceitar que a pessoa que escolhera para passar o resto da sua vida, ainda não estava pronta. Dana tinha razão, Kate não teria lhe dito sobre como se sentia e abordado relacionamentos se não houvesse esperança. A única coisa que Castle esperava era que não demorasse tanto para ficarem juntos outra vez.

Castle sabia que a mente de Beckett estava focada em descobrir mais sobre seu tiroteio, o incêndio e não iria descansar, mesmo que tivesse que fazer isso as escondidas da capitã, aliás foi a primeira coisa que pediu para Esposito olhar assim que voltou ao distrito. Ela descobriu que o armazém pegou fogo três semanas após a morte de sua mãe. Não era coincidência. Precisava falar com o investigador do caso. Infelizmente, isso teria que esperar pois acabaram de informar a capitã sobre o paradeiro do suspeito no caso que Ryan e Esposito estavam investigando. Ela praticamente expulsou Beckett para ir com eles e fazer essa prisão.

Antes de entrarem no local, Espo perguntou se estava tudo bem com ela. Se estava pronta para já enfrentar uma prisão após o que acontecera há três meses. Beckett afirmou que estava bem. Durante a caçada ao suspeito, porém, a história mudou. Ela começou muito bem perseguindo o cara até o momento que ele a encurralou e apontou-lhe a arma. Beckett hesitou. De repente, a mira da arma a paralisou. A respiração mudou, ofegava e fora incapaz de levantar a sua arma para confronta-lo. Felizmente, os rapazes estavam lá para lhe dar cobertura e prenderam o cara. Ela reparou que sua mão tremia ao segurar a sua arma. Naquele instante, ela se sentiu diminuída e insegura.

Ela não fora a única que percebera. De volta ao distrito, enquanto os rapazes pressionavam o suspeito, Castle a confrontou na sala de observação.

- Quer conversar sobre aquilo? – ela se fez de desentendida – Kate, eu vi. Quando viu aquela arma, você congelou.

- Não foi nada.

- Sua mão estava tremendo, isso não é nada – ele sabia que era o reflexo da PTSD, mas Kate jamais admitiria isso para ele. 

- Castle, é o meu segundo dia de volta. Só isso, não é nada.

- E se acontecer novamente?

- Não irá – ela se levantou indicando que iria sair. Ele tinha uma ideia do que ela faria, investigar o incêndio. Não a deixaria sozinha. Confrontar o investigador, porém tudo o que conseguiu foi uma briga ao acusa-lo de fraude. Para não tornar as coisas piores, ela pediu a Esposito para puxar a ficha dele e todos os últimos casos que trabalhara e enviar para o seu apartamento. Ela queria evitar que Gates soubesse o que ela andava fazendo.

Em seu apartamento, Castle e Beckett olhavam cada detalhe da ficha. Na opinião de Castle, ele era quase um herói. Salvara a vida de milhares de pessoas, não podia ser corrupto. Beckett afirmou que já fora surpreendida antes, obviamente estava falando de Montgomery.

- Não há nada em suas finanças que indique grande quantia de dinheiro, nem qualquer problema e dado o seu histórico...

- Pelo seu histórico, o que?

- E se ele não for o nosso cara, e se o incêndio foi acidente?

- Não foi um acidente. Eu sei que não foi – sim, ela estava convicta porque precisava de algo em que acreditar.

- Você não pode saber disso.

- Eu sei, porque se foi um acidente, não tenho por onde começar. Se foi um acidente, então não tenho nada. O cara que atirou em mim, se foi. Dick Coonan, se foi. Hal Lockwood, se foi. Montgomery, minha mãe – ela estava à beira de lágrimas – todos se foram, Castle – ela suspirou procurando se acalmar. Castle sentiu o coração apertar diante da frustração de Beckett ao perceber que estava praticamente de mãos atadas. Ela precisava se acalmar, mas também precisava acreditar que não acabara.

Ele se levantou indo em direção a ela. Pegou suas mãos na dela, fitou os olhos amendoados.

- Hey, eu entendo. Tudo bem, continuaremos procurando. Olha, porque não fazemos uma pausa? Você pode tomar um banho, relaxar, comer alguma coisa. Nem jantamos. Depois, podemos analisar tudo o que temos novamente. Posso te deixar sozinha, te dar espaço. Se precisar, estarei no loft. Sabe como me encontrar – ele inclinou-se beijando-lhe o rosto. Apertou de leve as mãos dela com intuito de dar-lhe confiança – não passe a noite investigando. Durma um pouco também.

Ela sorriu. Acariciou o braço dele antes de vê-lo caminhar até a porta.

- Obrigada.

No loft, Castle estava debruçado sobre todas as informações que possuía do caso de Johanna Beckett. Ele já perdera as contas de quantas vezes lera aquele arquivo. Alexis o confrontou sobre o seu sumiço durante o jantar. Lembrou-o que havia dito que não voltaria a trabalhar com Beckett. Mas ela sempre soubera que isso era da boca para fora. Assim que deixou o escritório do pai, o telefone de Castle tocou. Uma ligação no mínimo inesperada.

- Mr. Castle? – ele confirmou – sou amigo de Roy Montgomery. Estou ligando sobre a detetive Beckett. Precisamos conversar – assim, Castle ouve tudo o que ele tem a dizer, não apenas isso. Ele recebe uma missão. Após desligar, ele fica preocupado com o que houve. Quer dividir suas dúvidas com alguém. Claro que a pessoa mais indicada seria Dana, mas está tarde. Mesmo assim, ligou para ela.

- Castle? Está tudo bem? Aconteceu algo com Kate?

- Não, ainda não. Escute, Dana, desculpe estar ligando tão tarde, mas eu precisava conversar com você logo na primeira hora da manhã, antes de eu encontrar Beckett no distrito.

- Você está me deixando preocupada. Você já falou com ela? Estão bem?

- Nos entendemos na medida do possível. Posso passar no seu consultório as sete?

- Claro. Estarei lá.

E pontualmente, ambos entraram no consultório de Dana. Castle sentou-se no divã. Ela podia perceber que não dormira muito, tinha um ar preocupado. Ela decidiu começar a conversa pelo reencontro dos dois.

- Então, vocês se acertaram.

- Não da maneira como gostaria, mas já é um começo. Decidi ouvir seu conselho. Pelo menos, posso ficar perto dela, Kate me pediu isso. Parceiros, apenas. Dana, quanto a PTSD ainda afeta Kate? Está realmente curada?

- Não, a PTSD não é uma síndrome que se cura rapidamente. Tem estágios e no caso de Kate, estar constantemente desafiando suas habilidades e caçando assassinos acaba por tornar essa recuperação mais longa. Por que pergunta?

