terça-feira, 26 de dezembro de 2017

[Castle Fic] An Untraditional XMas - Parte 1




An Untraditional Xmas 

Autora: Karen Jobim
Classificação: NC17 – Romance
Capítulos: Oneshot / AU
Quando: S706 Time will Tell (AU)
Disclaimer: Castle e Beckett não me pertencem...são da ABC yada yada yada... conteúdo criado para diversão, todos os direitos da autora reservados! 

Disclaimer: E se a realidade alternativa que Castle imaginou fosse de verdade a vida de Kate Beckett? Se eles nunca se conheceram, como saber se seria possível viver um grande amor? Rick Castle está passando por um momento muito ruim. Era para ser a época mais alegre do ano, mas esse natal as coisas não estão saindo como manda a tradição. O que mais ele poderia esperar de ruim para aumentar a sua tristeza? Talvez ele não soubesse que tradições, assim como regras, podem ser quebradas e o resultado? Quem sabe?

Nota da Autora: Não planejava escrever uma fic para o natal, mas depois de uma overdose de filmes natalinos bem cliches não tive como não pensar em nosso casal favorito. A escolha do episódio é exatamente para ressaltar o espirito de natal. Com relação ao tempo. Castle nunca escreveu sobre Nikki ou deveria dizer ainda? E Beckett?Talvez vocês se assustem com Beckett sendo um pouco diferente daquela que conhecemos, mas nem tanto. Vamos ver como isso vai terminar. Algumas coisa mudaram outras nem tanto. Tive que dividir porque ainda não terminei, mas já está bem grande. Usei a ideia do 12 days for Christmas para definir a timeline. Vocês verão muitas coisas típicas de Castle de outras temporadas além do dialogo do piloto. Enjoy! 




An Untraditional Xmas 


12 dias para o natal…


Beckett estava sentada examinando o relatório do ultimo que Ryan investigara. A época de dezembro era sempre agitada para a policia de Nova York. O índice de brigas, assassinatos e suicídios simplesmente triplicavam. Por esse motivo, ela queria se livrar da pilha de relatório que vinha se acumulando em sua mesa. Ryan lhe entregara ao menos três essa amanhã e sair para atender mais um chamado. Esposito estava fazendo um interrogatório e metade de seus detetives e lieutenants estavam na rua. Ela virou a caneca de café apenas para descobrir que estava vazia. Suspirou. Levantou-se da cadeira rumo a mini copa para um refil. Ao provar a bebida, ela quase provocou. Além de ter o gosto terrível do café do distrito o que era uma espécie de xixi de macaco, ainda estava frio. Droga, ela esbravejou baixinho olhando pela janela. 

O vento parecia intenso. A temperatura para os próximos dias tendia a cair, ficar próxima de zero e algumas negativas à noite. Havia uma previsão de neve para a semana de natal e sim, tudo indicava que Nova York teria outra vez um clima festivo e o tão ansiado natal branco. Nada disso importava para Beckett. O natal não tinha importância para ela desde que perdera a mãe. Não celebrava a data como as demais pessoas. Estava acostumada a passar esse dia sozinha, fazendo plantão na delegacia. Era sua tradição desde que usava o uniforme. Enquanto famílias se reuniam e festejavam, ela se mantinha isolada e alerta cumprindo o lema que acreditava “Proteger e Servir”. Isso não mudaria mesmo sendo capitã. E lá se iam quase quinze anos sem ela. 

Beckett jogou o café na pia. Não queria beber aquilo. De volta a sua sala, ela checou o calendário. Doze dias para o natal. A essa hora, na próxima semana, seu pai já estaria a caminho da cabana. Novamente ela recusara o convite de Ryan para cear com eles na véspera de natal. Sabia que o amigo apenas queria seu bem. Sacudiu a cabeça e voltou a sua atenção ao relatório. Quem sabe ela não conseguia terminar a revisão da pilha a sua frente mais cedo e sair para tomar um café de verdade? 

11 dias para o natal…

No loft, Castle olhava ainda perplexo para a filha. Não estava acreditando nas ultimas palavras que ouvira dela. 

— Você está brincando, não? 

— Estou falando sério, pai. Eu vou encontrar com Ashley na California. Os pais deles compraram a minha passagem. Viajo no dia 23 e volto dia 27. 

— Como os pais de Ashley compraram sua passagem? Não precisam do meu consentimento? Você é menor de idade. 

— Eu disse que estava tudo bem…. e-eu falei que você não se importava. Por favor, pai… 

— Não me importo? Mas e quanto a nossa tradição? A casa toda enfeitada, as luzes, os presentes. Passarmos o natal juntos, abrirmos os presentes no dia seguinte e… - Martha que se mantivera calada até aquele instante resolveu interceder em favor da neta. 

— Richard, seja razoável. A ultima vez que Alexis viu o namorado foi no verão. Seis meses. Estamos falando de una noite. Você já passou muitos natais com ela, não é como se fosse criança. 

— Mas é tradição da nossa familia - ele gesticulava apontando para vários enfeites na casa.  Martha revirou os olhos. 

— Você prefere que sua filha fique aqui na noite de natal, toda chorosa porque quer manter uma tradição boba? De que adianta estar com ela se estará triste? Faça disso o seu milagre de natal. Tenho certeza que Alexis apreciará o presente - ele olhou para a mãe e em seguida para a filha que o fitava ansiosa por uma resposta. Detestava a ideia de passar o natal sem ela, porém reconhecia que a mãe tinha razão. Alexis não iria perdoa-lo. 

— Tudo bem, você pode ir - a menina gritou e se jogou nos braços do pai enchendo-o de beijos - mas iremos trocar presentes antes de você ir. Espero que quebrando a tradição eu não esteja atraindo azar… 

— Oh, pai! Obrigada! Eu te amo! 

— Também te amo, Alexis - a menina subiu as escadas com pressa. Provavelmente para confirmar ao namorado que estaria viajando com os pais. Castle sentou-se no sofá colocando a cabeça entre as mãos. Respirou fundo. A ideia de passar o natal sem a filha era difícil e estranha para ele. Se acostumara aos momentos ao seu lado. Apesar de sua fama de mulherengo nos jornais, Castle não tinha um relacionamento sério desde Gina. Claro que se divertia, mas nada que o fizesse pensar em prolongar aqueles momentos de diversão. A verdade era que no ultimo ano estava cada vez mais ausente das festas, das noitadas. Muitas vezes se perguntava se deveria aceitar que permaneceria sozinho. Não queria mais noites de perdição, estava disposto a dar uma chance a si mesmo. O único problema era que nenhuma mulher que se aproximava dele parecia ter o mesmo objetivo. 

Castle olhou para a arvore de natal iluminada e imponente a sua frente. Era linda. Deixou escapar um gemido frustrado. Acabara de quebrar uma tradição. Isso significava que passaria a noite de natal sozinho. Quer dizer, sua mãe provavelmente estaria ali com ele por algumas horas. Não imaginava Martha Rodgers sem uma festa para ir no dia de natal. Sozinho. Seria esse seu destino daqui para frente? Iria envelhecer sozinho? 

Ergueu a cabeça passando a mão nos cabelos. Sua mãe estava olhando-o e sorrindo com um copo com whisky nas mãos. Entregou a ele. 

— Relaxe, kiddo. Você fez a coisa certa. Alexis irá se lembrar do gesto por muitos anos. 

— Mas eu quebrei a tradição de natal… eu estava falando sério, essas coisas são poderosas. E se eu estiver atraindo má sorte para o meu lado? Quero dizer, eu irei passar o natal sozinho. Isso por si só já é bem ruim. 

— Deixe de ser melodramático, Richard. Você é um escritor famoso, tem amigos, apósto que descola um convite para uma super festa de natal. E quanto a tradição, como toda a regra, também pode ser quebrada. E quem sabe isso não é um sinal de que você precisa experimentar coisas novas? Você bem que podia encontrar alguém para dar um jeito na sua vida. Colocar alguma disciplina e por que não dizer, lhe dar amor? Eu notei que ultimamente você não tem companhias, não sai. Só escreve. O que aconteceu com o moleque que adora uma diversão? 

— A-acho que ele cansou, mãe.

— Isso é um bom sinal, kiddo - ela acariciou a mão dele e subiu as escadas. 

Castle ponderou se deveria voltar ao escritório e escrever. Ele não conseguia terminar um capitulo, a cena não saia. A verdade era que se tornara rotina escrever sobre Storm. Chato. Checou o relógio. Cinco da tarde. Olhou pela janela. Inverno. Lá fora era noite. Não era a toa que a taxa de suicídios e depressão aumentava nessa época do ano. O sol era limitado. Não aguentando ficar mais em casa, ele resolveu dar uma caminhada pela cidade. Talvez isso o animasse. Vestiu o casaco e saiu. 

