Nota da Autora: Sei que vocês estão loucas para ver o angst acabar, ver Caskett juntos e todo o resto. Aqui vai algumas novidades para vocês: sim, fora esse capitulo apenas mais 2 cenas no proximo e aliviamos no angst. Também vamos começar a rir mais nessa fic, afinal a S4 tá cheia de momentos cuties (no AU da minha fic, claro!) e quem sabe apareçam algumas surpresas no caminho....hahaha! Esse capitulo é enorme! Quase 8K palavras para vocês abordando somente Rise! Enjoy!
Cap.43
Kate olhava desconfiada para a amiga. Não sabia
o que estava prestes a enfrentar. O fato de Dana ter lido seu caderno com
informações tão pessoais e intimas a deixava desconfortável. Conhecendo a
terapeuta, tinha certeza que ela traria o assunto do relacionamento de volta a
conversa, mesmo sabendo que ela não estava preparada para falar sobre isso.
Suspirou.
- Não tenho como escapar disso, então melhor
arrancar o band-aid de uma vez, será menos doloroso. Só uma pergunta:
precisarei de álcool para passar por isso?
- Claro que não, Kate. Trata-se de uma conversa
franca. Mas se a pergunta foi apenas um pretexto para você ganhar mais tempo
antes que eu comece a falar, um café não faria mal a ninguém.
- Ótimo, vou fazer agora – ela se levantou prontamente
– e ao contrário do que você pensa, não estou tentando ganhar tempo. Apenas sei
que algumas conversas ficam bem mais fáceis com álcool.
- Boa tentativa, mas não acredito nem por um
segundo nas suas palavras e intenções – quando Kate voltou com duas canecas de
café na mão entregando uma a Dana, ela decidiu que não perderia mais tempo e
começou a falar.
- Foi uma leitura muito interessante a do seu
caderninho vermelho. Devo dizer que me impressionou com as discussões que
criou. Você realmente colocou seus sentimentos no papel o que me fez pensar se
você não é melhor escrevendo que falando. Acho que achei a terapia perfeita
para você, porem como sou teimosa insistirei na falada. O que não falta sai
assuntos a discutir. Parabéns, Kate. Você soube como usar a ferramenta. Eu
escolhi dois assuntos para hoje que estão interligados. Estou falando de sua
autoestima.
- Autoestima?
- Sim, eu fiquei surpresa ao ler o que
escreveu. Para alguém que é tão confiante e determinada em seu trabalho como
detetive, você realmente é um desastre na sua vida pessoal. Quase não acreditei
quando li o que escreveu sobre o que Castle trouxe para sua vida e o que você
considerava que tinha feito. Basicamente nada. Você se menosprezou totalmente
dizendo que não tinha nada a oferecer a Castle. Como pode dizer isso? Você é
cega ou gosta de se fingir de cega?
- Por que está me acusando? Eu realmente não
tenho nada a oferecer a ele além de estar ao meu lado resolvendo crimes. Ele é
um milionário pode ter tudo o que quiser, a mulher que quiser, eu sou apenas
uma policial.
- Sim, ele pode ter tudo e ainda assim escolheu
você. Acha que troca qualquer viagem para a Europa de primeira classe para
estar ao seu lado numa cena de crime suja, com sangue por todo lado e um corpo
fedorento porque ele acha divertido? Ele faz para estar com você. Kate, quando
diz que não pode oferecer nada a Castle, você não está raciocinando direito.
Por causa de você, ele voltou a escrever, ele encontrou sua musa, mais do que
isso, ele a colocou em um pedestal. O trabalho na NYPD possibilitou conhece-la
melhor não porque ele queria fazer pesquisa para Nikki, mas porque era uma
maneira de desvendar o mistério por tras de Kate Beckett. E aos poucos, ele
conseguiu alcançar lugares e respostas que ninguém conseguia a anos com você.
Quando leio o livro, consigo ver a fantasia de um relacionamento entre vocês
através de Nikki e Rook – ela tomou um gole do café antes de continuar.
- Você diz que não tem impacto na vida de
Castle, o que significa ter um livro ou melhor uma serie baseada em você? E
sobre dedicar o livro a você? Eu pesquisei sobre todas as dedicatórias de
Castle nos livros antigos que escreveu. Sabe o que descobri, Kate? Que ele
somente dedica seus livros para as pessoas que realmente importam ou significam
algo para ele. Encontrei apenas duas mulheres, Kyra e você. Isso diz muita
coisa. Nem as ex-mulheres dele tiveram dedicatórias. Minha conclusão sobre o
assunto? Pare de se diminuir em um relacionamento. Precisa-se de duas pessoas
para dançar o tango.
- Você está querendo me dizer que devo
continuar a me relacionar com Castle porque ele me valoriza através dos seus
livros?
- Pelo amor de Deus, Kate. Não se faça de
desentendida. Sabe muito bem ao que me refiro. Você se lembra de uma de nossas
primeiras conversas quando você reclamava que Castle era imaturo e superficial
além de mulherengo? Esse Rick Castle não existe mais, ele mudou por sua causa.
Então, não venha me dizer que você não tem nada a oferecer para o escritor
nesse relacionamento.
Kate ficou calada por uns segundos. Não tinha
argumentos para rebater o que Dana dissera. Por outro lado, ela queria que a
terapeuta estivesse errada, infelizmente não estava. Castle era outra pessoa,
nesses três anos que estiveram secretamente juntos com idas e vindas que
acontecem em relacionamentos, ele se mostrou divertido, responsável e amável.
Ele se importa com ela. A superficialidade desapareceu e tinha certeza que o
motivo que a seguia não era para fazer pesquisa para seus livros.
- Dana, eu sou um perigo para Castle. Tenho
inimigos que querem me ver morta. Tenho uma batalha que preciso lutar. Não irei
desistir de prender o assassino da minha mãe. É pessoal e não vou arrastar
Castle comigo nessa jornada. Não posso. Ele tem família, uma filha. O que direi
a Alexis se o pai dela for assassinado por minha culpa? Por que estava lutando
pela minha causa pessoal? É egoísmo da minha parte assumir que ele me seguiria
porque quer me ajudar sem que eu analise as consequências. Ainda não sei com
quem estou lutando, mas ele é muito poderoso. Não posso arriscar mais vidas
nisso.