- Ela hesitou ao ficar frente a frente com a mira de uma arma. Suas mãos tremiam, Dana. Eu nem quero imagina-la em um tiroteio com bandidos. Estou com um problema sério nas mãos. Lembra-se que mencionei o amigo de Montgomery? Ele me telefonou ontem. Disse que a segurança de Beckett está garantida devido aos arquivos que recebeu do capitão.   

- Mas eles foram atrás dela de qualquer jeito. Atiraram nela.

- Ele não tinha os arquivos até ela ser baleada. Disse que ela está segura agora, com uma condição. Ela não pode chegar perto do caso. Se ela chegar, ele não garantirá a segurança dela. Se ela insistir, irão matá-la.

- Você acredita nele? – perguntou Dana – é confiável?  

- Acredito.

- Então, o que vai fazer, contará a ela?

- Se eu fizer isso, ela colocará uma venda nos olhos e correrá para a linha de fogo. Não posso deixar isso acontecer.

- Você não vai muda-la, Rick. Faz parte da natureza dela ser assim. Dedicou sua vida inteira na polícia para pegar o assassino da mãe. Ela continuará procurando e investigando. Como lidará com isso?

- Não se puder para-la, ela me escutará. Posso afasta-la.

- Sim, eu acredito nisso. Se tem alguém capaz de convencer Kate Beckett, essa pessoa é você. O problema que vejo é como abordará o assunto com ela sem que desconfie do seu real proposito. Kate é esperta, é uma detetive. A única forma de conseguir que ela se afaste seria não dizendo o que sabe, mas mentir? Não me parece a melhor solução. Se ela descobrir, isso pode acabar com toda a esperança que você tem de ficarem juntos. É arriscado.

- Não irei perde-la de novo. Você não viu como ela estava ontem, angustiada quase à beira de chorar. A Beckett que conheço não faria isso. Ela estava vulnerável, sensível. É muito difícil ela demonstrar as emoções dessa forma. Kate está procurando algo em que se agarrar. Um fio de esperança.

- Então, sua missão é mais difícil do que imaginei. Quer saber? Ainda bem que é você quem precisa convencê-la. Conhece-a, sabe como chegar até ela.

- Ultrapassar o muro? Foi uma das explicações que me deu para não retomarmos nosso relacionamento.

- Sim, você é capaz de penetrar o muro, a fortaleza de Kate. Confio em você, sei que vai achar uma forma de mantê-la segura. E Castle? Aquele coração precisa de você, agora mais do que nunca. Vai conseguir. Que tal ir encontrá-la? Aposto que está esperando ansiosa pelo café.

Ele se levantou do divã. Vestiu o casaco que tirara e estendeu a mão para Dana.

- Obrigado. Precisava dividir o fardo com alguém.

- Qualquer hora. Boa sorte, Castle.

12th Distrito

Kate Beckett chegara muito cedo ao distrito, a verdade era que não dormira muito bem. Tentara seguir os conselhos de Castle, tomou um banho para relaxar, esticou-se na cama, mas no meio da noite, os pesadelos voltarão. Ela sabia que estavam relacionados com o dia, a ideia de encarar uma mira e o estresse do caso da mãe. Não retornara a dormir desde as quatro da manhã. As seis, chegara ao distrito.

Concentrou-se em reler seus arquivos. Examinar as fotos do incêndio. Queria uma pista. Também, queria um café. Seu corpo pedia pela bebida. Podia levantar-se e preparar uma caneca, mas ela queria mesmo era o copo que Castle traria. Ela sentira tanta falta de receber esse mimo todas as manhãs nos últimos meses!

E tal como desejava, aconteceu. Castle sentou-se na sua cadeira cativa ao lado dela com dois copos de café na mão. Entregou um a ela. Viera matutando todo o caminho a melhor maneira de abordar o caso na tentativa de afasta-la da investigação. Não sabia bem como começaria, porém, ao vê-la debruçada no caso como um viciado busca a droga, precisava tentar.

Ela agradeceu o café sorrindo e virando na boca. Tomou um grande gole. Em seguida, fitou-o.

- Você está com o ar cansado. Semblante preocupado. Não disse para eu relaxar ontem à noite? Por que não fez o mesmo? Sua cara me diz que não dormiu direito.

- Algumas horas apenas. Lembra o que me disse a primeira vez quando trouxe o caso da sua mãe? Que se começasse de novo não pararia. Disse que te destruiria. 

- Eu não tinha pista alguma.

- Mas não tem nenhuma agora.

- Olha, Castle, eu fiquei emotiva a noite passada. Eu estou bem – ali estava a frase tão piegas e mentirosa de sempre.

- Não, não está. E sabe que não está. Voltou a três dias e já está em queda livre. Você tem PTSD. Não se recuperou totalmente. Não estou dizendo para desistir, só para... dar um tempo. Só até se orientar novamente.

- Como posso me recuperar com alguém querendo me matar?

- Não os deixando roubar sua vida. Prometo, nós resolveremos isso. Iremos encontra-los e fazê-los pagar. Só não hoje.

- Castle se eu não fizer isso. Eu não sei quem sou – ela não olhava diretamente para ele, não queria mostrar-se fraca, mas era Castle e ele sempre sabia o que dizer.

- Você é quem sempre foi. Aquela que honra as vítimas, você é aquela que pode dar a família de Sonya um pouco de paz – e como um passe de mágica, as palavras dele a motivaram. Beckett chamou os rapazes para se atualizar no caso. Ela não apenas descobriu o verdadeiro assassino como trabalhou em perfeita sincronia com Castle, completando o pensamento um do outro, como nos velhos tempos.

Ao ter um nome através das digitais, eles saíram para fazer a prisão. Beckett se viu sozinha com Castle, cara a cara com o assassino. Uma arma apontada diretamente para seu rosto. Castle receava que ela amarelasse, o cara estava desesperado, então ele a guiou.

- Devagar, Kate. Vá com calma. Você consegue. Vamos, você consegue.

- Abaixe a arma agora – ela disse firme – vire-se e coloque as mãos atrás da cabeça – ele obedeceu. Ela sentiu um alivio ao ver que conseguira, declarou-o preso recitando os seus direitos. Fez questão de conversar com a família.  Quando tudo estava resolvido, eles voltaram a conversar.

- Como se sente?

- Não é o suficiente. Mas é o suficiente por enquanto – sorriu - Obrigada por estar ao meu lado lá.

- Para isso que são os parceiros – sorrindo novamente, ela começou a se afastar dele, Castle tornou a falar – nós daremos um jeito. Esse muro aí dentro não ficara aí para sempre – satisfeito por ter conseguido para-la, ele foi para casa. Kate tinha razão. Ele a amava, mas estar ao lado dela era suficiente por enquanto. Ele trancou-se no escritório e ligou a tv. Na tela, como um de seus livros, estava o caso de Beckett, todos os detalhes, todos os envolvidos e a pergunta que continuava sem resposta: quem contratou o atirador?

