domingo, 31 de dezembro de 2017

[Castle Fic] An Untraditional XMas - Parte III


Nota da Autora: Apenas algumas considerações sobre essa fic. Nela, Kate não é tão broken. Reservada, workaholic e ainda sofrendo com a perda e a injustiça da morte da mãe. Contudo, o fato de já ser capitã me força a tomar diferentes direções para dar certo no fim. É quase natal e Kate não consegue explicar toda a atração que sente pelo escritor. 
P.S.: Esse é possivelmente o ultimo post de 2017. A todas que acompanham, comentam, se divertem com as minhas loucuras, obrigada! É um prazer escrever para vocês. Desejo um ano especial a cada uma, muita saúde, sucesso, novos desafios e descobertas. Acreditem em vocês #always. E 2018 tem mais... Bjs! 


Parte III 


— Eu que pergunto. 

— Não, ontem você foi bastante explicita dizendo que não queria patinar. Eu vim com Alexis, a ultima atividade de nosso dia juntos. Você não vai me responder? 

— E-eu gosto de patinar. Fiquei com vontade hoje. 

— Hum, será influencia do espirito natalino? Você reparou que estão tocando musicas de natal, não? 

— E por acaso isso passa despercebido? - ele sorriu. 

— Sabe, foi bom encontra-la aqui. Ia mesmo telefonar para agradecer. Alexis amou os presentes especialmente a jaqueta. 

— Que bom. Er, Castle? Acho que estamos impedindo as pessoas de patinar. Melhor nos mexermos. Cadê Alexis? - ele observou o ringue procurando pela filha. 

— Ali à esquerda. Vamos - ao chegar perto da filha falou - olha quem eu encontrei patinando! Me diz se não é uma ótima coincidência? 

— Coincidência ou destino? Oi, Kate! Você também curte patinar? 

— Sim, fazia isso todo o tempo com a minha mãe. Era uma das nossas coisas especiais. 

— Ah, que nem eu e o papai com o lasertag. E cadê sua mãe? Adoraria conhece-la - Castle fez uma careta, viu Kate sorrindo sem graça. 

— Ela faleceu, Alexis. Há muitos anos. 

— Oh, Kate. Sinto muito! E-eu não sabia e… que idiota, você falou no passado. 

— Tudo bem, Alexis. Sei que não fez por mal. Como tem sido sua aventura com seu pai? 

— Ótima! Eu ganhei uma jaqueta linda! Mal posso esperar para usa-la ao sair com Ashley. E também tem o cordão com um cristal azul super delicado. Quer ver? Estão junto com nossos sapatos. Posso mostrar. 

— Talvez depois que terminarmos de patinar, pumpkin. 

— Sobre isso, acho que eu já cansei. Estamos aqui a quase uma hora. E a mãe de Ashley acabou de me mandar uma mensagem. Vai passar para me pegar às seis da manhã. Melhor eu ir para casa terminar de arrumar minhas coisas. Por que não fica conversando com Kate? Eu pego o metro. 

— Não, Alexis. Não quero atrapalhar seu momento com seu pai. É a comemoração de natal de vocês, não é justo. 

— Kate, já acabou. Fui paparicada, brincamos, conversamos. Ele também precisa sentir-se um pouco adulto e tem tempo para sentir saudades de mim. 

— Tem certeza? 

— Absoluta - ela beijou o pai - obrigada por tudo, pai. Te amo. 

— Também te amo, pumpkin. Cuidado ao voltar para casa. 

— Tchau, Kate. Feliz Natal! - sorrindo ela se distanciou dos dois patinando. Kate observava o jeito que Castle olhava para a filha. Amor. 

— Então, somos apenas nós dois. Ainda quer patinar ou já se cansou de ouvir Jingle Bells? 

— Posso aguentar mais umas três musicas. Me acompanha? 

— Claro! Lado a lado eles patinavam e conversavam. Logo estavam rindo e tomando meu que propositadamente um no outro. 

— Sabe, eu ia ligar para você. Está me devendo parte do nosso trato. Lembra que me prometeu contar segredos de Storm se o ajudasse com as compras? A minha parte eu fiz, já você… 

— Quer mesmo spoilers? 

— Pode ser spoilers, bastidores, algo interessante sobre as pesquisas. Você me deve isso, Rick Castle. 

— Tem razão. 

— Que tal irmos comer alguma coisa? Eu não jantei ainda. E dessa vez será por minha conta. Uma das minhas lanchonetes favoritas. Topa? 