- O seu discurso é muito bonito. A sua
preocupação com Castle e a família dele. Admiro seu gesto. Já parou para pensar
que em nenhum momento você perguntou a Castle o que ele queria? É assim que as
coisas funcionam em um relacionamento, Kate. Você pergunta, entende os medos e
as necessidades do outro. Não decide pelos dois. É uma via de mão dupla.
- E é por isso que não temos um relacionamento.
Não posso fingir que está tudo bem entre nós e sair por aí caçando assassinos
no meio da noite, arriscando a minha vida enquanto Castle me espera em casa com
o jantar. Não consigo ter esse tipo de relação enquanto não resolver o
assassinato da minha mãe.
- E você acha que Castle ficaria em casa
esperando por isso? Ele nunca deixaria você fazer isso sozinha. Lembra quando
me disse que ele pediu para que esquecesse o caso? Qual foi o próximo passo
dele após vocês brigarem, após você expulsa-lo de sua vida? Ele não desistiu.
Ele continuou lá e graças a teimosia de Castle, Montgomery manteve-a viva. Foi
porque ele estava ao seu lado no púlpito que você está viva hoje. Consegue
entender isso?
- Ele é um inconsequente! Ele sabia que podia
morrer! Ele é teimoso demais para não pensar no que poderia ter acontecido. Isso
me irrita!
- Ele é teimoso, sim. Mas a teimosia dele tem
uma explicação. Ele fez tudo isso por amor, Kate. Não me diga que não consegue
entender isso – Dana viu a expressão no rosto dela mudar, era como se
concordasse pela primeira vez com o sentimento e isso trouxesse uma outra
variável ao problema, dor – Kate, você sabe o quanto eu gosto de você. Torço
pela sua felicidade, porém por causa da sua teimosia talvez seja tarde demais.
- O que você quer dizer com isso?
- Castle está magoado. Da última vez que
conversamos, ele comentou que não entendia o porquê do seu silêncio, porque não
queria sua ajuda para se recuperar. Essa distância que você impôs a ele,
deixou-o triste e amargo. Ele me disse... – Dana mordiscou o próprio lábio ao
ver a ansiedade no olhar de Kate, ela sabia que as próximas palavras poderiam
ser muito danosas a amiga, contudo ela precisava da verdade – ele me disse que
se você não queria falar com ele, então era um sinal de que ele precisava se
afastar. Ele não iria correr atrás de você, Kate. Na minha opinião, se você não
ligar para ele com uma boa explicação, Castle não a escutará. Talvez ele sequer
atenda o seu telefonema.
Dana percebeu que ela tinha lagrimas nos olhos.
As mãos não paravam quietas, os pés batiam insistentemente sobre o assoalho da
cabana. Pressionara demais jogando a realidade na cara dela, ainda não
terminara.
- Kate, o que você realmente se lembra do dia
em que levou o tiro? Sem joguinhos dessa vez. Eu sei que você se lembra de
algo.
- Não importa o que eu me lembro, não fará
diferença. Dana por que você disse que Castle me ama e agora afirma que ele não
quer me ver ou falar comigo?
- Me diga você, a ideia de afasta-lo da sua
vida foi inteiramente sua. Você o magoou após ele ter arriscado a própria vida
para salva-la tantas vezes. O que você se lembra, Kate?
- Não muito. Lembro do discurso. De olhar para
ele, e de uma dor. Eu caí. Minha visão começou a falhar, eu pude ver Castle
perto de mim. Ele falava algo, eu não sei o que era. Eu podia ver. Havia
desespero em seus olhos. Depois, tudo ficou escuro.
- Você não se lembra o que ele lhe disse?
- Não! Eu tenho pesadelos com isso! Eu não
consigo me lembrar será que você entende agora porque é tão difícil falar
daquele dia? Por que é tão difícil me lembrar de Castle sem pensar na dor que
vi em seus olhos? Eu não posso tirar essa dor dele, pelo que você falou eu
apenas piorei quando o afastei. Eu disse uma vez para Castle que era uma pessoa
destruída, quebrada. Isso só prova que tenho razão e por isso não posso ter um
relacionamento com Castle.
- Então você vai trair seu próprio coração? Vai
negar a si mesma a chance de ser feliz? Castle pode estar magoado, porém se
você o procurar e disser o que precisa ser dito, ele entenderá porque ele te
ama. O que a impede de procura-lo, Kate? Pegue o telefone. Ligue.
- E-eu não sei o que dizer. Não estou
preparada.
- Ligue. Você acha que não está preparada, seu
coração está.
Kate pegou o celular e selecionou o nome de
Castle. A ligação chamou duas vezes e uma mensagem de voz foi recebida “o
telefone está fora da área de serviço ou temporariamente desligado”.
- Ele ainda deve estar voando para Atlanta ou
qualquer outro lugar na costa leste. Pode tentar mais tarde.
- Não! – a voz de Kate era enérgica – não
tentarei de novo porque isso foi um erro. Castle não atender essa ligação é um
ótimo sinal de que eu deveria deixar as coisas como estão. É a confirmação que
devo me concentrar em ficar bem para voltar ao trabalho. Não posso me distrair
com sentimentos ou relacionamentos. Eu tenho um assassino para caçar. Acabou.
- Kate Beckett, eu detesto ter que lhe dizer
isso, mas não está nem perto de acabar. Você pode se fechar em seu mundo,
erguer seus muros e mentir para se mesma que não precisa de alguém, de Castle.
Infelizmente para o seu plano é tarde demais. Você já está ligada a Castle. O
que sente por ele não irá desaparecer. Não adianta tentar esquece-lo porque não
irá conseguir. Mais cedo ou mais tarde, terá que encarar o que seu coração
quer. Eu esperarei, porém desde já eu posso dizer que está cometendo um grande
erro não insistindo em resolver as coisas com Castle.
- Pare, Dana. Estou cansada de seus conselhos e
teorias. Essa sessão de terapia acabou.
- Tudo bem, acabou. Vou lhe dizer uma última
coisa, dessa vez não como sua terapeuta, mas como sua amiga. Você precisa de
Castle a seu lado. E se não está disposta a revelar seus sentimentos
verdadeiros a ele, meu conselho é que ao menos mantenha a parceria. Deixe
Castle voltar ao 12th, continuar caçando assassinos ao seu lado. Com alguma
sorte, em um determinado momento você verá o que está bem diante de seus olhos.
