quarta-feira, 29 de julho de 2015

[Stanathan] Kiss and Don't Tell - Cap.49


Nota da Autora: Depois de um longo hiatus, a fic está de volta. Tenho boas ideias para os proximos capítulos que devem agradar a vocês. O angst é pouco ainda mais depois das novas revelações de Stana. O lance aqui é ser feliz. Portanto, entrem no mundo de faz de conta e divirtan-se! Enjoy!  


Cap.49

No estúdio, a chegada deles foi bastante tranquila. Os técnicos estavam trabalhando desde cedo para criar o cenário do prêmio além de preparar as mesas para a festa de encerramento da temporada. Enquanto esperavam completarem a organização do set, Nathan e Stana decidiram tomar um café para depois seguirem para o figurino e maquiagem. Estando sozinhos na sala dos escritores, ele achou que era um bom momento para sugerir uma ideia que vinha matutando.

- Stana, o que você acha de convidar Terri e Andrew para um jantar lá em casa? Podemos contar a eles sobre a nossa real situação. Acredito que você tem razão em desvendar esse mistério para os dois. Convido Dara e Chad, falo que é uma reunião intima como retribuição ao carinho e a dedicação que eles tiveram comigo. Daí, contamos a nossa história.

- Pode funcionar. Eu serei o elemento surpresa.

- Exato – ela sorveu o resto do café.

- Vá em frente. Eu concordo. Preciso ir andando, Luke já deve estar desesperado por eu não ter aparecido para a prova do vestido e da maquiagem. Eu demoro muito mais que você – ela estava virando-se para deixar a sala quando Terri entra acompanhada de Paul.

- Bom encontra-los aqui. Quero combinar como faremos a cena final. Será realizada em dois momentos. Uma tomada para o discurso, outra para a conversa na mesa. Darei uma hora para ensaiarem, especialmente Nathan que tem o discurso longo e depois filmamos. Então, será a vez da segunda cena. Querem acrescentar algo mais?

- Não, parece bom para mim – disse Stana – na verdade, Nathan é quem fará o trabalho pesado.

- Mesmo assim, é um bom planejamento. Por mim, tudo bem.

- Ótimo! Vou para a maquiagem – disse Stana saindo da sala. Terri aproximou-se de seu computador e entregou alguns papeis para o diretor. Assim que ele deixou a sala, Nathan se aproximou sentando-se ao lado da produtora.

- Terri, posso ter dois minutos de sua atenção?

- Claro, Nathan. O que você precisa?

- Na verdade, quero lhe fazer um convite e não aceito recusa. Gostaria de receber você e Andrew na minha casa para um jantar especial em retribuição a todos os anos que trabalhamos juntos. Pode ser na próxima semana quando não teremos mais a pressão das gravações, todos estarão de férias, o que acha? Posso marcar para quarta às oito da noite?

- Ah, Nathan... obrigada, significa muito. Pretende chamar mais alguém?

- Sim, chamarei Dara e Chad. Será uma reunião íntima e reservada. Por favor, é muito importante para mim. Será um imenso prazer retribuir pelo menos um pouquinho de todas as coisas boas que você e Andrew proporcionaram a mim através de Castle.

- Tudo bem. Convite aceito. Aposto que nos divertiremos bastante.

- Plagiando Kate Beckett : you have no idea – eles riram – tem mais uma coisa. Essa cena final do discurso. Sei que você espera emoção para tornar o momento mais convincente, porém acho que a Stana pode levar a sério demais.

- Como assim? – Terri parecia intrigada com o comentário dele.

- Você reparou nas reações dela ontem enquanto conversávamos sobre o final do episódio. Estava calada, pensativa. Prevejo muitas emoções no dia de hoje. Creio que será mais difícil do que pensamos gravar essas últimas cenas. Ela sempre é emotiva, leva Castle muito a sério, às vezes tenho a sensação de que ela vive a personagem demais. Por isso que estou prevendo choro. Stana vai se deixar levar pelo grande significado que esse episódio tem, o de uma despedida.

- Eu sempre sei que Stana se joga no papel de Beckett é o que a torna tão boa nas atuações. Não considero um problema, a verdade é que tanto eu quanto Marlowe usamos esse lado dela para testar a receptividade do público em muito do que fazemos. Se a afetar positivo ou negativamente, sabemos o que esperar do público. Ela é uma espécie de termômetro do fandom. Eu percebi o jeito dela ontem sim, Nathan. Dessa vez, imagino que exista a incerteza. Pude reparar pela própria pergunta que ela fez sobre o futuro de sua personagem. É uma grande mudança para todos, eu me incluo entre vocês. Somente não entendi a sua preocupação com isso. Aonde quer chegar com a sua colocação?

- Foi apenas uma observação. Para que você e o diretor não percam a paciência com ela caso tenham que filmar mais de uma vez o mesmo discurso ou cena. Estou preparado para repetir minhas falas quantas vezes for necessário.

- Por que você acha que reservei um dia inteiro para esse final? Imaginava que isso pudesse acontecer. A menos... existe alguma coisa que você não está me contando, Nathan? Sabe de algum problema que Stana esteja passando que possa afetar sua atuação ou sua vida?

- Não, absolutamente. Ela parece bem para mim. Bem, é melhor eu ir me arrumar ou serei eu quem vai atrasar a programação – ele se levantou apoiando a mão na mesa. Não percebera que se esqueceu de tirar sua aliança naquela manhã. O fato não passou em branco aos olhos de Terri.

- Nathan, o que é isso no seu dedo? Está usando a aliança de Castle ou essa é sua? Você sequer foi ao camarim ou ao trailer hoje – ao ouvir o questionamento dela, engoliu em seco, mas fez tudo para se manter indiferente. Sorrindo, respondeu.

- Eu esqueci de tirar a aliança ontem. Apenas percebi quando cheguei em casa. Resolvi colocar no meu dedo logo pela manhã com medo de perdê-la. Rob me mataria se aparecesse aqui sem a aliança de Castle.

- Hum...certo – disse Terri olhando desconfiada para ele – vamos trabalhar.

- Vejo você mais tarde – disse Nathan saindo da sala rumo ao figurino.

Stana tinha sua maquiagem já adiantada. Provava agora o vestido por uma última vez. Luke observava o reflexo no espelho. Tudo ficava lindo naquela mulher. O mais clássico e comportado dos vestidos brilhava no corpo dela. Calçou os sapatos e recebeu uma salva de palmas do estilista.

- Divina! Está preparada para suas últimas cenas da temporada, docinho?

- Ah, Luke. Final é sempre excitante e nervosa. Queremos que acabe para termos um bom descanso, relaxar, ao mesmo tempo abandonar a personagem é tão difícil. Principalmente dessa vez que não deixa de ser uma despedida com a saída de Terri e Marlowe do comando.

- Quando você fala abandonar a Beckett parece até que é uma coisa para sempre! São só alguns meses, boba! – ela sorriu e esperava que Luke tivesse razão. Se o contrato dela continuar a dar problema, nem saberia como lidar com a situação. De repente, a realidade a atingiu. Essa podia ser a sua última participação como Kate Beckett. Não era uma despedida somente de escritores e criadores, mas ela poderia estar dando adeus ao seu alterego. Respirou fundo ao sentir o corpo todo arrepiar. Em questão de segundos, sentiu faltar-lhe o chão cambaleando para trás em busca da parede para se escorar. Rapidamente empalideceu. Luke assustado a segurou colocando-a sentada numa cadeira.

- Está tudo bem, Stana? O que você está sentindo?

- Não foi nada – ela disse levando a mão ao rosto – foi só um ligeiro mal estar. Estou bem.

- Aposto que não se alimentou. Vou buscar um café e muffin para você.

- Não precisa, Luke... – era em vão recusar. Quando o estilista ia saindo do camarim, encontrou com o assistente de diretor que já vinha chama-la. Nathan estava logo próximo e escutou o que ele explicava para o rapaz.

- Relaxa só um pouco. Ela teve uma queda de pressão provavelmente por não se alimentar. Preciso de dez minutos – Nathan sabia que a dedução de Luke estava errada. Stana se alimentara muito bem naquela manhã. O motivo desse mal estar repentino era outro. Será que? Não... ele não acreditava. Queria saber como ela estava, porém se invadisse a sala de Luke seria muito suspeito. Um sinal de aflição começara a se apossar dele. Devia ver se ela estava precisando de alguma coisa.

Nesse instante, Luke passa por ele tentando equilibrar com um copo de café, dois muffins, donuts e o celular.

- Nathan, pode ser um cavalheiro e me ajudar com isso antes que eu faça um estrago?

- Claro, Luke. Quem está com fome? Você?

- Não. Stana provavelmente não se alimentou de manhã e está fraca. Quase desfaleceu na minha frente. Pronto, querida. Nathan como um perfeito cavalheiro me ajudou a trazer algumas coisinhas para comer. Aqui está seu café – entregou o copo nas mãos dela, Nathan a estudava procurando entender o que estava acontecendo – escolha se quer donuts ou muffins. Vai ter que comer algo ou não deixarei você sair daqui para gravar. Pedi dez minutos do diretor.

- Luke, eu estou bem. Foi só uma tontura, nada demais. Acabei me virando muito rápido na frente do espelho e deu nisso.

- Coma, Stana – ele replicou. Mordicando um pedaço do muffin de blueberry, ela fitou Nathan. Sabia que ele estava preocupado e interessado em saber o que causara isso nela – vou chamar a Liz para retocar seu batom – nem bem ele saiu da sala, Nathan falou.

- Conte o real motivo para você quase desmaiar, Stana. Sei que não é falta de comida.

- Não desmaiei. Foi só um pensamento. Um medo, na verdade.  Luke e eu estávamos conversando sobre a final e eu lembrei que podia ser a minha última vez fazendo Kate Beckett e de repente... e se eu não conseguir, Nathan? Se não puder voltar em julho? – ele poderia ver a aflição dela. Não podia abraça-la nem conforta-la de uma maneira mais carinhosa.

- Stana, nada disso irá acontecer. Tem certeza que não está sentindo nada?

- Estou bem, Nate.

- Cheguei! Vamos retocar essa maquiagem. Liz faça sua mágica – Nathan aproveitou a oportunidade para sair da sala. Mais tarde conversariam melhor. Cinco minutos depois, ela aparecia no set pronta para gravar. O diretor estabeleceu as posições de cada membro do cast na mesa. Em seguida, chamou Stana para uma conversa sobre as reações que esperava ver no rosto de Beckett ao longo do discurso.

- Ela está feliz e orgulhosa do que o marido conquistou. De sua fama e do homem que ele é.

- Sim, eu entendo. Não se preocupe, Kate Beckett sabe expressar muito bem e de maneira simples o quanto ama Castle. Faremos uma rodada de ensaio antes, apenas eu e Nathan? Não sei o conteúdo do discurso. Para expressar as emoções, a surpresa é melhor, mas se atrapalhar?