— Comer hamburger na sua companhia? Não precisa perguntar duas vezes - Beckett guiou Castle até o estacionamento que ficava ao lado da Bloomingdale’s. Na frente da loja, havia um senhor vestido de papai noel perto de um pote dourado onde estava escrito “Doações para a Cruz Vermelha” - olhe, o Papai noel! Hohoho, feliz natal! 

— Feliz natal, que belo casal! - Beckett percebeu que Castle não se incomodou em corrigi-lo. 

— Papai noel. Como funcionam as doações? 

— Qualquer valor é aceito. Nosso único requisito é que faça um pedido e papai noel vai realizar. 

— Viu só, Kate? Vamos fazer pedidos. Se eu doar mais de uma vez posso fazer mais pedidos? - ele tirou a carteira e pegou uma nota de vinte dólares fazendo os olhos do senhor arregalarem-se. Castle colocou a nota e fez um pedido mentalmente - posso fazer mais um? 

— Vá em frente, filho - Castle sorriu e pensou em seu outro pedido - sua vez, querida. Faça a doação e o pedido - Kate trocou um olhar com Castle. 

— Vamos, Kate. Espirito de natal - ela pegou uma nota de cinco dólares e depositou no pote - não esqueça de fazer o pedido - Kate suspirou e realmente fez um pedido. Ela queria entender qual era sua relação com Castle. 

— Muito obrigado pelas doações. Muita sorte para o casal e feliz natal. 

— Feliz natal - Castle respondeu. Os dois seguiram para a garagem. Beckett dirigiu de volta para a delegacia parando o carro na frente do 12th distrito - o que estamos fazendo aqui? Você está com fome, não? - ela riu. 

— A lanchonete fica na esquina - assim que entraram, ela completou - bem-vindo ao Remy’s. A melhor lanchonete se você deseja comer fast food, as batatas fritas e os milk-shakes daqui são deliciosos. 

— Olá, capitã. 

— Oi, Brian. Como vão as coisas aqui? 

— Tudo ótimo. Bem movimentado durante o dia por causa das compras de natal. Escolheu um ótimo horário para vir aqui. O de sempre? 

— Sim, mas faça dois. Castle, você prefere um milk-shake de chocolate, não? 

— Sim. 

— E capriche nas batatas fritas com queijo, bacon e chilli. 

— Perfeito! Volto já. 

— Você é cliente da casa. 

— Desde que vim para o 12th. Vamos ao que interessa, você me deve alguns segredos e spoilers de Storm. Cansei de ser enrolada. 

— Não estou enrolando. Nossas agendas andam bem cheias. A verdade é que o maior spoiler de Storm eu não poderei revelar. Ainda não sei como será a reação dos meus leitores, da editora, da imprensa. É uma revelação bombástica e não estou falando literalmente. Não há bomba na historia. Terei que pensar se você está preparada para ouvir. 

— Meu Deus! Você continua me enrolando. 

— É sério, Kate. Eu vou pensar e te aviso se poderei O que vou revelar são curiosidades. Por exemplo, Clara Strikes foi baseada em uma agente da CIA. Passei um tempo com ela entendendo como era o dia a dia, o lance da segurança, códigos de missões. Lembra da sequencia de segurança e códigos que eu descrevo em Gathering Storm? Uma outra fonte minha também da CIA me contou como era o sistema deles três anos antes de eu escrever o livro. O que está na historia é de fato o que era usado pelos agentes. 

— Você está de brincadeira! 

— Não estou, tanto que na época da publicação eu recebi e-mails e telefonemas querendo saber onde eu conseguira a informação. Os leitores sempre acharam que era ficção, mas vários agentes sabiam a verdade. Claro que apenas pude usar porque eles trocaram todo o sistema. 

— Isso é interessante. Tenho uma pergunta. É verdade que você dorme com suas fontes? As femininas como a de Clara Strikes? 

— Eu tive um relacionamento de quase um ano com a minha fonte. E respondendo sua pergunta, eu não durmo com todas. 

— Mas ouvi dizer que você dorme com todas as mulheres que tem alguma relação com seus livros, até dedica as obras a elas. 

— Como minha fã você anda desinformada. Eu não pude revelar a minha fonte da CIA por motivos de segurança nacional, nem agradeci usando seu nome verdadeiro. E quanto a dedicar meus livros às mulheres que me relaciono, até hoje além da minha filha houve apenas uma dedicatória. Acredito que está dando muita bola à conversas de fóruns e às colunas de fofoca, Kate. O lado playboy não é totalmente real. 

— Aqui estão os sanduíches e as bebidas sem esquecer da batata como pediu, capitã. Ainda quer o especial para a véspera de natal ou - o rapaz olhou para Castle e de volta para Beckett - tem outros planos para a data? 

— Não, Brian, eu vou querer o especial. 