Você assumirá de uma vez por toda que é louca pelo cara – ela se levantou da
cadeira – te vejo na próxima semana. Divirta-se com as aventuras de Nikki Heat.
Dana virou as costas para Kate sem lhe dar a
chance de falar novamente. Saia da cabana com o coração apertado. Fora dura com
a amiga, mas ela precisava baixar a guarda e entender que essa distância estava
lhe fazendo mais mal do que bem. Somente esperava que o outro elemento desse
relacionamento não tivesse jogado a toalha de vez.
Castle acabara de desembarcar em Atlanta. O voo
fora bom, mas ele não estava no melhor dos humores. Um chofer com uma limusine
o esperava no saguão do aeroporto para leva-lo direto ao hotel. Sentado no
banco de trás, ele ligou o celular. Foi direto a sua agenda e ligou para a
filha informando que chegara bem a cidade e que estava indo para o hotel
descansar um pouco. Assim que desligou, ele reparou que tinha duas ligações
perdidas e uma mensagem. Primeiro as ligações. Gina ligara enquanto ele estava
no voo. No mínimo queria falar sobre algo chato que esquecera. Depois falaria
com ela, sabia que se não ligasse ela o procuraria de qualquer forma.
A segunda ligação fez seu coração disparar.
Kate. Ela tentara falar com ele enfim. Talvez seja obra de Dana. Uma ponta de
esperança surgiu em seu rosto. A mensagem. Poderia ser dela, não? Ao checar o
remetente, ficou frustrado. Não era Kate, era Dana. Ele abriu a mensagem e se
deparou com três fotos de Kate. Dana escrevera.
“Sei que está chateado, mas eis a prova de que
mesmo recusando-se a ligar para você, ela não o tira do pensamento. Vê o
sorriso com o café? É por sua causa. Paciência, Castle. Beijos, Dana.”
Ele sorriu. Ela parecia bem melhor. Sua aparência
estava mais saudável, serena. Dana vinha fazendo um bom trabalho. Mas, e a
ligação? Acontecera depois que as fotos foram enviadas. Deveria ligar
retornando? Era o correto a fazer, não? Podia ligar e agir casualmente. Somente
para ter certeza de que ela ligara. E fazer papel de bobo novamente? Repetir o
que você decidiu não tentar? Ele não iria ceder dessa vez. Se ela ligara uma
vez, sinal de que pensara em falar com ele. Se Kate realmente quisesse
conversar, teria que ligar de volta.
E por um ato de teimosia e orgulho ferido, ele
se negou o direito de falar com sua amada. O gesto lhe custou mais um mês sem
notícias de Kate.
Afastados, ambos seguiram seus caminhos. Kate
dedicou-se em melhorar o suficiente para voltar ao trabalho. Estava cansada de
não fazer nada. Dana continuou ajudando-a uma vez por semana em melhorar. Não
comentava mais sobre relacionamento. Na verdade, ela mesmo ficara um pouco
frustrada ao não receber nenhuma notícia de Castle após o envio das fotos. Ele
realmente cumprira com sua palavra de não insistir no assunto.
Kate voltaria ao trabalho na próxima semana,
Dana sabia que Castle estava de volta a Nova York. Torcia muito para um
reencontro dos dois, porem admitia estar preocupada com a reação dele já que em
nenhum momento retornou a sua mensagem ou mesmo ligou para ela querendo saber
de Kate. Parece que levou a sério a decisão de não ter notícias. Pensando
justamente nisso, a terapeuta decide procura-lo. Ao checar o calendário de
eventos no site dele, vê que haverá uma tarde de autógrafos na Barnes &
Noble da 5ª avenida. Ótima forma de encontra-lo e ter uma pequena conversa.
Barnes & Noble – tarde de sexta-feira
Dana entra na livraria e logo se depara com um
banner gigante com a foto de Rick Castle e outro com a capa de Heat Rises quase
do seu tamanho. O lugar parece bem cheio, muitos leitores pelas prateleiras e
vários na fila para receber um autografo do seu escritor favorito. Ela pega uma
cópia do livro e dirige-se ao caixa para compra-lo. Assim que é atendida, ela
entra em outra fila. A dos fãs de Castle. Meia-hora depois, ela está frente a
frente com ele.
- Olá, Rick. Pode assinar para mim? Apenas Dana
– ele ergueu os olhos do papel para fita-la. Um breve sorriso apareceu no seu
rosto – o que? Achou que eu estava brincando quando disse que queria meu
exemplar autografado? Aqui estou eu para consegui-lo. Esperei na fila e tudo.
- É um prazer revê-la, Dana. Obrigado pela
consideração.
- O que eu posso dizer? O escritor é bom e eu
sou realmente fã de Nikki. Uma pena que ela é muito complicada.
- Existem outras bem mais complicadas que ela,
Dana.
- Eu sei. Será que pode me ceder alguns minutos
de seu tempo? – ele acenou para a fila atrás dela – depois que a fila acabar,
Castle. Pode me encontrar no café, você me deve um tempo. Já faz um mês que não
nos falamos.
- Tudo bem, mas terá que esperar um pouco.
- Sem problemas. Aproveito para ler Heat Rises
– sorrindo ela pegou seu livro e afastou-se da mesa onde o escritor estava.
Dirigiu-se para a área do café e sem cerimônia sentou-se numa das mesas e
começou a ler a nova aventura de Nikki Heat.
Somente uma hora depois, Castle aparece
sentando-se de frente para ela com dois copos de café.
- Tomei a liberdade de pedir um latte machiatto
para você. Quer dividir um brownie?
- Obrigada. Acabou a sessão de autógrafos?
- Sim, por hoje – ele percebeu o livro aberto
na mesa – você não estava mentindo quando disse que ia ler...
- E estou adorando! Gostei da dedicatória.
Montgomery merece.
- Sim, mas tive que ouvir muito porque quis mudar.
Isso não importa mais – ele deu um sorriso cansado.
- Como você está, Castle? Estranhei não ter
notícias suas nos últimos dias.