Dana estava arrumando a sua mesa prestes para deixar o consultório quando a porta se abriu e Kate Beckett surgiu.

- Hey, Kate...

- Você provavelmente não esperava me ver essa semana.

- Que isso, já disse que estou sempre disponível para conversar. Como foi sua volta ao 12th? Notícias de Castle?

- Sim, eu fui procura-lo – ela sentou-se no divã, isso tinha tudo para ser uma conversa bem interessante, pensou Dana – ele estava com muita raiva de mim porque não liguei em três meses. Mas, já resolvemos. Ele está de volta para investigar casos comigo. Em meu primeiro caso de volta, ele novamente provou porque é importante ao meu lado. A sincronia continua a mesma, nada parece ter mudado, mas são sempre as suas palavras que fazem toda a diferença.     

- Isso é bom? É suficiente não estar em um relacionamento de verdade com Castle, como antes?

- Tem que bastar por hora.

- Se funciona para você. Juro que não sei como resiste – Dana sorriu, porém, percebeu que Kate estava muito séria, na verdade podia perceber que havia angustia e algumas lágrimas em seus olhos – você não veio até aqui falar que está tudo bem na NYPD. O que aconteceu, Kate?

- Eu não sei por onde começar. Eu não sei o que você irá pensar de mim.

- Isso tem relação com a PTSD? Ou você quer falar do tiroteio? – ela desviou o olhar de Dana por uns segundos. Respirou fundo - Kate? – Dana mantem o olhar fixo na detetive agora.


- Eu menti... antes. Sobre o tiroteio. Eu me lembro de tudo.

Continua... 

sábado, 23 de janeiro de 2016

[The X-Files] Coming Back Home - A Real Ship Story



Coming Back Home
Autora: Karen Jobim
Classificação: NC17
Capítulos: oneshot – fic de ship real DD&GA, entre a première de Arquivo X e pós-Jimmy Kimmel. 

Disclaimer: A volta de Arquivo X as telas de tv trouxe consigo um misto de sentimentos e confusão para os nossos atores, especialmente Gillian. Ainda não sabia o que os atos de David significavam, mas estava prestes a descobrir.

Nota da Autora: Ah, a volta de AX! Acho que a maioria de vocês não tem ideia do que isso significa para mim. Meu primeiro vício, meu primeiro ship e até hoje nenhuma série superou meu amor por esse hit. Igualar sim, mas só isso. Amo a química desses dois, sou completamente apaixonada por eles, mesmo quando fazem besteira. A fic é real porque desde que eu assisto AX, nunca deixei de torcer por eles. É quase um caso perdido, porém tem mais chance que um outro aí... então, para isso servem as fics (mesmo que esteja um pouco enferrujada). Marlu e Carlinha, pra vcs! Enjoy!

Atenção NC-17... be aware!!!



Coming Back Home

Três dias antes da première de Arquivo X, Gillian Anderson acabara de chegar de uma nova sessão de fotos dessa vez para a revista Entertainment Weekly. Foram quatro horas de ensaio fotográfico ao lado de David. Durante o tempo juntos, trocaram gracinhas, fizeram piadinhas, toques e abraços aconteciam naturalmente inclusive dois selinhos. Era muito fácil desfrutar um tempo ao lado de David. Ele era divertido, implicante e fácil de lidar, mas nem sempre fora assim. Há anos atrás quando filmavam as temporadas da série em Vancouver, havia uma certa tensão entre ela e Duchovny durante um tempo, além de mais exigente, ele se irritava com algumas filmagens, com o clima sombrio da cidade e com o corpo gerencial da emissora. Ela também tinha seus dias ruins, passara por algumas experiências desagradáveis, o lance da gravidez e sua inexperiência contribuíram para alguns choques e para o clima tenso entre os dois por um período.

Finalmente as coisas começaram a mudar quando um sentimento de companheirismo surgiu entre eles, ambos concordavam em muitos aspectos do trabalho e acabavam unindo forças para melhorar a vida de ambos e do próprio show. A mudança para os estúdios em Los Angeles foi definitivamente o melhor momento da relação deles. Em parte, Gillian sabia que esses momentos tensos eram resultado de seu mecanismo de defesa.

Com o passar do tempo, o sentimento dela em relação a David evoluíra de co-star para amizade e intimamente para algo mais que guardava para si. Não sabia qual era a definição do que sentia. Era apenas atração? Desejo? Ou a vontade de tentar algo novo como um relacionamento? Quando David se casou, ela soube a resposta, mas era muito tarde. Suas chances de ficar com ele e viver um romance acabaram de atingir o zero. Então, ela quase entrou em depressão.

O seu coração doía por conta da realização de que precisava seguir em frente e esquecê-lo. Quando David decidiu deixar a série na oitava temporada, ela pensou que seria melhor. Não vê-lo todos os dias poderia trazê-la para a vida real. Funcionou por um tempo. Depois, atuar e contracenar com outros atores tornou-se chato. Ninguém era igual a David em todos os sentidos. Infelizmente não era culpa deles, Gillian apenas sentia falta de seu parceiro de anos, tudo era fácil antes, eles se entendiam com o olhar como Mulder e Scully. Mesmo assim, Gillian era profissional e manteve seu foco em entregar as melhores performances possíveis aos fãs leais de Arquivo X. Rever David no último episódio foi, no mínimo, interessante. O sentimento ainda existia, estava lá, porém em menor escala. Sim, era bom filmar com seu parceiro novamente. Também foi excelente revê-lo nas filmagens do longa. Havia uma cumplicidade entre eles, algo que não se consegue com qualquer pessoa.

Quando o show acabou, Gillian decidiu mudar de ares. É como diz o ditado o que os olhos não veem o coração não sente. Escolheu a Inglaterra para ser seu novo lar. Em Londres, ela fez teatro por alguns anos e conheceu seu futuro marido. Teve dois filhos e retornou seu trabalho em séries. A vida seguia sem maiores novidades. Soube que David estava trabalhando em uma nova série, ambos seguiram em frente. Apesar da distância, Gillian sempre tinha suas lembranças. Um dos momentos mais marcantes durante as filmagens de Arquivo X o filme, fora a famosa cena do corredor. Ali, ambos baixaram suas guardas e deixaram o desejo falar mais alto.