— Ótimo. Bom apetite. 

— Especial? 

— É apenas uma forma diferente de chamar minha refeição preferida. 
— Então você vai comer sanduíche na véspera de natal? Vai mesmo trabalhar? 

— Faz parte da tradição, Castle. E você, o que vai fazer na véspera de natal? 

— Provavelmente serei eu, o peru e o videogame. Se quiser aparecer lá em casa para jantar, será uma honra - ele provou o sanduíche - nossa! Isso é muito bom! Esse molho… hum… 

— Espera até você provar as batatas - ela riu diante da reação de Castle. Eram gemidos, chiados, elogios. Eles continuaram conversando sobre partes dos livros de Storm até terminarem a refeição. 

— Meu Deus! Comi demais. Melhor pedir a conta. 

— Não se preocupe com isso. É por minha conta. Você já me alimentou varias vezes. Vem, eu te dou uma carona - eles entraram no carro de Kate. Ela ficou calada a maior parte da viagem enquanto Castle tagarelava sobre a comida do Remy’s. Beckett estava se questionando o que estava acontecendo ali. Sim, ela se sentia bem ao lado dele, atraída por Castle. O que não era mesmo seu feitio. Fazia tempo que isso não acontecia. Será que devia dormir logo com ele para então seguir em frente, virar a pagina? O problema era que ela não o via como um cara para uma noite apenas. Não sabia explicar, porem não era somente sexo. Estava com vontade de sentir os lábios dele outra vez. O beijo intenso que gerava faíscas por todo o seu corpo. Deveria pedir? Sugerir? Insinuar? 

— Kate? Hey, Kate… nossa! Devo estar sendo uma péssima companhia porque você sequer me ouve… 

— Desculpa, e-eu acabei divagando… 

— Posso saber no que estava pensando? - ela não respondeu, apenas sorriu. Estacionou na frente do prédio dele - já chegamos? - ela anuiu - tudo bem, eu queria agradece-la novamente pela ajuda com Alexis. Ela amou os presentes, a jaqueta nem se fala. Não teria conseguido o mesmo êxito se não fosse você. 

— Que isso, Castle. Você tem bom gosto. Ia acabar encontrando algo que ela gostasse - eles estavam sentados no carro. Beckett virara o corpo para fita-lo. Castle tentava prolongar o momento ao máximo. Ele a fitava intensamente. 

— Não quer subir para tomar um café? 

— Está tarde. Amanhã eu trabalho e você terá que acordar cedo para se despedir de Alexis também, não? 

— Sim, terei - ele não conseguia disfarçar o olhar. Devorava-a. Beckett sentia o calor a tomando. Viu os olhos azuis vagarem até seus lábios e de volta para encara-la - acho que é boa noite então… - a voz dele saíra quase como um sussurro, rouca. Castle inclinou-se para beijar-lhe o rosto. O gesto foi vagaroso como se não quisesse que o momento terminasse. Ele sentiu a mão dela na gola de sua camisa, segurando no tecido. Afastou-se um pouco apenas para ver o desejo nos olhos amendoados. 

— Castle, você não precisa ter um azevinho nas nossas cabeças todas as vezes que quiser me beijar… - ela sorria. Ele fez o mesmo. A mão dele segurou-a pela nuca trazendo-a ao seu encontro. Os lábios se encontraram emanando faíscas elétricas por todo o corpo deles. Dessa vez, não fora um beijo singelo. Eles novamente se aprofundaram no contato, sorvendo os lábios um do outro, provando, experimentando. Kate ainda segurava na camisa dele puxando-o para si. Deixava a mão deslizar pelo peito dele. A temperatura subia. Ela sabia que precisava parar, mas o corpo não lhe obedecia. Quando Castle se afastou, eles estavam vermelhos. Viu as pupilas alargadas escondendo o grande parte da iris. Ele notou que a cor era verde agora. Kate suspirou. 

— Acho que agora é realmente uma boa noite - ele disse. 

— Castle, o que está acontecendo conosco? 

— Eu sei dizer o que está acontecendo comigo, por que não me explica Kate? O que você está sentindo? 

— E-eu não sei. Isso é tão novo. Talvez seja quem você é ou o que representa, o lance da escrita e… droga! Não é isso! E-eu não vou negar que me senti intrigada, atraída e… tenho receio de estar entrando em algo perigoso, uma cilada porque todos conhecem sua fama de mulherengo, mas esses dias que passei na sua companhia… você não é nada daquilo, não é uma pessoa fútil, vazia, muito convencido sim, contudo o Castle que conheci é bem diferente do que eu imaginava. 

— Espero que no bom sentido - ela sorriu. 

