Nota da Autora: Depois de um longo break e um susto finalmente um novo capítulo. Com ele, entramos na reta final dessa fic mas nada de nervosismo! Ainda teremos história para uns quatro capítulos, talvez. Um dia de cada vez. Enjoy!
Cap.17
As mãos estavam amarradas apenas por
uma precaução. Mesmo grávida, Bracken conhecia muito bem sua oponente de sangue
quente além do tamanho da sua raiva. Ela seria capaz de pular sobre ele e
machuca-lo, sem sombra de dúvida. Percebeu a mudança na respiração dela, sinal
de surpresa e raiva crescente se formando. Sabia por que estava ali, durona
como era iria discutir com ele, mas dessa vez, tinha muito a perder.
- Faz pouco tempo que a vi, Agente
Beckett. Não sei se recorda quando. Você andou mexendo com pessoas poderosas
nos últimos meses de FBI não? Aliás, acho que você sempre teve queda para
buscar justiça desmascarando aqueles alvos mais difíceis, está sempre buscando
se colocar na linha de tiro, do perigo. Algumas pessoas diriam que isso é um
ato de coragem, eu prefiro interpretar como arrogância ou burrice, ainda estou na dúvida e por esse motivo estou
aqui. Foi um belo trabalho oque você fez com o Senador Denver. Deve estar
orgulhosa. Mas a vingança não é algo saudável, Kate. Você mais do que ninguém
já deveria ter aprendido. Sua sede por justiça tirou a vida de homens bons,
prestativos. Não acha?
- Eles eram a escória com exceção do
capitão Montgomery.
- Esse é o seu ponto de vista. De
qualquer forma, tenho um assunto específico para tratar com você. Entendo que o
senador Denver foi desmascarado como chefe de uma operação ilegal envolvendo a
máfia chinesa e lesando o nosso país – percebeu o olhar confuso - Sim, o
Comandante me contatou ontem à noite. Cabe a mim destitui-lo do cargo de
senador, uma perda lastimável para o país.
- Não seja cínico! Sei muito bem que
você trabalha com ele, é sócio nessa sujeira toda. Dinheiro sujo para financiar
suas despesas para campanha política podre!
- Oh,oh...cuidado com o que diz,
Beckett. Levantar falso testemunho é crime e certamente acaba com a carreira de
uma pessoa. Não tenho envolvimentos com o senador Denver. E cumprirei meu papel
de representante do povo aplicando as penalidades que a justiça sugerir para um
homem traidor como Robert.
- Que cara de pau! Como você
consegue mentir tão descaradamente? Você é o cabeça de tudo, sua ideia, seus
negócios. Denver não passava de um peão em suas mãos, aliás como tantos outros
já foram: Dick Coonan, Lockward, Montgomery, a lista é enorme.
- Ah, nada muda para você não? O mesmo
blablabla... os anos passam, você conquista coisas novas na sua vida mas
continua insistindo no caminho errado. Se você fosse esperta, poderia ter uma
carreira brilhante. Que tal mudar de assunto e falar do que realmente é
importante?
- Ótimo! Qualquer que seja sua
oferta, não aceito.
- Não tão rápido Beckett. A única
razão de você está viva é porque eu lhe prestei socorro. Robert e seu comparsa
iam te deixar morrer. Infelizmente, Denver se deixou levar pela emoção. Não
gostou te ter alguém o pressionando, investigando seu passado e ameaçando seu
ex-brilhante futuro. Um erro típico de falta de paciência e estratégia. Quero
que saiba que nada tive a ver com o acidente contra seu marido. Inclusive
quando descobri o que Robert tinha feito, briguei com ele e afirmei que a
culpa, caso fosse pego, seria exclusivamente dele por contratar pessoas
incompetentes e pior, por não analisar e conhecer seus oponentes, nesse caso,
você e seu marido. O motivo do meu encontro aqui é bem simples. Algo que
ajudará a você e a mim. Da última vez que nós conversamos e nos encontramos,
você acabou salvando a minha vida. Fiquei em dívida com você. Ao contrário do
que possa parecer, sou um homem de palavra. Honro meus compromissos para o bem
ou para o mal. Sendo assim, está na hora de coletar sua dívida, Kate – ele
puxou uma cadeira e sentou-se na frente dela – como estou de bom humor, minha
oferta valerá em dobro. Veja você, na verdade já deveria dar como quitada a
nossa negociação visto que fui eu quem prestou socorro e chamou a ambulância
que a levou para o hospital. Salvei sua vida como fez antes comigo. Mas estou
disposto a ceder mais um pouco. Faça o seu trabalho e prenda o Senador Denver.
Tire tudo o que ele tem, faça justiça para os Estados Unidos. Isso não só lhe
garantirá respeito como também pode abrir portas para sua carreira no FBI.
Receberá certamente uma medalha de Honra ao mérito. Em troca da sua vida e de
seu marido, eu apenas alerto sobre a sua responsabilidade para comigo. Se
insistir em investigar ou denunciar a mim como sócio de Denver nessa operação,
você estará acabada. Profissional e pessoalmente. Você, seu marido, a filha
dele. Todos irão pagar pelo seu ato. O que estou lhe oferecendo é a chance de
viver sua vida, com sua nova família e desempenhar seu trabalho quando se
tratar de homicídios afinal você é boa no que faz. Feche o caso do senador,
receba as honras e volte ao seu lugar na NYPD. O FBI não é para uma pessoa como
você, sem aspirações políticas e jogo de cintura. Aceite o trato, é uma
barganha Kate.
- Por que aceitaria, Senador
Bracken? Aliás, por que me faz essa oferta agora? Está com medo, pois sabe que
posso destruir o sonho que vem construindo ao longo de todos esses anos a custa
de inocentes. Ludibriando o povo, matando, roubando. Você tem mais sangue nas
mãos do que um soldado de guerra. Quer ser presidente? Será bem difícil após eu
jogar as provas contra você no ventilador, não? Você me sequestrou covardemente
porque está com medo do que eu possa fazer. Adivinha? Não negocio com
criminosos.