- Trabalhando, seguindo com a minha vida. Por
que não fala logo o que quer, Dana? Veio me procurar para falar sobre Kate, não?
Não preciso ser um gênio para saber.
- Ela voltará ao distrito na próxima semana.
Está bem, não totalmente recuperada e jura não se lembrar o que você disse no
dia do tiro. Ela se lembrou de você a protegendo, falando algo, mas as palavras
ainda parecem bloqueadas na mente dela. Sei que não era o que você gostaria de
ouvir. Se serve de consolo, ela não o esqueceu. Ela está insegura quanto ao
relacionamento de vocês. Por acaso você não recebeu as minhas fotos e uma
ligação dela? Eu estava lá quando isso aconteceu. Você precisava ver a cara de
decepção que ela fez.
- Eu recebi, mas imaginei que se quisesse
realmente falar comigo tentaria ligar outra vez. Não foi o caso, o que prova
que estava certo. Ela deve ter feito a ligação no impulso, ou devo dizer sob
pressão?
- Não foi sob pressão, eu a incentivei a ligar,
porem esqueci completamente que você estava voando. Se tem uma culpada nessa
história sou eu. Castle, eu conversei muito com Kate. Mesmo confusa é inegável
que ela gosta de você. Foram três meses bem difíceis para ela, tenho certeza
que não foi mamão com açúcar para você também. Eu só quero que, caso ela lhe
procure, não feche a porta. Dê uma nova chance a ela, a vocês dois. Não seja
radical.
- Engraçado, você me pede para escuta-la, não
ser radical. Mas, não foi exatamente a maneira como Beckett agiu comigo? Por
que eu devo ceder sempre?
- Não se trata de ceder. Emocionalmente, você é
bem mais evoluído que ela. Você sabe o que é amar e lutar por amor. Kate
esqueceu como isso funciona ao longo do tempo, ela está reaprendendo através de
você – ele suspirou.
- Não posso prometer nada. E você nem sabe se
ela virá me procurar. Não o fez em três meses, por que agora?
- Porque Kate está melhor, quando voltar a sua
rotina, ela vai sentir sua falta. Estava acostumada a te-lo do seu lado,
especialmente com os novos desafios que tem pela frente. Um novo chefe, a busca
pelo seu assassino de aluguel...
- Ela não pode remexer nesse caso, ela vai ser
morta! A morte de Montgomery não pode ser em vão. Se ela insistir nisso, eles
vão matá-la.
- Você conhece Kate melhor que eu. Ela não vai
deixar essa história de lado a menos que alguém a impeça. Acho que já é motivo
suficiente para você escuta-la caso ela venha lhe procurar.
- Você fez isso de proposito, Dana. Isso é
manipulação.
- Não fiz nada, pedi um certo cuidado a você,
nem sabia que havia mais história sobre aquele atentado – ela se levantou,
pegando o seu livro – obrigada pelo café e pelo autógrafo. Quero ir para casa
terminar de ler a aventura de Nikki e Rook. Foi muito bom revê-lo e Castle? Não
seja um estranho, se precisar conversar sabe como me encontrar – ele ficou
observando a terapeuta desaparecer entre os clientes da livraria. Dana trouxera
o assunto Kate Beckett novamente a sua mente. Ela estava voltando ao trabalho.
Por mais que negasse abertamente, no fundo ele gostaria de voltar ao distrito e
investigar crimes ao lado dela e com os rapazes.
Uma semana depois...
Ela caminha devagar para fora do elevador e no
saguão do 12th distrito. Ao perceberem sua presença, todos os policiais e
detetives do recinto lhe dão uma salva de palmas. De repente, ela entendeu. Era
bom estar de volta. Esposito e Ryan vieram ao seu encontro para atualiza-la das
novidades sob a batuta da nova capitã.
- Então, alguma coisa? – ela perguntou.
- Nada ainda – disse Ryan – tiramos DNA da
arma, mas nada apareceu no sistema. Está marcado para caso algo aconteça,
espera, Castle não lhe contou sobre isso?
- Não.
- Isso é estranho. Por que ele esconderia isso
de você?
- Ele não está escondendo nada, eu não o vejo
há um tempo – ela respondeu sem olhar para eles.
- Há quanto tempo exatamente? – perguntou Ryan.
- Praticamente desde o tiro.
- Por que? O que aconteceu?
- Nada aconteceu. Eu só precisava de um tempo –
ela já se encaminhava para a área de descanso. Eles a seguiam.
- Ele te deixou sozinha por três meses?
- Pessoal, não é culpa dele. Eu disse que
ligaria.
- Por que não ligou – era Esposito quem
perguntava – porque ele esteve aqui todos os dias trabalhando no caso...por
meses ainda estaria se Gates não o tivesse expulsado.
- Ela o expulsou? Por que?
- Aparentemente sua delegacia não tem lugar
para um escritor delirante brincar de policial. Capitã Victoria Gates conhecida
como a Gata de aço. Segue todas as regras.
- Uma coisa é certa: ela não é Montgomery.
- Ela não falou com Castle ainda não sabe do
banco.
- Que banco?
- Castle sugeriu que checássemos Montgomery,
McCallister e Raglan. Ver como eles tinham negócios antigamente. Sabemos que
cobravam resgate de bandidos. Talvez usaram esse dinheiro para pagar o mandante
da morte de sua mãe. Castle acha que descobriu o banco que usavam.
- A trilha do dinheiro.
- O único problema é que o banco fechou.
Ninguém sabe onde foram parar os registros antigos. Tentamos localiza-los, mas
foi quando Gates fechou a investigação.
- Ela suspendeu a investigação? – Beckett
parecia surpresa – por que?
- Sem novas pistas sobre o atirador e não
poderíamos contar o resto sem implicar Montgomery.
Pela primeira vez, Beckett começava a sentir a
pressão que seria trabalhar com a nova capitã. Mais que isso, ela estava
sentindo-se culpada depois de tudo o que os rapazes lhe contaram sobre Castle.
Parece que Dana tinha razão mais uma vez. Precisava reestabelecer-se novamente
no distrito. Queria sua arma e seu distintivo. Era hora de encarar a sua nova
chefe.
- Detetive Beckett de volta a ativa a partir de
hoje – entregou um atestado que recebera do médico e também assinado por Dana
como terapeuta.