— Desculpa, eu não devia despejar isso em você e estou confusa, não sei o que pensar. Você me deixa perdida, me sinto estranha e… - ele pegou sua mão, levou até os lábios beijando-a - viu? E-eu não estou preparada para isso, para você. 

— Kate, por que age assim? Você está deixando o medo dominar suas decisões. Por que não se dá a chance de viver algo novo, explorar essa experiência? Eu não vou mentir. Você sabe que eu estou atraído por você, mas não se trata apenas de beleza. Não preciso dizer o quanto você é linda e sexy. Contudo, seu jeito de agir, suas convicções, suas historias. Apenas sua postura já me intrigou desde a primeira vez que a vi. Há um ar de mistério, um desejo de descoberta quando eu olho para Kate Beckett. Mas também existe um lado indeciso, solitário, que se recusa a se abrir para o mundo. Você vai rir de mim com a minha próxima declaração. A verdade é que eu estou me apaixonando por você, cada dia mais. Uma nova descoberta, um novo modo de sorrir, o jeito que você ergue as sobrancelhas quando está intrigada ou morde o lábio inferior como agora, porque está nervosa. Foi quase amor à primeira vista embora você não acredite que isso seja possível. É muito racional para admitir a magia. Esse seu jeito de se sentir estranha? Nada mais é que a magia de sentimentos tomando conta de você. Seu coração está falando, Kate. Deveria ouvi-lo. 

— Castle, e-eu nao estou preparada… 

— Será? Não está deixando o medo falar? Ou tentando se sabotar? Vá para casa, Kate. Reflita sobre isso e, faça um favor para si mesma: não racionalize, escute o seu coração - ele abriu a porta do carro. Olhou mais uma vez para a bela mulher sentada ao seu lado claramente confusa. Sorriu. Acariciou o rosto dela - desfaça essa ruga de preocupação na testa - deu um selinho nela, porém Kate segurou o rosto dele prolongando o beijo - espero que esse ultimo gesto a ajude a decidir. Boa noite - finalmente ele saiu do carro. Acenando mais uma vez para ela, entrou no seu prédio. Beckett dirigiu até seu apartamento sentindo o gosto dos lábios de Castle nos seus. 

Deitada em sua cama, ela relembrava as palavras de Castle. Ele dissera que estava apaixonado. Seria mesmo possível? E ela? O fato de se sentir estranha era na verdade uma demonstração de seus próprios sentimentos por Castle? Desde que aparecera em sua vida, ela tinha que admitir que gostava de estar em sua companhia, ele era uma pessoa fácil de agradar, de se conviver. Um livro aberto, o que era um bom trocadilho para o escritor. Não sabia explicar porque ele a fazia se sentir bem, mesmo sendo um estranho Castle conseguira lê-la quase que inteiramente e ela acabou se abrindo com o escritor mais do que com qualquer outra pessoa em sua vida. Isso deveria lhe dizer alguma coisa. Sim, ela se sentia atraída por ele, queria beija-lo mais vezes. Horas atrás no carro, ela pode perceber o quanto Castle mexe com seu corpo. Ela estava ficando excitada apenas com beijos. Passou pela sua mente jogar tudo para o alto e avançar o sinal, abrir a camisa dele e fazer contato com a pele dele. Quanta loucura! Ela não costumava agir assim…Castle tinha mesmo razão ao dizer que ela se deixava vencer pelo medo? 

Demorou a dormir e quando fez, sonhou com ele. Não sabia dizer onde estavam ou o que de fato ocorria. Havia uma praia, eles estavam abraçados. Trocavam beijos, riam, corriam na areia até cairem cansados e recomeçarem as caricias. Tudo era intenso, vivo, novo. De repente, estavam nus, se amando. Ela acordou ofegante. Tomada por um calor súbito. Passou as mãos nos cabelos, levantou-se para lavar o rosto e beber um pouco de agua. Voltou para cama ainda perplexa com o sonho que acabara de experimentar. Rolou na cama por meia hora até adormecer outra vez. 


Dois dias para o natal…


Beckett chegou a delegacia cedo. Queria ocupar a mente com outra coisa que não fosse Castle. Tinha uma série de relatórios para rever, emails para responder e se preparar para as potenciais ocorrências dos dias que viriam. Véspera e o dia de natal não era agitado, mas havia sempre algo estranho acontecendo, um elemento surpresa. Suicídios eram comuns. Brigas em familia que as vezes terminavam em assassinato, essas coisas. 

Ela também planejara fazer uma visita ao túmulo da mãe. De alguma maneira, estar proximo a ela podia ajudar Kate nessa situação ambígua que vivia. 