- Kate, Kate.... será que você nunca
irá aprender? Sua teimosia é algo impressionante. Insiste na luta de Davi e
Golias. Uma das coisas mais importantes para qualquer negócio ou estratégia bem
sucedida chama-se segurança. Tenho orgulho de possuir um dos melhores sistemas
de segurança contra hackers e orgãos federais do mundo inteiro. Sou bem
criterioso quando se trata dos meus interesses. Caso você não saiba, o meu
sistema é tão bom que recentemente fiz uma explanação dele para a CIA, devo
dizer que ficaram impressionados e querem fazer negócios, precisamos estar
preparados contra invasões terroristas e mesmo de países aliados – pegou um
tablet com o seu capanga, acessou alguns dados – deixe-me fazer uma pequena
demonstração. Diz ter provas para me incriminar – colocou a tela na frente dela
apontando para um numero específico - por acaso seriam essas aqui? Vê esse
numero? É o IP oriundo do 12th distrito acessando uma conta minha, ou melhor
hackeando. Meu programa identifica todos que acessaram minhas contas, assim
posso saber quem anda fuçando informações indevidas – viu o olhar de
perplexidade de Beckett e sorriu – como pode ver, eliminar qualquer rastro de
invasão e dado é extremamente fácil.
- Você não pode... – a voz quase
sumia ao dizer essas palavras, no fundo tinha certeza que faria.
- Ah, posso sim. Basta uma ordem
para a minha central de informática e tudo desaparecerá. Como pode ver, não tem
muita alternativa Beckett. O melhor a fazer é pegar o que estou oferecendo.
Será melhor para todos. Você poderá acabar com a sua boa reputação se insistir
nisso.
- Isso é um ultraje! Como pode
querer ser o dono da verdade, do mundo. Meu Deus! Não há limite para você? Não
posso aceitar que essa é a única opção. Eu sirvo ao país, à justiça. Ten que
haver outra forma,há sempre outra maneira...
- Sinto dizer que não. Dessa vez
você está enganada. É uma via de mão dupla. Quiproquo. Por que insistir nessa
teimosia? Não há como conseguir sua vingança, Kate Beckett. Desista dela.
Aceite minha proposta e vire a página, comece novamente – ele se ergueu da
cadeira, viu que os olhos dela estavam cheios de lágrimas, o rosto vermelho de
raiva, pelo olhar já podia considerar-se vitorioso - Uma nova vida ao lado de
seu marido, sua familia, fazendo o trabalho que adora. Manterá seu respeito,
terá o reconhecimento do país. É um acordo muito bom, irresistível para ser bem
sincero. Do contrário, você, seu marido e todos os que estima estarão marcados
para morrer. Kate Beckett será o maior fracasso da história da NYPD e do FBI,
acredite em mim.
- Meu marido está numa cama,
vegetando há meses por causa de sua ganância, de sua busca desenfreada de poder
– falava entre lágrimas – eu não posso salva-lo... e-ele nem sabe... isso é...
- Deve ser difícil conviver com a
impotência, ter uma arma, um distintivo e não poder usa-lo. Como disse, não
tive nada a ver com o que aconteceu ao seu marido. Na minha opinião, Robert é o
único culpado. Não seja como ele, deixe seu orgulho de lado e recomece. Algo me
diz que seu marido acordará em breve, chame isso de intuição. Está mesmo
disposta a ser tão teimosa e implicante a ponto de morrer e se tornar uma
assassina por uma vingança que já expirou a mais de quinze anos? – calou-se por
um momento para observa-la. Tinha o rosto vermelho, marcado por lágrimas.
Sentia-se um nada, um zero à esquerda. Naquele quarto escuro, toda a sua honra
desaparecera, sua dignidade ferida e não havia saída - Temos um acordo?
Ele acertara em cheio. A palavra era
impotência mesmo. Não havia nada que pudesse fazer. Não tinha armas para lutar
nessa guerra. Tudo o que lutara, que acreditara, o que ela se tornara a partir
das escolhas que fizera por justiça aos inocentes, aos mortos, a sua mãe. Tudo
o que sabia fazer na vida parecia perder seu propósito nesse momento. Estava
diante de uma escolha novamente: ser o que contruira, a policial enérgica e
lutadora, ávida por justiça prestes a ver seu nome na lama ou engolir o
orgulho, cuidar da sua familia e se contentar em honrar os mortos que viessem a
aparecer em seu caminho, curvando-se ao seu maior inimigo. O pior era saber que
só existia um caminho. Engolindo em seco, soltou um longo suspiro e tornou a
fita-lo nos olhos. Resiliência, paciência e força. Era o que precisava naquele
momento. Bracken comemorava sua vitória internamente.
- Tudo bem. Você venceu. Encerrarei
o caso com o senador Denver, voltarei ao 12th distrito e viverei minha vida.
Foi um acordo injusto, senador. Você sabe que eu seria capaz de entregar meu
distintivo pelo meu marido, minha familia. Não pense que estou me rendendo de
bom grado, não tem ideia do que isso significa.
- Um dia você ainda irá agradecer a
mim, Kate.
- Talvez, no dia em que o inferno
congelar – retrucou. Caminhou até a porta e fez sinal para o capanga.
- Desamarre-a depois de cinco
minutos que eu tenha saído. Kate nada de gracinhas, siga seu rumo. Da próxima
vez que nos encontrarmos deverá ser provavelmente no seu momento de
reconhecimento, apenas haja naturalmente. Depois, será como nunca tivéssemos
cruzado o caminho um do outro – abriu a porta e antes de sair virou-se para
fitá-la – quase esqueci, parabéns pelo bebê.
Quando saiu do quarto mal iluminado,
a primeira reação de Beckett foi morder os lábios e fechar os olhos. Ela queria
gritar, colocar para fora toda a raiva e frustração que estava sentindo naquele
momento, ainda não podia. Precisava sair dali o mais rápido possível. O capanga
se aproximou e cortou a corda que a mantinha presa à cadeira. Receoso pelo que
seu chefe o informara, afastou-se completamente dela. Mas Beckett sequer pensava
nisso, não havia propósito apesar de poder descontar um pouco da irritação e
extravasar, o mais importante era sair dali. Levantou-se e vagarosamente
caminhou até a porta. O corpo doía, o estomago revirava, efeitos claros de
stress e tensão. Viu-se em um corredor enorme, ao fim uma porta. Cambaleando,
chegou até a porta que dava para a rua. O capanga a seguiu e fez sinal para
alguém. Havia um cara ao volante de um carro branco esperando. Segurando-a pelo
braço, ele a colocou no banco de trás e informou ao motorista para leva-la ao
hospital de onde a sequestraram. Calada, Kate observava parcamente os
movimentos ao seu redor, envolta numa nuvem de enjoo. Mentalmente, ela pedia a
Deus para estar longe dali o quanto antes. Seu pensamento voltava-se apenas para
Castle. Será que o fizeram mal enquanto ela estava prisioneira?