A primeira ideia da cena era apenas o discurso apaixonado de Mulder e um abraço até Scully ser picada pela abelha. Parecia que faltava algo. Foi David quem sugeriu um clima mais íntimo entre eles. Algo que criasse uma tensão, aflorasse a tensão sexual constante das personagens. Por que não um beijo? Ele dissera na época e Gillian, mesmo surpresa, concordou com ele. O diretor sugeriu que demonstrassem como seria. Prontamente, David se apresentou para dar uma noção do que pensara. Porém, no minuto em que suas bocas se encontraram, a atração e o desejo contidos de anos afloraram e, de repente, eles estavam sorvendo os lábios um do outro com intensidade tamanha que as mãos mal conseguiam acompanhar o ritmo. Eles perderam o controle totalmente quando David a ergueu pela cintura e Gillian os empurrou contra a parede. A situação atingiu um novo patamar de desejo quando os gemidos de prazer escaparam de suas bocas. Até hoje ela não sabe dizer quanto tempo a loucura durou, seu reflexo nela permanece até os dias atuais fazendo seu corpo arrepiar-se ao sentir a língua dele no interior de sua boca. As sensações sempre voltavam ao lembrar-se do ocorrido. O diretor gritou corta por várias vezes, o que era completamente inútil para os dois.

Quando finalmente voltaram a si buscando por fôlego, ambos caíram na gargalhada, o que só serviu para atrasar o dia, pois David olhou para o diretor com a maior cara de inocente: demais? E Gillian gargalhara novamente. O diretor pediu calma e concentração aos dois, mas concordou que algo mais íntimo poderia funcionar. Nada extremo. Toda vez que se lembrava da loucura, ela ria perdendo a concentração. Levaram seis horas para filmar uma sequência que deveria ter sido finalizada em apenas duas horas. Gillian ainda podia experimentar as sensações daquele dia se fechasse os olhos. Desde aquele beijo, todos os que se seguiram envolveram língua e não eram técnicos.

Anos depois, aqui estava ela. Seis novos episódios filmados, novas memórias e o mesmo David pelo qual ela se apaixonara. Brincalhão, irreverente e charmoso como sempre. Ela se recordava da primeira coisa que disse para ela após acertarem os contratos.

“Hey, Scully. Let’s do it again”, piscou, a abraçou e sussurrou ao seu ouvido “eu senti tanta falta da sua risada” e ela desatou a rir no mesmo minuto. Sorrindo, ele soltou um “gorgeous” para ela.

Durante as filmagens, o clima entre eles não podia ser melhor. Aos poucos, Gillian foi cedendo ao antigo sentimento. Ali estava o homem que ela se apaixonara anos atrás. Estavam mais velhos, talvez mais amadurecidos e com experiências de vida diferentes nos últimos anos exceto por um pequeno detalhe: ambos estavam solteiros no momento. Gillian bem que tentou passando por mais dois casamentos após Arquivo X, mas em algum momento, eles simplesmente não davam certo. Tudo se resumia a apenas uma coisa. O coração é quem manda. Ele quer o que quer. Fim da história. E nesse momento, o coração de Gillian queria David. Os sinais de que a recíproca era verdadeira estavam em várias situações que passaram desde as filmagens até eventos como a comic con. Era muito zelo, carinho e toque para apenas bons amigos.

Ela suspirou mais cedo ao vê-lo chegar ao estúdio fotográfico sorrindo. Deus! Como era lindo! E completamente pegável! Lembrava-se da conversa entre eles.

Horas antes...

- Olá, Gillian! Demorei muito? Acho que esse trânsito de Los Angeles está cada vez pior. Devia ter vindo de bicicleta. É menos estressante.

- Você? De bicicleta em Los Angeles? Conta outra piada porque essa você exagerou. Pronto para a sessão? Deve demorar apenas duas horas, se quisermos até menos. Estão nos aguardando para a maquiagem e o cabelo.

- Ótimo! Você recebeu as instruções do Kimmel para as filmagens de amanhã? Faremos um pequeno vídeo com Mulder e Scully além da entrevista.

- É, minha agente me telefonou no caminho para cá. Enviou o script da cena. Podemos ensaiar se quiser.

- É uma boa ideia o programa é de certa forma “ao vivo”, na minha casa depois?

- Tudo bem – e seguiu para a maquiagem.

Após terminarem as fotos, seguiram para a casa de David cada um em seu carro. Ele mora numa casa bem espaçosa para um cara solteiro. Decidiram ficar no escritório para trabalharem. Como bom anfitrião, ele ofereceu uma taça de vinho para Gillian e colocou alguns nachos e queijos em um prato para degustarem. Com o script numa mão e a bebida em outra, Gillian estava sentada no sofá enquanto David permanecia de pé.

- Achei uma ótima sacada a maneira como escreveram esse reencontro de Mulder e Scully no século 21. Você já imaginou quanto era diferente naquele tempo? Os anos passaram tão rápido!

- Sim, muita coisa mudou, porém outras continuam as mesmas. Como a nossa interação por exemplo. Achei que ia ser difícil fazer tudo isso novamente, mas uma vez que começamos e pegamos o ritmo era como se a Scully não tivesse me deixado durante todos esses anos, ela estava escondida.

- Para mim foi um pouco mais difícil. Pelo menos voltamos a Vancouver antes do frio. Era algo que detestava filmar naquele clima sombrio e chuvoso do inverno.

- Eu lembro bem da sua reclamação, David.

- Confesso, eu era muito rabugento. E só fui dar valor ao que Arquivo X proporcionou para mim em termos de carreira e crescimento depois que acabou. Nós influenciamos uma geração, Gillian. Tem noção do quanto isso é importante?

- Sim, mesmo morando em Londres, eu sempre era parada nas ruas e as pessoas se referiam a mim como agente Scully.

- Nós criamos uma nação com nossas personagens, fãs devotados que mesmo após o fim da série não deixaram de admirar e cultuar o que fizemos por nove anos. A reação do público é incrível a volta da série. Às vezes, eu sinto que parece exagero, mas olhando de perto é compreensível. Nós mostramos ao mundo que ser geek e desafiar o status quo dos governos era bom, mudamos percepções mesmo que apenas atuando.

- Eu sei disso. Serei sempre grata a Chris por ter me escolhido, por ter trabalhado com você e conhecido você, na verdade.

- E aqui estamos nós outra vez – ele se aproximou dela segurando sua mão e apertando de leve. Os olhares se encontraram fixos em ler um ao outro. Eles evoluíram muito no quesito relacionamento. Aprenderam a conviver com suas diferenças e aceitar isso os aproximou. Por isso Gillian estava tão balançada com esse reencontro. Lembrou-se do quanto gostava de estar ao lado dele, rir de suas piadas, sentir o calor de seu abraço. Vendo que ela estava dispersa, ele falou.

- Terra para Gillian... hey! O que aconteceu? Você pareceu tão distante de repente...

- Nada... eu só estava pensando no que disse. Que tal ensaiarmos?