- Não acredito nisso, mas quero ver como vocês interagem. Nathan! Faremos um ensaio primeiro com você e Stana. Está pronto?

- Claro. Podemos ficar de frente um para o outro?

- É melhor – o diretor fez sinal para seu assistente ligar a câmera – em seus lugares, preparem-se. E ação!

Nathan começou a recitar seu discurso. Nas primeiras frases, ele já percebera a emoção despontar no rosto de Stana. Assim que a frase “I have no idea, now I do” as primeiras lágrimas começaram a descer pelas bochechas dela. Ele continuou proclamando o discurso que serviu como combustível para aumentar as emoções e o choro da atriz a sua frente. As palavras entoadas por Nathan, falavam direto ao coração. Um flashback passou em sua mente relembrando os sete anos de história. Momentos de amor, risadas, beijos. Todo o significado que Castle representava. Sua vida pessoal, profissional, seus presentes, tudo revelado através de um discurso primoroso de Terri.  Incapaz de se manter de pé, ela sentou-se na cadeira mais próxima e se entregou ao choro.     

Naquele instante, Nathan fez sinal para o diretor desativar a câmera. Ele ajoelhou-se próximo a ela tocando seu joelho.

- Está tudo bem? – ela não respondeu de imediato. Ainda não conseguia falar porque a voz sairia embargada. Havia mais que emoção na reação dela. Era impossível não pensar que essa podia ser a última cena de Kate Beckett, o coração apertado batia acelerado no peito enquanto ela tentava limpar as lágrimas e se recompor – hey, Stana, fale comigo – um longo suspiro e finalmente ergueu a cabeça para fita-lo. 

- Desculpe. Eu me deixei levar pela emoção. E-eu só pensei nesses sete anos e... realmente, desculpe. O discurso me pegou de surpresa. Terri... ela sabe o que fazer para impressionar. Eu estou bem, acho que o ensaio não ajudou muito. Eu nem sequer consegui atuar.     

- Tudo bem, foi melhor que sentisse a carga de emoção de uma vez, isso vai minimizar quando estivermos gravando. Quero emoção, mas na medida aceitável de Beckett – disse Paul. Vendo que ela já estava melhor, Nathan acariciou levemente o joelho dela levantando-se. Bastou uma troca de olhares para que ele percebesse o quanto ela sentira o poder daquelas palavras. Tinha certeza que ela estava preocupada com sua volta à série. Sentia-se insegura e melancólica devido ao clima que se estabelecera no set.

- Vou pegar um café para você – ele disse deixando o set com rapidez. Limpando o rosto, ela aguardou sua maquiadora se aproximar para retocar o rosto ainda vermelho pelo efeito do choro quando ele retornou com o café. O cheiro da bebida animou Stana que virou grande parte do copo de uma vez. Mais calma, ela levantou-se e pediu para repassar a cena com Nathan novamente.

Dessa vez, ela conseguiu manter o equilíbrio e ter as reações que o diretor esperava para o momento. A primeira vez, Nathan se atrapalhou por parar para observa-la. Da segunda vez, eles encontraram o ritmo, ele com as palavras, ela com os olhares. Satisfeito, o diretor pediu para os assistentes de câmera e iluminação marcarem e organizarem todos os atores, escritores e equipe técnica nos lugares designados.

Meia hora depois, com o megafone na mão, o diretor dava o sinal para a gravação da cena. Nathan entrou em cena e sem tirar os olhos da mesa onde a esposa da vida real e da ficção se sentara declamou as belas palavras escritas por Terri. Para desespero do diretor e da própria Stana, novamente ela não se conteve. O choro superou o controle. Por precaução, a cena foi parada antes que a historia se repetisse como há pouco tempo atrás. Foi menos impactante e Stana tornou a pedir desculpas. Retomando a concentração, reiniciaram a cena.

As palavras foram ditas como anteriormente, porém Nathan fez questão de não desconectar-se do olhar dela. Para Stana, era como se eles estivessem sozinhos naquele salão, alheios aos murmúrios, aos presentes. Somente ela, ele e sete anos de historia. Apesar de emocionada, Stana conseguiu manter a calma e ainda passar a emoção esperada para a cena. O grito de corta foi um alivio para ela que estava de coração apertado.

Com um sorriso dele, ela suspirou. O diretor pediu quinze minutos de intervalo para rever a cena e acertar detalhes para a próxima. Stana reparou que Terri se encontrava na mesa ao lado deles. Estava tão focada na cena que sequer viu a escritora ali. Decidida, aproximou-se dela para abraça-la. Simplesmente a tomou de surpresa.

- Stana?

- Nem sei por onde começar a agradecer. O que você escreveu... como você consegue? Paguei um mico ou melhor dois. É muita emoção expressa em palavras.
- Se você reparar bem, não é a única com a maquiagem borrada após essa cena – a própria Terri tinha os olhos vermelhos e marca de lágrima na face – você e Nathan dão vida às palavras a ponto de aflorar a emoção até dos mais fortes, Andrew sumiu assim que Paul disse corta.

- Não sei, é simples, singelo e fala direto ao coração. Eu vou sentir muita falta dessas falas entre Castle e Beckett, simples e profundas – tornou a abraçar Terri, beijou-lhe o rosto e agradeceu sussurando em seu ouvido – o que quer que aconteça, Kate Beckett será sempre o papel mais importante da minha vida. Ela será a minha musa pessoal, em homenagem a tudo o que aprendi no show que você criou. Nunca poderei agradecer-lhe o suficiente.

- Você já me agradeceu dando vida a minha personagem, Stana – elas estavam trocando sorrisos quando Amdrew apareceu. Sem aviso, puxou Stana em sua direção e beijou-lhe o rosto apertando-a pela cintura.

- Nossa detetive maravilhosa e esposa dedicada, Kate Beckett Castle. Stana, você é capaz de insitar o choro inclusive de marmanjos. Que atuação aquela de Castle também, vocês combinaram para fazer a gente de bobo?

- Até parece. Eu e Nathan somos as vítimas aqui. Ficamos a mercê das belas palavras escritas por vocês. Ainda temos uma cena – ela disse vendo Nathan se aproximar – pelo menos, nessa as emoções são controladas. Ou espero. Esses dias tenho estado muito emotiva diante dos acontecimentos. Nem quero imaginar como está a cabeça de vocês dois.

- Interrompo a conversa? – perguntou Nathan.

- Claro que não. Estávamos falando do turbilhão de emoções que anda rondando esse estúdio hoje – disse Andrew – você mais do que ninguém sabe como despedidas são tensas, importantes e cheia de momentos para recordar.

- É verdade. E Stana não esconde suas reações quando se trata de Castle e Beckett.

- Mais uma cena e poderemos comemorar mais uma conquista juntos. Sete anos. Não podíamos ter feito isso sem vocês – disse Terri.

- E vice-versa – completou Stana fazendo sinal de que precisavam seguir para a última cena. Dessa vez, a interação com parte do elenco principal tornou a situação bem mais confortável. Apesar de ser um momento agridoce, Stana considerou mais tranquila devido aos elementos da cena. Depois do corta, Andrew sinalizou para que a pessoa responsável pelo Buffet começasse a servir champagne para o brinde. Seamus aproveitara o momento para tirar várias fotos com o pessoal da equipe técnica. Ele e Julianna estavam curtindo o clima de encerramento muito bem. O tom nostálgico evidenciado em muitas postagens feita por ele durante toda a semana continuava presente. Isso deixava Stana ainda mais preocupada e triste, era como se os próprios amigos não pensassem em voltar. Será que suspeitavam de algo sobre seu contrato?

Nathan se aproximou sorrateiramente entregando uma taça de champagne em suas mãos. Podia ler em seus olhos verdes amendoados que aquele clima estava afetando seu humor. Uma nesga de tristeza aparecia no olhar, a viu mordendo os lábios para segurar uma nova vontade de chorar.

- Está tudo bem?

- Vai ficar... – ela bebeu um pouco do líquido. Antes que comentasse qualquer outra coisa, a sua maquiadora aproximou-se pedindo para tirar uma foto com ela. Stana se afastou sorrindo. Era a hora de se dedicar as pessoas que trabalhavam duro para deixa-la linda e poderosa como Kate Beckett.

Nem só de tristeza fora a noite. Houveram gargalhadas, lembranças, brincadeiras. Também várias fotos entre amigos, escritores, produção e a maior parte da equipe que ajudava a serie a ser o que era. Depois de muita insistência, Marlowe cedeu aos pedidos e fez um breve discurso aproveitando para agradecer a todos e anunciar que Terence e Alexi assumiriam a produção de Castle para a próxima temporada caso a ABC confirmasse a renovação.

Depois, Seamus insistiu que todo mundo se reunisse para tirar umas selfies. Deu trabalho reunir tanta gente, mas no final valeu a pena. A vontade de Stana era poder sair agarrada a Nathan naquelas fotos. Infelizmente, teve que manter o decoro. Perderam a noção de para quantas fotos posaram. Muitos sorrisos foram registrados e ao final da noite estavam exaustos. Quando decidiram ir embora, combinaram de aproximar-se de Terri e Andrew juntos, mas Nathan ficaria conversando com os dois após a saída de Stana para reconfirmar o jantar.

Ainda comendo um pedaço do bolo, ela foi interceptada por Dara. A escritora estava louca para saber se havia algo por trás do convite de Nathan para jantar na casa dele.

- Hey, tem um minuto para conversar comigo?

- Eu já estava de saída, mas pode falar.

- Nathan me procurou hoje para me convidar para um jantar na casa dele. Eu e Chad, pelo que me disse Terri e Andrew foram convidados. Você sabe do que se trata?

- Não, ele não comentou nada comigo.

- Stana, mentir é feio. Como seu marido está planejando um jantar na sua casa e você não tem ideia? O que vocês estão aprontando?

- Dara, estou falando a verdade. Nem sabia desse convite. Será que ele quer fazer uma surpresa para mim? – achou por bem desconversar e se fazer de desentendida para não levantar suspeitas especialmente com Dara que era muito esperta para essas coisas.

- Ainda acho que você está me enrolando. Vou pagar para ver – ela esperou a escritora se distanciar para seguir ao encontro de Nathan. Ele já conversava com o outro casal. Vendo-a se aproximar, apenas sorriu. Stana ainda lambia os dedos das mãos lambuzados de doce.

- Vim me despedir de vocês. Preciso ir. Quero descansar e cuidar de algumas coisas. O trabalho aqui terminou, mas tenho que tocar meus projetos do hiatus.

- Para onde você irá agora, Stana? África? – perguntou Marlowe com um sorriso.

- Jordânia, tenho um filme para gravar e depois volto aos Estados Unidos para, se der tudo certo nas negociações, filmar outro longa. Ainda não posso divulgar os nomes por restrições legais – Nathan prestava atenção no que ela dizia, isso era novidade para ele também. Algo que iriam conversar a sós. Ela abraçou Terri novamente agradecendo por tudo e fez o mesmo com Andrew - Não sumam!      