Como Castle imaginava, as ruas de Nova York estavam movimentadas. Muitos deixavam o trabalho rumo a casa, outros caminhavam apressados em busca do proximo presente. As vitrines enfeitadas eram um espetáculo a parte nessa época do ano. Musicas de natal por todos os lados. Na quinta avenida, o burburinho de pessoas era intenso. Algumas lojas estavam lotadas. A Saks era um dos spots preferidos dos turistas para fotos. Sem esquecer do numero um, a arvore gigante do Rockefeller Center. Toda aquela alegria contagiante não estava ajudando Castle naquele momento. Decidiu mudar de ares, pegou o metro rumo ao Upper East Side. Soltou na estação da 72nd, mas ao invés de adentrar o Central Park, ele optou por entrar numa cafeteria que avistou na próxima esquina. 

Comprou o café e escolheu uma mesa de canto para sentar. O celular em uma mão, checava as datas em seu calendário. Recebera vários convites de festas até o dia 23, nenhum para a véspera de natal. Ele torceu o nariz ao ver o email de Gina lembrando que não poderia faltar a confraternização da editora. Festa chata. Tudo o que as pessoas queriam saber era sobre seu proximo livro. Elas não tinham ideia do que Castle estava tramando para Storm. Ele tomou um novo gole da sua bebida, então seus olhos encontraram alguém capaz de lhe chamar a atenção. 

Ela estava sentada a duas mesas da dele. Tinha os cabelos presos em uma espécie de coque. Segurava um copo grande de café e mantinha os olhos fixos em algo na mesa. Um livro. Contudo, ele tinha a impressão de que a historia não estava lhe agradando ou era chata. Mesmo não vendo seus olhos, ele podia dizer que ela estava distante. E triste. Qual a novidade nisso? Era a época de encontrar o maior numero de pessoas tristes por metro quadrado. Algo que ele não entendia. 

Natal é uma época magica. Por que as pessoas não conseguiam enxergar isso? Bebeu mais um gole de seu café e continuou observando a mulher a sua frente. Ela era bonita. Não, era linda. Tinha um certo ar de mistério ao seu redor. Ele não se importava em ficar olhando-a por um longo tempo. Sorriu. 

Beckett tinha o livro aberto a sua frente. Por mais que adorasse as historias de Derrick Storm, ela não conseguia se concentrar. Era como se as paginas estivessem vazias. Ela estava relendo um dos livros. Pegara em sua estante naquela manhã. Queria muito ler uma nova aventura, mas o proximo somente estaria disponível em fevereiro. A vontade de se perder na leitura porém, foi substituída pelos pensamentos na mãe. Todos os anos era a mesma coisa. Kate não conseguia passar por essa época sem lembrar do horror que acontecera logo no inicio do ano. O assassino de sua mãe ainda estava impune. Ela dedicara anos de sua vida para encontra-lo. Sem sorte, ela teve que optar entre enlouquecer dentro de uma obsessão sem limites ou seguir em frente. Não fora um processo simples ou fácil, contudo fora necessário. 

Ela evoluiu na sua carreira na NYPD. De detetive junior para pleno até se tornar uma das melhores de seu distrito. Recebeu medalhas e a patente de Lieutenant. Dois anos depois, eles lhe ofereceriam o comando do 12th distrito e a capitania. Fazia seis meses que chefiava aquela que era sua segunda casa. Os números falavam por si, porém apesar de satisfeita com o seu trabalho, Kate Beckett tornara-se uma loba solitária. Suspirou. Precisava de mais café. Ela se levantou. O olhar de Castle a seguiu. 

— Pode me dar outro? - mostrou o copo para o atendente. 

— Claro. Não quer nada para acompanhar? 

— Só o café é suficiente - a cafeteria não estava cheia. Além dela, havia uma mesa ocupada com um casal, outra com uma estudante e seu notebook e outra com um homem bem charmoso que olhava para a janela nesse momento. Havia algo familiar nele que Beckett não sabia definir. O barista entregou o seu café e ela estava prestes a voltar para a mesa quando um jovem de uns vinte e poucos anos entrou na cafeteria. Aproximou-se do caixa e em um movimento bem suspeito pediu um café antes de empunhar uma arma.

— Todo mundo calado. Isso é um assalto. Não quero machucar ninguém, vocês cooperam, eu pego a grana e saio. Simples assim. Entenderam? Ninguém se mexe. Abra a gaveta e… - a perna de Beckett acertou em cheio a mão do assaltante fazendo a arma voar acertando Castle na testa. O café derramado no chão. Tudo aconteceu muito rápido e as algemas dela já o prendiam - que diabos! Quem é você? 

— Capitã Kate Beckett, NYPD. Tudo bem, podem ficar calmos - ela pegou o celular, discou para a emergencia - aqui é a Capitã Kate Beckett do 12th distrito. Distintivo numero 41319. Preciso de uma patrulhinha na esquina da 5a avenida com a 73rd, uma cafeteria. Tentativa de assalto. Obrigada - desligou e colocou o celular no bolso - como se chama? 

— Robin Hood. 

— Ah, que poético. Algo me diz que você não estava roubando dos ricos para dar aos pobres. 

— Cheque os bolsos. Deve ter uma identidade - ela ergueu os olhos e viu quem falava com ela. O homem charmoso. Exceto que ela o conhecia ou melhor, sabia quem ele era. A realização disso a deixou um pouco perdida por alguns segundos. Rapidamente fitou o livro aberto sobre a mesa e tornou a olhar para o escritor. Ele sorria para ela segurando com uma mão alguns guardanapos na testa e a arma também envolta em guardanapos na outra mão. Beckett suspirou e voltou a sua posição de comando - é sério. Cheque. 

— Sei sei… - mas já revirava os bolsos - ah, sinto muito. Kyle, seu disfarce foi descoberto. Kyle Smith, você está preso. Tem o direito de se manter calado, tudo que dizer pode e será usado contra você em um tribunal. Tem direito a um advogado, caso não possua o estado poder lhe oferecer um. Entendeu seus direitos, Kyle? 

— Sim, mas eu não fiz nada! Não houve assalto. 

— Tentativa já é o suficiente.Algo me diz que essa não é sua primeira vez. Aposto que tem ficha - ela viu os policiais se aproximando - olá oficial Morty. Podem levar esse sujeito até a Roubos? Vocês tem um saco de evidencias para a arma? Oh, eu devo ter na minha bolsa - aproveitou a oportunidade para fechar o livro e joga-lo dentro da bolsa para evitar que o escritor percebesse. Não sabia que era tarde demais. Castle já identificara seu livro. Ela se aproximou dele pegando a arma com cuidado usando os guardanapos de papel e colocando-a na sacola. Entregou ao oficial. 

— Alguém ferido? 

— Não, nada de mais. Eu tenho um kit no meu carro. Podem ir. Qualquer coisa, peça para o capitão Demming me ligar se quiser maiores detalhes. 

— Pode deixar, capitã. Obrigado. Mexa-se, projeto de Robin Hood - ela riu. O barista se aproximou dela com um kit de primeiros socorros. 

— Se quiser usar o nosso. 

— Obrigada - ela olhou para a identificação do rapaz - Pode fazer um favor para mim, Dan? Contate seu chefe e tente acalmar as pessoas e antes delas deixarem o local anote seus nomes e seus telefones para mim caso a roubos precise contata-los. 

— Eu já liguei para ele. Está fora da cidade. Pediu que se precisasse de alguma coisa podia falar comigo. Tenho que ir a delegacia, não? 

— Sim. Precisa abrir a ocorrência. Sugiro fechar o café por hoje - ela virou-se para Castle com a caixa de primeiros socorros nas mãos - agora vamos ver o que temos debaixo desses guardanapos - ela tirou gentilmente os papeis da mão de Castle, observou o ferimento - é apenas um pequeno corte. Foi o impacto da arma. Poderia ser pior, mas sua cabeça dura ajudou - ela esboçou um sorriso, Castle retribuiu. Ficava ainda mais linda sorrindo - vou limpar e colocar um band-aid. Vai viver. 

— Minha cabeça está latejando. Acho que não é tão dura assim. Obrigado, capitã Beckett. E devo dizer que belo golpe, o jeito que você o dominou. Wow! A propósito, sou Rick Castle - ele estendeu a mão para cumprimenta-la, Beckett respondeu ao cumprimento no reflexo - talvez você já tenha ouvido falar de mim. Sou escritor de best-sellers. Minha especialidade são thrillers de mistério. Derrick Storm? 

— Nunca ouvi falar - ela disse com a cara mais lavada. 

— Interessante… 

— Não me leve a mal, Sr. Castle, eu já lido com muitos bandidos e assassinos no meu dia a dia. 

— O que não deixa de ser fascinante para mim. Você tem um ar de mistério, Capitã Beckett - ela terminou o curativo. 

— Ótimo. Está pronto para outra. 

— Ao menos deixe-me pagar outro café, você não teve a chance de saborear o que pediu. É o mínimo que posso fazer por salvar minha vida. 

— Não seja dramático, Sr. Castle. Não salvei sua vida. 

— Ah, salvou. Acredite se você não estivesse aqui, eu provavelmente levaria um tiro tentando bancar o herói - ela riu. 

— Não duvido disso… 

— Você tem um sorriso lindo. Então, café? 