Por volta de uma da tarde, ela avisou os rapazes que estava tirando sua hora de almoço e deveria voltar depois das duas. Eles não se importaram. Sabia o quanto sua capitã era caxias, muitas vezes considerada workaholic então tem mais que uma hora de almoço era perfeitamente aceitável diante das horas a mais que ela colocava no trabalho. 

Chegando no cemitério com um buque de lírios, Beckett se ajoelhou na frente da lapide da mãe e depositou as flores. Deixou a mão deslizar pelas letras na pedra como se o gesto representasse um carinho a mais para a mãe. 

— Oi, mãe. É aquela época do ano outra vez. Papai já foi para a cabana e eu estou me preparando para o plantão do natal. Já perdi as contas de quantas vezes eu passei por isso. Faz quase treze anos que você se foi. Pela primeira vez eu estou tendo uma experiência diferente. Tem esse cara, um escritor Rick Castle. Nos conhecemos devido a uma situação da policia, mas eu li todos os livros dele. Admito que sou fã dele. Desde que nos vimos, ele parece não querer sair da minha vida. Eu não sei explicar porque me sinto tão intrigada, eu cedo fácil aos seus pedidos. Ele me fez sair para fazer compras de natal! E saber que eu curti, que apreciei sua companhia? Eu estou confusa. Eu gosto dele, da companhia, é interessante, charmoso, seus olhos azuis parecem ver além de mim. E o beijo… não temos nada ainda, porem ele me confessou que está apaixonado. Eu não sei o que pensar, quer dizer, me sinto lisonjeada, mas não é como se tivéssemos tido tempo para nos conhecermos. Jantamos e almoçamos juntos, não foram encontros de verdade. 

— Devo estar ficando louca. Falando com uma lápide. Por que eu tenho que ser tão indecisa quando o assunto é pessoal? Seria errado querer um encontro de verdade ou dar o proximo passo para ver até onde essa relação com Castle iria? E se desse errado, se não passasse de uma transa de uma noite ou durasse uma semana caso ele a considerasse mais uma de suas conquistas? No pior dos casos teria a lembrança, não? Isso não era melhor do que não saber como seria? Deus! Eu estou soando como aqueles terapeutas de quinta categoria ou aqueles livros de auto-ajuda que só pregam o obvio! - ela suspirou - tenho que ir, dona Johanna. Antes, porém eu fico imaginando que tipo de conselho me daria. Devo quebrar a tradição que jurei seguir por você? Para honrar as vitimas que precisam de justiça? Não soa egoísta de minha parte? - ela riu - acho que saio daqui com mais perguntas do que quando cheguei. 

Resignada e coberta de pontos de interrogação na mente, Kate Beckett voltou para o 12th distrito. 

Já passava das quatro da tarde quando ela decidiu pegar mais um refil de café. Ao voltar com a caneca cheia e fumegando para sua sala, viu uma mensagem de Castle além de uma ligação perdida. Deveria ligar de volta? A mensagem dizia apenas “Está trabalhando? Preciso falar com você. RC”. Seria falta de educação não retornar e conhecia o escritor o suficiente para saber que ele ligaria outra vez. Não havia escapatória. Respirou fundo e procurou se manter calma, mas estava nervosa especialmente depois do que acontecera ontem à noite entre eles, a declaração e o sonho que tivera. Após o quarto toque, ele atendeu. 

— Olá, Kate. Anda ocupada? 

— Um pouco. Estava no salão e deixei meu telefone na sala. Aconteceu alguma coisa? Sua mensagem parecia indicar que sim. 

— Eu gostaria de conversar com você. Um assunto profissional, prometo. Acha que tem um tempo hoje à noite para me encontrar. Um jantar de negócios por assim dizer. 

— Negócios? Que tipo de negócios você poderia querer comigo, Castle?

— Bem, esse é o assunto do jantar. Posso contar com você? Às oito numa tratoria na 23rd com a Broadway. 

— Castle, eu nao sei…

— Kate, eu nem me ofereci para busca-la. Isso só prova que o assunto é trabalho. Eu entendo que você está confusa depois do que conversamos ontem, mas acredite não estou fazendo isso para pressiona-la. É importante - ela suspirou. De alguma forma, identificava a sinceridade na voz dele. Talvez esse jantar servisse para que ela compreendesse melhor o que deveria fazer. 

— Tudo bem, vou encontra-lo. Não pode ser mais cedo? Estou pensando em deixar o distrito por volta das seis da tarde. Mesmo com o transito eu consigo chegar antes das sete. 

— Certo, você pode ir direto para lá. Vou fazer a reserva para as sete e mencionar que você pode chegar mais cedo. Estou ansioso para conversar com você, Kate. 