- Quem tem essa mania é você... – disse Marlowe. Eles riram.

- A partir de julho vocês sabem onde me encontrar – ela virou-se para Nathan – divirta-se com seu projeto do verão, Nathan – ela aproximou-se e beijou-o no rosto formalmente.

- Bom trabalho para você também. Ele acompanhou-a com os olhos vendo-a cumprimentar várias pessoas no seu caminho em direção à saída. O sorriso e a gentileza estampada em cada gesto. Estava intrigado com a revelação súbita dos projetos dela, devido toda a confusão do último episódio e a novela da negociação da ABC não haviam conversado sobre os meses que se encontrariam longe do estúdio.

- Ela é uma joia, não? – afirmou Terri olhando diretamente para ele percebendo que não tirava o olhar de Stana. Como se observa-la fosse sua prioridade naquele momento. A expressão em seu rosto deveria estar denunciando-o, portanto tratou de mudar o rumo da conversa.

- É uma mulher diferente e especial. Vamos tratar da nossa pequena comemoração particular? Está tudo certo para recebê-los na quarta-feira às oito horas da noite, o que me dizem? Vocês ainda devem ter acertos a fazer na pos-produção do episódio e com a emissora, não?

- Sim, nosso trabalho no episódio só deve terminar na próxima semana, talvez na quinta. Não vejo problemas de nos reunirmos na quarta, o que acha amor? – Andrew perguntou para Terri.

- Eu já tinha confirmado para Nathan, faltava apenas falar com você. Por mim está ótimo.

- Está combinado então – satisfeito, ele ficou conversando no estúdio com alguns câmeras e assistentes por mais de uma hora. Despediu-se e saiu. No estacionamento, encontrou com Seamus e Julianna. Aproveitou a oportunidade para desejar um ótimo descanso aos dois e o colega acabou se denunciando perguntando o que estava consumindo seus pensamentos naqueles dias.

- Nathan, como estão suas negociações? Você acredita que a renovação dos contratos e a oitava temporada é certa?

- Bem, eu acredito que a ABC sabe do potencial de Castle. Conhece a dimensão que a série alcança mundialmente. Para mim, é apenas uma questão de tempo para selar todos os contratos e nos ter a bordo do show novamente. Conversei com meus representantes, não deve demorar muito.

- E quanto a Stana? Acha que ela volta? A forma como vem endereçando as notícias parece ter um tom de despedida.

- E você também. Isso quer dizer que também vai nos deixar Seamus? Não existe Castle sem Beckett, a história perde o propósito. Há muito o que contar. Está com problemas em negociar?

- Na verdade, apenas comecei a tratar disso na semana passada. Essa demora na confirmação de uma nova temporada é que mexe com os nervos de todos.

- Sim, os fãs que os digam. Mas já faz parte do histórico da emissora divulgar essas informações em maio, praticamente no último minuto antes da exibição da season finale. Não vejo motivos para não estarmos todos aqui em julho. Aproveite sua folga. Julianna cuide do moço.

- E você se cuide também. Nada de excessos – sorrindo os cumprimentou e seguiu para o seu carro.

Ao chegar em casa, encontrou Stana sentada na cama com o ipad em mãos. Falava com alguém através do facetime. Reconheceu pelo tom de voz que era a respeito do trabalho. A fim de não atrapalha-la trocou de roupa rapidamente e desceu para a sala. Meia hora depois, sentiu os braços dela envolvendo seu pescoço e um beijo no rosto. Ele tomava uma taça de vinho.

- Pode me servir um pouco dessa bebida?

- Claro. Já deixei uma taça aqui para esse propósito –ele a serviu enquanto Stana sentava-se ao seu lado aconchegando-se em seu peito – era sua agente? Notícias do contrato?

- Eles querem que eu compareça na emissora na terça para conversar.

- Isso é bom. Você terá a chance de dizer o que quer, reforçar sua parceria com Kate Beckett. Ninguém melhor que você pode defender sua permanência no show e no papel de Beckett. Gostei demais dessa notícia. Você irá se sair bem, tenho certeza. Em julho estaremos juntos dando vida aos nossos alteregos.

- Adoro sua confiança, sabia? – ela disse beijando-lhe os lábios.

- O que eu realmente quero saber é sobre esses seus projetos. Quando ia me contar sobre eles?

- Desculpe, amor. É que os últimos dias foram muito intensos. Eu comentei sobre o projeto do filme indie que faria no hiatus. Devo retornar para cá em meados de junho. Se tudo der certo, filmarei outro longa aqui mesmo na Califórnia. Aliás, devo deixar isso claro para a ABC porque precisarei voltar uma semana depois do início dos trabalhos da oitava temporada.

- Então, são dois projetos. Já vi que nem nos encontraremos nesse meio tempo. Tenho comic cons para atender, conman para filmar – ela sentiu o recentimento na voz de Nathan. Conseguia entender o que passava em sua mente.

- Nós daremos um jeito de conciliar as coisas, babe. Estarei em LA, o que torna tudo mais fácil para que nos encontremos. Faremos assim, eu deixarei uma semana em aberto após a minha volta para a cidade. Será o tempo que passarei a sua disposição, exclusivamente para você e eu fazermos o que quisermos juntos. Independente desse momento, vou querer mais tempo ao seu lado. Posso ir ao seu encontro algumas vezes. Não se preocupe, morrerei de saudades, mas não deixarei que a distância e os trabalhos dominem nossa relação. Era tudo o que não queria quando cometi o erro com meu contrato.

- Como posso resistir a sua ideia de fazer tudo dar certo? Gostaria de dizer que apenas por essas palavras você merece tratamento vip, vários beijinhos e muito carinho. Sem esquecer o mais importante; eu te amo, eu te amo, eu te amo, Staninha.    

- Não posso reclamar de nada disso – e tomou o rosto dele com as duas mãos aprofundando o beijo apaixonado. Nathan acomodou-a melhor em seu colo, eles se perderam entre caricias esquecendo-se do tempo. Mas a curiosidade de Stana venceu. Ela queria saber se o convite do jantar tinha vingado – Nate, Terri e Andrew aceitaram vir jantar aqui em casa?

- Sim, tudo confirmado para a quarta-feira, acredito que será um jantar excelente. De alguma forma, acredito que não será tão surpreendente assim. Terri me parece ter uma noção do que acontece entre nós.

- O que o faz pensar assim? Ela comentou alguma coisa diretamente com você?

- Nada especifico, mas você já deve ter percebido algumas tiradas dela.

- Descobriremos em breve, não? Quem não se aguenta de curiosidade é Dara. Ela veio me perguntar o que estávamos aprontando. Disse que nem sabia do tal jantar.

- Não seria a Dara se agisse de outra forma, Staninha – ele se ergueu do sofá estendendo a mão convidando-a a se juntar a ele para um momento a dois no quarto – vem, amor, nossa cama está chamando – de mãos dadas, eles subiram as escadas e logo entregaram-se ao ato de amar.


Terça-feira


Nathan acordou de repente. Estava sozinho na cama. Checando o relógio, ele ficou intrigado. Procurou-a no banheiro. Nada. Ao descer as escadas, viu que Stana segurava uma caneca de café sentada sobre um dos bancos da cozinha americana. Vestia a mesma roupa que colocara para ir para a cama na noite anterior. O semblante denotava preocupação.

- Hey... são seis da manhã. O que você está fazendo tão cedo acordada? – ele se aproximou beijando-lhe o topo da cabeça caminhando até a cafeteira servindo-se de café – você ainda tem bastante tempo. Sua reunião com a ABC é apenas às dez horas.

- Não consegui dormir por mais tempo. Estou ansiosa, nervosa, tudo junto. Não dá para ficar na cama.

- Então, já que está nesse dilema interno, que tal eu preparar um café caprichado para você? Vou fazer ovos mexidos e bacon como você estivesse em um hotel cinco estrelas. E não adianta dizer que está sem fome porque se for de estomago vazio para a reunião, acabará não conseguindo discutir e fazer uma boa negociação.

Ele se entreteu à beira do fogão preparando o prato de ovos caprichados para ela. Além disso, dava um tempo para que Stana acalmasse seu coração. Entendia perfeitamente a agonia e o conflito que se instalara em sua mente e seu coração. Precisava de concentração. Ele não tinha duvidas de que Stana conseguiria dobrar os executivos e fechar o melhor contrato para ela, para os dois.

- Aqui está. Especialmente para você. Vou preparar outra caneca de café especial para meu amor – sentou-se na frente dela após colocar café para os dois, sorveu um gole e alcançou a mão dela acariciando a pele com o polegar – amor, tudo vai dar certo. Você provará que não existe Castle sem Beckett, sabe exatamente o que falar. Sete anos de convivência com a personagem lhe dá uma vantagem sem igual. Agora, coma.

Seria inútil dizer que estava sem vontade de comer porque Nathan não admitiria e a forçaria a se alimentar de qualquer jeito. Provou o que ele preparara e gostou. O sabor da pimenta do reino realçara o gosto do bacon. Ela acabou comendo sem sofrimento a mistura que ele fizera. Depois, tomou o café e informou que subiria para se arrumar.

Faltando meia hora para a reunião, Stana desceu as escadas pronta para encarar seu desafio. O futuro dela e de seu marido estava em jogo. Era assim que pensava para gerar maior vontade de lutar. Fora através da série que se conheceram, por causa dela estavam juntos. Isso era motivo suficiente para corrigir o erro que cometera.

Nathan estava no sofá da sala vendo um programa qualquer. Ela aproximou-se ficando na frente dele. Estava impecável e linda como não poderia deixar de ser. Vestida com discrição, Stana exibia um conjunto digno de uma executiva. Com pouca maquiagem e o cabelo preso em um coque inspirava poder e confiança.
- Você está perfeita. Imagino que somente ao vê-la entrar na sala, os executivos irão se sentir ameaçados. Estarão discutindo de igual para igual.

- Espero que tenha razão. Não vai me desejar boa sorte?

- Não que precise disso. Irá arrasar – ele se levantou e beijou-lhe carinhosamente nos lábios – boa sorte, Staninha. Ligue com noticias assim que puder.

- Está bem.


Escritório da ABC


Stana esperava na antesala pelo instante que viessem lhe chamar. As mãos suavam devido ao nervoso. Respirava fundo para manter a calma. Passados dez minutos do horário originalmente marcado, uma moça veio chama-la. Entrou na sala de reunião deparando-se com três executivos além da mulher.

- Seja bem-vinda, Srta. Katic. Por favor, sente-se – ela cumprimentou-os assim que se acomodou de frente para eles – a razão por tê-la chamado até aqui é de seu conhecimento. A negociação de seu contrato com a nossa emissora. Primeiramente, gostaria de salientar que ficamos um tanto surpresos com as cláusulas de sua proposta, em especial aquela que tornava o contrato praticanente inválido caso suas exigências não fossem cumpridas. Estou falando de deixar de protagonizar sua personagem na série Castle. Já na segunda versão, essa clausula sumiu, porém outras colocações foram acrescentadas. Diante das diferenças contratuais expostas, concordamos em conversar diretamente para esclarecer as nossas dúvidas.