— Obrigada, mas perdi a vontade. Mantenha-se longe de confusão, Sr. Castle - ela virou-se para o rapaz da cafeteria - tem os nomes? - ele entregou um papel para ela que agradeceu e entregou seu cartão caso tivesse alguma dificuldade na delegacia. Castle apenas observava o jeito como ela lidava com a situação. Senhora de si, determinada. Estava encantado. Sorria ao vė-la deixar o local. Ele sabia que a veria outra vez. 

Do lado de fora, Beckett entrou em seu carro e suspirou. Abriu a bolsa e tirou o exemplar de um dos livros de Rick Castle. Ele realmente era charmoso e galanteador, como sempre era mencionado em suas entrevistas. Playboy bon-vivant. Talvez, ela pensou. 

— Droga! Você tinha que ser tão travada? Podia ter recusado o café, mas admitido que era fã, pedir para autografar seu livro, mas não disse que nunca ouvira falar dele. Idiota! - suspirando, ela dirigiu para casa. 

Castle deixou a cafeteria uns dez minutos depois indo direto para casa. Trancou-se no escritório e rapidamente fez uma pesquisa sobre a capitã. Muito interessante. Ela era uma das melhores da NYPD. A capitã mais jovem. Mas nada além disso. Então, ele voltou-se para o seu livro. Precisava escrever o resto da historia de Storm, afinal ele acabara de achar uma nova personagem para seus mistérios. 

10 dias para o natal…

Na manhã seguinte, Kate Beckett chegara na delegacia no mesmo horário de sempre com um copo grande de café. Cumprimentou seus detetives e rumou para o escritório. Antes de entrar na sua sala, Ryan falou. 

— Bom dia, Beckett. Ouvi que teve um fim de noite agitado ontem. Voltando as origens? - ela riu. 

— Ossos do oficio, Ryan. 

— É, entendo. Ah, tem uma encomenda para você na sua sala. É pesada - ela parecia surpresa. Não ordenara nada. Talvez fosse algo vindo da central. Ao entrar na sala, ela se espantou com o tamanho da caixa. Ela examinou o exterior. Não havia endereço ou remetente. Apenas seu nome e a localização do 12th distrito. Ao tentar ergue-la, reconheceu o que Ryan falou sobre ser pesada. Pegou um estilete e abriu. Beckett ficou surpresa com o que havia dentro. Livros de Rick Castle. Ela pegou um nas mãos, folheou e encontrou a assinatura do escritor na pagina da dedicatória. 

“Para Kate Beckett, obrigada por salvar minha vida. RC” 

PS.: Não pense que me enganou… vi seu livro. 

Ela pegou cada um dos exemplares, as frases mudavam. Algumas tinham apenas seu nome e a assinatura. Beckett não estava acreditando nisso. Todos os livros autografados. Seu lado de fã estava mesmo aflorando, não conseguia parar de sorrir. Virou um dos livros para admirar a foto na contra capa. Ele era bonito. Aqueles olhos azuis eram… engoliu em seco levando a mão até a garganta. 

— O que eu estou pensando? Ele é um playboy mulherengo e muito charmoso e… - ela grunhiu. Não sabia porque esse tipo de pensamento estava povoando sua cabeça. A verdade era que fazia um bom tempo que Kate Beckett não pensava assim sobre um homem. O celular dela tocou. Demming. 

— Oi, Demming. Devo imaginar que está ligando sobre o roubo e o tal Kyle - e continuou a conversa dividindo suas informações com o colega. 

Mais tarde, ela estava em sua sala quando Esposito entrou comendo um donut. 

— Yo, Beckett. Tem uma pessoa para vê-la. Disse que você sabe o que é, o lance da caféteria. 

— Ah, deve ser o dono. Onde você arranjou esse donut? 

— Ele trouxe - antes que Esposito pudesse dizer alguma coisa, Castle apareceu ao seu lado trazendo dois copos de café e uma caixa pequena de donuts especialmente para ela. Colocou sobre a mesa. 

— Obrigado, detetive Esposito - disse praticamente expulsando o policial da sala - Ah, capitã Beckett… é um prazer reve-la. 

— O que faz aqui, Sr. Castle? E para que trouxe donuts para o meu pessoal? 

— Apenas Castle. E para você também. Achei que era um gesto bacana além de ajudar a cafeteira que precisou fechar mais cedo. Não se preocupe eu dei uma boa gorjeta para o Dan. Você não me deixou ser gentil ontem então resolvi fazer uma visita. Trouxe seu café favorito - ele entregou o copo a ela e sentou-se pegando o outro. Abriu a caixa de donuts e ofereceu a capitã. Beckett estava perplexa. Primeiro, os livros. E agora isso? 

— Não serio, o que faz aqui, Castle? 

— Como eu disse, estou retribuindo sua ajuda com algo que você aprecia. 

— Como sabe meu café favorito? 

— Sou escritor. Uma pequena coisinha chamada pesquisa. 

— Você perguntou de Dan - ela bebericou o café. Estava precisando. 

— Gostou dos livros? Acredito que como fã você tenha todos, mas agora estão autografados. Não me enganou com aquela conversa de “nunca ouvi falar”. Sou muito bom em ler pessoas, capitã. 

— Mesmo? - ela parecia cética. 

— Sim, a verdade é que ler pessoas é uma arte, como escritor sou um ótimo observador. Sou capaz de dizer o que possivelmente aconteceu com as pessoas e como isso afeta suas vidas. 

— Agora você vai me dizer que é uma espécie de Dr. Phil? Fala sério. 

— Todo escritor é um pouco psicólogo. Tudo o que você vê aqui, esses assassinatos, suicídios, tudo tem uma razão, uma historia. 

— Historia? A maioria é lunático ou faz por pura maldade. 

— Sim, eu acredito. Inclusive conheci alguns lunáticos em minhas pesquisas, mas mesmo nessas circunstâncias. Há sempre uma historia, sempre uma cadeia de eventos que faz tudo ter sentido. Você, por exemplo. Em circunstancias normais, você não deveria estar aqui. Mulheres inteligentes e bonitas se tornam advogadas, não policiais e você está aqui. Por que? 

— Eu não sei, Rick. Você é o escritor. Me diga. 

— Não é túnel e ponte. Não há sotaque da vizinhança quando fala o que significa que é de Manhattan. Você fez faculdade. Provavelmente uma muito boa. Você teve opções, muitas opções. Opções melhores, opções mais aceitas socialmente e ainda escolheu isso. Isso me diz que algo aconteceu. Não a você. Está machucada, mas nem tanto. Foi alguém com quem se importava. Alguém que amava. Poderia ter vivido com isso, mas a pessoa responsável nunca foi pega. E por isso, capitã Beckett, é que está aqui - ela estava claramente chocada com a analise dele e Castle percebeu a tristeza em seus olhos. 

— Bom truque. Não pense que me conhece. 

— Como disse, há sempre uma historia. O que me lembra qual o seu preferido? 

— Preferido? 

— Dos meus livros. 

— Quem disse que tenho um preferido? Quem disse que eu sou sua fã? 

— Não tente disfarçar, eu reconheço um fã quando vejo um. Você estava lendo Storm Rising, ou devo dizer relendo? Isso significa que você está ansiosa para ler o proximo. Terá que esperar até…

— Fevereiro. Eu sei. 

— Então você segue meu site. Talvez escolher um preferido seja bem difícil - ela revirou os olhos. 

— Você é sempre assim? Convencido? 

— Eu sou o que sou, Kate. 

— Escritor de best-sellers e playboy nas horas vagas. O assunto preferido do Page 6. 

— Vejo que lê mais que meus livros. Estou vendo que vai demorar mais do que eu imaginei para me dar uma resposta. Não me importo. Prefere tomar um drinque comigo? Assim você pode usar seu lado critico de policial para comentar minhas obras. É bem gratificante ver o meu trabalho pelos olhos da policia. Melhor ainda, por que não jantamos juntos. Conheço um ótimo lugar. Le Cirque. Aceita? 

— Castle, se você ainda não percebeu tenho uma pilha de relatórios para analisar, o natal está cada dia mais proximo e a cidade está uma loucura! Não tenho tempo para drinques ou jantares. 

— Como não? Você tem que comer em algum momento e fazer compras de natal! Nem tudo se resume a trabalho, Kate. Onde vai passar a véspera de natal? 

— Aqui mesmo, trabalhando. O que é exatamente o que deveria estar fazendo e vou assim que o expulsar da minha sala - ela saiu empurrando-o até a porta - obrigada pelo café. Agora some daqui - ela o empurrou e fechou a porta atras dele. Castle sorriu e deu um tchauzinho para a capitã. Isso estava longe de acabar. 

9 dias para o natal… 

— Não acredito que você me fez vir aqui na minha hora de almoço, Lanie!  

— Desfaça o bico. Eu preciso da sua opinião como amiga para o vestido perfeito. 

— Você não podia fazer isso no distrito ou numa loja normal? Tinha que ser na Saks? Olha para essa loja! Enfeites em todo lugar, luzes brilhando e essas musicas…. 

— Vai devagar, Grinch! Assim vão descobrir sua identidade secreta. Garota, eu sei que natal não é sua praia. O problema que a maioria das pessoas adora, portanto se acalme. Afinal, eu tenho uma festa incrível para ir com um paramédico bonito que eu conheci e me convidou. Você precisa ver que músculos! Pensando melhor, você não precisa saber. Quando menos competição melhor. 