- Detetive Beckett, sua reputação te procede. A
mulher mais jovem da NYPD a se tornar detetive. Ganhou de mim por seis semanas.
- Não sabia que reparavam nisso.
- Reparam em tudo, detetive – disse enquanto
examinava os papeis – especialmente os chefões. Parece que passou na sua
avaliação psicológica. Seja bem-vinda de volta – entregou-lhe o detetive.
- Obrigada, senhora. Eu também preciso da minha
arma.
- Não até se requalificar.
- Como é?
- Ficou fora de ação por três meses. Pelo
regulamento, não pode tê-la até se requalificar – Beckett tentou falar de seu
tiroteio e a única coisa que conseguiu foi a primeira bronca da capitã.
Irritada, ela deixou a sala. Os rapazes logo perceberam que ela estava com
muita raiva. Ela pediu os arquivos para rastrear o banco. Ryan informou que
estavam com Castle por segurança. Não podiam arriscar com Gates. O telefone de
Ryan tocou. Tinham um novo homicídio, mas Beckett optou por não participar da
investigação. Sentada em sua mesa, ela abriu o arquivo que mantinha com poucas
peças sobre a última investigação envolvendo Lockwood. A maioria das evidências
e papeis importantes estavam em sua casa.
Seus pensamentos voltaram-se para Castle. Ele
não desistira de ajuda-la mesmo que ela o tivesse afastado. Ele tentara.
Começara a perceber que talvez fora injusta com ele. Não deveria ter ficado
tanto tempo sem falar com ele. Desde aquela tentativa da ligação, ela escolheu
não ligar outra vez. Um erro. Três meses sem falar com Castle, o que deveria
dizer se fosse encontra-lo agora? Estava preparada para encara-lo? A resposta
era não. Kate não sabia o que esperar em um reencontro com o escritor, porém
concordou que já se mantivera longe tempo demais. Precisava ficar frente a
frente com ele. Fazendo uma rápida pesquisa na internet, ela descobriu onde
poderia encontra-lo.
Em uma livraria da cidade...
Castle estava sentado distribuindo autógrafos e
ouvindo elogios de uma fila de fãs. Estava cansado de fazer isso ultimamente.
Sua vida transformara-se em um calendário de eventos literários onde nada
excitante acontecia. Ele sentia falta de ação. Desde a situação com Kate, ele
não conseguira escrever. Estava com bloqueio. No fundo, sabia que era falta de
inspiração causada pela ausência de sua musa. A raiva que sentia dela, por
tê-lo abandonado, era suficiente para fazê-lo não escrever uma única linha de
Nikki Heat. Mesmo com a pressão de Gina e da editora.
Acabara de autografar mais um livro. O processo
tornara-se quase mecânico agora. Sem olhar para a pessoa a sua frente, ele
pegou o livro, abriu a primeira página e perguntou.
- A quem devo dedicar?
- Kate. Pode dedicar a Kate – ele ergueu os
olhos do livro surpreso por ouvir aquela voz inconfundível. Lá estava ela, mais
linda do que nunca. Ele quase prendera a respiração ao encara-la. Tentando agir
naturalmente, ele assinou o livro e devolveu a ela. Nenhuma outra palavra fora
dita. Ao termino do trabalho, ele deixava a livraria agradecendo o esforço da
equipe. Quando se virou para a rua, viu que ela estava escorada na parede.
Aparentemente esperando para falar com ele. Aquilo fez seu sangue ferver.
Castle escolheu passar por ela como se não a visse ali. Não adiantou, ela o
chamou.
- Castle, espere.
- Esperei três meses. Você nunca ligou – ele
respondeu sem nem olhar para ela, continuou andando.
- Olha, eu sei que está com raiva...
- Pode ter certeza que estou – ele retrucou.
Virou-se para fita-la – eu a vi morrer naquela ambulância. Sabia disso? Sabe
como é ver a vida esvair-se de alguém... – ele se policiou para não dizer as
palavras erradas - de alguém que você gosta?
- Eu disse que precisava de tempo.
- Você disse alguns dias.
- Precisei de mais.
- Devia ter dito isso – ele virou as costas
para ela. Kate insistiu.
- Castle, eu não podia ligar para você, está
bem? Não sem reviver tudo que estava tentando me afastar. Precisei de tempo
para digerir tudo.
- Dana ajudou-a com isso? Porque eu também
poderia se você me deixasse.
- Sim, ela me ajudou. E não acho que você
poderia – chateada, foi sua vez de virar-lhe as costas. Castle a observou
caminhar na direção do parque. O mesmo lugar que anos antes representara um
marco no relacionamento deles. As palavras de Dana ecoavam em sua mente “dê uma
chance a ela. Escute o que tem a dizer”. Droga, Dana! Arrependido, ele a
seguiu. Kate estava sentada em um dos balanços, o livro aberto em suas mãos.
Castle respirou fundo sentando ao lado dela. Poderia escuta-la, mas não ficaria
calado.
- Eu gostei da dedicatória.
- Pareceu apropriado.
- Deve ter sido difícil escrever esse final.
- Sim, mas por incrível que pareça eu já havia
escrito. Não mudei a história. Uma dolorosa coincidência dada as circunstâncias
– um silêncio estranho cresceu entre eles, Castle decidiu que era a hora de
confronta-la – por que faz isso, Kate? Por que foge das situações complicadas?
Tínhamos um relacionamento e bastou algo difícil acontecer para você me tirar
da sua vida. Durante esses três meses, eu poderia tê-la ajudado. Eu queria
estar ao seu lado porque isolar-se não era a resposta. Fiquei preocupado e
quando vi que aquela ligação não ia acontecer, eu tive muita raiva de você.
Ainda estou com raiva. Será que pode ser honesta ao menos uma vez? Você me deve
isso.
- Após minha mãe ser morta, algo mudou dentro
de mim. É como se eu tivesse construído um murro dentro de mim. Não sei, acho
que eu não queria sofrer daquele jeito novamente. Sei que não conseguirei ser o
tipo de pessoa que quero. Sei que não... – ela parou por um instante o que fez
Castle olhar para ela – não conseguirei ter o tipo de relacionamento que quero
até que essa parede seja derrubada. O que não acontecerá até que encerre isso.