Eles se concentraram no texto e não discutiram o possível beijo que o roteiro sugeria. Estavam sentados lado a lado, David trouxe a garrafa de vinho e ela já não sabia quantos copos tomara. Estava relaxada apoiada no ombro dele. Podia sentir a mão dele acariciando sua coxa, em seguida, ele ajeitou uma mecha de seu cabelo como tantas vezes fizera com Scully atuando. Inclinando-se sobre ela, David deu um beijo de leve em seus lábios. Instintivamente, ela fechou os olhos e gemeu baixinho. Ele repetiu o gesto. Ela suspirou abrindo os olhos afastando-se dele.

- Está tarde. Teremos um dia cheio amanhã com as gravações. Além disso, preciso verificar se já está tudo pronto para a première a noite. Você vai me acompanhar até a porta?

- Claro – ele se levantou colocando a mão sobre as costas dela, guiando-a – quer uma carona amanhã para o estúdio?

- Não, encontro você lá. Obrigada – ele abriu a porta e quando Gillian se movimentou na direção da saída, ele puxou-a pela cintura abraçando-a com o pretexto de dar um beijo no seu pescoço, depois no rosto e finalmente outro nos lábios fazendo o corpo dela se arrepiar devido ao gesto.

- Vejo você amanhã. Boa noite, Gillian. 

Por isso ela estava confusa. Deitada em sua cama de hotel, ela procurava entender porque David parecia querer provoca-la sempre que tinha uma chance. Estava apenas brincando com ela? Queria demonstrar que estava disposto a algo mais ou seria uma tentativa de dormir com ela a exemplo do que acontecera anos atrás em seu trailer? Definitivamente a coisa mais louca que ela fizera em seus anos trabalhando com ele. Na época, aproveitou o momento, porém depois que aconteceu, seus sentimentos ficaram confusos e David apenas queria liberar a tensão entre eles, não parecia interessado em algo mais especifico. Ela fora usada e ele magoara seus sentimentos sem saber. Até agora, ela não sabia a resposta para a pergunta que a atormentava.

Jimmy Kimmel – Estúdio

Por volta das nove da manhã, Gillian chegou ao estúdio indo direto para a maquiagem. O seu camarim ficava de frente para o de David e percebeu que ele já estava lá.

Como primeiro iriam filmar o vídeo, era hora de se vestir de Scully. O bom e velho terninho, o salto baixo e a pose de agente faziam parte de quem era a agente federal. Ela ficou pronta em menos de uma hora. Kimmel já esperava pelos dois no set adjacente ao do programa de entrevistas. O cenário estava pronto somente esperando os atores. Ao passar pelo camarim de David vendo a porta entreaberta, ela aproveitou para tirar uma foto dele totalmente descansado e postar no Twitter para mexer com os fãs que a cada dia que passava ficavam mais ansiosos com a proximidade do revival. Eles tinham a chance de fazer história mais do que já fizeram antes.

- Hey, David! A folga acabou... temos que gravar.

- Tem razão, algumas coisas nunca mudam. Você se veste de Scully e quer logo mandar em mim – ela revirou os olhos – viu só? Revirando os olhos como antigamente. Agora só falta abrir a boca e dizer aquele monte de baboseira científica para tentar me convencer que extraterrestres não existem e estamos em casa novamente.

- Cala a boca, David!

- Ah... tão meiga! Sério, dê uma de cética que eu me apaixono de vez, estou avisando – Gillian tirou por menos, porém aquelas palavras tinham um significado muito diferente aos ouvidos dela. Para David podia ser brincadeira, para ela trazia aquela sensação incômoda no estômago, nervosismo certo. Felizmente, Jimmy apareceu desfazendo o momento estranho que acabara de acontecer entre os dois.

- É um prazer imenso receber vocês dois! – ele abraçou a ambos – acho que vocês não têm ideia do quanto estou ansioso pela volta da série, excitado de verdade. Sou muito fã de Mulder e Scully. Vocês são muito perfeitos juntos. Não perdia um episódio e quando vi a notícia da volta, eu comemorei. Desde ali começou a minha ladainha do convencimento para trazê-los ao meu programa. Vocês não imaginam a burocracia que é para conseguir colocar astros de outra emissora, promovendo séries da concorrente. Mas no fim, todos têm a mesma percepção de que Arquivo X marcou época e abriu as portas para o mundo poderoso das séries de tv que existe hoje. Foram quase que pioneiros, acho que o verdadeiro hit, depois vieram outras. Por isso, Arquivo X é tão querido.

- Acho que tem razão e certamente estamos dando a oportunidade não somente para os fãs antigos como você, mas para a nova geração conhecer quem são Mulder e Scully.

- Isso mesmo, David. Então, prontos para gravar?

- Claro! – antes de gravar a cena, eles discutiram um pouco cada aspecto da cena, posicionamento, o que fazer e a última parte referente ao beijo. O diretor deixou-os à vontade para decidir como agir nessa parte. Isso deixava Gillian um pouco desconfortável, pois as demonstrações de carinho dele na noite passada. Seria algo parecido que tentaria na cena? Ela estava prestes a descobrir.

Filmaram tudo e quando Jimmy sugeriu que já era hora deles fazerem sexo, literalmente ordenou-os para se pegarem, eles levaram a sério. Primeiro, os olhares, depois o encontro dos lábios de maneira ávida. David foi bem claro sobre sua vontade agarrando-se nela puxando-o para citada mesa. O beijo intenso fez Gillian gemer entre os lábios dele. Todas as sensações que experimentara com o beijo do filme estavam de volta. O coração batia descompassado quando se separaram. Jimmy que observava a cena teve a nítida noção de que nenhum deles estava brincando naquele momento. A peruca que ela usava para lembrar a Scully de antes caiu, apenas demonstrando a intensidade do ato. Não havia nada de técnico naquele beijo. Aqueles dois tinham mais química do que qualquer um na tela e descobrira que o mesmo funcionava fora dela.

- Ficou perfeito, gente! Os fãs vão amar! Vou dar um descanso de meia hora para se trocarem e começarmos a entrevista. Vejo vocês daqui a pouco.

Gillian ainda respirava forte. Tinha a pele do colo vermelha. David sorria observando-a. Ele se sentia muito à vontade ao lado dela, fazendo carícias ou beijando-a, parecia a coisa certa a se fazer. Notou, porém, que ela estava um pouco envergonhada com toda a situação. O silêncio entre os dois tornou-se estranho. David decidiu quebrar o gelo.

- Vou me trocar, vejo você depois – ambos voltaram para seus respectivos camarins e trataram de se dedicar a entrevista de logo mais. Kimmel tinha enviado uma lista das possíveis perguntas ou assuntos que abordaria na entrevista. Algumas eram bem tranquilas, outras, porém dependendo de como fossem endereçadas, poderiam tornar a situação estranha. Gillian não sabia o que esperar. O momento da verdade chegara, ao ouvir Kimmel chamar seus nomes, eles estraram juntos no palco.