Ouviu quando os freios foram
acionados. O carro parou e Kate soltou um longo suspiro. O motorista virou-se
para trás e exigiu que ela saísse do carro. O sol forte indicava que já passava
das três da tarde. Quanto tempo ela ficara naquele lugar? As pernas estavam
bambas quando saiu do veículo e firmou-se no chão. Sentia-se fraca, enjoada. O
stress e o pavor das últimas horas atingiram-na em cheio. Correndo até a
lateral de seu carro, ela não suportou mais segurar a ansia de vomito que vinha
revirando seu estomago até ali. Colocou tudo para fora, apenas bile. Um gosto
amargo invadia-lhe a boca. Em meio a lagrimas, ela gritou. Queria expurgar a
sensação de sufocamento que envolvia sua garganta. Deixou-se arrastar pela
lateral do carro até atingir o chão chorando copiosamente enquanto segurava a
barriga e gritava.
- Maldito! Ahhhhh.... nãooooo
Deus....
Um novo grito chamou a atenção de um
paramédico que acabava de colocar um paciente grave vítima de acidente na maca
e entrega-lo ao médico residente. Seguindo o caminho do som, ele a encontrou
sentada ao chão.
- Hey, moça... está tudo bem?
Deixe-me ajuda-la – estendeu a mão para Kate a fim de ajuda-la a levantar.
Receosa, aceitou. De pé, ele tomou-lhe o pulso. Estava normal, apenas um pouco
acelerado. Parecia não ter sofrido nada talvez apenas o enjoo ou alguma dor
interna – está sentindo dores, enjoo?
- Não...eu – passou a mão no rosto –
eu tive um enjoo, algo que comi... natural da gravidez. Vou ficar bem.
- Não quer que te leve para fazer
uma avaliação? Estamos na frente do hospital mesmo, não custa nada. Podemos
checar se está tudo bem com o seu bebê.
- Obrigada, mas quero mesmo ir para
casa.
- Esse é o seu carro? – anuiu com a
cabeça – prefere que eu te leve, talvez seja melhor você não dirigir.
- Ok, aceito a carona – disse numa
voz fraca. Apoiando o corpo de Kate, o rapaz a guiou até a ambulância dos
paramédicos. Avisou ao seu parceiro que iam dar carona a ela. Acomodando
devidamente a mulher grávida no carro, pediu o endereço e rumaram para o
apartamento de solteira de Beckett. Ao chegarem, ela agradeceu a ajuda e ouviu
várias recomendações deles. Mal abrira a porta, foi direto para o quarto e
jogou-se na cama. Em posição fetal, ela se rendeu ao choro.
Kate não sabia dizer quanto tempo
havia se passado desde que adormecera. Estava escuro. Consultando o celular,
verificou várias chamadas perdidas do 12th e de Martha. Já passava das oito da
noite. Ainda com o corpo doído do stress, dirigiu-se ao banheiro e meteu-se
debaixo do chuveiro. Ficou um bom tempo sentindo a agua na cabeça e nas costas.
Acariciou a barriga e tornou a pensar em Castle. O que ele diria se soubesse
que ela cedera à chantagem de Bracken? Kate não se arrependera do que fizera,
se lhe dessem as mesmas escolhas, repetiria a decisão. Nada era mais importante
que ele na sua vida. Agora, porém, precisava se preparar para enfrentar a
segunda parte da provação. Acompanharia o desfecho do caso e esqueceria aquilo
que encontrara sobre Bracken. Torcia para que Tory ficasse calada. Quando tudo
acabasse, ela falaria com a técnica.
Já de camisola, sentou-se na cama e
retornou as ligações, primeiro para Martha. Explicou que passara boa parte do
dia no hospital e depois viera para seu apartamento pois estava muito cansada.
Informou que dormiria ali mesmo e no dia seguinte voltaria para o loft. Em
seguida, ligou para Esposito a fim de saber o andamento do caso. O amigo lhe
reportou as últimas inclusive que o senador Bracken já havia sido comunicado da
possível demissão que teria para fazer. O juiz pedira uma semana para chama-los
ao tribunal e julgar propriamente Denver em uma sessão privada. Provavelmente
apenas Gates participaria com McQuinn e seu chefe no FBI. Agradeceu as
informações e pediu que a qualquer novidade, a mantivesse informada.
Sem sono, Kate serviu-se de um
punhado de uvas e berries sentando-se na frente do notebook para tentar
escrever. Estava na reta final da aventura de Nikki Heat e sabia muito bem como
terminaria a história agora. Bem diferente do que ela havia imaginado e ainda
assim, muito real. Abrindo o documento, começou a escrever.
Após três horas, ela finalizara a
história faltando apenas a conclusão que colocaria em um epílogo, mas não hoje.
Arrastando-se até sua cama, deitou-se e agarrando uma camisa de Castle que
mantinha debaixo do travesseiro, fechou os olhos e adormeceu automaticamente.
Dois meses antes...
Duas semanas passaram voando. A
sentença final do senador Robert Denver foi declarada em sigilo para uma corte
reduzida. Seria destituido de seu cargo, teria seus bens congelados ficando sob
análise do FBI e da receita federal. O FBI fecharia cada uma das boates
identificadas na investigação e indiciaria os supostos donos por sonegação de
impostos e trafico de drogas. O ex-senador cumpriria pena em Sing Sing por
vinte anos. Também estava proibido de exercer qualquer cargo público. O seu
comparsa, pegara doze anos por crimes diversos e as duas tentativas de
assassinato. Ao final da segunda semana, o anuncio feito por Bracken foi
transmitido no jornal de todos os estados americanos. Ouvir aquele homem
falando de lealdade, justiça e respeito ao país lhe enojou a ponto de querer
desligar a tv. Então, ele conseguiu se superar ao mostrar profundo pesar pelo
ocorrido e aclamar a investigação do FBI, o trabalho dos agentes e da NYPD,
anunciando que alguns deles seriam congratulados em uma cerimônia em Washington
por sua presteza e dedicação aos Estados Unidos.