— Que isso, Lanie! Eu não estou desesperada e músculos não me atraem. 

— E falou a mulher que não tem um encontro em… sei lá há quanto tempo! E que historia é essa de não gostar de músculos? O que é bonito deve ser apreciado. 

— Não se trata somente de corpo ou beleza, um homem tem que saber conversar, ser inteligente, intrigante e…. quem sabe o que se pode ter mais além de… - ela estava perto de dizer olhos azuis quando Lanie olhou para ela chocada. 

— O que acabou de acontecer? Você está ficando vermelha! Você está me escondendo algo, Kate Beckett.

— Não estou escondendo nada! Estava respondendo a sua pergunta. 

— Eu conheço você, não ia ficar vermelha à toa. Você tinha algum outro pensamento nessa sua cabeça e tem a ver com um homem. Por acaso você anda flertando sem eu saber? 

— De onde tirou essa ideia? Que tal parar de especular e escolher logo esse vestido? Tenho que voltar para o trabalho. 
— Sabe, Kate, eu entendo todo o problema em torno da morte de sua mãe e como isso afetou o seu modo de ver essa época do ano, mas pense be, já faz tanto tempo… não acha que está na hora de agir diferente, tentar algo novo? Que tal novas tradições? Você deveria se deixar experimentar um pouco, precisa aproveitar a vida. Conselho de amiga: só se vive uma vez. YOLO, conhece? E não revire os olhos - sendo pega antes do ato, Beckett bufou. 

— Eu agradeço seus conselhos, mas estou bem assim. Vai me mostrar os vestidos? 

— Tudo bem, esse aqui é bem clássico. Preto, longo, tem um decote. Um vestido essencial para a um festa importante como essa. Só que é natal, preto não é uma cor festiva. Queria algo mais vivo, mais colorido. Então eu encontrei esse outro - Lanie continuava a explicar as nuances e qualidades do outro vestido, porém Beckett não prestava atenção porque seus olhos captaram a presença de alguém no balcão dos perfumes a poucos metros delas. O que ele estava fazendo ali? Não podia deixar que a visse. Precisava tirar Lanie dali antes que ele a notasse. Somente então percebeu que a amiga a fitava exigindo uma resposta - Kate! Você está prestando atenção nas minhas palavras? Eu perguntei qual dos dois. Você sequer está olhando para mim! Kate, o que tem de tão interessante naquela direção? - Lanie começou a virar o corpo quando Beckett segurou o seu braço e respondeu. 

— Sö posso tomar uma decisão se a vir vestida. Vamos para os provadores - Lanie puxou o braço. 

— Fica para aquele lado, Kate. O que há com você? Está estranha - Beckett mordia os lábios. Droga! Elas estavam caminhando na direção dele. Tentando disfarçar, ela pegou um casaco e fingiu vesti-lo para cobri seu rosto - o que está fazendo? Decidiu comprar agora? Vamos, Kate eu preciso escolher minha roupa e… - ela acabou se atrapalhando e esbarrando em uma mulher derrubando o casaco e sua bolsa no chão. Castle que estava proximo ouvira alguém falar Kate. Não demorou para notar a bela mulher tentando recolher as coisas do chão.   

— Ora, se não é a capitã do 12th distrito. Fazendo compras de natal, Kate? - Lanie olhou intrigada para a amiga e depois para o homem a sua frente. Simpatico, charmoso, de sorriso fácil. E ela não o conhecia embora ele parecesse um tanto intimo ao chamar sua amiga pelo primeiro nome. 

— E-eu não estou fazendo compras e… 

— Acredito que não nos conhecemos. Lanie Parrish. Sou amiga de Kate. 

— Rick Castle. É um prazer. Aposto que está escolhendo sua roupa para a noite de natal. 

— Eu já disse que vou trabalhar na noite de natal - Lanie parecia ainda mais interessada no bonitão de olhos azuis - Lanie é quem está fazendo compras. 

— Culpada. Espera, de onde vocês se conhecem? 

— Castle estava na caféteria que sofreu uma tentativa de assalto que eu impedi. 

— Não ligue para ela, está tentando minimizar a situação. Ela salvou minha vida e acredito que por causa disso criamos uma conexão. É claro que ela é cética e não quer aceitar, mas temos uma ligação especial. 

— Que diabos você está falando? 

— Conexão especial? Hum… me diga, o que você faz, Castle? 
— Sou escritor de best-sellers. Derrick Storm, já ouviu falar? 

— Escritor… sei, provavelmente com uma inteligência acima da média, culto, interessante. 

— Obrigado, sim tenho todas essas características citadas e ainda são bonitão e charmoso. 

— E nada convencido - resmungou Beckett. Agora Lanie não ia deixa-la em paz - precisamos ir. Quero escolher logo esse vestido e voltar a trabalhar. 

— Sua amiga não gosta muito de diversão, não? Está em dúvida ainda? É para um encontro? 

— Sim, mas numa festa de natal. 

— O vermelho. É festivo e tem um ar de femme fatale. Seu par vai gostar. 

— Nossa! Obrigada. Viu como foi fácil? Devia ouvir mais seu novo amigo, Castle. Ele entende das coisas. Está liberada de seu papel de amiga por hoje. Talvez mais tarde eu passe no distrito para conversarmos. Foi um prazer conhecer você, Castle - ele estendeu a mão beijando a de Lanie. 

— O prazer foi meu. 

— Faça companhia para Castle, Kate. Eu vou pagar essa belezura - e desapareceu rapidamente. 

— Ouviu sua amiga, tem que me fazer companhia. Estou tentando comprar o presente de natal da minha mãe, mas o gosto de Martha Rodgers é bem salgado. 

— Dinheiro não deveria ser problema para você, afinal é um escritor de best-sellers. Milionário pelo que ouvi falar. 

— Não se trata de dinheiro. O problema é a extravagância da minha mãe. Ela nunca quer somente um presente. Você já terminou suas compras de natal? 

— Você é bem insistente e irritante, não? Não devo satisfação a você. E pare de insistir em coisas de natal. 

— Hey! É a melhor época do ano. Você por acaso não gosta? Ficou muitas vezes na lista das crianças danadas, Kate? Para uma pessoa que não gosta da data, você se esforçou na decoração da sua delegacia. 

— Não fui eu. Autorizei os rapazes a fazer. Não posso privar meu pessoal de curtir a data por minha causa. Quer saber? Eu tenho mais o que fazer. Divirta-se com as suas compras, Castle. 

— Espera, eu… - mas ela já ia longe - posso te pagar um café… droga! Demorei demais. 

De volta ao distrito, Beckett se pegou lembrando da conversa e principalmente dos olhos azuis de Castle varias vezes durante a tarde. O que tinha esse homem para ser capaz de tirar seu foco e permanecer em sua mente por tanto tempo? Não sabia responder a pergunta. Ainda. 

8 dias para o natal… 

Castle não sabia explicar o que estava acontecendo, mas desde que Kate Beckett cruzara seu caminho, ele sentia-se diferente. Seu bloqueio desaparecera e agora ele tinha pressa em terminar o livro que escrevia de Storm para começar outro. Uma nova historia com uma nova personagem. Estava na hora de mudar de ares e Castle acreditara ter encontrado a pessoa ideal para basear sua nova aventura. 

Contudo, não se tratava apenas do lado profissional. Kate Beckett o intrigava, o fascinava. Ela escondia algo. Uma perda, uma tristeza. Ela estava de certa forma fechada para a vida, para novas experiências. Rick Castle adorava um desafio, era verdade. A primeira vista, foi isso que viu nela. Após a conversa do dia seguinte ao assalto, porém, ele se questionou o que de fato o atraia para aquela mulher. Sim, ela era bela, determinada e segura. Mas havia um outro lado que parecia adormecido, como se tivesse se candidatado a ser infeliz, a carregar o peso do mundo em suas costas. Isso e o mistério fizeram Castle sentir a necessidade de se aproximar dela, de querer mostrar o lado bom da vida. E por mais louco que parecesse, ele não se sentia atraído por alguém dessa forma desde Kyra. 

Não sabia onde essa historia iria terminar, mas ele certamente não deixaria ela sumir de sua vida. Nem que para isso precisasse segui-la por toda a cidade. 

Ele percebera que o interesse não era apenas dele. O jeito que ela se expressava ou olhava para ele ontem na loja demonstrava interesse, curiosidade. Amanhã faltaria apenas uma semana para o natal. Talvez devesse fazer uma visita a ela. Ainda não entendera porque ela era tão adversa ao natal. 

Castle passou o dia escrevendo entrando pela noite. Estava determinado a acabar essa fase. Derrick Storm era pagina virada em sua vida de escritor. 

No outro canto da cidade, Beckett tivera um dia agitado. Varias reuniões, ajudara os rapazes em um interrogatório e respondera a vários emails de seus superiores. Durante todo o dia um pensamento se manteve constante. O homem de olhos azuis continuava a povoar sua mente especialmente quando ela fazia uma pausa em busca de café. Era normal ela se perguntar o que ele andava fazendo? Claro que não! Era estranho e totalmente inesperado para alguém como ela. Então, porque não conseguia esquece-lo? 