Eu gosto de você, Castle. Mas, não posso oferecer o que deseja nesse momento.
Ele a observava. Estava sendo sincera, podia
ver em seus olhos.
- Então, eu acho que teremos que achar esses
caras e acabar com eles. Isso não significa que não estou mais bravo – ela deu
o primeiro sorriso desde que o vira.
- Os rapazes contaram o que você fez. Seguiu o
rastro do dinheiro, procurou os policiais pagos.
- Só queria que tivesse sido útil. Eu localizei
os arquivos. Quando o banco fechou, eles pegaram todo os dados e a papelada e
colocaram em um armazém em Union City. Anos depois, houve um incêndio e os
arquivos se foram. É só mais um beco sem saída.
- Como o incêndio aconteceu?
- Um acidente. Fiação velha.
- Tem certeza? – alguma teoria já se formava na
mente de Beckett.
- Tenho. Foi investigado.
- Você viu o relatório do investigador?
- Não, mas... incendiar um armazém? Parece
muito trabalho só por alguns arquivos.
- Não seria mais trabalho dado o que já
fizeram. Precisamos ver esse relatório. Só tem um problema, como ajudará se
Gates te expulsou?
- Ela não me expulsou. Eu só a deixei pensar
que me expulsou porque não havia motivo para ficar.
- Ah! – o motivo, claro, era ela. Isso fora uma
massagem no ego de Kate.
- Ela me aceitará de volta. E quanto a você,
Kate? Quais são as condições para que eu volte ao distrito para investigar ao
seu lado?
- Castle, eu... – ela passou a mão no cabelo –
eu ainda não consigo voltar de onde paramos. Eu preciso da sua ajuda, do meu
parceiro. Mas, é somente isso que posso oferecer agora. Não estou pronta para
simplesmente fingir que está tudo bem quando não está. E não é sua culpa, sou
eu. Se aceitar o que peço...
- Significa cada um em seu canto. De volta ao
começo, à estaca zero. Nada de noites no loft.
- Você ainda pode me convidar para jantar no
loft. E não é estaca zero. Somos parceiros e confio em você. Aparentemente,
aquele cara superficial e exibido não existe mais – ela sorriu levantando-se do
balanço, esticou a mão para ele - parceiros?
- Parceiros – ele respondeu apertando a mão
dela, surpreendendo-a, ele a envolveu em um abraço – seja bem-vinda, detetive
Beckett. Aquele distrito não é o mesmo sem você – ela sorriu.
- Obrigada. É bom estar de volta. Mesmo sem
minha arma.
- Terá que se requalificar? Ah! Será um passeio
no parque para você. Vamos andando? Tenho uma ligação muito importante para
fazer.
Após a conversa com o prefeito, Castle e
Beckett puderam ter o prazer de ver Gates engolir em seco as ordens para
aceitar o escritor de volta ao 12th. Beckett também conseguiu sua arma de
volta. Quanto ao seu compromisso com Beckett, não era bem que Castle desejava,
mas já era um começo. Ele aprendera a aceitar que a pessoa que escolhera para
passar o resto da sua vida, ainda não estava pronta. Dana tinha razão, Kate não
teria lhe dito sobre como se sentia e abordado relacionamentos se não houvesse
esperança. A única coisa que Castle esperava era que não demorasse tanto para
ficarem juntos outra vez.
Castle sabia que a mente de Beckett estava
focada em descobrir mais sobre seu tiroteio, o incêndio e não iria descansar,
mesmo que tivesse que fazer isso as escondidas da capitã, aliás foi a primeira
coisa que pediu para Esposito olhar assim que voltou ao distrito. Ela descobriu
que o armazém pegou fogo três semanas após a morte de sua mãe. Não era
coincidência. Precisava falar com o investigador do caso. Infelizmente, isso
teria que esperar pois acabaram de informar a capitã sobre o paradeiro do
suspeito no caso que Ryan e Esposito estavam investigando. Ela praticamente
expulsou Beckett para ir com eles e fazer essa prisão.
Antes de entrarem no local, Espo perguntou se
estava tudo bem com ela. Se estava pronta para já enfrentar uma prisão após o
que acontecera há três meses. Beckett afirmou que estava bem. Durante a caçada
ao suspeito, porém, a história mudou. Ela começou muito bem perseguindo o cara
até o momento que ele a encurralou e apontou-lhe a arma. Beckett hesitou. De
repente, a mira da arma a paralisou. A respiração mudou, ofegava e fora incapaz
de levantar a sua arma para confronta-lo. Felizmente, os rapazes estavam lá
para lhe dar cobertura e prenderam o cara. Ela reparou que sua mão tremia ao
segurar a sua arma. Naquele instante, ela se sentiu diminuída e insegura.
Ela não fora a única que percebera. De volta ao
distrito, enquanto os rapazes pressionavam o suspeito, Castle a confrontou na
sala de observação.
- Quer conversar sobre aquilo? – ela se fez de
desentendida – Kate, eu vi. Quando viu aquela arma, você congelou.
- Não foi nada.
- Sua mão estava tremendo, isso não é nada –
ele sabia que era o reflexo da PTSD, mas Kate jamais admitiria isso para
ele.
- Castle, é o meu segundo dia de volta. Só
isso, não é nada.
- E se acontecer novamente?
- Não irá – ela se levantou indicando que iria
sair. Ele tinha uma ideia do que ela faria, investigar o incêndio. Não a
deixaria sozinha. Confrontar o investigador, porém tudo o que conseguiu foi uma
briga ao acusa-lo de fraude. Para não tornar as coisas piores, ela pediu a
Esposito para puxar a ficha dele e todos os últimos casos que trabalhara e
enviar para o seu apartamento. Ela queria evitar que Gates soubesse o que ela
andava fazendo.
Em seu apartamento, Castle e Beckett olhavam
cada detalhe da ficha. Na opinião de Castle, ele era quase um herói. Salvara a
vida de milhares de pessoas, não podia ser corrupto. Beckett afirmou que já
fora surpreendida antes, obviamente estava falando de Montgomery.
- Não há nada em suas finanças que indique
grande quantia de dinheiro, nem qualquer problema e dado o seu histórico...
- Pelo seu histórico, o que?