— Te vejo mais tarde, Castle.  

Ele desligou o celular sorrindo. Diante de si em seu escritório, estava um novo arquivo. O titulo ainda sem definição continha apenas um nome: Heat. Havia fotos, datas, anotações de supostas cenas de crime criadas pelo escritor. Era uma nova storyline desenvolvida especialmente para uma personagem. Para ela, por ela. Castle encontrara novamente uma razão para escrever. Ele vira em Kate Beckett a musa que daria origem as suas novas aventuras. Um detetive da NYPD, a melhor investigadora que a unidade já tivera caçando assassinos com um reporter inteligente, charmoso e intrometido na sua cola. Uma parceria inusitada que tinha tudo para dar certo. Ele estava empolgado. Faltava apenas um detalhe: obter a permissão dela. E tinha varias razoes para convence-la.  


Tratoria Plaza di Italia


Beckett chegou por volta das 6:45 no local. Identificou-se e a hostess a levou para a mesa reservada no nome de Castle. Serviu-a de agua e perguntou se queria beber algo enquanto esperava. Ela agradeceu dizendo estar bem por hora. Quinze minutos depois, Castle surge no local com um lindo sorriso no rosto ao encontra-la no salão. 

— Olá, Kate - cumprimentou-a com um beijo no rosto - demorei? 

— Não. Estou aqui há um pouco mais de dez minutos - ele sentou-se ao seu lado. Recebeu o menu de vinhos. Chamou a garçonete. 

— Aceita tomar um vinho? Se quiser escolher… 

— Eu confio no seu bom gosto - ela disse. Castle conversou com a garçonete, escolheu a bebida e pediu um aperitivo para eles. 

— Você sabe que não é obrigada a pedir massa… - disse Castle olhando o menu. 

— E qual o ponto de se vir a um restaurante italiano e não comer massa? 

— Touché. Meu tipo de garota! Muito trabalho no 12th? 

— A cota de sempre para essa época do ano. 

— Preparada para ser chamada para alguns suicídios nesses próximos dois dias? 

— Quem sabe eu não dou sorte e me deparo com um serial killer? - ela provocou - seria interessante, não? 

— Interessante? Seria incrível! Quero dizer, não para a vitima, mas eu adoraria ajuda-la a investigar um caso assim. Se acontecer, pode me chamar. 

— Investigar ou atrapalhar? Ou quem sabe usar como material para seus livros de Storm. Falando nisso, você mencionou ao telefone que isso era um jantar de negócios. Não deveria começar a me dizer que tipo de negócios quer tratar comigo? 

— Certo. Direta. Tudo bem, fazemos os pedidos e eu explico - ele chamou a garçonete e após a escolha dos pedidos, voltou sua atenção a Kate - antes de falar da minha proposta, eu tenho que voltar um pouco no tempo a fim de fazê-la entender o contexto - ele tomou um pouco do vinho. Beckett beliscava o aperitivo, os olhos fixos nele. Castle tinha toda a sua atenção. 

— Sou escritor. Não consigo me imaginar fazendo outra coisa. Criar personagens, viver aventuras, deixar a imaginação fluir. Não foi um começo fácil, tive varias rejeições até encontrar uma editora que acreditasse em mim, nas minhas ideias. Você conhece minhas obras, a maioria figurou na listas dos best-sellers mais vendidos do New York Times. Especialmente os da série Storm. Sabe porque eu escolhi ser escritor? Porque quando escrevo, eu me divirto. Nunca imaginei o que faço como um trabalho. Eu amo o que faço assim como você. Sei que é uma mulher inteligente, leitora critica. Por esse motivo, eu quero que seja sincera. Nos últimos dois, a minha escrita mudou. Se você avaliar os dois últimos livros de Storm e também esse que acabei de escrever e será lançado em fevereiro, eu vejo a diferença. Tenho certeza que você notou, portanto qual é sua opinião sobre esses livros especificamente?

— Castle, eu…

— Por favor, seja sincera. É importante. 

— Tudo bem. Tem razão. Você possui um jeito próprio de escrever, de se comunicar com o leitor. Sua escrita está diferente. Mais lenta, perdeu um pouco do dinamismo. Não é ruim, sério. Está muito longe disso, você ainda prende o leitor. Mas no ultimo caso, por exemplo, foi bem previsível ao menos para mim. Claro que quero ler o proximo, você deixou um cliffhanger… eu não sei o que dizer, afinal você é sempre tão confiante em relação ao seu trabalho. 

— E sou, porém sei reconhecer falhas. A verdade é que escrever sobre Storm se tornou chato, previsível, não há mais a busca pelo desconhecido. Se tornou banal, tornou-se o que eu mais temia: trabalho. 