Kate voltou ao distrito na semana
seguinte ao anuncio televisivo a pedido de Gates. A Capitã queria parabeniza-la
mais uma vez e entregar todo o processo que deveria ser anexado aos seus
relatórios no FBI para completar o caso e da-lo como encerrado. Também entregou
o convite formal para a cerimônia em Washington.
- Sabe Beckett, eu acredito que você
não receberá apenas uma medalha por serviços prestados. Terá outro tipo de
recompensa.
- O que quer dizer, senhora?
- Devem lhe dar uma promoção. Foi
sua insistência nessa investigação que poupou o país de perder milhões de
dolares. Seu superior me confidenciou que exigiu a você que largasse o caso por
ser um beco sem saída. E olha o que aconteceu! Eu sempre disse a você que
brilharia, sua escolha em ir para o FBI só prova isso. Nem ao menos tem dois
anos de casa e veja o resultado! – Gates falava empolgada, com orgulho da sua
ex-detetive infelizmente Kate não sentia-se tão satisfeita assim. Ela
aproveitou a deixa da capitã para sondar o terreno, se havia uma possibilidade
de promoção era a hora de cumprir a outra parte do trato que firmara naquele
fatídico encontro com seu algoz.
- Capitã, tem ideia do que seja essa
promoção?
- A julgar pela sua função no Bureau,
diria que deixará de ser agente junior para ser pleno ou mesmo coordenar uma
divisão menor dentro da procuradoria. É bem excitante não? – Gates sorria.
- Sim, mas apesar de me sentir feliz
pelo reconhecimento, sinto que essa experiência no FBI me desviou um pouco
daquilo que almejo para meu futuro.
- Mas o céu é o limite, Kate. Pelo
menos para você. Tem uma carreira exemplar, pode almejar e alcançar o que
quiser seja na policia, na federal e até quem sabe na CIA? Essa sua ideia de
futuro, tem algo a ver com o Castle? Está pensando em desistir por causa dele?
Se for isso, Kate mesmo não simpatizando com o jeito dele e alguns de seus
comportamentos, de uma coisa tenho certeza. Ele seria o primeiro a apoiar sua
ascensão, a se orgulhar de você. Pense bem antes de tomar uma decisão
precipitada.
- E se nada disso que a senhora
disse estivesse atrelada a minha decisão? E se meu futuro estivesse vinculado a
quem eu realmente sou, Capitã?
- E quem é você, Kate Beckett?
- Sou uma policial. Um soldado da
justiça. Minha vida é a homicídios, adoro ser detetive. Meu passado me trouxe
aqui e por causa disso aprendi a respeitar os mortos e honra-los. Fazer
diferença para as familias e compartilhar um pouco da sua dor que a alguns anos
foi a minha. Se não me tornei advogada por escolha, essa é a minha forma de
fazer justiça, minha versão do direito. A cada caso fechado, a cada assassino
que coloco atrás das grades, sinto estar mais próxima de conseguir honrar minha
própria mãe. Essa sou eu, Capitã Gates.
A Capitã viu que a mulher a sua
frente estava emocionada, diacho! Ela também estava. Foram poucas vezes que
ouvira declarações de amor tão bonita e sincera ao distintivo da policia.
- Kate, faça o que seu coração
mandar. O que você escolher será o correto. Eu ficarei ao seu lado e acatarei
sua decisào. Nunca escondi de ninguem que gostaria de tê-la de volta ao meu
distrito.
- Obrigada, Gates. Prometo pensar
muito bem.
- Te vejo em DC daqui a quatro dias,
Beckett.
Kate seguiu para o hospital a fim de
ver Castle. Antes, passou no loft e perguntou por Alexis. Tinha consulta
naquela tarde e quis saber se a enteada gostaria de acompanha-la. Martha
informou que ela estava em uma semana de seminario na Columbia e sequer
apareceria até a proxima semana. Assim, estendeu o convite à sogra que aceitou
feliz em poder estar participando da gravidez de Kate.
A consulta foi bem tranquila e
rápida. A médica, contudo, ressaltou que Kate deveria alimentar-se melhor e
começar a ministrar algumas vitaminas que apareceram deficientes em seus
exames. O bebê estava muito bem. Durante o ultrasom, ela manteve-se de olhos
fechados como de costume apenas ouvindo as observações da doutora. Esse era o
método que Kate desenvolvera para não saber o sexo da criança. Martha
emocionou-se ao ouvir o coração forte e agitado do bebê. A gestação estava em
seu sétimo mês e a médica descartou a possibilidade de antecipação e de um
parto prematuro. Quis saber se era seguro pegar um avião nesse estado. A médica
sugeriu o carro para evitar qualquer surpresa. A próxima consulta deveria
ocorrer dali a três semanas, quando Kate estivesse quase beirando o oitavo mês.
Saindo do consultório foram comer
quando Martha aproveitou para saber porque Kate questionou a médica sobre
viagens.
- Posso saber por que está pensando
em viagens?
- Recebi um convite para ir a
Washington daqui a quatro dias. Segundo Gates, o secretário de justiça, o
diretor do FBI e o Comandante da NYPD querem parabenizar a equipe do caso
Denver. Parece até que o presidente vai estar lá além de outras figuras
públicas do governo.
- Hum, será uma festa e tanto.
- Não estou com a mínima vontade de
comparecer, porém preciso resolver meu futuro. Esse é o meu objetivo principal
de ir até lá.
- Precisamos arrumar um traje de
gala para você. Que tal fazermos isso agora? – Kate sorriu e aceitou a ajuda de
Martha não iria fazer isso sozinha mesmo – quem irá com você, Kate?
- Irei sozinha. A única pessoa que
poderia me acompanhar era seu filho.
- Não é verdade – Martha replicou
apertando a mão da nora que deixou escapar um suspiro ao pensar no homem ainda
em coma – porque não chama um dos rapazes para lhe acompanhar? Esposito
talvez... é apenas uma sugestão.
- Vou pensar. É um momento meu,
entende?
- Perfeitamente.
Compraram um vestido para ela. Kate
pensou sobre a sugestão de Martha e decidiu ir sozinha mesmo. Na festa, poderia
se juntar a McQuinn. Não queria ter ninguém que soubesse da sua história com
Bracken para que não percebesse qualquer deslize dela frente ao senador.