- Entendo. Eu gostaria de esclarecer e também me desculpar com relação ao primeiro contrato que receberam. Meus representantes não compreenderam o que eu estava pedindo. Em nenhum momento condicionei as exigências sugeridas ao ato de interpretar minha personagem. Foi um equivoco de interpretação. Quando descobri fiquei muito preocupada se conseguiria reverter o processo. Por isso o segundo contrato. É esse que peço para levarem em consideração.

- Certo, esqueceremos o primeiro. Ao analisar o seu novo contrato, percebemos que as exigências do primeiro referente a salário e horas permanecem e foram acrescentadas outras sobre itens da série. Queremos deixar claro que as ideias criativas da obra não é objeto de contrato de atores. Cabe ao produtor executivo considerar ou não seus pontos, portanto teremos que removê-los para prosseguir a analise e assinatura. Novamente, nos parece que a senhorita está querendo impor condições para continuar trabalhando.

- De jeito algum. As ideias que citei em contrato são preocupações quanto ao futuro da série e da minha personagem. São sete anos que convivo com Beckett, seus escritores e uma certeza é a de que a autenticidade da história foi mantida. A saída de Terri e Marlowe acabou por criar a dúvida. A integridade das personagens precisam continuar. A essência de Beckett. A forma como a temporada foi encerrada me deixou preocupada. Essa é a razão de algumas das condições, ou melhor, ideias. Não quero insultar ninguém. Talvez se eu conversasse com os novos produtores, eu me sentiria mais tranquila.

- Então, você está dizendo que tudo o que relatou aqui é preocupação com a série?

- Sim, vocês sabem que Castle tem uma audiência fiel. O foco principal da história é o relacionamento das personagens principais, não existe Castle sem Beckett. Nenhum fã compraria essa ideia, eu não compraria. É por isso que reafirmo, não tenho intenção alguma de abandonar a personagem e a série, apenas temos que chegar nos termos ideais que satisfaçam os dois lados. A emissora conhece o peso de Castle e do fandom, não somente em termos de audiência, mas confiança, premiações. Os fãs são fieis e a última coisa que quero é decepciona-los. Daí a preocupação com a coerência da continuação.

- Vamos falar de dinheiro. Os termos salariais redigidos aqui é de aumento em 30% e redução de horas trabalhadas. Isso é incoerente, não podemos aceitar pagar mais por menos tempo de trabalho. É um acordo que a emissora não vai conceder. Não temos problema em pensar em uma proposta de aumento, Srta. Katic, mas suas horas estão fora de questão. 

- Por que não os 30%? E quanto às ideias? Eu realmente ficaria mais tranquila se conversasse com os produtores.

- Trinta por cento de aumento não seria coerente com a sua função de atriz. Não justifica. Novamente, contratos de serviços não cobrem esses tipos de exigências – Stana ficou indecisa quanto à possibilidade de não ter garantia que as ideias discutidas por ela e Nathan não serem absorvidas pela produção, temia a perda de características do show e das personagens. Sabia o quão exigente eram os fãs. De repente, ela teve uma ideia.
- E se eu recebesse o aumento conforme pedi e agregasse uma nova função além de atuar? Eu sugiro receber o titulo de produtora. Dessa maneira posso trabalhar as ideias descritas nesse contrato juntamente com os produtores executivos. É uma forma de ajudar e continuar fiel à história e a série – os executivos se entreolharam, Stana sabia que era um tiro no escuro. Esperava que não considerassem sua atitude arrogante. 

- É uma possibilidade que precisaremos discutir entre nós e com os produtores executivos da série.

- Se quiserem posso providenciar um novo contrato com esses termos, excluindo os pontos já elencados anteriormente.

- Faça isso, Srta. Katic. Devo lembra-la que o recebimento de sua nova proposta não é garantia de que aceitamos sua oferta. Estamos no direito de nega-la ou refazer os termos se acharmos coerente. Fique ciente que uma contraproposta pode ser elaborada para você.

- Sim, eu compreendo. Falarei com meus representantes. Você terá essa nova minuta amanhã.

- Aguardaremos – o executivo levantou-se para cumprimenta-la. Com a devida educação, Stana retribuiu o gesto e deixou a sala. Somente voltou a respirar com um certo alívio após estar na rua. A ideia maluca surgiu de uma hora para outra e não sabia se funcionaria. A verdade é que estava sentindo-se um pouco mais confiante. Pegou o celular clicando no nome de Nathan nos favoritos.

- Oi, amor... acabou a reunião? Como foi?

- Oi, Nate. Acredito que foi bem, mas prefiro conversar pessoalmente. Sugeriria nos encontrarmos para almoçar, mas diante da nossa situação, não seria adequado nem seguro.

- Tem razão. A menos que fossemos para um lugar mais distante. San Diego?

- Você quer almoçar em San Diego? Só se for almoço ajantarado, além disso um nerd famoso como você seria facilmente reconhecido nas ruas. Pode abortar essa ideia. Eu passo no Marche e levo uma comidinha gostosa para nós. Pode esperar, chego logo. Trinta minutos no máximo – desligando, emendou uma ligação para a sua agente solicitando a nova minuta. Tinha pressa em entregar a nova proposta.  

Nathan aguardava ansioso sua esposa chegar. Quando o carro dela adentrou a garagem, ele foi ao seu encontro.

- Você demorou... – disse beijando-lhe o rosto. Stana desceu do carro com as sacolas de comida. Seguiu sem dar muita importância à clara aflição que vira nos olhos azuis. Não conseguiu disfarçar que assim como ela estava preocupado.  Deixando a comida sobre a mesa, sentou-se no sofá. Ele a seguiu ficando ao lado dela – Stana...

- Eu não tenho certeza de que acertei nessa reunião, mas estou confiante. O primeiro contrato passou uma ideia totalmente errada do que eu queria. Não é à toa que estavam meio ariscos a mim. Errei feio. Felizmente, consegui reverter a situação explicando a cláusula como um mal entendido. Eles não estavam querendo me dar abertura para negociar nada. Detestaram as ideias do contrato, foram enfáticos quanto ao fato de que elas não eram itens de negociação.

- Mas então o que aconteceu para você recobrar a confiança?

- Eu tive uma ideia maluca. Após falar do quanto me preocupava com Castle, de manter o show fiel mesmo com a saída de Terri e Andrew, eu... Nathan, por favor, não me odeie pelo que posso ter feito ou pelo que isso possa representar. Foi um insight que tive e... pode dar certo...

- Por que eu a odiaria? Eu quero que a sua renovação de contrato saia. O importante é voltarmos a trabalhar em julho sem problemas. Que ideia foi essa?

- Eles não queriam aceitar minha proposta salarial e nem reduzir minhas horas, então eu me ofereci como produtora da série. É uma forma de garantir que as ideias para as nossas personagens serão usadas de forma coerente, teremos a essência do show mantida porque não podemos decepcionar nosso público.

- Produtora? E eles aceitaram? Deu certo?

- Disseram que precisam avaliar e conversar com os produtores executivos da série. Pediram para revisar a minuta do contrato. Já pedi a minha agência.

- Stana essa ideia foi fantástica! Duvido que Terence negue. Ele sabe do seu amor à personagem. Quando ficaram de dar uma resposta?

- Não sei. Eles vão enrolar para me deixar mais aflita. Estou prevendo isso. Você não está chateado?

- Por que ficaria? Tudo o que eu quero é você de volta no papel da sua vida. Por que eu não gostaria disso?

- Se alguém tinha que se tornar produtor, a escolha mais sensata seria você. Pelo tempo de trabalho, sua experiência em outros programas, por ser o ator principal. Não quero que isso se torne uma barreira entre nós. A constatação de que possa ter mais voz que você no show.

- Você é tão capacitada quanto eu para assumir esse papel. E você falará por nós dois. Acredito que tem uma excelente chance nas mãos. Vamos esperar a resposta e se eu estivesse no seu lugar, não ficaria tão angustiada. Já vencemos essa batalha - Nathan a abraçou aconchegando-a em seu peito, em seguida beijou-lhe os lábios – vamos esperar a resposta. Enquanto isso, temos outras coisas para priorizar. Almoçamos e teremos que repassar os detalhes do jantar de amanhã com Terri e Andrew, não decidimos como será sua aparição, lembra?


Segurando o queixo dele, Stana fitou por alguns segundos os olhos azuis. Sorveu os lábios com os seus intensamente. Ela amava a confiança daquele homem, amava tudo nele. Ao seu lado, descobriu o quanto era forte. Com Nathan, ela podia sempre mais.


Continua....... 

domingo, 26 de julho de 2015

[Castle Fic] One Night Only?! - Cap.29


Nota da Autora: Nesse momento da história, ainda estou explorando o angst para sacudir a vida de Castle e Beckett, lembre-se que não sou especialista em direito, portanto não sei se a maneira que tratei as informações legais são corretas, mas em se tratando de obra de ficção, o contexto da história é que vale. Sempre é bom chacoalhar as arestas de vez em quando. Acalmem-se, Roma ainda é uma idéia.... 


Cap.29      


Kate o olhava analisando o semblante de Castle. Apesar de tranquilo embora percebesse a preocupação e a seriedade impressa nas palavras. Não era o local nem o momento para uma briga, ele ainda estava se recuperando do susto que ambos levaram naquela noite. Segurando a mão dele entre as suas, ela procurou responder a colocação que fizera de forma pacifica.

- Castle, não é o momento de discutir... você está se recuperando. Quase me matou de susto. Pensei um monte de besteira quando o vi caído na calçada, por favor.

- Kate não se trata de uma discussão, estou afirmando que não deixarei essa situação passar em branco. Aquele cara atacou você pela segunda vez. Já parou para pensar no que poderia ter acontecido se eu não tivesse chegado? Sei que você sabe se defender, mas estava em desvantagem quando eu a vi. Não irei admitir que esqueçamos tudo. E se algum dia ele estiver esperando por você dentro do seu apartamento? Não há discussão, você fará o exame e daremos entrada na solicitação judicial.

- Castle, eu sei que o fato de ter acontecido novamente torna a situação mais preocupante. Eu me defendi, o prendi e mandei para a delegacia por agressão a uma policial. Conversei com meu colega, ele está tratando dos procedimentos necessários para ficha-lo. Mas uma ordem de restrição é demais.

- É claro que não! Se você não colocar um pouco de razão nessa sua cabeça e agir como deve, eu mesmo farei isso sozinho.

- Nós podemos registrar a queixa da agressão. Jackson se ofereceu para colher o nosso depoimento amanhã cedo caso você esteja liberado e tomar as providências o mais rápido possível. Tenho certeza que isso é suficiente para manter Josh afastado.

- Não será. Por que insiste em não querer usar a lei a seu favor, Kate? Qual o problema? – ele percebeu a aflição no rosto dela, pela primeira vez desde que entrara naquele quarto, ela se afastou dele. Passou a mão nos cabelos, visivelmente nervosa.