- E se ele não for o nosso cara, e se o
incêndio foi acidente?
- Não foi um acidente. Eu sei que não foi –
sim, ela estava convicta porque precisava de algo em que acreditar.
- Você não pode saber disso.
- Eu sei, porque se foi um acidente, não tenho
por onde começar. Se foi um acidente, então não tenho nada. O cara que atirou
em mim, se foi. Dick Coonan, se foi. Hal Lockwood, se foi. Montgomery, minha
mãe – ela estava à beira de lágrimas – todos se foram, Castle – ela suspirou
procurando se acalmar. Castle sentiu o coração apertar diante da frustração de
Beckett ao perceber que estava praticamente de mãos atadas. Ela precisava se
acalmar, mas também precisava acreditar que não acabara.
Ele se levantou indo em direção a ela. Pegou
suas mãos na dela, fitou os olhos amendoados.
- Hey, eu entendo. Tudo bem, continuaremos
procurando. Olha, porque não fazemos uma pausa? Você pode tomar um banho,
relaxar, comer alguma coisa. Nem jantamos. Depois, podemos analisar tudo o que
temos novamente. Posso te deixar sozinha, te dar espaço. Se precisar, estarei
no loft. Sabe como me encontrar – ele inclinou-se beijando-lhe o rosto. Apertou
de leve as mãos dela com intuito de dar-lhe confiança – não passe a noite
investigando. Durma um pouco também.
Ela sorriu. Acariciou o braço dele antes de vê-lo
caminhar até a porta.
- Obrigada.
No loft, Castle estava debruçado sobre todas as
informações que possuía do caso de Johanna Beckett. Ele já perdera as contas de
quantas vezes lera aquele arquivo. Alexis o confrontou sobre o seu sumiço
durante o jantar. Lembrou-o que havia dito que não voltaria a trabalhar com
Beckett. Mas ela sempre soubera que isso era da boca para fora. Assim que
deixou o escritório do pai, o telefone de Castle tocou. Uma ligação no mínimo
inesperada.
- Mr. Castle? – ele confirmou – sou amigo de
Roy Montgomery. Estou ligando sobre a detetive Beckett. Precisamos conversar –
assim, Castle ouve tudo o que ele tem a dizer, não apenas isso. Ele recebe uma
missão. Após desligar, ele fica preocupado com o que houve. Quer dividir suas
dúvidas com alguém. Claro que a pessoa mais indicada seria Dana, mas está
tarde. Mesmo assim, ligou para ela.
- Castle? Está tudo bem? Aconteceu algo com
Kate?
- Não, ainda não. Escute, Dana, desculpe estar
ligando tão tarde, mas eu precisava conversar com você logo na primeira hora da
manhã, antes de eu encontrar Beckett no distrito.
- Você está me deixando preocupada. Você já
falou com ela? Estão bem?
- Nos entendemos na medida do possível. Posso
passar no seu consultório as sete?
- Claro. Estarei lá.
E pontualmente, ambos entraram no consultório
de Dana. Castle sentou-se no divã. Ela podia perceber que não dormira muito,
tinha um ar preocupado. Ela decidiu começar a conversa pelo reencontro dos
dois.
- Então, vocês se acertaram.
- Não da maneira como gostaria, mas já é um
começo. Decidi ouvir seu conselho. Pelo menos, posso ficar perto dela, Kate me
pediu isso. Parceiros, apenas. Dana, quanto a PTSD ainda afeta Kate? Está
realmente curada?
- Não, a PTSD não é uma síndrome que se cura
rapidamente. Tem estágios e no caso de Kate, estar constantemente desafiando
suas habilidades e caçando assassinos acaba por tornar essa recuperação mais
longa. Por que pergunta?
- Ela hesitou ao ficar frente a frente com a
mira de uma arma. Suas mãos tremiam, Dana. Eu nem quero imagina-la em um
tiroteio com bandidos. Estou com um problema sério nas mãos. Lembra-se que
mencionei o amigo de Montgomery? Ele me telefonou ontem. Disse que a segurança
de Beckett está garantida devido aos arquivos que recebeu do capitão.
- Mas eles foram atrás dela de qualquer jeito. Atiraram
nela.
- Ele não tinha os arquivos até ela ser
baleada. Disse que ela está segura agora, com uma condição. Ela não pode chegar
perto do caso. Se ela chegar, ele não garantirá a segurança dela. Se ela
insistir, irão matá-la.
- Você acredita nele? – perguntou Dana – é
confiável?
- Acredito.
- Então, o que vai fazer, contará a ela?
- Se eu fizer isso, ela colocará uma venda nos
olhos e correrá para a linha de fogo. Não posso deixar isso acontecer.
- Você não vai muda-la, Rick. Faz parte da
natureza dela ser assim. Dedicou sua vida inteira na polícia para pegar o
assassino da mãe. Ela continuará procurando e investigando. Como lidará com
isso?
- Não se puder para-la, ela me escutará. Posso
afasta-la.
- Sim, eu acredito nisso. Se tem alguém capaz
de convencer Kate Beckett, essa pessoa é você. O problema que vejo é como
abordará o assunto com ela sem que desconfie do seu real proposito. Kate é
esperta, é uma detetive. A única forma de conseguir que ela se afaste seria não
dizendo o que sabe, mas mentir? Não me parece a melhor solução. Se ela
descobrir, isso pode acabar com toda a esperança que você tem de ficarem
juntos. É arriscado.
- Não irei perde-la de novo. Você não viu como
ela estava ontem, angustiada quase à beira de chorar. A Beckett que conheço não
faria isso. Ela estava vulnerável, sensível. É muito difícil ela demonstrar as
emoções dessa forma. Kate está procurando algo em que se agarrar. Um fio de
esperança.
- Então, sua missão é mais difícil do que
imaginei. Quer saber? Ainda bem que é você quem precisa convencê-la. Conhece-a,
sabe como chegar até ela.
- Ultrapassar o muro? Foi uma das explicações
que me deu para não retomarmos nosso relacionamento.
- Sim, você é capaz de penetrar o muro, a
fortaleza de Kate. Confio em você, sei que vai achar uma forma de mantê-la
segura. E Castle? Aquele coração precisa de você, agora mais do que nunca. Vai
conseguir. Que tal ir encontrá-la? Aposto que está esperando ansiosa pelo café.