Esposito certamente notaria. Decidiu deixar Manhattan pela manhã no dia
anterior à cerimônia para que pudesse ir tranquila e estar descansada. O peso
da barriga não a permitia fazer muitos exageros agora.
A viagem durou uma hora a mais do
que geralmente levaria, mas após instalar-se no hotel, ela entrou em contato
com McQuinn que prontamente se ofereceu para leva-la a festa.
De frente para o espelho, ela
observava seu reflexo já pronta. Kate se preparava para mais um momento de
decisão, mais uma bifurcação no seu caminho de vida para escolher e continuar
seguindo em frente. Desde o encontro com Bracken, Kate manteve suas análises
apenas em seus pensamentos. A única pessoa para quem ousaria contar era Castle.
Não foi pelo fato de não ter a certeza de que ele pudesse lhe ouvir que evitou
mais um monólogo no quarto de hospital. O não fazer teve um outro motivo. Para
Kate Beckett expor sua decisão era torna-la real. Saber que engolira mais um
sapo, doía admitir que perdera a batalha novamente. Não esconderia o que
aconteceu de Castle, somente não estava pronta para contar seus próximos
passos. No fundo, gostaria de lhe contar em uma conversa aberta e honesta
quando pudessem dialogar como um casal de verdade.
J Edgar Hoover
Salão de Festas do FBI
O espaco estava devidamente decorado
de forma patriótica. Várias mesas foram espalhadas contendo o nome das pessoas
que as ocupariam. O púlpito fora montado a frente de um painel com o simbolo do
FBI e a águia americana. O salão estava repleto de pessoas querendo saber um
pouco mais dos detalhes do caso Denver e principalmente conhecer os agentes
envolvidos. McQuinn avisou-a para se preparar quanto ao assédio dos curiosos.
Todos queria saber quem era Kate Beckett, a novata do FBI responsável por
derrubar, no bom sentido, um dos senadores mais bem votados e poderosos da
América. Kate já imaginava que a noite seria uma espécie de prova de fogo. Ela
detestava esses eventos cheios de sutilezas falsas e politicagem. Nessas horas,
Castle era de uma maestria impecável. Colocava todos os inconvenientes no bolso
tão sutilmente que eles nem percebiam estarem sendo insultados.
Avistou o seu chefe e o diretor do
FBI de pé próximo a uma das mesas onde pode enxergar o Comandante da NYPD. Mais
adiante, Gates conversava com uma outra pessoa que ela desconhecia. A
cerimonialista indicou a mesa deles e prontamente Kate procurou sentar-se.
Talvez as pessoas a respeitassem por estar grávida. Percebeu o murmurinho no
salão assim que entrou e logo alguém se aproximaria para fazer perguntas.
Bingo, pensou ao ver dois homens vindo em sua direção acompanhados de seu
chefe.
- Olá, Agente Beckett. É bom
revê-la.
- Olá, senhor – cumprimentou-o
respeitosamente.
- Gostaria de lhe apresentar duas
pessoas chaves do FBI e da CIA. Este é Mark Roberts, diretor assistente
responsável pelas divisões de crimes financeiros.
- Estou realmente impressionado com
o seu trabalho, agente e devo acrescentar, grato também pelo que fez ao país.
- Obrigada, senhor. É um prazer
conhece-lo – disse educadamente. O outro senhor se antecipou e apresentou-se.
- Agente Beckett, sou Richard Parker
chefe da divisão de terrorismo e combate à substancias ilícitas. Você tem um
bom olho, agente. Senso de observação e raciocínio lógico. Nunca considerou
trabalhar para a CIA? Seria uma experiência e tanto principalmente com o seu
tino de investigação.
- Na verdade nunca pensei sobre
isso. Meu marido certamente adoraria a ideia de estar casado com alguém da CIA
– ela sorriu lembrando do semblante empolgado que Castle exibia sempre que
algum de seus casos traziam a remota possibilidade de ter o envolvimento da
agencia em questão – não sei se tenho aptidão para lutar contra o terrorismo,
senhor.
- Não sei se aptidão é o termo
correto, mas há sempre uma primeira vez. E seu marido talvez aprove por
conhecer do que é capaz, Beckett.
- Pena que não possa opinar sobre o
assunto – o homem percebeu o tom de tristeza na voz, assunto delicado o que
acabara de ser abordado.
- Sinto muito pelo que aconteceu,
agente. Tenha fé. Conversaremos mais tarde, não? – ela sorriu observando o trio
se afastar dela. McQuinn voltou à mesa com uma taça de vinho e um suco. Vendo o
semblante da colega, ele educadamente perguntou o que se passara.
- Todos parecem inclinados a me
darem um novo desafio, um novo emprego. Como se isso me interessasse... tudo o
que queria agora era estar de volta ao quarto de hospital de Castle e ser
surpreendida pela voz dele acordando do coma e chamando meu nome – sentiu o
aperto de mão em sinal de compreensão de McQuinn.
Por mais uma hora, ela conheceu
outros figurões de cargos respeitosos e novas insinuações sobre propostas de
trabalho aconteceram. Nenhuma a interessava tanto quando a de voltar a NYPD,
não somente pelo seu acordo com o senador mas principalmente por ser ali sua
segunda casa. A cerimonialista chamou a atenção dos presentes para o início da
cerimônia. Gates veio se juntar a eles na mesa antes de começar e apenas
confirmou o que já havia alertado a Beckett, o assédio e as oportunidades
estaria à vista naquela noite. Em algum momento, ela seria exigida para fazer
sua escolha.
O senador Bracken subiu ao púlpito e
discursou sobre os últimos acontecimentos. Palavras típicas de um político.
Enaltecendo a justiça e o trabalho de homens e mulheres por um país melhor.
Falou da surpresa ao saber da traição de um dos homens eleitos para representar
o povo e tantas outras frases do bordão político que apenas fazia aumentar o
nojo de Kate. Será que isso não terminaria nunca? – pensou – então o senador
chamou ao palanque o secretário de justiça e o Diretor do FBI. Em seguida,
anunciou que estariam chamando para se juntar a eles alguns homens e mulheres
que representaram muito bem o país para receber uma medalha de Honra ao Mérito
pela sua dedicação. Pelo menos agora sabia que estava prestes a terminar.