- Eu sou uma policial treinada e armada. Jurei proteger os cidadãos dessa cidade contra o mal. Não posso ser assombrada por um homem que pensa estar apaixonado por mim, não posso ceder a algo tão fútil só porque você está tendo uma crise de ciúmes!

- Não se trata de uma crise de ciúmes, Kate! De onde veio isso? Estou zelando pela sua vida porque corre perigo e não estou disposto a perder você. Como pode pensar que se trata de uma briga de egos? Eu estou me lixando para aquele almofadinha idiota. Aliás com esse comportamento, ele devia ser proibido de exercer a medicina. Estou cuidando de você e quando esse tal Jackson conversar conosco, eu vou pedir a ordem.

- Você não pode fazer isso sem meu consentimento. Droga, Castle! – ela se colocara de costas para ele, segurava as lágrimas – olhe para a gente. Acabamos de sofrer um ataque, estamos feridos. Devíamos estar conversando, nos recuperando, dando carinhos um ao outro e ao invés disso, estamos aqui brigando em um quarto de hospital. Dois teimosos querendo se mostrar superior ao outro e para que?

- Só brigamos porque você não quer admitir que precisa de proteção, brigamos porque você é teimosa o bastante para concordar que encontra-se em um momento vulnerável e não quer se mostrar frágil. Por que não aceita que tudo o que me importa é proteger você, Kate? Deixe-me fazer isso. Não diminui sua autoridade nem sua capacidade de lutar contra assassinos e bandidos. Não quero roubar sua identidade de policial, quero mantê-la viva. É tão difícil baixar a guarda e me deixar cuidar de você?

Kate virou-se para fita-lo. Castle estava sentindo a cabeça explodir devido à discussão. Mesmo assim, ele não pararia até convencê-la do que era melhor. Sabia que havia outro motivo para a detetive relutar quanto a isso. E na sua opinião, não era nada relacionado ao médico.

- Você não entende... sou uma policial e se não conseguir me defender de um sujeito como Josh, o que isso diz de mim? Como irei lutar e me defender contra os homens que mataram minha mãe? – então era esse o maior receio de Beckett, achar que ele estava julgando sua competência – como os enfrentarei se preciso de uma ordem de restrição contra um idiota que se julga apaixonado por mim e está claramente sobre efeito de drogas?

- Kate...oh, amor... é isso que está lhe afligindo? Como pode sequer considerar que isso a diminui como pessoa e profissional? Aquele cara nunca poderia fazer isso com você. Não será em uma briga com socos e pontapés que irá fazer justiça a sua mãe. Será usando sua mente brilhante, seu raciocínio. O que está em jogo é o estrago que Josh pode fazer na nossa vida, no nosso relacionamento. E-eu não estou falando de sentimento...- ele levou a mão até o rosto cobrindo os olhos, a cabeça latejava.

- Cas, está tudo bem? O que está sentindo? – se aproximou preocupada segurando-lhe o queixo e forçando-o a olhar para ela.

- Dor de cabeça... insuportável.

- Oh, Castle... desculpe, eu não devia... vou chamar a enfermeira – mas ele a cortou segurando-a pelo pulso. O gesto fez Kate estremecer, a pele estava sensível e dolorida no local. Castle percebeu e optou por não comentar nada ainda.  

- Não, por favor, deixe-me terminar o raciocínio. Sei que você não sente nada pelo almofadinha, mas se não o colocarmos em seu devido lugar, ele pode se tornar uma pedra no sapato. Pode persegui-la e nos expor. Ele é do tipo capaz de fazer um escândalo sem proporções principalmente se estiver, como você já atestou, sob o efeito de drogas. Nosso segredo e nossa relação estão ameaçados com ele a vigiando. Aceite a ordem de restrição. Será melhor, Kate. Por favor... – ele tornou a fechar os olhos deitando a cabeça no travesseiro. Mordendo os lábios, ela acariciou os fios de cabelo que caiam na testa. 

- Eu sinto muito, você está cansado e com dor por minha causa. Você tem razão. Falaremos com Jackson. Desculpe, Cas...- ela inclinou-se sobre ele para beijar-lhe a testa – vou chamar a enfermeira. Volto em um segundo – ele manteve os olhos fechados. Um pequeno sorriso se formou em seus lábios. Finalmente conseguira convencê-la da coisa certa a fazer, porém reconhecia que a situação ainda traria outras dificuldades para ambos, Kate não gostava de ser exposta aos colegas, infelizmente seria o que estava por acontecer no âmbito pessoal e profissional. Ele precisava estar preparado para apoia-la.

Kate retornou ao quarto com uma enfermeira. Vendo-a entrar mancando, ele tinha que fazer alguma coisa.

- O que está sentindo, Sr. Castle?

- Muita dor de cabeça. Deve ser da pancada, não?

- Sim, é normal. Vou lhe dar um analgésico na veia para o efeito ser mais rápido. De qualquer forma, pedirei para o médico vir examina-lo. Se ele achar necessário poderá pedir mais exames e estender sua estada por aqui.

- Obrigado, enfermeira. Só mais uma coisa. Será que poderia levar a teimosa detetive Beckett até a sala de curativos para tratar desses arranhões e hematomas. Aposto meu braço como ela está morrendo de dor, sofrendo calada – a moça riu do jeito que ele falava – peça para o médico registrar os machucados e dar o parecer dele em um relatório. Precisaremos disso para a ocorrência. Ah! Quase esqueci... o joelho, ela está mancando.

- Castle, pensei que estava com dor – disse revirando os olhos e entortando a boca ao ver o jeito como ele a tratava parecendo uma relação de pai e filha.

- E estou. Isso não significa que não possa fazer recomendações para você. Sei que está com dor, Kate. Não adianta bancar a mandona e durona. Vá se cuidar, eu ficarei bem. Meus olhos estão pesando...

- É o efeito do remédio, senhor. Descanse um pouco, fará bem para sua recuperação. Eu cuidarei dela – Kate se aproximou e beijou-lhe carinhosamente os lábios. Ele gemeu com o contato no local dolorido do soco que levara.

- Desculpe... – ela falou sorrindo.

- Tudo bem, é uma dor gostosa. 

- Vamos, detetive. Deixe-o dormir – Kate deixou o quarto acompanhada da enfermeira. Quando retornou já devidamente medicada e com pequenos curativos nos braços, encontrou-o dormindo. Trazia um copo grande de café nas mãos. Era quase meia-noite. Um rapaz jovem checava seu prontuário. O anti-inflamatório que tomara reduzira bastante o incômodo da dor causada pela luxação no joelho.

- Está tudo bem? – ela perguntou com receio.

- Sim, estou apenas fazendo a ronda para os pacientes da neurologia, sou o residente de plantão. Checando os últimos registros, medicação. Ele está bem. Tem uma nova CT marcada logo cedo. Seis da manhã. Dependendo do resultado, deverá ter alta por volta das nove horas.

- A dor de cabeça irá persistir, doutor?

- Sim, pelo menos por mais dois dias. A pancada foi forte. Ele teve muita sorte em sair ileso da pancada. Podia desenvolver um coágulo, um aneurisma. Você está bem? – perguntou vendo os curativos no braço dela – alguma dor?

- Estou bem. Já fui medicada.

- Qualquer coisa é só chamar. Tem um botão vermelho ao lado direito do painel da cama. Vejo vocês pela manhã – antes de sair, ele voltou-se para encara-la – você acha que ele assinaria um livro para mim? É que minha namorada é fã de Nikki. Eu também. Nosso aniversário de namoro está chegando seria um ótimo presente.

- Castle participando de uma história de amor? Pode contar com isso. Ele assinará com certeza.

- Obrigado. Descanse, você está precisando.

Kate sentou-se na poltrona ao lado da cama de Castle. Tomava seu café devagar olhando para o homem que dormia tranquilamente. Sua mente e seu coração ainda estavam em conflito diante de tudo o que acontecera. Sabia que conseguiria render Josh mesmo sem a ajuda de Castle, podia ter consequências mais graves, pois o médico é forte e musculoso. Porém, não era com sua defesa que estava preocupada. Temia sua imagem, sua reputação. Também não tinha pensado em como a obsessão do médico poderia atrapalhar seu relacionamento. Castle tinha razão em querer a proteção de uma ordem de restrição, mas o que isso significaria mais para frente? Josh poderia ataca-lo por vingança? Como seu capitão reagiria ao saber do ocorrido? Muitas dúvidas, muitas perguntas sem resposta até o presente momento.

E pensar que aquela noite era para ser somente de diversão. Era o que Kate imaginara ao sair do distrito. Um strip provocante, vinho, uma bela sessão de sexo... dormir nos braços dele. Ela sequer tivera a chance de contar a novidade sobre Roma para ele. A vida mandava um novo recado. Tudo pode mudar em questão de segundos. O dia seguinte seria longo. Para Beckett havia a certeza de que a discussão aparentemente colocada de lado pelos dois, ainda seria explorada por opiniões diferentes. Cansada, ela rendeu-se ao sono.

Por volta das cinco da manhã, Kate acordou assustada com uma presença no quarto. Era a enfermeira.

- Está tudo bem?

- Sim, procedimento padrão. Em quinze minutos, o residente virá pegá-lo para a tomografia. Depois do exame, ele se alimenta e dependendo do resultado, vocês poderão ir para casa – Kate percebeu que ele abrira os olhos. Levantou-se da cadeira aproximando-se com a mão sobre seu peito. A enfermeira já deixara o quarto.

- Bom dia... como está se sentindo? A dor de cabeça diminuiu?

- Sim, estou melhor. Você dormiu aqui? Deve estar toda dolorida – puxou uma das mãos e levou-a aos seus lábios. Viu os pequenos curativos – como está o joelho?

- Bem, eles irão leva-lo para a tomografia logo. Tenho que avisar a Jackson que talvez estaremos disponíveis apenas à tarde. Onde está seu celular? Nem me lembrei de avisar Alexis.

- Não tem problema. Ela sabe que estou com você, disse que passaria a noite no seu apartamento. Prefiro que ela não saiba do que aconteceu. O ferimento na boca pode ser facilmente explicado pela minha bravura trabalhando com a NYPD – ela revirou os olhos – o que? Você mesma disse que sou seu herói.

- Algo que me arrependo amargamente pela quantidade de vezes que serei obrigada a ouvir você se exibindo quanto a isso. Acho que está mais que provado, a queda não poderia causar mais dano do que o que já existia em seu cérebro.

- Isso detetive, desdenhe bastante. Sua armadura não me engana. Não esqueci que me deve um striptease, vou cobrar. Aliás, falando em cobrar, não recebi nem um beijinho de bom dia, isso não é jeito de tratar o seu namorado doente, Kate – rindo, ela se aproximou dele apertando de leve o nariz como quem vai dar um ralho e inclinou-se para beija-lo com cuidado no machucado para depois sorver-lhe os lábios.