7 dias para o natal… 

Esposito e Ryan estavam trabalhando em um caso complicado. Até aquele momento, eles conseguiram vários becos sem saída e Esposito teimava em prender o marido da vitima mesmo não tendo provas suficientes contra ele. Estavam patinando na investigação. Teimoso, ele passou por cima do parceiro e acabou analisando um dos relatórios do CSU de maneira equivocada afirmando ter a prova para trazer o marido para interrogatório. Acreditando na analise do parceiro, Ryan concordou. 

Era por volta de quatro e meia da tarde quando eles terminaram o interrogatório e acabaram prendendo o marido mesmo com ele insistindo que não cometera o assassinato. Nesse interim, Castle surge mais uma vez no 12th distrito sorrindo e cumprimentando os policiais. Elogiou a decoração natalina e trocou vários apertos de mão. Havia ficado popular entre a equipe devido aos donuts. Além disso, vários deles deduziram que era amigo da capitã, portanto merecia respeito. 

Castle caminhou direto para a sala de Beckett. Trazia dois copos de café consigo outra vez. Ao ve-lo se aproximar da sala da capitã, Esposito cutucou o parceiro. 

— Yo, é aquele cara outra vez. Você sabe se ele é amigo de Beckett? Ela mencionou que estava presente na cafeteria. Acho que ele quer algo mais. Será que ela está namorando? 

— Como vou saber? Eu sequer fui apresentado a ele. 

— Tem algo estranho acontecendo. 

— Ele parece um cara legal. Boa pinta, deve ter dinheiro. Se tiver interessado em Beckett tem meu apoio. Ela bem que está precisando de algo novo na sua vida. Não se meta. Vamos observar - Esposito entortou a boca, mas decidiu seguir o conselho do parceiro. 

— Boa tarde, capitã Beckett. Eu tenho certeza que está na hora de fazer uma pausa para o café. 

— O que faz aqui? - mas Beckett não conseguiu disfarçar muito bem o pequeno sorriso no canto dos lábios mesmo querendo parecer irritada - errou de endereço ou cometeu um crime e veio se entregar? 

— Haha… fazendo piadinhas? Trouxe seu preferido. Eu precisava vir brindar com você. Claro que a ocasião merecia algo melhor como um champagne, mas seria inapropriado para o ambiente de trabalho especialmente porque estamos numa delegacia. Se aceitar o meu convite para drinques ou um jantar mais tarde podemos fazer isso da maneira correta. 

— Você nunca desiste? Eu não tenho nada que comemorar. Não sei de onde tirou essa ideia. 

— Não, se desistisse no primeiro “não” que recebi de uma editora, não seria o escritor famoso que você admira. Sou muito persistente. E quem quer comemorar sou eu. Graças a você, eu consegui terminar meu livro, a ultima aventura de Derrick Storm. 

— Graças a mim? O que eu tenho a ver com isso? - ela perguntou pegando o copo com a bebida quente. Ele adivinhara. Ela estava precisando e muito daquele café. 

— Eu estava passando por um daqueles momentos complicados no trabalho de um escritor. Estava com bloqueio. Foi por esse motivo que eu resolvi sair e espairecer um pouco para ver se conseguia fazer minha cabeça funcionar. Por isso estava naquela cafeteria onde a conheci. Desde que você entrou na minha vida, eu não sei explicar ao certo o que aconteceu. Você instigou minha imaginação e me fez voltar a escrever. Terminei o livro que escrevia em três dias por sua causa. 

— E-eu não sei o que dizer, estou lisonjeada? 

— Deveria se sentir assim mesmo. Eu preciso muito retribuir a ajuda, o convite para o jantar está de pé. Estou falando serio. 

— Eu também, mas obrigada por me considerar tanto. Especialmente porque nos conhecemos a poucos dias… - ele notou o tom sarcástico na voz dela. Sorriu. 

— Você não acredita que podemos estabelecer uma conexão tão rápido? Ah, por favor! Não seja tão cética. Vai me dizer que não acredita em magia? Em amor à primeira vista? Sem essa, Scully! 

— Engraçadinho. Brincadeiras à parte, eu não acredito em mágica porque não passa de truque, uma distração. Ilusionismo. Meu avô era mágico. Não há nada de sobrenatural nisso, Mulder…. - ela devolveu a gracinha. 
— Ah! Estamos progredindo… fazendo piadinhas. isso é um bom sinal. Sei que você não é nenhuma rainha de gelo - ela ia retrucar no momento que Esposito entra em sua sala. 

— Com licença, Beckett. Desculpe interromper sua reunião, apenas queria avisar que estamos de saída. Eu e Ryan prendemos o culpado do caso que estávamos trabalhando. Era o marido. Estamos indo tomar uma cerveja. A maioria já foi para casa. Precisa de alguma coisa antes de irmos? 

— Não. Está tudo ótimo. Podem ir se divertir. Você disse o marido? Parecia bem mais complicado que isso. Ele não me pareceu culpado quando o vi. Parecia transtornado ao saber da esposa, chame de instinto. 

— Temos provas. Foi ele. Amanhã você terá nosso relatório. 

— Tudo bem. Eu mesma estarei de saída daqui a pouco. Divirtam-se - Esposito sorriu e fechou a porta atras de si. 

— Você disse instinto? Acredita neles. Costuma segui-los, não Kate? Porque meus instintos estão dizendo que deve aproveitar que seus detetives estão indo se divertir e comemorar para fazer o mesmo. Você deveria ir jantar comigo no Le Cirque. 

— Castle, alguém ensinou a você o significado da palavra “não”? 

— Ah, sim. Mas devo confessar que ela raramente se aplica a mim. E mesmo nessas ocasiões, eu dou um jeito de transformar o “não” em “sim”. Não se preocupe, vai acontecer com você também. 

— Certo, você ja veio aqui, me deu café, tagarelou a vontade. Que tal não me atrapalhar mais? Ao contrario de você, eu ainda não acabei meu trabalho. 

— Você é a chefe, seus subordinados já foram. Porque insiste em continuar presa a essas paredes? Não quer ir para casa? Passear, ver vitrines de natal? Nova York é incrível no natal. Gostaria que esse mês se estendesse por pelo menos metade do ano. Falando nisso, vai me explicar de onde vem essa sua raiva toda com o natal? 

— Não tenho raiva. 

— Ah, claro. Sò fica rabugenta e age como o Grinch. Passar o natal numa delegacia, sério? Isso é tão antisocial. 

— Talvez eu seja antisocial - ela retrucou. 

— Não, você pode ser reservada. Temerosa, quer manter uma certa distancia das pessoas. Se esconde atras de muros para que elas não vejam o que a aflige. Algo a mudou e de alguma forma está relacionado com essa época, a data. Estou certo, não? 

— Não interessa. Isso não lhe diz respeito. Quer sair da minha sala? 

— Tudo bem. Depois não vá dizer que morreu de tédio enfiada em uma pilha de papeis. Eu tentei salva-la - ele se levantou aproximando-se da porta - não vai ao menos me acompanhar até o elevador? Eu trouxe café de verdade para você - Beckett não entendeu porque riu e o seguiu. Castle parou no meio do salão para observar o quadro de evidencias do caso que Ryan e Esposito trabalhavam. Ela percebeu os olhos correndo diante das informações, processando, analisando - esse é o caso do marido assassino? 
— Sim. 

— Talvez queira rever suas considerações. Ele é inocente. Prenderam o homem errado.  

— Como assim? Você nem sabe do que se trata o caso. Apenas olhou por alguns segundos o quadro. Não questione o trabalho dos meus detetives. Não lhe dei esse direito. 

— Não estou questionando. Estou apenas alertando-a. Alguns segundos foram suficientes para perceber que a linha do tempo está errada. Se não acredita em mim, cheque. Verá que estou certo. Conhece o termo leitura dinâmica? Então, eu também sou bom nisso - eles chegaram ao elevador. Observador como sempre, Castle já havia notado a presença de um pequeno azevinho no teto quando chegara ao distrito. Propositalmente, ele se posicionou abaixo dele - façamos o seguinte, se eu estiver certo sobre o caso, você aceita jantar comigo e me contar seu problema com o natal. Se estiver errado, eu lhe dou um exemplar em primeira mão do próximo livro de Storm. Temos um acordo? 

— Eu não vou fazer acordo ou aposta com você. Onde já se viu! Vem ao meu distrito criticar o trabalho da minha equipe. Você não é policial, Castle. Brinca de detetive com suas historias de ficção. Isso não lhe dá direito a saber mais do que eu. Não é nenhum agente do FBI. 

— Você sabe que eu já trabalhei direto com agentes da CIA para escrever os livros de Derrick Storm. Não negue, segue meu site. Também sabe que minhas historias são muito próximas da realidade porque outra razão as leria se fossem malucas e cheias de furos? Você é a especialista aqui. Cheque o caso, se estiver certo, temos um jantar. Me ligue amanhã, farei a reserva para o dia seguinte. 