Primeiro chamou o promotor de New York que atuou no tribunal, seguidos de seu
assistente e do representante do FBI especializado em crimes financeiros.
Depois foi a vez do Comandante e da capitã Gates representando a NYPD.
Finalmente, ela e McQuinn. Quem entregou
a medalha para Kate foi a autoridade do FBI agradecendo-a várias vezes e
pedindo para ela se dirigir à mesa dele após a cerimônia. Posaram para a foto e
infelizmente Beckett não escapou de ser cumprimentada por Bracken, uma vez que
fugir ou virar o rosto era uma atitude totalmente insurbordinada quando se
estava de frente para o secretário da justiça.
Procurando se livrar de toda aquela
firula o mais cedo possível, se dirigiu à mesa do Diretor do FBI. Ali já se
encontravam o mesmo senhor da CIA, o Comandante da NYPD e seu chefe atual. Foi
o Comandante quem fez sinal para Beckett sentar-se na cadeira vazia ao lado dele
ficando de frente para o diretor.
- É um prazer finalmente ter alguns
minutos com a tão falada agente Beckett, no bom sentido por favor. Quem a
conhece é somente elogios. Isso atiça a curiosidade de um homem na minha
posição. Estive conversando com o seu atual superior da Procuradoria. Ele me
disse que a insistência de levar o caso adiante foi sua, isso demonstra que
segue seus instintos e que são bem aguçados. Achei muito expressivo a forma
como conduziu o trabalho.
- Obrigada, senhor.
- Mais impressionado eu fiquei ao
saber que esse foi o seu primeiro grande caso no Bureau. Você ainda é agente
junior, transferida a pouco tempo comparada a muitos agentes que tem oito, dez
anos que deixaram a academia e ainda assim não se mostraram tão bem-sucedidos.
Há exceções, logicamente. Talvez seja o fato de ter vindo da homicídios, eles
geram os melhores detetives. Não pareça tão surpresa agente, eu analisei seu
currículo.
- Mais uma vez, senhor só tenho a
agradecer e dizer que fiz o meu trabalho. Qualquer outro agente competente e
dedicado faria o mesmo.
- Aí é que você se engana, Beckett.
Ano após ano, eu e meus colegas avaliamos curriculos e nos forçamos a destacar
pelo menos dois agentes que merecem uma oportunidade de ganharem desafios e
serem considerados “le creme de la creme”. Você se encaixa no perfil. Conversei
bastante com o seu superior, Richard e também com seu ex-empregador o
Comandante da NYPD. Chegamos todos a mesma conclusão. Você não é uma agente
junior, você é superior. Merece chefiar seu próprio time e departamento.
Gostaríamos de oferecê-la uma posição de chefia no departamento de terrorismo.
Sua experiência com mortes e serial killers podem ajuda-la nessa possivel nova
tarefa. O que acha da proposta? Tentadora? – ele sorria.
- Sim, certamente é.
- Isso quer dizer que você está
interessada? Podemos considerar seu nome então. Fato é agente Beckett, você é
valiosa para o país e com esse caso nos provou isso. Queremos promove-la. O que
me diz?
- Senhor é uma honra ser reconhecida
por meu trabalho. Porém, antes de lhe dar a resposta, gostaria de comentar um
pouco sobre minha experiencia no FBI – nesse instante repara que Bracken se
junta a eles na mesa, mantém o olhar para o diretor, evitando-o - Quando eu
decidi entrar para a academia de polícia, tinha um objetivo pessoal que
certamente é o de todo aspirante a policial. Fazer justiça. Eu acredito nela
mesmo que em alguns momentos já tenha sido surpreendida com decisões, ou possa
ter esperado um tempo a mais para atingir o objetivo de determinado caso. Já
perdi a conta de quantos assassinos coloquei atrás das grades. Quando surgiu a
vaga na Procuradoria, pensei, esta é a minha chance de fazer mais. A realidade
foi um pouco diferente. Não me entenda mal. Os meses passados no FBI, abriram
minha mente para vários assuntos sequer abordados em uma delegacia, o ritmo de
trabalho é diferente, há mais burocracia. Tive que me adaptar, entender a
hierarquia e o funcionamento. Uma experiência valiosa sobre pontos de vistas,
comportamentos e posso dizer política. Eu cresci muito nesses últimos meses
trabalhando no Bureau, tanto a ponto de enxergar o que realmente quero.
- E o que seria, agente Beckett?
- A Homicídios. Voltar a NYPD – o
diretor olhou-a surpreso – não me julgue ou entenda mal, diretor. Tenho o maior
respeito para com os agentes do governo, homens e mulheres que se dedicam a
essa agência, acredito que fazem trabalhos fascinantes em prol do país.
Infelizmente, esse não é o meu desejo. Quero servir ao meu país de outra
maneira. Sendo a policial que sempre quis. A detetive que honra famílias colocando
atrás das grades bandidos e assassinos. Gosto de um resultado mais imediatista.
Olhar no rosto de uma esposa, mãe, pai que perdeu alguém querido e dizer a eles
que o monstro está isolado atras das grades e não incomodará outro inocente. É
claro que nem todos são tão ingenuos assim, mas esse é o trabalho que amo
fazer, no qual meus instintos servem de guia, minha força me move em busca da
verdade e possa fazer justiça sem esquecer o lado humano de tudo. Sou uma
detetive de homicídios, isso é o que sei fazer de melhor. Sendo assim, agradeço
sua proposta mas a minha resposta é não.
- Comandante, você não poderia estar
mais orgulhoso desse discurso não? – brincou o diretor – não é todos os dias
que alguém recusa uma posição de nível no FBI e devo dizer, agente Beckett, que
você o fez com uma elegância e uma determinação de deixar muitos homens sem
ação. Você tem coragem e paixão, sentimentos raros hoje em dia em alguém que
serve a lei – estava sério, Kate tentava disfarçar o nervosismo. Não sabia o
que esperar daquele homem poderoso – Sabe, podia dizer que estou ofendido, não
é esse o caso.
- Diretor, se me permite... – era o
senador que resolvera intervir. O diretor consentiu meneando a cabeça – já tive
a oportunidade de ver a detetive Beckett em ação. É muito boa. Na verdade, ela
salvou minha vida uma vez. A polícia de New York deve bastante a ela.
- É verdade, agente Beckett? Não
sabia disso.