A primeira brincadeira de Kimmel foi exatamente a da peruca. Ele nem sabia que ela estava usando. Depois perguntou se eles se conheceram antes do show o que ambos negaram, em seguida sobre a química se eles sabiam que tinham tanta química logo no primeiro instante. A forma como responderam à pergunta certamente era capaz de levar os fãs mais hardcores a loucura. O “não” saiu em sincronia. Aquilo não é algo que se ensaia, era natural.

Então, o próximo tópico referiu-se ao modo como eles conviviam um com o outro. Jimmy comentou que eles parecem bons amigos, muito bons amigos e que ele tinha a impressão de que isso não acontecia antes, parecia sempre ter um clima pesado entre os dois, houveram alguns momentos difíceis. Gillian e David concordam, porém quando Kimmel pergunta porque, ela olha para David como quem pergunta: e agora? O que eu respondo?

Ela começa a falar que filmavam em Vancouver e o clima é bastante úmido e de repente, toda a confiança que tinha foi pelo ralo porque ela já se perguntara várias vezes o motivo de terem essas picuinhas e não sabia explicar. O nervoso acabou fazendo-a ter um ataque de riso incontrolável. Ela baixava a cabeça quase no colo de David gargalhando ou escondia-se em seu ombro já vermelha e com mais vergonha do que antes.

A temperatura subira e Gillian sabia que estava perdendo a compostura, por outro lado, David não só agia como um perfeito cavalheiro como fazia questão de acalma-la abraçando-a, segurando em sua mão e pedindo desculpas. Qualquer pessoa que os visse daquele jeito pensariam que estavam juntos. O próprio Kimmel sugeriu isso de maneira sutil, sem realmente usar as palavras exatas. Mais calma, Gillian respirava melhor e tiveram o primeiro intervalo. Ela suspirou. Tempo suficiente para se recuperar, esperava sinceramente que não houvessem mais perguntas capciosas.

A segunda parte da entrevista foi bem mais tranquila. Eles falaram sobre a ideia dela de trazer o show de volta, sobre os monstros da semana e da dificuldade de voltar a ser Dana Scully outra vez. Terminada a entrevista, eles se despediram de Kimmel e retornaram ao camarim para pegar suas coisas e deixar o estúdio.

David obviamente estava pronto para ir antes dela. Batendo de leve na porta do camarim, chamou seu nome.

- Gillian? Ainda aí? Já estou de saída queria apenas me despedir – ela abre a porta, também já estava quase pronta. Vestia o sobretudo – nos veremos mais tarde na première. Estava pensando, não deveríamos chegar juntos ao evento? Quer dizer, todos esperam ver Mulder e Scully dividindo o mesmo espaço. O que acha? Posso passar no seu hotel e iremos juntos.

- Eu não sei. Parece uma boa ideia, mas e se um de nós quiser sair mais cedo?

- Tenho certeza que arranjamos transporte. É só deixar sua agente de sobreaviso. Vamos, Gillian. A imprensa vai pirar e nem preciso falar dos fãs.

- Tudo bem, você passa no hotel as seis e meia. Teremos que estar as sete lá.

- Sabe, até agora estou pensando sobre a resposta que você deu a Kimmel sobre nós, quer dizer, o clima de Vancouver teve uma certa influência no nosso humor e na forma como nos relacionamos, mas todas as vezes que tento encontrar uma razão para as nossas desavenças de anos atrás, a única explicação que encontro é a de que eu era um idiota, um babaca imaturo. Olhe para nós agora! Eu adoro estar perto de você, conversar com você. É como se o relacionamento de Mulder e Scully tivesse extrapolado a tela é amplificado em cumplicidade.

- Exceto que nós não somos Mulder e Scully. Somos bem diferentes deles.

- Sim, somos melhores que eles ainda com a química – ela ainda não entendera aonde ele pretendia chegar com aquela conversa. Estava insinuando algo que ela não fora capaz de compreender? Não teve a chance de descobrir porque o próximo movimento de David foi se inclinar na frente dela primeiro beijando-lhe a bochecha e depois os lábios. Ela sentiu a ponta da língua dele roçando em seus dentes – até mais tarde, Gillian. Temos um encontro –saiu caminhando pelo corredor, o mesmo andar que fazia ao interpretar Fox Mulder. Ela adorava observá-lo e diante do que acabara de acontecer, escorar-se na porta era uma ótima solução para as pernas bambas e trêmulas dela. Demorou uns cinco minutos para se recompor e então ir para casa.

Noite da XFiles Première

Eram seis e vinte quando o telefone no quarto do hotel tocou. Gillian estava quase pronta. Dava os últimos retoques na maquiagem.

- Sim?

- Senhorita Anderson, sua carona já chegou. Devo manda-lo subir ou esperar no lobby?

- Diga para esperar. Eu desço em cinco minutos. Obrigada – assim que colocou o aparelho no gancho, ela concentrou-se em acabar a maquiagem, a última coisa que gostaria era deixar David esperando afinal ela achava que ele ia se atrasar. Agora estava bem mais calma do que há algumas horas. Ela remoeu durante muito tempo o que acontecera durante a gravação do programa do Kimmel. Primeiro aquele beijo na cena filmada e depois aquele tratamento e um pedido de desculpas tardio por ser um babaca? Ela sentia que havia alguma coisa no ar, porém não queria especular ou colocar suas expectativas em um nível que poderia se decepcionar mais tarde.

Sabia do passado de David e da sua fase de dependência sexual. Somente anos depois, entendera porque fizeram aquela loucura no trailer. Era o vício dele falando mais alto. A realização disso deixou-a muito triste. Por esse motivo, ela decidira que já sofrera e se angustiara demais por David ao tentar entender seus sentimentos. Mesmo sabendo que tudo parecia diferente agora, ela optou por aproveitar o momento. Se era para ganhar beijos, tudo bem. Se ele quiser uma noite de sexo, ela pode pensar em ceder. Chega de pensar demais sobre o que deve ou não fazer. Seria a velha Gillian, aquela que implicava e provocava, que gostava de provocações sensuais e sexo casual. Iria deixar a noite a levar.

Ao surgir no lobby do hotel trajando o belo modelo azul e preto, uma maquiagem leve ressaltando os belos olhos verdes e o cabelo liso, David ficou boquiaberto diante da imagem. Ela era linda e estava linda. Assim que se aproximou dele sorrindo, ele retribuiu o gesto com um beijo no rosto. Ele vestia a mesma roupa da entrevista de Jimmy Kimmel.

- Você está linda. Caprichou para o nosso encontro.