— Eu sinto muito? Realmente não sei se isso é a coisa certa a se dizer.   

— Não sinta. De verdade. lembra quando eu comentei sobre o spoiler bombástico do meu proximo livro? Tem a ver com tudo isso. Com uma decisão que tomei e envolve você. 

— Como assim? Você está querendo me dizer que quer minha ajuda como uma espécie de consultora para os seus próximos livros de Storm?   

— Sim e não… é um pouco mais complicado que isso. Você saberá em primeira mão. Eu estava tendo uma fase terrível, não conseguia escrever nada descente. Nem sei dizer quantas vezes apaguei cenas inteiras. Bloqueio que qualquer escritor teme. Foi por causa dele que fui parar naquele café. Chame de coincidência, eu prefiro pensar em destino, porque bastou eu conhece-la para algo mudar. A maré virou a meu favor. Você não apenas me trouxe sorte, mas mexeu com a minha imaginação. De repente, eu precisava acabar o livro de Storm. As ideias agitadas em minha mente. 

— Fico feliz em ter ajudado. Agora você me deixou confusa. Se terminou o livro, o que exatamente você quer de mim? 

— No meu livro que será publicado em fevereiro, Storm morre. BOOM! Spoiler! 

— Morre? Você matou Storm? Ah, entendi seu ponto. Essa foi a ultima cena e agora quer escrever a continuação com a minha ajuda porque Storm realmente não morreu - porém, bastou um olhar para a expressão no rosto de Castle para saber que estava errada - mas, por que? 

— Pelo motivo que declarei antes, perdeu a graça, virou trabalho. Contudo, outra coisa bem melhor aconteceu. Você - Castle a viu morder os lábios. 

— Qual o lado profissional aqui, Castle? 

— Desde que a conheci, fiquei intrigado com a sua postura, sua historia. Você carrega uma ar de mistério, como um enigma. E seus feitos como detetive? Fiquei fascinado com o que me contou de suas investigações. Você é determinada, sagaz. Tem todas as características necessárias para ser a personagem perfeita. Eu gostaria de basear minha nova serie de livros em você. Uma detetive da NYPD respeitada e competente que possui uma carga emocional e pessoal grande, que lida com uma perda que acabou ajudando-a a se tornar quem ela é hoje. Será dinâmico, sexy, divertido. 

— Castle, eu não sei o que dizer…

— Diga que está lisonjeada e que aceita. 

— Sim, estou lisonjeada, mas você quer que eu lhe autorize a contar minha historia, expor minha vida em seus livros? 

— Não a sua vida, Kate. Haveria semelhanças. Nikki será apenas baseada em você. 

— Nikki? Isso é nome de garota de programa! 

— Não! Tem impacto. Detetive Nikki Heat, NYPD. Como você não gosta? Pense em Nikita.

— Castle, eu não posso proibi-lo. Você pode escrever sobre o que quiser! Quem não garante que vai ficar entediado também? 

— Você não entende, Kate? Desde que a conheci, todo aquele sentimento de descoberta voltou. Estou ansioso para fazer pesquisa, é excitante poder criar toda a atmosfera onde a detetive Heat vai atuar e os casos que me contou? Wow! Como não poderia ficar inspirado? - ele notou que Kate enrubescera - eu preciso de sua ajuda, seus conhecimentos e insights. A experiência conta muito quando se está escrevendo uma historia para faze-la parecer real aos olhos de quem lê. Isso você pode me proporcionar. Quero passar um tempo em seu distrito, se você me permitir, acompanhar os casos, seus detetives e também precisarei de um bom tempo com você para coletar informações. Aprofundar minha pesquisa. 

— E caso eu não aceite? Se eu lhe proibir de vir ao meu distrito? O que vai fazer? - ele riu - por que está rindo? 

— Você sabe que não aceito “não” como resposta. Se me proibir de entrar no distrito, terei que usar outras fontes, fazer mais pesquisas e você não poderá me culpar se não gostar do rumo da historia. Em ultimo caso, eu posso conversar com o prefeito. Aposto como ele me autorizaria a ficar na delegacia o tempo que precisasse, porém não quero isso. Eu quero que você esteja de acordo, que aprecie o que está acontecendo. 

Ela bebeu um pouco de vinho, não sabia ao certo o que pensar. Era tudo muito novo para Beckett. 

— Olhe, quem melhor para escrever sobre uma personagem baseada na sua vida que seu escritor favorito? Ele fará justiça a você. Todo escritor precisa de uma fonte de inspiração, eu achei a minha. Minha musa, Kate Beckett - as palavras dele provocaram um arrepio na pele. Musa? Ela nunca fora chamada assim. 