- Hrum hrum... parece que meu paciente já se recuperou totalmente – Kate afastou-se da cama com o rosto avermelhado – bom dia, Sr. Castle. Nem irei perguntar como se sente, pois está estampado na sua cara. Pronto para sua tomografia? Trata-se de um simples cheque. Imagino que esteja tudo bem para que possa libera-lo em seguida.

- Sim, doutor. Estou bem melhor agora.

- Ótimo. Devo trazê-lo em, no máximo, meia hora. Fique à vontade para tomar o café da manhã em nossa cafeteria.       

- Vou aproveitar para ligar para Jackson e avisar ao capitão que chegarei um pouco mais tarde hoje – assim que Castle foi levado, Kate seguiu para a cafeteria em busca de café, o celular já na orelha retornando a ligação de Jackson – oi, bom dia! Estou ligando para lhe atualizar. Castle está numa tomografia agora. Provavelmente receberá alta por volta das nove da manhã. Sairemos daqui para o 36th, tudo bem? – ela escutou o que o outro policial falava – certo. E Jackson? Vamos manter o ocorrido somente entre nós por enquanto. Quando estiver aí, conversaremos melhor.

Suspirando, ela desligou o telefone. Precisava desesperadamente de sua dose de cafeína da manhã antes de enfrentar seu capitão com uma mentira. Após os primeiros goles de café, ela fez a ligação para Montgomery. Explicou que apareceria no distrito apenas na parte da tarde porque um colega pedira sua ajuda em um caso do 36th distrito. Não precisava se preocupar. Se um homicídio aparecesse, ela se juntaria aos rapazes na cena. Ao desligar sem enfrentar qualquer objeção de seu capitão, sentiu-se um pouco culpada. Preferira nesse instante contar uma mentira branca, queria ter certeza do final da história para saber se haveria necessidade de contar-lhe o que acontecera exatamente.

No fundo, Beckett estava se iludindo. Pelo procedimento da NYPD, ela teria obrigação de reportar a ocorrência ao seu superior. Sua esperança reinava no fato de que ainda conseguisse convencer Castle a não solicitar a ordem de restrição a um juiz.

Voltou ao quarto encontrando Castle e o médico conversando. Ele fazia a primeira refeição do dia enquanto o residente contava sua admiração às personagens criadas pelo escritor.

- Hey, Kate. Você voltou no momento certo. Greg estava me contando que ele e a namorada são meus fãs e de Nikki. Devia agradecer a ela, doutor. Beckett foi a razão pela qual criei a série Heat.

- Sim, eu sei da história. É um prazer conhecê-la, detetive. Apenas por curiosidade, quanto de Nikki há em você? – Castle se antecipou para responder.

- Tudo! – ela apenas balançou a cabeça rindo. Seu interesse era outro.

- Como ele está, doutor?      

- Ótimo. A tomografia continua limpa. Vou assinar a alta nesse instante. Ah, antes que eu me esqueça – ele estendeu uma pasta para Beckett – essas são as fotos e análises de seus ferimentos e hematomas, os exames do Sr. Castle e meu parecer quanto ao que aconteceu a vocês para ajudar no processo – ela tinha uma cara intrigada – ele me contou sobre a agressão e pediu o que precisavam para continuar o trabalho na polícia. Espero que resolva tudo da melhor maneira possível – ele escreveu algumas palavras no prontuário e assinou – tudo pronto. Basta se vestir e estará livre para ir. Só mais uma coisa. Você assina o livro para a minha namorada?

- Claro! Pode trazer para mim.

- Volto já – o médico saiu do quarto rapidamente. Castle se vestia sob os olhos de Beckett. Ela estava pensando em como agiria no 36th distrito.

- Eu falei com o Jackson. Está nos esperando para depor ainda essa manhã. Josh continua preso lá. Pedi discrição dele. Quero ter controle de todas as opções para saber como agiremos. Avisei a Montgomery que chegaria apenas depois do almoço.

- Contou a ele o motivo? – perguntou, mas sabia pela expressão no rosto dela que a resposta era não – o que você disse?

- Que estava consultando em um caso a pedido de um colega – nesse instante, o médico retornou com um exemplar de Heat Wave nas mãos para ser autografado. Castle assinou dedicando o livro a namorada. Cumprimentou o médico e agradeceu. Beckett fez o mesmo e de braços dados deixaram o quarto rumo à saída. Caminhavam devagar até o ponto de taxi. Beckett optou por irem ao seu apartamento, ela pegaria seu carro e iriam ao encontro de Jackson.

Preocupada com o estado de saúde dele, Beckett se policiava para não bancar a chata. Perguntava de cinco em cinco minutos se ele estava se sentindo bem. No início, era bonitinho, porém aos poucos já estava parecendo exagero.

- Kate, pela milésima vez. Estou bem. Concentre-se em dirigir. Quero resolver logo essa pendência.


36th distrito


O local era bem menos convidativo e aconchegante que o departamento de homicídios. No fundo, intimidava um pouco pelo fluxo de pessoas mal encaradas. Realmente Beckett era detetive da elite da NYPD. Chegaram ao distrito procurando passar despercebidos. Beckett perguntou sobre Jackson. Antes de responderem, ele apareceu.

- Olá, detetive Beckett. É um prazer recebê-la em meu distrito. Como está se sentindo? Vejo que possui muitas marcas na pele. Quer me acompanhar para ficarmos mais à vontade? Iremos para uma das salas de reunião.

- Estou bem. Esse é Rick Castle, o escritor de mistérios. Ele está me seguindo em casos do 12th para escrever uma personagem inspirada em mim – Jackson estendeu a mão para cumprimenta-lo, Castle fez o mesmo.

- É um prazer detetive. O agressor está preso? – Castle perguntou.

- Sim, nas celas do andar de baixo. Venha comigo – assim que entraram na sala, o detetive completou – espero que tenha trazido as evidências do ataque. Serão primordiais para dar veracidade no processo. Antes de colher o depoimento de cada um em separado, Beckett pode me explicar de onde conhece o tal sujeito e que motivo ele teria para querer ataca-la?

- Conheci Josh durante um caso. Ele flertou comigo e saímos juntos uma vez para tomar um café. O problema foi que ao rejeita-lo, Josh não aceitou muito bem. A partir dali, nos encontramos sem querer algumas vezes, todas terminaram de maneira estranha. Ele tentou me agarrar quando estive no hospital que ele trabalhava para me recuperar de um caso de hipotermia após um acidente durante uma investigação, felizmente Castle chegou a tempo de evitar o pior.

- Na ocasião eu já teria sugerido que ela emitisse uma ordem de restrição contra ele, mas Beckett não levou minha ideia adiante.

- Achei que não havia necessidade. Eu realmente não esperava encontra-lo novamente. Sequer tinha noção de que ele queria mais. Estava sob o efeito de drogas, não?

- Sim, anfetamina. Diante do que você me contou, não tenho dúvidas que Castle está certo. Você precisa de uma proteção a mais, mesmo sendo capaz de se defender, tendo porte de arma. Protegemos aos nossos, detetive. Ele claramente irá tentar novamente, como é réu primário apenas a agressão dará ao médico horas de serviços comunitários.

- Eu não sei, Jackson. Parece exagero obter uma ordem de restrição. Acredito que o processo de agressão será suficiente para fazê-lo cair em si.

- Não se ele começar a viciar-se em drogas, como pode saber se tomou anfetamina esporadicamente ou se não faz isso há algum tempo? – disse Jackson.

- Ele tem razão, Kate. Não vou arriscar ser surpreendido por outro ataque a você.

- Ele me disse que vai para África. Até me convidou para acompanha-lo. Deve ir embora logo e a situação se resolverá naturalmente – ela procurou justificar. Castle sabia que ela temia algo.

- Detetive Jackson, pode nos dar alguns minutos? – Castle pediu.

- Claro! Vou aproveitar para arquivar essas evidências ao processo. Avisem quando estiverem prontos para depor – ele saiu da sala. Castle sentou-se de frente para ela segurando as duas mãos. O olhar fixo procurando ler os pensamentos dela. Não conseguia compreender o motivo pelo qual Beckett insistia em deixar a história para lá.

- Agora que estamos sozinhos. Por que você está evitando seguir o procedimento correto? Nós já havíamos conversado sobre isso, Kate. Josh é uma ameaça ao nosso relacionamento – ela suspirou desviando o olhar para fitar as mãos entrelaçadas. Não adiantaria esconder dele. 

- Quando uma ordem de restrição é emitida para um policial, automaticamente o superior imediato é informado. Dependendo do caso e da característica da agressão, todos os distritos recebem uma notificação. Estaria exposta em todo o circuito da NYPD. Não estou preparada para isso. Você não entende. Na minha profissão, mulheres devem se impor e trabalhar muito mais para ganhar o respeito dos colegas. É um trabalho extremamente machista. Uma ordem de restrição para mim seria admitir minha fragilidade. As pessoas me olhariam diferente. Perderia parte do que conquistei, Castle.

- Kate, você é a melhor detetive de homicídios que seu distrito tem. Uma das melhores de toda a polícia. Você vai sempre além do necessário, excede as expectativas. Emitir uma ordem para sua proteção, por precaução, não pode diminuí-la. Tenho certeza que com seu histórico, tanto Jackson como Montgomery podem manter essa situação em sigilo. Basta ser honesta com eles. Se esse babaca realmente estiver de passagem marcada para a África, será ainda mais simples lidar com o problema e convencê-los. Você tentaria? Por mim?

Kate permaneceu calada por algum tempo avaliando as palavras de Castle. Sabia se defender, porém a cada novo ataque de Josh, ela arriscava a vida de Castle. Não se perdoaria se algo ruim acontecesse com ele por culpa de sua teimosia.

- Tudo bem, vou chamar Jackson para depormos. Eu pedirei a ordem de restrição.

Cada um deles contou o ocorrido do seu ponto de vista separadamente. Beckett afirmou quase ter usado sua arma e comentou todas as marcas de agressão deixada por Josh em seu corpo. Relatou os demais encontros para demonstrar a necessidade de uma ordem de restrição. Castle também fez sua parte. Alegou legítima defesa em todas as ocasiões que fora obrigado a bater no agressor. Deixou claro que temia pela vida da detetive e que na sua opinião, o caso era claramente de obsessão. Terminada as sessões individuais, Jackson reuniu os dois para concluir o processo e falar dos próximos passos.

- Beckett, eu anexei os depoimentos e as evidências na pasta do processo. Irei solicitar a ordem ao juiz da vara da mulher e pedir prioridade, especificarei o fato de você ser uma policial. Alegarei perseguição e assédio com tendências sexuais. Conversarei com ele pessoalmente para evitar que você vá ao tribunal depor novamente. Mas, você sabe que preciso comunicar seu superior, não posso fugir disso. Também contatarei o hospital onde o médico trabalha para verificar essa história da África, se confirmada pouparemos muito trabalho para o departamento e a NYPD.