- Ah, você sabe, é uma noite especial. Quatorze anos depois, então é muito relevante. Vamos andando? Não quero chegar atrasada – instintivamente, ele segurou a mão dela na sua. Seguiram em uma limusine para o Califórnia Science Center.

A chegada ao local foi um verdadeiro alvoroço. Milhares de pessoas entre fãs, curiosos, paparazzi e repórteres, todos queriam ao menos uma foto ou uns minutos com os astros desse hit. Eles caminharam pelo tapete vermelho separados e juntos. Tudo para satisfazer os fotógrafos. Estavam empolgados.

Gillian nem conseguia lembrar com quantos repórteres conversou ou quantas vezes falou sobre o retorno de Arquivo X e sua adaptação a personagem. As perguntas eram parecidas ou as mesmas o que pouco importava. No fundo, todos estavam realmente ansiosos e animados para assistir o primeiro episódio dessa mini série.

Após desfilarem e tirarem muitas fotos juntas, eles sorriam e se divertiam. As pessoas podiam perceber que estavam felizes e animados. Eles estavam ali porque queriam, não era uma obrigação. Dentro do teatro, a diversão continuou. Conversas agradáveis com os colegas, os executivos da emissora, um ótimo jantar e a exibição do episódio em um iMax, o que impressionou Gillian pela qualidade de som e imagem.

Depois das últimas bebidas da noite, ela já pensava em ir embora quando David se aproximou abraçando-a por trás e beijando-lhe o pescoço. A princípio se assustou com o gesto, mas depois acomodou-se e desfrutou do momento. Ela já tirara muitas fotos do lugar o que incluía fotos deles juntos também. Ela não se lembrava de ter se divertido tanto numa noite já há um bom tempo.

- Eu preciso de mais uma taça de vinho...

- Eu pego para você, mas será sua saideira – disse David.

- Por que? A festa está tão boa! Estou me divertindo muito.

- Eu também, mas acho que podemos nos divertir mais, levar a festa para outro lugar, um passo a mais... – piscou para ela – já volto.

E o que Gillian imaginou que podia acontecer, estava mesmo acontecendo. Tudo indicava que ela e David iria ter um pequeno momento de deja vu. Se isso era verdade, ela tiraria o máximo de proveito sem pensar em consequências ou significados. Desejo e libido eram os motores da noite. Ele retornou com uma taça para ela e um copo de whisky para ele. Conversaram mais um pouco com outros convidados enquanto saboreavam suas bebidas e não se deixaram apressar. No instante que David sussurrou ao seu ouvido, ela sabia que o jogo mudara.

- Vamos sair daqui, Gillian... – puxando-a pela mão, ele a guiou até a saída onde pegaram a mesma limusine que os trouxera. Foram direto para o hotel de Gillian. Já passava da meia-noite e o movimento no saguão era mínimo. Eles pegaram o elevador para o quarto dela. Assim que entraram, David livrou-se do blazer e ela tirou os sapatos altos. Ligou a televisão. A entrevista com Kimmel estava no ar.

- Oh meu Deus! Eu pareço uma boba. Que vergonha! – ela sentou-se na beira da cama fitando a tv, mas com a mão no rosto.

- Eu realmente não sei o que deu em você. Estou tentando entender sua explicação até agora.

- Eu não sabia o que dizer! Nossa relação naquela época era muito complicada, mas não sei os reais motivos. Sim, as longas horas filmando eram um fator, o clima de Vancouver era outro, só que por mais que eu pense sobre o assunto nunca encontro uma justificativa plausível e agora vendo nossa relação hoje, me deixa mais confusa.

- Nossa relação agora te deixa confusa? Como assim? Pensei que estávamos bem, nos dando bem, amigos felizes, parceiros dedicados que suportam um ao outro. Não é assim que você nos vê?

- É, claro que sim. Temos um ótimo relacionamento, gostamos de estar na companhia um do outro, rimos juntos. E tem as outras coisas que me deixam confusa, David.

- Pode ser mais especifica? – ele sabia do que ela estava falando, apenas queria que ela abordasse o assunto. Gillian prometera não racionalizar, mas o homem a sua frente estava pedindo por isso.

- Todos esses abraços, carinhos, beijos. O que eles significam?

- Que gostamos um do outro? Que temos afeto?

- Aquele beijo no set de Kimmel não é de alguém que tem afeto. Era de desejo, atração. Tinha língua envolvida!

- Se por atração você quer dizer paixão, posso concordar.  Acho que já negamos a nós mesmos por tempo suficiente o que sentimos um pelo outro, Gillian. Atração, sim. Só que é bem mais que isso. Você é uma mulher incrível. Eu a admiro por tudo o que você é, pelo que conquistou. Eu me mantive cego por muito tempo, não quero mais negar que sou apaixonado por você. Essa é a verdade. E se você não sente o mesmo, o que eu duvido, tudo bem para mim. Eu só quero poder tentar, fazer o nosso relacionamento evoluir da amizade para algo mais. Você está disposta a fazer isso comigo?

Por alguns segundos o quarto ficou em completo silêncio. Ela acabara de ouvir o que achara que ouvira? David Duchovny dissera que estava apaixonado por ela? Engoliu em seco. Por quanto tempo ela quisera ouvir isso? Anos. Vendo que ela parecia estar analisando a situação, colocando-se em um conflito interno, ele reforçou.

- Gillian, você ouviu o que disse? Eu sou apaixonado por você e não é de hoje. Anos, consegue entender? Por favor, fale alguma coisa.    

- David... – ela se aproximou dele fitando-o nos olhos, a mão acariciou o rosto – você tem ideia do quanto esperei para ouvir isso? Anos. Tenho medo, nós estamos em um momento muito bom, nossa amizade é importante e se não der certo?

- Hey, dessa vez não é como se tivéssemos brincando. Já tivemos muitos obstáculos nos separando. Ex-maridos, ex-esposa, a distância. Pela primeira vez, estamos solteiros, felizes e na mesma página. Se tivermos medo de tentar, podemos estar desperdiçando algo maravilhoso e se não der certo, o que não acredito, seguimos nossos caminhos. Já fizemos isso outras vezes, nos reinventamos. A química que todos falam? É algo místico, natural que não consigo explicar, somente sei que ela existe. Essa é a maior prova de que deveríamos ficar juntos.

Ela sorriu.

- Você sabe que eu sou apaixonada por você. Deus! Você estava me deixando maluca com esses joguinhos, toques, beijos, sedução. O problema para mim é que já passei da fase da paixão, David. O que sinto por você é bem mais que atração, desejo e sexo.