— Castle, você está falando de inspiração, de eu ser sua musa. Como posso saber se essas suas ideias ditas profissionais não passam de uma extensão do que você me disse ontem? Não está confundindo as coisas? 

— Não, Kate. Mesmo sabendo que os sentimentos podem se completar e me ajudar, o que estou propondo aqui é sério. Eu quero levar uma nova proposta para a minha editora. Eu já desenhei boa parte da storyline que imagino para o primeiro livro. Ainda não tem titulo, mas o plot está encaminhado.

— E o que precisa de mim, do meu distrito? 

— Basicamente de seu tempo, suas experiências e alguns casos ao lado de seus detetives para avaliar o trabalho de rua. Obviamente que se você vier a investigar um caso, eu quero estar junto para vê-la em ação. Então, você aceita? Vai me deixar escrever sobre a melhor detetive da NYPD? 

— Não é como se tivesse muita escolha… melhor do que você inventar historias malucas e mentirosas ao meu respeito. Pode ao menos mudar o nome? 

— Sinto muito, isso não é negociável. Licença poética. Apenas o escritor tem direito de nomear sua criação. E Nikki tem uma lado meio vadia, o que a deixa ainda mais sexy! 

— Castle! Não quero ser vista assim! - ele riu. 

— Estava brincando com você, embora não possa fazer nada quanto ao lado sexy da detetive. É natural. E não se preocupe, não vou expor sua mãe. Eu sei o quanto esse assunto é complicado para você. Devo respeita-lo. Vou criar outra profissão, outra forma de morrer, mas você entende que Nikki precisa disso, certo? 

— Sim…. meu Deus! Eu devo estar ficando louca por concordar com isso! Tem uma condição. Se você criar problemas com meus detetives ou me irritar demais com suas perguntas eu tenho direito de coloca-lo para fora do meu distrito até que eu me sinta pronta para encara-lo outra vez. 

— É justo. Quando podemos começar? Estou louco para mostrar a você o que já imaginei. Depois do natal? 

— Você está ansioso com isso, não? 

— Você não tem ideia! - a garçonete se aproximou para recolher os pratos do jantar. 

— Tudo bem por aqui? Como estava a massa? 

— Ótima. Quer sobremesa, Kate? 

— Não, acho que hoje passo. Só o café. 

— Você ouviu a moça. Dois expressos, por favor - assim que o café chegou, eles saborearam a bebida devagar. Beckett tinha os olhos atentos em Castle. Ela ainda não se decidira sobre o que estavam vivendo, mas não negava que ficar proximo a ele, apenas aumentava sua vontade de toca-lo, beija-lo. Maldita atração e para piorar, o cheiro do perfume amadeirado misturado ao da pele masculina adentrava pelas suas narinas, provocando uma sensação gostosa de desejo, de aproximação. 

— Ainda não acredito que concordei com isso. Nem que você matou Storm. 

— Você irá entender quando ler a primeira historia de Nikki Heat. 

Eles deixaram o restaurante após Castle pagar a conta. Na rua, de frente para ela, Castle ia começar a se despedir. 

— Obrigado por ter me escutado e me dado a chance de criar mais um best-seller, Kate. Você vai para casa? Está de carro? 
— Sim, estou de carro - ela percebeu que ele aproximara seu corpo do dela - Castle, eu… sobre ontem à noite, e-eu não tenho uma resposta ainda e… - ele tocou o rosto dela. 

— Não estou te cobrando nem te pressionando, Kate. Isso foi o que eu disse que seria. Um jantar de negócios. 

— Isso quer dizer que você não vai me beijar? - a pergunta saíra no impulso deixando-a surpresa. Castle olhou intensamente nos olhos amendoados. 

— Quer dizer que saímos das nossas posturas profissionais? - ele implicou - Você quer um beijo de verdade? - ela revirou os olhos e o escritor não aguentou. Puxou-a pela cintura e sorveu-lhe os lábios vagarosamente, numa espécie de dança sensual. As línguas se tocavam, as mãos de Kate o envolviam ao redor do pescoço e ombros. Sentiu as próprias mãos de Castle deslizarem pelas laterais de seu corpo. Ao quebrar o beijo, ele quase ofegava. 

— Boa noite, Kate. Não se divirta tanto com os suicídios amanhã. Saiba que meu convite ainda está de pé. Sei que o especial do Remy’s pode ser tentador, mas será mais que bem-vinda se quiser cear comigo amanhã. A qualquer hora. 


— Boa noite, Castle. Não exagere no videogame.  


Continua...