- Eu gostaria de pedir para você que segurasse o comunicado para os demais distritos até confirmar o lance da África. Falarei hoje mesmo com o meu capitão. 

- Tudo bem. Posso fazer esse favor a uma amiga – disse Jackson – vou providenciar uma cópia do processo para você levar.

- Pretende soltá-lo? – Castle perguntou.

- Com o processo de agressão, ele precisará de um advogado para emitir um habeas corpus. Ele será solto para responder ao processo em liberdade. Deverá ser julgado em, no máximo, 72 horas. Você sabe como funcionam esses casos, são prioridades. Beckett, quero sua opinião sincera. Acredita que ele pode tentar ataca-la novamente, independente da ordem?

- Gostaria de poder dizer que ele respeitará a lei, afinal é um médico, jurou não causar mal a ninguém. Sinceramente, não sei se posso confiar, em especial ao saber que ele anda se drogando.

- Se perguntar para mim, duvido que obedeça – disse Castle – talvez fique com mais raiva. Mesmo assim, é a melhor proteção que temos no momento.

- Certo, nem preciso dizer para evitarem qualquer ambiente que possa ocasionar um encontro de vocês com ele. Assim que tiver novidades, aviso.  

- Obrigada, Jackson. Por tudo – levantou-se e apertou a mão dele – espero que não tenhamos que nos encontrar em circunstâncias como essa – Castle também o cumprimentou.

Deixaram calados o distrito. Durante o caminho para o 12th, Castle sugeriu uma parada para um almoço rápido e um café. Ela concordou. Kate parou em um chinês onde costumava comer próximo ao distrito. Logo ao lado, havia uma Starbucks. Dois coelhos com uma cajadada só. Castle evitou comentar sobre o processo focando a conversa na alimentação e em assuntos diversos para distraí-la. Percebia que ela estava desconfortável com a situação. Ao final da refeição, enquanto caminhavam para comprar o café, Kate tomou coragem e falou.

- Castle, quero lhe pedir um favor. É importante.

- O que é?

- Preciso que me prometa que entrará na sala de Montgomery comigo, porém eu irei expor o caso. Você falará somente se o capitão se dirigir diretamente com uma pergunta e quando eu disser que quero conversar com o capitão em particular, você me obedecerá e deixará a sala. Pode fazer isso?

- Você está me excluindo de um processo no qual fui tão vitima quanto você?

- Não, eu estou pedindo para conversar com meu superior sozinha devido a minha posição profissional. Lembre-se que não podemos deixar transparecer nosso relacionamento. Ainda não sei qual será a desculpa que darei para justificar sua presença no meu apartamento.

- Eu consigo. Direi que liguei para você porque gostaria de sua aprovação na capa do novo livro da série Heat. Combinamos de nos encontrarmos no seu apartamento. Não deixa de ser uma meia-verdade. Eu estou com as capas para mostrar a você. Kate, você promete que me conta se Montgomery comentar algo importante?

- Prometo, apenas não quero deixar suspeitas.

- Sendo assim, farei o que me pede.

As portas do elevador se abriram revelando a chegada da dupla em meio a uma muvuca no 12th. Esposito arrastava um suspeito para ser fichado entregando-o a outro oficial. Ao se deparar com a cara de Castle e o machucado em tom arroxeado próximo ao queixo, não resistiu ao comentário.

- O que aconteceu, bro? Brigou com o seu namorado? Ou apanhou do namorado irritado de alguma fã que você assinou os seios?

- É para rir? Eu estava numa luta de lasertag salvando o universo com Alexis me descuidei, fui rendido e tropecei no móvel.

- Alguém está ficando velho para certas coisas... – alfinetou Esposito - Eles pretendiam seguir direto para a sala do capitão, mas diante da provocação dos rapazes, Castle não conteve o comentário brincalhão vendo a luta de Ryan em equilibrar pastas e a caneca de café nas mãos.   

- Está rolando um agito aqui, Ryan? Muita diversão, não?

- Haha! Alguns de nós realmente trabalham, Castle – Beckett revirou os olhos e ralhou com ele.

- Castle, foco! – ela bateu à porta de Montgomery. Viu que o capitão estava sozinho e logo os mandou entrar. Após estarem sentados, ela colocou a pasta com a copia do processo sobre a mesa.

- Senhor, eu estive no 36th distrito hoje.

- O caso em que você estava dando consultoria. Espere, disse 36th? Esse é o departamento de agressão. O que isso tem a ver com homicídios? Alguma vitima foi espancada até a morte?

- Na verdade, senhor. O caso de agressão aconteceu comigo e Castle. Ontem à noite – a cara perplexa do seu superior exigiu que ela continuasse a história antes que ele começasse as perguntas. Beckett contou em detalhes o que acontecera, como Castle chegara até ela e a ajudara. Falou das marcas, do tempo no hospital e da decisão de emitir a ordem de restrição. Montgomery ouvira a tudo atentamente. Nem de longe podia imaginar que algo daquele tipo pudesse estar acontecendo com sua detetive, bem debaixo do seu nariz sem que desconfiasse. Em sua mente, ele inferiu que talvez fosse esse o motivo dela pedir aqueles dias de folga. Para resolver ou se afastar por alguns dias para se reestruturar após uma situação como essa.

- Eu sinto muito, Beckett. Não tinha ideia. Fico um pouco aliviado de saber que Castle pode ajuda-la. Você sabe o que uma ordem como essa cria na NYPD. Conhece as regras.

- Sim, capitão. Eu gostaria de conversar em particular com o senhor. Castle, será que pode nos deixar sozinhos?

- Claro. Vou perturbar Esposito. Ele me parece bem estressado hoje.

A porta se fechou novamente e Beckett suspirou.

- Senhor, eu conheço as regras. Conversei com o detetive Jackson, meu colega de academia que me ajudou no caso. Pedi sigilo a ele até que confirme se o que Josh revelou sobre a África tem procedência. Se ele realmente estiver indo embora do país, isso poderá facilitar o modo como trataremos esse problema. Roy, você mais do que ninguém sabe o quanto lutei para construir minha reputação na polícia. Um processo como esse, traz consequências complicadas para a minha carreira por eu ser mulher. Não quero ser vítima de olhares furtivos, comentários ou possíveis favores que me diminuam como detetive. Pelo menos até confirmar como o juiz tratara a ocorrência. Não lhe pediria se não fosse importante para mim.

- Beckett, antes de lhe dar uma resposta, eu preciso saber. O seu pedido de folga está relacionado com isso? – ela reconhecia que seria um ótimo argumento para conseguir sucesso. A verdade era que desde o caso da bomba, ela andava estressada, em estado de alerta e a situação com Josh só viera piorar tudo. Resolveu usar isso a seu favor.

- De certa forma, sim. Preciso de um tempo para mim. Deixar Manhattan por uns dias, sumir e relaxar. Não quero que situações extremas como essas se tornem empecilhos para desempenhar bem o meu trabalho.

- Compreendo seu ponto de vista, detetive. Tem a minha palavra de que manterei sigilo até a confirmação do detetive Jackson. Quanto aos seus dias de folga, considere-os aceitos. A última coisa que preciso é ter minha melhor detetive à beira de um colapso nervoso. Tire um tempo para você, Beckett.

- Obrigada, senhor. De verdade – ela se levantou da cadeira e sorriu para o seu superior.

- Só mais uma observação, detetive. Não deixe Castle irrita-la. Devo dizer que ultimamente ele tem se revelado uma excelente ferramenta para a NYPD, de escritor fútil a um quase parceiro, está sempre no lugar certo, na hora certa. Salvou sua vida duas vezes em menos de um mês. Chega a ser impressionante. Espero que reconheça isso.

- Sim, reconheço. Ele vem provando que... é capaz de boas ações. Ele se importa – ela preferiu ignorar o sorriso cínico no rosto de seu capitão. Não seria ela quem alimentaria qualquer suspeita que ele pudesse ter sobre o escritor. Mal chegou a sua mesa, foi brindada por uma caneca fumegando de seu café preferido. Junto com a bebida, Castle entregou um post-it com um endereço. Havia um novo homicídio em Lower Manhattan.

Por volta das dez da noite, eles chegavam exaustos e famintos ao loft de Castle. Ele se ofereceu para preparar sanduiches. Com uma garrafa de vinho tinto, os dois devoraram uma grande quantidade de presunto Parma e queijo mussarela com azeite e maionese. Comprado por muitos beijinhos, ele foi preparar um café para a namorada. Cansada, ela colocou os pés para cima, no colo dele que rapidamente iniciou uma massagem fazendo Kate suspirar.

- Você quer ouvir uma boa notícia, Castle?

- Por favor! Nas últimas 48 horas encerramos nossa cota de maus presságios, assim espero! Surpreenda-me! 

- Montgomery concedeu meus cinco dias de folga, o que significa...

- Arrivederci Nova York – ele disse abrindo um sorriso.

- Ciao, Roma... – ela completou aproximando os lábios dos dele. O beijo ganhou proporções mais intensas, ele explorava o interior da boca com a língua enquanto suas mãos vagavam pelo corpo dela já despertando as sensações de prazer. Esquecendo-se dos ferimentos sofridos, ela mordiscou o lábio dele. Castle gritou de dor – oh, Deus! Desculpe, Cas.

- Tudo bem, foi sem querer... – ele respondeu puxando-a mais para perto do seu corpo empurrando-a contra o sofá. Quando Kate tentava prende-lo com as pernas, ela moveu o joelho entortando-o sentindo o choque da dor automaticamente.

- Ai...ai,ai... desculpe – ela largou dele e Castle a olhou preocupado.

- Está tudo bem?

- Sim, mas acho que não estamos em condição de fazer certas estripulias. Melhor nos deitarmos para dormir. Quero você inteiro em Roma, Castle.

- Não posso discutir quanto a isso. Você ainda me deve um strip. Vamos – ele se levantou puxando-a pelo braço arrancando outro gemido dela, fez uma careta de culpado e enlaçou a cintura dela – definitivamente a cama é o melhor ambiente para nós agora – diante do olhar malicioso dado de propósito, ele se antecipou - Para dormir, detetive...

- Ainda bem que amanhã é sábado.

- E mais importante, Ryan convenceu Espo a tocar o caso sem você.

- Sim, nesse ponto Ryan é bem mais sensível. Ele notou os arranhões no meu pulso quando estava examinando o corpo. Apenas me olhou, mas sei que percebeu – ao invés de seguir para o quarto, ela parou no balcão da cozinha. Tirou um comprimido de uma caixa pequena e serviu-se de água. Castle a observava tomar o analgésico. Criando coragem, ele acabou pegando também um comprimido para dor de cabeça – você está com dor? – ele anuiu com a cabeça – e não ia me contar... que ótimo!

- Pensei que se nós nos distraíssemos fazendo amor, ela passaria. Como abortamos o plano, ela permanece. Parece que estão batucando na minha cabeça.