— Por que tem tanta certeza que prendemos o homem errado? 

— Está lá. Bem à vista. Sei que você vai perceber. Boa noite, capitã - ele não pediu permissão nem avisou sobre o que ia fazer em seguida. Apenas inclinou-se na direção dos lábios dela e segurando sua nuca aproximou seus lábios dos dela. O contato fez o corpo de Beckett se arrepiar. Não sabia explicar porque ela se deixara levar pelo beijo aprofundando o contato até o segundo que caíra em si. Empurrou-o e perguntou. 

— Que diabos você pensa que está fazendo? 

— Apenas seguindo uma tradição de natal - ele apontou para o azevinho sobre suas cabeças - boa noite, Kate. Sei que é difícil, mas procure não sonhar comigo - ela viu as portas do elevador se fecharem enquanto continuava estática e boquiaberta diante do que acabara de acontecer. 

Beckett demorou alguns segundos para se recuperar. Meu Deus! O que está acontecendo? Levou a mão aos lábios. Ainda podia ver os pelos do seu braço eriçados. Fazia tempo que não experimentava um beijo assim. Sacudiu a cabeça tentando esquecer e manter o foco. Lembrou-se do que ele falou sobre o caso. Determinada a provar que ele estava errado e irritada o suficiente por ter se deixado levar pelos encantos do playboy escritor, ela voltou até o quadro de evidencias querendo achar a resposta certa para jogar na cara dele. 

De frente para o quadro e de braços cruzados, os olhos amendoados percorriam as informações. E tal qual ele dissera, estava lá. A falha na linha do tempo e um pequeno detalhe na foto da cena do crime. 

— Filho da mãe! - foi tudo o que ela conseguiu dizer. 

6 dias para o natal… 

Castle estava tomando o café da manhã quando a filha apareceu na cozinha. 

— Hey, pumpkin. está de malas prontas para sua viagem a California? Você sabe que eles não tem natal branco. Tem certeza que não vai ficar com saudades da neve? A previsão já foi confirmada. Teremos neve na véspera de natal e no dia 25. 

— Acho que já vivenciei muitos natais brancos, pai. Vou sobreviver sem um deles - ela disse roubando um pedaço de bacon do prato dele. 

— Tudo bem, mas promete uma coisa? Podemos trocar presentes antes de você ir? No dia 23 mesmo. Que horas é seu voo? 

— Cinco da tarde. 

— Ótimo! Nós almoçamos juntos, trocamos presentes e você está liberada para ir para a California. Está bem para você? 

— Sim, pai. Você vai adorar seu presente. 

— Mesmo? Vai me dar uma pista? 

— De jeito nenhum! Vai ter que esperar. Estou ansiosa para saber qual vai ser o meu. 

— Ah, você não tem ideia! - ela beijou a bochecha dele. 

— Vou sair para comprar algumas coisas que preciso para a viagem. Te vejo mais tarde? 

— Não sei ao certo. Talvez eu tenha um compromisso, um jantar. Estou esperando um telefonema muito importante. A confirmação. 

— Nada de aprontar, viu? Não quero ver seu nome no Page 6 outra vez. Você vem se comportando bem nos últimos meses. 

— Sim, mamãe. Você sempre foi a adulta dessa relação, Alexis. 

No distrito, Beckett esperava os seus detetives chegarem. Ryan foi o primeiro. Ficou surpreso por ver sua capitã no salão com uma das pastas do caso de ontem nas mãos. Sera que estava sendo pressionada com o caso? Precisava do relatório? 

— Bom dia, Beckett. Algum problema? 

— Sabe se o Esposito vai demorar? Preciso falar com os dois sobre o suspeito que prenderam. 

— Ele me enviou uma mensagem, estava a caminho. 

— Ótimo, enquanto ele não chega, vou até a esquina comprar café de verdade. Vou precisar - ela saiu pisando firme. Ryan sabia que estava irritada com algo. Será que ela descobriu algo do caso que eles não viram? Pensando melhor, ele também não estava satisfeito com o fim encontrado. Cinco minutos depois, Esposito aparece no salão. Mal tem tempo de chegar perto de sua mesa. 

— Espo, tem alguma coisa acontecendo. Beckett não estava nada feliz. É sobre o caso. Disse que quer falar com nós dois. 

— Deve estar querendo alguns detalhes para passar adiante. Na certa alguém da 1PP pediu informações sobre os casos da semana e ela não sabia o que dizer. Culpa exclusivamente dela. Estava tão concentrada naquele cara que mal ouviu o que eu falei. Ela nem perguntou sobre a arma do crime, motivo. Eu só confirmei que foi o marido. 

— Não diga isso a ela. Capaz de arrancar seu couro. Sério, Espo, será que cometemos algum erro? 

— Que mané erro! Quer parar de ser inseguro? Deixa que eu explico para Beckett. 

— O cara jura que não matou a esposa, e se ele estiver falando a verdade? - Esposito não teve tempo de responder porque Beckett apareceu nesse instante no salão. 

— Ryan, Esposito. Podem levar o quadro de evidencias do caso que fecharam ontem para a sala de interrogatório 2? E tragam também todo os demais materiais do caso. Precisamos ter uma longa conversa - eles se entreolharam. Esposito deu de ombros e fez o que sua capitã mandou. Sentados de frente para Beckett que se mantinha de pé ao lado do quadro, eles foram bombardeados com uma serie de perguntas com relação ao assassinato. Ela deixou a mais importante para o final. 

— Pode me mostrar a prova contra o marido? 

— Claro - Espo abriu a pasta com o relatório do CSU. Mostrou a analise para Beckett. 

— E baseado nisso você julgou o marido culpado? Isso é circunstancial. Ele não é o seu assassino. Sabem como eu sei? Porque sua linha do tempo está errada e por causa disso - ela pegou a foto da cena do crime do quadro e jogou na frente dos seus detetives - olhem o canto esquerdo superior da imagem. Parece familiar? Agora olhem a analise outra vez e o tempo. Onde o marido estava mesmo às seis da tarde? - nenhum dos dois falou nada. Ryan arregalara os olhos, Esposito baixou a cabeça envergonhado. Ele se precipitara. 

— Beckett, mas o relatório do CSU se você…

— De nada vale o relatório do CSU, Esposito se você monta a linha do tempo errada. Sabe o que é pior nisso tudo? É que vocês iam condenar um inocente e bastou Castle dar uma rápida olhada no quadro para perceber o erro. Um escritor de ficção resolveu o caso em menos de cinco minutos! Ele sequer é policial! - sim, ela estava irritada. Nem tanto com o erro dos seus detetives, afinal ela também já os cometera em outras investigações. O que a incomodava era a insistência de Esposito, a quase condenação de um inocente e principalmente o fato de que Castle estava certo. 

— Saiam daqui, peguem o marido e ouçam a versão dele da historia sem pressionar por uma confissão dessa vez. E depois, vocês vão querer dar uma palavrinha com a melhor amiga da vitima. Consertem o erro de vocês o mais rápido possível - ela esperou os detetives deixarem a sala para bufar. Passou a mão nos cabelos, gesto que sempre fazia quando estava nervosa. 

Teria que ligar para Castle. Se bem ela não aceitara nenhuma aposta. Não era obrigada. Suspirou. Estava errada. Se não fosse por ele, o 12th distrito teria que enfrentar um problema bem maior mais tarde, um processo, repreensão por parte da 1PP. Ela tinha que contar a ele e agradecer. Ah, droga! Ele a obrigaria a jantar. Pensando bem, um jantar na companhia dele não era algo tão ruim. Ela não se importava em ouvir suas historias e seus comentários sagazes, certamente não era sacrifício algum admirar aqueles olhos azuis, mas era apenas um jantar. Automaticamente, a mão tocou os lábios. A lembrança do beijo a tomou. O que há de errado com você, Kate? Não pode estar atraída ou se apaixonar por um cara como Castle. Ele…é um aproveitador mulherengo e… uma espécie de bad boy, o terror de qualquer mulher e… tentador… 

— Pare! - ela recriminou a si mesma em voz alta - é apenas um jantar - tirou o telefone da sua mesa do gancho e ligou para Castle usando o numero registrado na ocorrência da cafeteria. Ao terceiro toque, ele atendeu. 

— Castle. 

— Aqui é Kate Beckett. 

— Olá, capitã. A que devo a honra dessa ligação? Espere, não me diga. Você está ligando para agradecer a minha ajuda, dizer que eu estava certo e que prendeu o verdadeiro assassino. 

— Estou ligando para informar que o marido foi liberado e nesse instante a potencial suspeita está na sala de interrogatório. 

— Ah, meus instintos estavam certos. Sabia que não ia me decepcionar. O que me lembra que temos um compromisso hoje. Eu acertei, portanto, vamos jantar no Le Cirque. 

— Eu não concordei com nada disso. 

— Vamos, Kate, que mal há em aproveitar um bom jantar em ótima companhia? Prometo que precisarei apenas de duas horas do seu tempo. Quer que eu vá busca-la no distrito? 

— Não. Eu encontro você lá. 