- Sim, senhor. Foi durante um caso
em que o senador estava sendo ameaçado de morte – era difícil falar dele, por
dentro ela gritava e xingava-o de nomes inimagináveis – apesar do senador achar
que eu estava errada à princípio. Felizmente, tudo acabou bem.
- Será que não vou parar de me
surpreender com você, agente? Bem, se declinou minha proposta tão cordialmente,
imagino que tenha uma idéia do que quer fazer. Pode dividir conosco?
- Senhor, não estou exigindo nada.
Ficou satisfeita em voltar para o distrito onde trabalhava anteriormente
exercendo minhas funções de detetive senior. Servir a cidade onde nasci, cresci
e pretendo criar meu bebê. A cidade que amo, isso me basta.
- Muito bem, acredito que sua Capitã
e o Comandante da NYPD não se opõem ao seu pedido. No entanto – ele virou-se
para fitar o Comandante – temos que resolver um pequeno detalhe. Poderia chamar
a capitã do 12th distrito? – o chefe atual de Beckett se levantou para trazer
Gates até a mesa.
- Pois não, Comandante? – olhou para
Beckett e sorriu. Alguma coisa bem interessante estava sendo discutida ali, não
tinha dúvidas que era o futuro de Kate Beckett.
- Capitã Gates, hoje é seu dia de
sorte. Lembra quando me comentou sobre a perda em seu distrito com a saída da
detetive Beckett?
- Ah, sim mas foi apenas um pequeno
desabafo. A agente Beckett estava exercendo uma função igual ou tão mais importante
do que ela fazia no meu distrito. Competência e talento ela tem para isso.
- Interessante você fazar esse
comentário, pois para a agente Beckett, a função que realizava não era tão
importante em seu julgamento. Nós oferecemos um cargo de chefia no FBI para ela
que educadamente declinou. Após uma certa surpresa, a mesma que eu vejo em seu
rosto agora, nos explicou o porque. Sendo assim, gostaria de saber se a Capitã
está disposta a receber a sua ex-detetive em seu distrito para retomar as
funções de investigadora especializada em homicídios? – Gates buscou o olhar de
Beckett ainda intrigada pela recusa dela frente ao Bureau.
- Você quer voltar ao 12th? Voltar a
atuar como detetive? Nossa! – ao ver a afirmação feita por Beckett com a cabeça
e o sorriso – por essa eu não esperava. Mas claro que a receberei de braços
abertos. Beckett é minha melhor detetive.
- Bom saber, porém tem uma condição.
Ela não voltará como detetive, será promovida a Tenente.
- Comandante, senhor – era Beckett
quem falava – apenas quero voltar a investigar homicidios, não me preocupa o
título. Posso continuar sendo detetive.
- Ainda assim, mesmo que seja
detetive, você merece a promoção por reconhecimento e mérito, por serviços
prestados ao país. Você volta ao 12th distrito da NYPD como Liautenant Beckett.
Estamos de acordo, Capitã?
- Absolutamente – estendeu a mão
para o Comandante que a cumprimentou e posteriormente a Beckett – bem-vinda de
volta, Tenente Beckett.
- Obrigada, senhora – sorrindo para
a sua superior, de certa forma aliviada.
- A cidade de New York se orgulha de
ter alguém como você, Tenente zelando pelos seus cidadãos. Cuide bem dela,
Capitã. Talvez possa ser sua substituta. Creio que posso confiar em sua
presteza para preparar as documentações pertinentes para a promoção, correto.
- Claro, Comandante. Eu cuidarei bem
dela. Com sua licença. Gates se distanciou da mesa fazendo com que os olhares voltassem
para Beckett. O senador sorria sarcasticamente na direção dela. Devia esta
comemorando sua vitória internamente. O diretor do FBI estendeu a mão para ela.
- Foi um prazer imenso conhece-la,
Liautenant Beckett. Caso mude de ideia ou mesmo precise de ajuda em algum caso
futuro, não hesite em me contatar – entregou um cartão a ela – as portas do FBI
permanecerão abertas a você. Ah, e parabéns pelo bebê. Boa sorte e um bom
retorno a New York.
- Obrigada, senhor. Com licença –
aproveitou para apertar a mão do Comandante.
- Nos vemos em New York. Parabéns,
você mereceu tenente – Beckett sorriu para o superior e afastou-se da mesa em
busca de McQuinn. Ao vê-lo em um canto com uma mulher, resolveu não
incomoda-lo. Saiu do prédio e pediu um taxi que a levou até seu hotel. Ligaria
pela manhã para ele antes de ir embora. Pela primeira vez, desde seu sequestro
ela realmente se sentia segura e aliviada. Estava voltando para casa, afinal
seu coração nunca deixou New York para trás.
O processo para sua promoção
demoraria pelo menos um mês e Kate Beckett não estava preocupada com isso por
hora. Ainda teria que receber sua licença-maternidade e pelo menos por uns três
meses após o parto não voltaria ao trabalho. Quando voltou ao loft, sua
prioridade foi terminar o livro de Castle para que Gina fizesse sua parte como
editora e arrumar o quarto da criança que estava prestes a chegar. Em uma
semana, ela completaria oito meses e a gravidez se aproximava de seu final.
Sentada a frente do notebook, estava
na última de dez paginas do epílogo. Era o momento das palavras finais. Fitou o
porta-retrato com a foto deles sorrindo em cima da mesa do escritório de
Castle. Buscava pelo fechamento ideal. Sorriu desejando de volta aqueles
momentos a dois, suspirando, seus olhos voltaram-se a tela e os dedos começaram
a dançar no teclado. Cinco minutos depois, ela tomava um pouco de suco e relia
o texto.
- “... havia muitas batalhas a serem
travadas. Cada uma com suas particularidades. Nikki Heat enfretara algumas bem
difíceis na sua carreira. Não se pode ganhar todas, repetia a si mesma. Escolha
aquelas que valham a sua dedicação, o seu tempo e que lhe traga um sabor
indescritível com a vitória. Saiba escolher quais lutar. Os grandes guerreiros
aprendem com os erros e as derrotas porém nem eles jogaram-se de cabeça em
todas elas ou peitaram inimigos inescrupulosos sem estarem devidamente
preparados ou sairem feridos fisica e psicologicamente. Algumas vezes, era
preciso recuar dois passos e esperar o momento correto do cheque-mate. Foi esse
o caminho que Nikki escolheu. Viveria para ver nascer mais um dia. Continuaria
lutando pela justiça. Não esqueceria, um dia faria aqueles que mereciam pagarem
por cada um dos crimes cometidos. Não hoje.