- O médico disse que poderia sentir dores, assim como eu. Quem diria...- ela riu – olhe para nós, parecemos duas pessoas em fim de carreira, cheio de dores e à base de remédio – o comentário fez Castle gargalhar enlaçando-a pela cintura e dando um beijo no pescoço cheirando-lhe a pele de maneira carinhosa.

- Situações cotidianas de um relacionamento, Kate. Vamos dormir. Amanhã te mostro a capa de Heat Rises, eu não estava blefando quanto a sua aprovação - Rapidamente trocaram a roupa e em menos de dez minutos estavam agarrados e adormecidos na cama de Castle.

Kate acordou por volta das nove da manhã. Estranhou. Castle não estava na cama. Ouvia o barulho do chuveiro, sorriu. Levantou-se da cama e encontrou-o de costas para ela tomando uma ducha. Se perguntava se ele estava com dor para ter acordado antes dela. Sorrateiramente, ela tirou a camiseta que vestia dele entrando no box abraçando-o por trás. Beijou-lhe as costas e sentiu as mãos dele acariciar seus braços envoltos na cintura.

- Bom dia, babe... – ela roçou os dentes na pele deixando as mãos vagarem acariciando o peito musculoso dele – dormiu bem?

- Sim, bem confortável posso dizer.

- Ainda sente dores?

- Um pouco no corpo, a cabeça passou. Seu joelho?

- Melhor. Estou faminta, desejando...

- Nem precisa dizer café, conheço você, Kate.

- Errou – ela virou-o para fita-lo – estou desejando seus beijos – puxou-o até o seu encontro sorvendo os lábios ansiosos por provar novamente o gosto daquela boca. Castle usou o corpo para prende-la entre ele e a parede. Uma das mãos foi de encontro ao seio dela, apertando e puxando o mamilo fazendo-a gemer entre seus lábios. Os dentes traçavam uma linha no pescoço de Kate. Entre mordidas, língua e beijos, ele chegara ao meio dos seios. Sem cerimônia, ele sugou-os um por um observando a mulher contorcer-se em seus braços. Gostava de ter o domínio da situação da mesma forma que adorava vê-la impor suas necessidades e desejos dominando-o várias vezes na cama.

Ela cravou as unhas nos ombros dele ao sentir os dedos invadirem seu centro. Abraçada ao pescoço dele, Kate se entregou as carícias sentindo o corpo estremecer com a chegada do orgasmo. A dor no joelho causada pela posição em que se encontrava, foi substituída pela onda de prazer que inundara seu corpo. Mas o ato não acabara por ali. Kate ainda ofegava quando segurou o membro dele em suas mãos massageando para provoca-lo. Queria leva-lo a loucura, deixa-lo a mercê de seus carinhos, dependente dos seus toques.

Empurrou-o contra a parede oposta deslizando os lábios pelo abdômen dele enquanto as mãos ágeis encarregavam-se de manter o membro rígido e prestes a explodir. Ela o surpreendeu ao ajoelhar-se e toma-lo em sua boca. Sentia uma fisgada no joelho, porém afastou o pensamento de dor focando no prazer. Castle acariciava os cabelos molhados incentivando-a a continuar. A destreza de Kate quase o fez perder a consciência por pura luxúria. Percebendo que ele estava no limite, ela tirou-o da boca afastando-se e colando suas costas na parede de frente para ele. As palavras por ela pronunciadas escaparam de maneira sussurrada, quase inaudível com o barulho da água corrente do chuveiro. 

- Quero você, Castle... – ele a suspendeu pela cintura atracando-a em seu corpo. Tomado pelo desejo que o consumia, ele a penetrou de uma vez. A dor causada pelo contato brusco no corpo ainda dolorido de Kate foi substituída pelo contato quente dos lábios dele em sua pele e das sensações maravilhosas provocadas pelo clímax que se formara entre os dois. Juntos, eles gritaram sucumbindo ao prazer.

Ainda estavam ofegantes quando Kate tomou a iniciativa de colocar-se debaixo da ducha deixando a água fria massagear os ombros e trazer a refrescância de volta a pele após o clima quente que se instalara entre eles minutos atrás. Castle estava escorado observando-a cobrir o corpo com sabonete liquido. Era o seu cheiro. Cerejas. Satisfeita, ela abriu a porta do blindex e enrolou o corpo numa toalha saindo do chuveiro, não sem antes beliscar o bumbum à amostra.

Quando Castle entrou no quarto, encontrou-a vestindo uma calça de moletom e uma camiseta. Enxugava os cabelos em frente ao espelho com a toalha. Para provocar, ele aproximou-se dela mordiscando-lhe a orelha. Ela podia sentir o cheiro da loção pós-barba e o contato da pele lisa contra a sua.

- Vou me vestir e preparar seu café. Espero você. Panquecas?

- Eu poderia comer umas com bastante mel e morangos...

- Seu desejo é uma ordem – ele se afastou, devidamente vestido deixou o quarto. Sozinha, ela fitou-se no espelho, pensativa. A agressão surpresa sofrida praticamente no quintal de casa ainda mexia com ela. Kate procurava ser forte, manter a postura e a racionalidade diante do fato, entretanto estava preocupada com a repercussão da ordem de restrição e o que ela significaria para seu agressor. Se Josh não fosse para a África, não saberia o que esperar. O outro motivo da sua preocupação chamava-se Rick Castle. Ela não se perdoaria se algo acontecesse com ele por culpa exclusivamente sua e de um deslize idiota que cometera. Precisava conversar com alguém sobre o assunto, alguém capaz de acalma-la ou brigar se necessário. Queria falar com Dana.

Na cozinha, o cheiro de café e panquecas despertara ainda mais a fome que sentia. A pele devidamente coberta com hidratante para proteger os hematomas que começavam a esverdear mantinha o tradicional cheiro de vanila, não anulando o aroma de cerejas deixado pelo sabonete. Castle fez questão de cheirar seu pescoço e os pulsos beijando cada um dos machucados suavemente.            

Sentados lado a lado, ela experimentou a bebida quente em grandes goles. Castle a serviu de panquecas exagerando no mel como ela mesma pedira. Saboreava o alimento trocando carícias entre si. Com a ponta dos dedos, ela tocou o machucado do queixo.

- Ainda dói quando me beija? – perguntou.

- Um pouco, mas de um jeito bom. Temos muito o que fazer hoje, detetive. Vou programar nossa viagem a Roma. Gina já deve ter enviado o cronograma da programação oficial. Mal posso esperar para sair do país com você a meu lado.

- Sobre isso... – ela olhou-o fixamente – será que podemos organizar a viagem mais tarde? Eu gostaria de sair, preciso me encontrar com Dana.

- Você está preocupada com o processo, não? Ansiosa porque Jackson ainda não ligou. Conheço você, Kate. Não precisa disfarçar. Se conversar com Dana vai fazer você se sentir melhor, tudo bem. Apenas quero que lembre, estou aqui para o que quiser. Sem segredos, nós prometemos.

- Não estou escondendo nada de você, eu só quero ouvir a opinião profissional dela, Castle. Dana me conhece.

- Tudo bem, entendo. Promete que volta a tempo de jantar e planejar nossa viagem?

- Claro. É só um almoço – ela se levantou beijando-lhe os lábios. Começou a caminhar de volta ao quarto quando ele falou.

- Acho que vou aproveitar sua ausência e dormir mais um pouco. As costas estão doendo – imediatamente ela se voltou para encara-lo, pode ver a preocupação no olhar.

- Tem certeza que está bem? Posso ficar com você. Quer ir ao hospital?

- Relaxe, Kate. São dores musculares. Afinal, eu mal saí do hospital e já me dediquei a fazer o que não devia no chuveiro. Vou tomar um comprimido e dormir, nada de se preocupar. Vá encontrar Dana.

- Não está com dor de cabeça? O doutor falou que se ela persistisse deveríamos voltar ao hospital. Nunca se sabe os efeitos de uma pancada na cabeça de imediato e – ele a cortou.

- Kate, estou bem. De verdade. Pode sair – ela suspirou. Trocaram mais um beijo e ela seguiu para o quarto – ah! faça um favor a si mesma, tome seu remédio. Está mancando, detetive – ela não respondeu, mas se Castle pudesse ver o sorriso de satisfação impresso no rosto, saberia que estava tudo bem. Eles cuidavam um do outro mesmo que usassem a teimosia como um disfarce natural para esconder o que sentiam.

Ela estava a caminho do restaurante onde encontraria a amiga quando seu celular tocou. Jackson. Kate sentiu o coração pular uma batida. Boas ou más, chegara a hora dela ouvir as notícias e lidar com suas consequências quaisquer que fossem. Após um longo suspiro, ela atendeu a ligação.

- Beckett.

- Olá, detetive. É Jackson. Desculpe estar ligando em pleno sábado, porém tenho novidades e você me pediu para mantê-la a par de qualquer atualização no processo. Pode conversar agora?

- Claro. Dispenso a enrolação, Jackson. Vá direto ao ponto. Você conseguiu falar com o juiz sobre o processo? Ele é a favor da ordem de restrição?

- Sim, o juiz Gibson avaliou o seu processo. Ele quer conversar pessoalmente com vocês. Aparentemente, o advogado de Josh entrou com um processo contra Castle, agressão e danos morais por ter socado-o em seu ambiente de trabalho desmoralizando-o perante o hospital.

- Isso é ridículo! Ele me agrediu, foi em minha defesa. Havia um outro médico lá, ele presenciou parte do que aconteceu, é uma testemunha.

- Ótimo. Sabe o nome dele?

- Acho que era William. Você pode checar a escala de plantão de duas semanas atrás quando eu e Castle fomos admitidos no Memorial para tratar a hipotermia.

- Deixe comigo. Não há nada que você possa fazer agora. Gibson os espera em seu gabinete na segunda. Não se preocupe, duvido que o juiz leve esse processo de Josh adiante. É apenas uma distração para ganhar tempo, Beckett. Coisas de advogado. Nos falamos na segunda.

Kate desligou o telefone irritada. Isso tudo era sua culpa. Se não tivesse dado abertura ao médico na primeira oportunidade, nada disso estaria acontecendo. Estava tão absorta em seus pensamentos que não percebeu o carro que se aproximava ao atravessar a rua. A buzina estridente a despertou de seu pequeno transe junto com o solavanco que recebeu de uma mulher puxando-a para calçada. Os gritos do motorista a assustaram.

- Está louca, mulher? Quer morrer, idiota! – ela fez menção de avançar na direção dele, mas foi puxada novamente. Só então viu Dana correr ao seu encontro preocupada.

- Kate? Você está bem? O que aconteceu?

- Ela quase foi atropelada – disse a mulher que a acudira.

- Kate? – Dana insistiu chamando-a.


- O resultado de péssimas escolhas, isso foi o que aconteceu. Maldita hora que dei ouvidos aquele almofadinha idiota – ela riu da ironia ao usar o mesmo nome que Castle ao se referir a Josh – é uma longa história e eu preciso muito que você me escute.


Continua....