- Você me ama. Eu sei. É por isso que estou aqui. Porque cansei de negar que sinto o mesmo. Todos esses anos longe, eu nunca deixava de pensar em você, Gillian. Como estava, se vivia bem, estava feliz? Sempre esteve em meus pensamentos. E nossos pequenos encontros, seja para a filmagem do filme ou para negociação com a emissora significavam muito para mim – ele a puxou para o seu colo. Ajeitou o cabelo para trás da orelha, acariciou o rosto dela.

- Isso parece loucura. Eu sei que temos o sentimento, mas como fazer funcionar? Eu moro em Londres, você em Nova York. Milhas de distância, tem o trabalho, nossos filhos e... – David segurou seus lábios com os dedos.

- Shhh... não é hora de racionalizar, pensaremos sobre isso depois. Esqueça todo o resto nesse momento. Eu preciso de você.  Eu quero você, Gillian – o olhar intenso já demonstrava o desejo que sentia por ela. Aquelas palavras continham uma urgência misturada a um tom sedutor, eram tudo o que ela precisava ouvir para ceder aos encantos de David de uma vez.

Quando os lábios se encontraram, uma explosão de sensações os dominou. Devoravam as bocas um do outro explorando cada centímetro. As mãos passeavam no corpo dela tateando, apertando, tocando. Ele procurou o zíper do vestido constatando que não havia um, era uma frente única. Começou a desfazer o nó passando as mãos até a metade das costas dela. Era tudo o que conseguiria naquela posição, o tecido caiu expondo os belos seios. Sentiu o seu membro já se animar apertando-lhe as calças. Gillian livrou-se da camisa dele e afastou-se para contempla-lo por um momento. Ele continuava o mesmo. Exatamente como se lembrava, os parcos pelos do peito, os músculos, a pequena barriguinha que ele lutava para livrar-se. Era o seu David. A constatação disso a fez sorrir e procurar seus lábios só que dessa vez, estava de pé. Empurrou a alça do vestido fazendo-o deslizar pelo seu corpo deixando-a apenas de calcinha na frente dele.

Ele queria toca-la. A necessidade era quase urgente. Ergueu-se da cama tirando as calças e atirando-as longe. Voou em sua direção para mais um beijo apaixonado. Agora podia sentir o calor do corpo dela junto ao seu. Ela sentia a excitação do membro bem-dotado contra sua coxa. David passou os braços ao redor da cintura dela puxando-a de volta para a cama. Contemplou por alguns segundos o corpo da bela mulher a sua frente. A pele alva e firme, os seios pequenos e perfeitos apenas mostravam a boa forma que ela estava.

Ele curvou-se sobre ela e sorveu um dos seios com os lábios. O ato a fez gemer. David repetiu o gesto com o outro seio usando a outra mão para apertar e brincar com o mamilo. Puxando-o, apertando-o, estimulando todos os sentidos. Ela já sentia a umidade crescer no meio das pernas. A forma como ele usava a língua era incrível e a levava a loucura. O corpo de Gillian já se contorcia abaixo dele. Foi nesse momento que ele avançou com os lábios pelo seu estomago rumo ao meio das pernas. Tirou a calcinha com cuidado beijando o interior das coxas, a vagina e o clitóris. Usou a língua para provoca-la conseguindo um gemido prazeroso. Com os dedos sentiu o quanto ela estava pronta para recebe-lo. Não ainda. Provando-a mais uma vez, ele abandonou o meio das pernas de volta aos seios e a boca.

Distraindo-a com um beijo, ele tornou a enfiar os dedos dentro dela. A mão fazia vários movimentos para deixa-la excitada inclusive massageando seu clitóris. Ela estava à beira de um orgasmo. Sentia o corpo tremer e vibrar a cada toque. David esmerava-se em faze-la ceder ao prazer total e foi o que aconteceu. Enquanto seu corpo era dominado pelo prazer fazendo-a gemer, ele se concentrava em continuar os movimentos para estender o tempo daquele orgasmo para Gillian. Ele já não se aguentaria muito e não precisou realmente. Gillian recuperou-se das sensações e rapidamente trocou de posição com ele ficando por cima. Ela agarrou o membro dele e deslizou de uma vez sobre ele sentindo-se completamente plena. Havia esquecido o quanto ele era grande. Gritou.

David ergueu suas costas do colchão ficando sentado. Os lábios foram direto para os seios dela enquanto ela se movia com o membro dele dentro de si. A libido e o desejo já sucumbiam não querendo esperar nenhum segundo a mais. Com algumas estocadas, ele precisava que ela gozasse para então se liberar. Ele a beijou mordiscando os lábios e o pescoço. Percebeu que ela já sentia a nova explosão se aproximando. Alguns movimentos a mais segurando-a pela cintura e Gillian jogou a cabeça para trás deixando o orgasmo envolve-la. David também se deixou receber a explosão que segurara até ali. Juntos, eles caíram de volta a cama. Gillian procurou os lábios dele entregando-o um beijo apaixonado.

O cansaço e as emoções do momento exauriram todas as suas forças por alguns minutos. Deitados fitando o teto do quarto, eles tentavam colocar a respiração em um ritmo aceitável novamente. As mãos dela buscaram as dele. Os dedos entrelaçados. David levou a mão dela até os lábios beijando-a.    

- Isso foi...

- Muito melhor do que eu conseguia me lembrar – disse Gillian. Ele a puxou contra seu corpo, ela se aconchegou no peito dele – isso é tão bom, ficar deitada com quem você ama apenas sentindo o calor do seu corpo, o coração batendo...

- Mais um pouco e você vai falar das funções da endorfina. Se fizer isso eu vou possui-la novamente. Por causa do jargão médico e porque você disse que me ama. Você realmente acredita nisso, Gillian? – ela deu uma tapinha no peito dele.

- Bobo. Você sabe que sim. Somos muito teimosos e gostamos de complicar as coisas.

- Você que gosta de complicar com essa mania de racionalizar e analisar tudo.

- Quer que eu seja inconsequente? Temos que descobrir uma maneira de fazer isso funcionar porque não quero ser a garota de uma noite só ou do sexo casual, David.

- Você não será, babe... mas, deixe para analisar isso depois. A resposta continua lá fora. Amanhã podemos pensar em como agiremos. Por hoje, quero meu arquivo x íntimo e pessoal. A noite é uma criança, cheia de mistérios.

- O que você quer dizer com isso? – perguntou Gillian fingindo inocência.

- Que há muito a explorar... – ele abocanhou um dos seios dela fazendo-a gemer. Roçou seus dentes na pele alva deixando uma linha vermelha por todo o estomago. Afastou as pernas dela e sorrindo como um garoto maroto, avisou – hora de começar a missão – e quando ela sentiu a língua dele penetrar seu centro arqueou o corpo e gemeu chamando seu nome.

- Oh, David... – e em segundos ela soubera, estava em casa novamente. Voltara para o seu lar de onde nunca deveria ter fugido.


THE END