Ele se levantou do divã. Vestiu o casaco que
tirara e estendeu a mão para Dana.
- Obrigado. Precisava dividir o fardo com
alguém.
- Qualquer hora. Boa sorte, Castle.
12th Distrito
Kate Beckett chegara muito cedo ao distrito, a
verdade era que não dormira muito bem. Tentara seguir os conselhos de Castle,
tomou um banho para relaxar, esticou-se na cama, mas no meio da noite, os
pesadelos voltarão. Ela sabia que estavam relacionados com o dia, a ideia de
encarar uma mira e o estresse do caso da mãe. Não retornara a dormir desde as
quatro da manhã. As seis, chegara ao distrito.
Concentrou-se em reler seus arquivos. Examinar
as fotos do incêndio. Queria uma pista. Também, queria um café. Seu corpo pedia
pela bebida. Podia levantar-se e preparar uma caneca, mas ela queria mesmo era
o copo que Castle traria. Ela sentira tanta falta de receber esse mimo todas as
manhãs nos últimos meses!
E tal como desejava, aconteceu. Castle
sentou-se na sua cadeira cativa ao lado dela com dois copos de café na mão.
Entregou um a ela. Viera matutando todo o caminho a melhor maneira de abordar o
caso na tentativa de afasta-la da investigação. Não sabia bem como começaria, porém,
ao vê-la debruçada no caso como um viciado busca a droga, precisava tentar.
Ela agradeceu o café sorrindo e virando na
boca. Tomou um grande gole. Em seguida, fitou-o.
- Você está com o ar cansado. Semblante
preocupado. Não disse para eu relaxar ontem à noite? Por que não fez o mesmo?
Sua cara me diz que não dormiu direito.
- Algumas horas apenas. Lembra o que me disse a
primeira vez quando trouxe o caso da sua mãe? Que se começasse de novo não
pararia. Disse que te destruiria.
- Eu não tinha pista alguma.
- Mas não tem nenhuma agora.
- Olha, Castle, eu fiquei emotiva a noite
passada. Eu estou bem – ali estava a frase tão piegas e mentirosa de sempre.
- Não, não está. E sabe que não está. Voltou a
três dias e já está em queda livre. Você tem PTSD. Não se recuperou totalmente.
Não estou dizendo para desistir, só para... dar um tempo. Só até se orientar
novamente.
- Como posso me recuperar com alguém querendo
me matar?
- Não os deixando roubar sua vida. Prometo, nós
resolveremos isso. Iremos encontra-los e fazê-los pagar. Só não hoje.
- Castle se eu não fizer isso. Eu não sei quem
sou – ela não olhava diretamente para ele, não queria mostrar-se fraca, mas era
Castle e ele sempre sabia o que dizer.
- Você é quem sempre foi. Aquela que honra as
vítimas, você é aquela que pode dar a família de Sonya um pouco de paz – e como
um passe de mágica, as palavras dele a motivaram. Beckett chamou os rapazes
para se atualizar no caso. Ela não apenas descobriu o verdadeiro assassino como
trabalhou em perfeita sincronia com Castle, completando o pensamento um do
outro, como nos velhos tempos.
Ao ter um nome através das digitais, eles
saíram para fazer a prisão. Beckett se viu sozinha com Castle, cara a cara com
o assassino. Uma arma apontada diretamente para seu rosto. Castle receava que
ela amarelasse, o cara estava desesperado, então ele a guiou.
- Devagar, Kate. Vá com calma. Você consegue.
Vamos, você consegue.
- Abaixe a arma agora – ela disse firme –
vire-se e coloque as mãos atrás da cabeça – ele obedeceu. Ela sentiu um alivio
ao ver que conseguira, declarou-o preso recitando os seus direitos. Fez questão
de conversar com a família. Quando tudo
estava resolvido, eles voltaram a conversar.
- Como se sente?
- Não é o suficiente. Mas é o suficiente por
enquanto – sorriu - Obrigada por estar ao meu lado lá.
- Para isso que são os parceiros – sorrindo
novamente, ela começou a se afastar dele, Castle tornou a falar – nós daremos
um jeito. Esse muro aí dentro não ficara aí para sempre – satisfeito por ter
conseguido para-la, ele foi para casa. Kate tinha razão. Ele a amava, mas estar
ao lado dela era suficiente por enquanto. Ele trancou-se no escritório e ligou
a tv. Na tela, como um de seus livros, estava o caso de Beckett, todos os
detalhes, todos os envolvidos e a pergunta que continuava sem resposta: quem
contratou o atirador?
Dana estava arrumando a sua mesa prestes para
deixar o consultório quando a porta se abriu e Kate Beckett surgiu.
- Hey, Kate...
- Você provavelmente não esperava me ver essa
semana.
- Que isso, já disse que estou sempre disponível
para conversar. Como foi sua volta ao 12th? Notícias de Castle?
- Sim, eu fui procura-lo – ela sentou-se no
divã, isso tinha tudo para ser uma conversa bem interessante, pensou Dana – ele
estava com muita raiva de mim porque não liguei em três meses. Mas, já
resolvemos. Ele está de volta para investigar casos comigo. Em meu primeiro
caso de volta, ele novamente provou porque é importante ao meu lado. A
sincronia continua a mesma, nada parece ter mudado, mas são sempre as suas
palavras que fazem toda a diferença.
- Isso é bom? É suficiente não estar em um
relacionamento de verdade com Castle, como antes?
- Tem que bastar por hora.
- Se funciona para você. Juro que não sei como
resiste – Dana sorriu, porém, percebeu que Kate estava muito séria, na verdade
podia perceber que havia angustia e algumas lágrimas em seus olhos – você não
veio até aqui falar que está tudo bem na NYPD. O que aconteceu, Kate?
- Eu não sei por onde começar. Eu não sei o que
você irá pensar de mim.
- Isso tem relação com a PTSD? Ou você quer
falar do tiroteio? – ela desviou o olhar de Dana por uns segundos. Respirou
fundo - Kate? – Dana mantem o olhar fixo na detetive agora.
- Eu menti... antes. Sobre o tiroteio. Eu me
lembro de tudo.
Continua...