— Oito horas. Não se preocupe, eu não mordo - rindo, Castle desligou o telefone quase comemorando. Do outro lado da linha, Beckett suspirou. Por que se deixar levar pela lábia do escritor? Isso poderia acabar muito mal. Ela aguardou o resultado do interrogatório e viu a melhor amiga confessar que havia cometido o assassinato porque estava tendo um caso com o marido e não queria mais ser a outra. Precisava se livrar do problema. Era triste. Não era apenas um crime de traição, era passional e mesquinho. Satisfeita com o resultado, ela avisou seus detetives que ia resolver algumas coisas na 1PP e não retornava mais hoje. 

Claro que não tinha compromisso algum na 1PP, Beckett ia direto para casa. No fundo, ela estava preocupada com o jantar. Continuava repetindo incansavelmente para se mesma que não era um encontro, mas agia de maneira oposta. Estava preocupada inclusive com o que vestiria. Ao mesmo tempo que o pensamento a irritava, a ideia do jantar a deixava nervosa e ansiosa. Em seu apartamento, Beckett revirara todo o seu guarda-roupa a procura da roupa ideal. Queria vestir algo que não sugerisse um encontro, porém não podia aparecer no restaurante com suas roupas de trabalho. 

Depois de muito bater cabeça, ela optou por uma saia preta até a altura do joelho e uma blusa de alcinhas em tons cobre e dourado com um certo brilho. Por cima usaria o sobretudo. Deixara os cabelos soltos e colocara uma maquiagem leve no rosto. Havia um outro motivo porque Beckett estava nervosa. Castle deixara claro que queria saber porque ela era contra o natal. Isso era um assunto pessoal. Não se sentia segura para falar disso com outras pessoas e Castle era praticamente um estranho. 

— Um estranho que você já beijou… e que deveria esquecer! - por mais que se recriminasse, sua mente não a obedecia. Ela estava intrigada com o escritor charmoso de intensos olhos azuis. 

Por volta de 8 e quinze, Beckett estacionou seu carro proximo ao restaurante. Desceu e entrou no local se dirigindo a hostess. Ao mencionar o nome de Castle, a moça sorriu e pediu que ela a acompanhasse. Ele estava esperando em sua mesa cativa. Ao vê-lo sentado à mesa, Kate prendeu a respiração. Ele era charmoso. O brilho dos olhos azuis contratava com a camisa do mesmo tom. Ele sorriu ao avista-la. Beckett retribuiu o gesto. Tirou o sobretudo e deixou-o sobre as costas da cadeira. Castle observava a silhueta esbelta da capitã e o colo realçado pela blusa que usava. Ele se levantou. 

— Você está bonita, capitã - sem que ela esperasse, ele lhe deu um beijo no rosto. Puxou a cadeira - Por favor, sente-se - ele esperou que ela se acomodasse para retornar ao seu lugar - o que quer beber? Quer um drinque, martini, whisky ou vinho está bom para você?

— Vinho está bom. 

— Ótimo. Sei um que combina perfeitamente com o item do menu que é a especialidade da casa - fez sinal para o garçom pedindo a garrafa de vinho e uma entrada de antepastos - se quiser minha recomendação, prove o filé a Chateaubriand. Definitivamente um dos melhores que já comi. Sempre que estou com vontade, peço. Eu sou um dos clientes VIPs da casa. 

— Imagino, mas seguirei sua sugestão - assim que o garçom deixou a entrada e os serviu de vinho, Castle decidiu começar sua própria pesquisa. 

— Você prendeu o responsável? 

— Sim, a melhor amiga. Crime triste. Às vezes me pergunto o que há de errado com as pessoas. Elas perdem a cabeça e matam pelos motivos mais futeis. Ou decidem tirar a propor vida sem grandes explicações. Parece que estão cada dia mais fracas, susceptíveis a pequenas coisas. Não sei onde vamos parar. Essa época é bem pior. 

— O que eu não entendo. Natal é um momento festivo, de celebrar, passar junto a quem se admira, se ama. 

— O que há de tão fascinante nessa data, Castle? As vezes acho que perdeu-se o verdadeiro sentido. Virou uma grande data comercial. Pessoas correndo para comprar presentes, gastando mais do que podem e para que? 

— Como disse, para celebrar. Quando eu era criança, minha mãe não tinha as melhores condições. Nem sempre tínhamos comida boa na mesa ou tempo e dinheiro para presentes. Mas não houve uma noite de natal em que Martha Rodgers não enfeitasse todo o pequeno apartamento que morávamos e encenasse um espetáculo de natal para mim. Aquilo me deixava feliz, me dava esperança porque não importava as dificuldades que enfrentávamos, naquela noite nós tínhamos um ao outro e havia magia no ar. 

— Nossa! É uma explicação e tanto. 

— Você ja me disse que não acredita em magia, mas eu considero a época de natal a melhor demonstração de magica que existe. As pessoas deixam seus problemas para trás e por uma noite, elas apenas querem se divertir e confraternizar. Estar com seus entes queridos e lembrar que podem vencer as dificuldades juntos. Deixam a alegria e a pureza das crianças os contaminarem - de repente, ele percebeu a tristeza no olhar dela. A perda estaria relacionada com a época - então vai me dizer porque não aprecia a data? 

— Podemos não falar disso agora? 

— Tudo bem, não pense que esquecerei. Sobre o que quer conversar? Sobre mim? Meus livros? Quer me contar como se tornou minha fã? 

— Espera, por que tudo tem que ser sobre você? 

— Não necessariamente. Adoraria saber um pouco mais sobre Kate Beckett - ela suspirou - certo, vamos falar sobre mim. Vou começar com uma pergunta: você trabalha com homicídios, conhece procedimentos e sabe julgar acuracidade. Quão perto da realidade eu estou como escritor? Quando você lê meus livros, consegue se convencer do mistério? 

— Foram duas perguntas, mas são complementares então respondo. Suas cenas de crime são detalhadas e a forma como você descreve o processo de investigação é bem detalhado. Não posso dizer que há furos. Eu sempre me convenço do que está acontecendo ao ler seus livros e também descubro o assassino com antecedência. 

— Não esperaria menos de você. É uma das melhores investigadoras da NYPD. Por que você gosta do género? Quer dizer é de se imaginar que após passar o dia inteiro lidando com assassinos, a ultima coisa que iria querer é ler sobre assassinatos. 

— É diferente. Seus livros são ficção. Neles é possível solucionar todos os casos. Há sempre justiça, nem sempre o mesmo acontece na vida real. 

— Você está falando da pessoa que perdeu. Isso é parte de sua historia e algo me diz que aconteceu proximo ao natal, por isso essa aversão à data. Estou certo outra vez, Kate? - ela baixou a cabeça, tomou um novo gole do vinho. De repente, começou a falar. Não sabia explicar porque decidira contar algo intimo para ele. 

— Minha mãe foi assassinada. Eu e meu pai íamos encontra-la para jantar naquele dia de janeiro. Só que ela não apareceu. Quando chegamos em casa havia um detetive esperando por nós. Brutalmente assassinada com facadas em um beco proximo a ONG onde ela fazia trabalho pro-bono. Ela era advogada, a profissão que eu também escolhera seguir inspirada por ela. Nós ainda nem tínhamos tirado as luzes de natal ou desfeito a arvore. O caso continua sem solução. 

— É por isso que evita o natal. Também foi a razão que você se tornou policial. Para trazer justiça aqueles que perderam seus entes queridos como você. 

— Eu e meu pai não conseguimos superar. Ele passou a beber muito, nos afastamos. Foram cinco anos muito duros. Eu mudei de profissão e todos os dias ao encarar uma cena de crime é nela que eu penso. Em casa vitima eu vejo a minha mãe. 

— Qual era o nome dela? 

— Johanna Beckett - ela suspirou triste, virou o rosto para o lado. Castle entendeu a delicadeza do momento. Apenas precisava dizer mais uma coisa antes de mudar o assunto. Esticou a mão para toca-la. 

— Kate, eu sei que é difícil, porém é isso que a faz tão boa policial. Você entende, esteve do outro lado. As vitimas importam para você, as trata como seres humanos ao invés de corpos. Isso faz toda a diferença - ele viu um pequeno sorriso se formar no canto da boca. 

— Obrigada, Castle. 

— Você poderia me contar alguns dos seus casos? Aqueles difíceis ou que lhe intrigaram. Aposto que já lidou com serial killers. Eu adoraria saber um pouco mais sobre sua atuação como detetive. 

— A grande maioria dos casos é bem cliche. Dinheiro, traição, ódio, amor. Motivos mais velhos que o mundo. Tive alguns casos interessantes de serial killers. 

— Por favor, conte-me - a comida chegou e eles acabaram se enveredando no mundo das investigações de Kate Beckett. Por um bom tempo, ela contava suas experiências e casos que iam do intrigante ao engraçado. Eles estava se divertindo, rindo juntos. Ela seque notara que se passara mais de uma hora apenas contando casos. Antes de pedir a sobremesa, Castle propôs uma espécie de desafio. 