Nikki saiu de seu carro protegendo
os olhos com os óculos escuros. Ao fim do beco, jazia um corpo assassinado.
- O que temos aqui? – e assim
começava mais uma manhã típica na cidade de New York.
THE END”
Satisfeita, salvou o documento e
enviou via email para Gina.
XXXXX
Diariamente, Kate visitava Castle no
hospital. Os exames periódicos continuavam a demonstrar que o cérebro
permanecia intacto e dormindo. Cuidava da higiene dele, fazia a barba e
conversava sobre a criança que logo estaria entre eles da mesma forma que fazia
antes, colocava a mão dele sobre sua barriga e contava histórias sobre o pai
para o ser que crescia dentro dela. Alexis ajudou-a a decorar o quarto do novo
membro da família Castle. Os enfeites eram em tom de bege e branco por
enquanto. Kate optou por fazer o básico até o nascimento, somente ao saber o
sexo da criança iria decora-lo pra valer.
Gina adorou o final que ela dera a
história de Castle e encontravam-se duas vezes por semana para fazerem os
devidos acertos para o lançamento do livro. A data estava marcada para a
próxima semana. Kate ainda estava relutante quanto ao pedido de Gina para fazer
leitura e dizer algumas palavras. Como poderia substituir o escritor? Seria uma
homenagem, sabia, mas afinal qual seria a coisa certa a dizer?
A propaganda estava nas principais
livrarias da cidade, outdoors e sites. A editora recebera milhares de pedidos
em pré-venda. Talvez Gina tivesse uma ideia do que esperar devido à situação
desenhada em torno desse lançamento. Um livro escrito parcialmente por Rick
Castle com a colaboração de sua esposa e musa Kate Beckett. A dimensão fora
além, a curiosidade dos fãs mais fervorosos em saber como a detetive terminara
o trabalho do escritor, gerou vários tópicos de discussão na internet colocando
Heat Blow como trending topic do twitter antes mesmo de ser lançado. Havia
muita expectativa sobre o livro, certos fãs chegaram a dizer que este seria o
último e isso servia apenas para deixar Kate mais nervosa.
Seu pai voltara à cidade. Seu
projeto ainda não acabara. Tinha importantes reuniões em Manhattan, o que o
ajudou a convencer o conselho de seu retorno necessário. Além disso, pretendia
passar os próximos três meses para auxiliar a filha no que fosse preciso. Não
que Martha e Alexis estivessem reclamando contudo esse era o seu momento de avô
e mediante ao quadro desenhado da vida de Kate pelo menos até ali, pretendia
cumprir seu papel de pai. Conhecia muito bem a mulher teimosa que criara e
mesmo que estivesse se afogando, não pediria ajuda a ele. Igualzinha à mãe.
Martha preparou um jantar para
recebê-lo e uma certa ideia de família se fez presente pelo menos por um
punhado de horas e Kate pode desfrutar do colo do pai como a um bom tempo não
fazia. A sós, escorada em seu ombro, ela se permitiu chorar um pouco falando de
Castle e da saudade que sentia. Jim acariciava-lhe os cabelos e a barriga. Sua
filha já passara por muitas provações na vida, tinha orgulho de ver a mulher
que se tornara. A coragem e a determinação eram características de destaque
nela, mas sobretudo o amor de um homem e por ele, essa era a força que a movia
todos os dias.
Era uma pena que ele não pudesse
comparecer ao lançamento do livro. Fora muito difícil agendar quatro horas com
o juiz Taylor e perder essa chance resultaria em um atraso de no mínimo cinco
meses, ou seja, totalmente inadimissível pelo conselho. Não tinha com o que se
preocupar, como tudo que Kate fazia, esta homenagem seria perfeita.
Maio 2015
Ela pegou o
celular e discou.
- Daddy?
- Hey, Katie. Como você está?
- É hoje,
daddy. Em cinco minutos. Estou tão nervosa, não sou boa nisso. E se eu não
fizer adequadamente?
- Você irá. Seu
nome não está nos créditos do livro? Saberá discursar e honra-lo como ninguém
mais poderia, filha. Está tudo dentro do seu coração. Deixe-o falar.
- Obrigada,
dad.
- Por nada.
Agora, vá lá e nos deixe orgulhosos. Castle merece isso.
Ao sinal de Gina, ela encaminhou-se
ao púlpito. Vagarosamente, aproximou-se de onde a editora estava. Com o fim da
gravidez chegando, tornara-se pesada. Gina sorriu para a bela mulher e repetiu
o gesto para o público a sua frente. Começou a falar a fim de introduzi-la aos
presentes.
- Durante anos realizei festas de
lançamentos para muitos autores. A cada um deles, atribuo alguna apelidos,
jargões ou frases clássicas criadas e eternizadas em livros por eles mesmos.
Alguns de vocês, fãs fervorosos, sabem que me refiro a Rick Castle como o
mestre do macabro, aquele que conta um mistério como ninguém. Isso não mudou. Porém,
o lançamento de Heat Blows é diferente, eu me sinto diferente. Hoje, devido às
circunstancias, não anunciarei ao charmoso Castle. Em vez disso, tive a honra
de conviver um pouco mais de tempo com outra pessoa. Alguém muito especial para
Rick e para vocês, fãs. Sem ela, Heat Blows não seria possível. Foi exatamente
assim que entendi porque ela foi escolhida e se tornou não apenas a musa
inspiradora para Nikki como a musa para toda a vida dele. Damas e cavalheiros,
Kate Beckett Castle.
Em meio aos aplausos, ela se colocou
no lugar antes ocupado por Gina. A sua frente, o exemplar do livro marcado na
parte que deveria fazer a leitura. Kate tinha nas mãos um pedaço de papel onde
rabiscara uma espécie de discurso. Ao se ver de frente para o público, mordeu o
lábio inferior. Fechou os olhos dizendo mentalmente “Por você, Rick”. Ao
abri-los, suspirou e sorriu. Era chegada a hora de mostrar porque era a pessoa
que dera a vida a Nikki.
Continua....