— A verdade é que esse natal esta bem diferente. Eu fui pego de surpresa pela minha filha e estou sendo forçado a quebrar uma tradição. Você sabe que eu tenho uma filha, Alexis. Então, esse é o nosso primeiro natal separados depois de 17 anos. Acredita nisso? Ela está indo para a California visitar o namorado. Parece que perdi o titulo de homem da vida dela - Kate notou o quanto ele estava triste, de repente o brilho dos olhos azuis desapareceu. Ela ficou tocada com a cena. Sabia que tinha uma filha, mas ver esse lado vulnerável do cara que era tido como um playboy era estranhamente adorável. Ela sorriu e brincou. 

— O que aconteceu com o cara que há pouco falava de esperança e magia? Não me diga que tem dupla personalidade., Castle. Vejo que gosta de tradições também. 

— Desculpe, iso deveria ser um jantar amigável para anima-la e aqui estou eu falando dos meus problemas quando devia estar convencendo-a a encontrar um novo significado para o natal. Acho que também preciso de uma dose maior de espirito natalino. Talvez possamos ajudar um ao outro. Tenho a ideia perfeita. Eu ainda não finalizei minhas compras de natal. Na verdade, não consigo encontrar o presente certo para Alexis. Você é mulher, podia me ajudar, Kate. Aposto que conhece bem os produtos, as roupas, a moda…

— Eu não sou adolescente, Castle. Desculpe, mas eu detesto esse burburinho de lojas nessa época. Vou ter que recusar. 

— Não é tão ruim. Ainda faltam 6 dias para o natal. Bem, serão 5 amanhã. Em nome do espirito do natal presente e do futuro, você não quer ajudar um pai atrapalhado a salvar um pouco de sua magia ja que está quebrando uma tradição de natal? 

— Eu não sei, não é minha praia. 

— Por favor, Kate. Vai te fazer bem. Amanhã é sábado. Você não trabalha. Eu prometo que não vou ficar depressivo. Posso fazer você apreciar o momento. Além do mais, posso lhe contar alguns segredos de bastidores de Derrick Storm. 

— Você não vai desistir mesmo, certo? 

— Não até você dizer sim. Vai ser divertido. Tenho certeza que unindo forças podemos encontrar o presente perfeito para Alexis. Ou melhor, presentes. Pelo menos três. 
— Alguém gosta de mimar a filha…

— Ela merece. Alexis é uma menina espetacular. Inteligente, responsável, amiga, carinhosa. Muitas vezes, tenho a impressão de que ela é o adulto da relação. Eu adorava leva-la ao parque, brincar com ela nos balanços. Até hoje nós temos nossas brincadeiras. Ela foi a melhor coisa que aconteceu no meu casamento com Meredith. 

— Por que não deu certo? 

— Ela me traiu com o diretor. Ela é atriz - Beckett se viu envolvida pela historia do escritor . Estava começando a mudar sua opinião sobre ele. Apesar do jeito convencido, ela podia notar a sinceridade em suas palavras, também tinha sua cota de momentos ruins. Pouco via do playboy que costumava a estampar a coluna do Page 6. 

— Você mudou de assunto, está me fazendo falar para desviar minha atenção do pedido que fiz. Eu não esqueci, Kate Tem até terminarmos a sobremesa para aceitar. Você vai adorar isso! O cheesecake daqui é de morrer! - ela riu do jeito dele. Definitivamente a ideia do doce trouxe um sorriso ao rosto de Castle. Ele esperou o garçom colocar o prato na frente dela - vamos,prove! - Beckett pegou o garfo e tirou um pedaço levando-o à boca. 

— Oh, meu Deus! Castle, isso é muito bom - ela provou outro pedaço fazendo o possível para não gemer, sem sucesso - acho que não como um doce tão gostoso desde… nem sei quanto! 

— Eu avisei! 

— Pensei que era exagero seu. 

— Hey! Eu não brinco quando o assunto é comida. E eu não sou exagerado. As pessoas que subestimam as coisas - ao ver o olhar dela e a boca torta, ele completou - talvez um pouquinho. Não sobre o cheesecake - ele percebeu que ela já estava no ultimo pedaço - se quiser outro, pode pedir. 

— Não, estou bem. Eu vou ao toilette. 

— Fim do corredor à direita.

Beckett usou o banheiro e enquanto lavava as mãos pensava sobre o pedido de Castle. Era estranho, ela estar considerando as palavras dele. Checou o relógio. Quase onze e meia da noite. Wow! Ela estava há mais de três horas na companhia dele? Seque vira o tempo passar. Não se divertia assim há muito tempo. Mesmo com os assuntos delicados, que ela considerou  de certa forma fácil de compartilhar com ele, ela descobriu que apreciava sua companhia mais do que estava disposta a admitir. Ao voltar para a mesa, encontrou Castle conversando com o garçom. 

— Eu tomei a liberdade de pedir um expresso e licor para você. Então, podemos ir as compras amanhã? 

— Castle, eu não conheço sua filha. Como posso opinar sobre seu gosto? É insano - ela o viu  puxando a carteira para mostrar a foto de Alexis. 

— Essa é Alexis. Ela é linda, não? 

— Sim, e ruiva. 

— Herança da minha mãe e de Meredith. 

— Ela tem seus olhos. Não se trata apenas de aparência física, não sei do que ela gosta. Cores, maquiagem e… 

— Você saberá o que escolher. Eu acredito e confio em seu bom gosto. Posso passar para pega-la em seu apartamento ou prefere vir a minha casa? 

— Eu ainda não aceitei… 

— É claro que sim. Eu prometo que irá gostar. 

— Não podemos nos encontrar em algum lugar? 

— Se você não gosta de enfrentar a loucura da época, vai precisar de um guia. Não quero você irritada antes de começarmos a fazer compras. É para ser um momento relaxante. 

— Difícil de acreditar. 

— Eu envio uma mensagem para você. 

— Você não tem meu telefone, Castle. 

— Você irá me dar agora - ele entregou seu celular para Beckett. Olhou por alguns segundos para Castle tentando se decidir se deveria dar seu numero para o escritor. Num impulso, ela teclava os números no display - ótimo! Estou pensando que se aparecer no loft por volta das onze está bom. Assim você tem tempo para dormir e tomar um bom café, afinal é sábado. 

— Tudo bem. 

— Está pronta para ir? Eu já paguei a conta. Não estou com pressa. Depende de você - Kate tomou o resto do café e sorriu. 

— Acho que podemos encerar a noite. 

Castle levantou-se, Kate fez o mesmo. Instintivamente, ele colocou a mão nas costas dela na altura da cintura guiando-a até a saída. 

— Você está de carro? 

— Sim - eles ficaram se olhando por alguns instantes - Castle, eu… 

— Eu me diverti muito - ele se antecipou. Ela riu. Era exatamente o que ia dizer. De certa forma, ela sentiu-se aliviada por não ter dito. 

— Foi interessante. 

— É um começo, amanhã tem mais. Eu prometo que mudarei seu conceito sobre o natal. Tenho obrigação de faze-la gostar da magia - dessa vez, Kate gargalhou. O som da risada o atingiu em cheio. 

— E eu achando que era apenas seu sorriso que era lindo, sua gargalhada é cativante. Devia fazer isso mais vezes - ele se aproximou dela, não conseguiu resistir acariciou de leve seu braço e beijou-lhe o rosto devagar lutando contra a sua própria vontade de beijar-lhe os lábios outra vez - boa noite, Kate. Até amanhã. 

— Boa noite, Castle - ela caminhou vagarosamente para o carro. A caminho de seu apartamento, ela se pegou pensando nos acontecimentos da noite. Ainda achava meio louco ter aceitado o convite de Castle para fazer compras. Isso não era de seu feitio. Não sabia explicar, mas ele a fazia agir diferente. Seu telefone vibrou tirando-a de sua reflexão. Como já estava na garagem do prédio, esperou até estacionar o carro para ver a mensagem. Claro que era de Castle. 

“Segue o meu endereço. Quarto andar. Te vejo às 11h. Doces sonhos, Kate. RC” - ela respondeu “Amanhã. KB” 


Kate deitou se na cama e ficou olhando para o teto. De repente, se lembrou que não tirara o colar com o solitário da mãe. Ela sempre tirava antes de se deitar, era parte de seu ritual. Hoje, ela optou por dormir com ele. Como se quisesse a mãe próxima a si. 


Continua....

3 comentários:

rita disse...

Amei!! Muito lindo! Espero ansiosa os próximos capítulos. Bom Ano Novo! Abraços.

cleotavares disse...

Nossa! Amei. Um Castle mais atrevido, mais direto, pegando a Kate de jeito, tacou-lhe logo um beijo, gostei.

"Vai devagar, Grinch! kkkkkk "tadinha" da Beckett, esse Grinch é assustador, não aguento mais vê-lo no Cartoon.

Unknown disse...

O que dizer surpreendente sempre arrasando, gostei de vê mas uma das suas fins e já ansiosa para mas um capítulo .
PS.desejo um final de ano extraordinário com muito amor, e que o ano que vai começa seja repleto de amor e muita paz .
Que Deus abençoe a todos nos ,e desejo que você continue sempre arrasando com suas fins todas elas ,e sempre nos blindado com seu talento beijos e um excelente e próspero fim de ano💖💖💖💖💖💖💖