Nota da Autora: Acho que a maioria gostará desse capitulo porém gosto de lembra-los... um passo de cada vez. Enjoy!
Cap.8
O som das risadas e da música enchia o salão. Havia
holofotes brilhantes e o cheiro de café expresso misturava-se a champagne,
livros e outros aromas. A livraria estava bem movimentada. Ela sentiu seu
coração bater mais forte. Um misto de ansiedade e medo toma conta dela. A sua
frente, ela encontra um novo banner, Rick Castle sorria e os olhos azuis
surgiam na foto olhando-a. Kate pode perceber que a intensidade daquele olhar
mesmo na fotografia já não era o mesmo ao qual estava acostumada meses atrás.
Havia uma ponta de tristeza ali ou seria sua imaginação querendo enxergar
apenas o que a interessava?
A alguns metros, Castle estava sentado diante de uma
fila enorme, uma pilha de livros ao seu lado e uma caneca do escritor
provavelmente cheia de café. Sorria mecanicamente e assinava seu nome na capa
da frente para cada uma das pessoas que surgiam dizendo-lhe seu nome ou
elogiando seu trabalho. Conversava com alguns fãs e tentava se esquivar da
melhor maneira possível dos comentários sobre sua musa, a então já famosa
detetive Kate Beckett.
Suspirando e tomando coragem, Kate decidiu entrar na
fila e enfrentar esse encontro. De certa forma, ela queria um livro autografado
antes de mais nada e considerava esse momento como algo importante para os
dois. Já que estava ali, ela faria o que seu coração mandava, pediria um pouco
da atenção dele pois tudo o que precisava agora era de alguém capaz de
entende-la.
A fila ia diminuindo gradativamente, a cada novo
passo, Kate sentia suas mãos gelarem um pouco mais. Podia parecer besteira para
quem a conhecia porém dada as circunstancias em que se despediram da última
vez, ela estava muito nervosa. Temia a reação dele. Havia apenas duas pessoas a
sua frente. Preferiu manter-se de costas para evitar que ele a visse logo de
cara. Castle, porém, mantinha a cabeça baixa enquanto assinava seu nome
erguendo-a apenas na hora de entregar o exemplar para a pessoa a sua frente.
Finalmente, ela estava diante dele. As mãos suavam, pareciam pedras de gelo e
automaticamente as passou pelos cabelos soltos.
- Para quem devo dedicar? – ele perguntou com a voz
arrastada quase enfadonha.
- Kate, dedique-o a Kate.
Não importava quantos dias, meses ou anos se
passassem, ele jamais confundiria aquela voz. Ao erguer a cabeça na direção
dela, Castle sentiu o coração parar. Ela mordeu os lábios para conter o
nervoso, os mesmos tiques que ele tanto conhecia. Ao olhar para ela, Castle
prendeu a respiração diante do choque de revê-la. Kate estava mais magra, um ar
cansado envolto ao rosto e as olheiras deixavam marcas negras abaixo dos belos
olhos verdes. Não usava qualquer maquiagem, nem mesmo um batom. Pela sua aparência,
ele deduziu que ela viera de alguma missão de trabalho. Mesmo abatida, ela
ainda continuava linda e a sensação de saudade o atingiu por completo. Sentia
muita falta dela mas até fita-la não tinha ideia do quanto. Um pequeno sorriso
se formou no canto dos lábios dele.
- Acho que você não deixaria de manter na sua coleção
um exemplar autografado de Deadly Heat apesar de tudo, não?
- Não, meus hábitos de leitura ainda permanecem os
mesmos.
- Como você está, Kate? A julgar pelo seu semblante
diria que sua vida no FBI não deve estar sendo fácil.
- Não mesmo.
- Aqui está, especialmente para sua coleção – ele
estendeu o livro para ela – espero que esteja brilhando como sempre imaginei
que você faria – ele manteve os olhos nela, na boca, nos olhos, na testa
franzida para ele. Queria impedi-la de ir, queria passar um tempo ouvindo o que
estava acontecendo na sua vida. Reparou que as pessoas começavam a ficar
impacientes atrás dela.
- Castle…
- Sim? – ele esperou ansioso pelo que ela podia dizer.
- Eu... eu preciso da sua ajuda. Não tenho a quem
recorrer. Pode me dar cinco minutos?
- Kate, não é uma boa hora – ele apontou com a cabeça
para a fila e viu a decepção formar-se em seu rosto – se puder esperar até o final dos autógrafos
podemos tomar um café e conversar. Tudo bem?
- Sim, eu espero. Lentamente ela se afastou da mesa
onde ele estava, sentia um certo alivio. Pelo menos teria uma chance de pedir o
que queria.
Com seu exemplar autografado de Deadly Heat, ela
dirigiu-se ao café da livraria. Sentou-se em uma mesa escondida ao fundo.
Queria evitar qualquer reconhecimento por parte das pessoas que circulavam no
local. Pediu um café para espera-lo. Tomou o primeiro gole da bebida fumegante
e tornou a esfregar os olhos deixando as mãos percorrerem os cabelos. Viu a
assinatura dele sobre a capa vermelha do livro “Para Kate, Rick Castle”. Nada
realmente especial naquilo, se fosse em outros tempos ela teria mais palavras
ali. Deixou os dedos correrem sobre o pincel preto que ele usara para escrever
e deslizaram abrindo a capa principal. Quando lera o draft daquela obra, ainda não
havia a dedicatória. Seu coração quase saiu pela boca ao ver as palavras usadas
por ele.
“To the real
Nikki Heat, all my love and devotion”
Abaixo da dedicatória, o mesmo pincel escrevera mais
uma palavra: Always.
Kate largou o livro sobre a mesa, suas mãos tremiam.
Fechou os olhos por uns segundos a fim de se recuperar da surpresa que a
acertara naquele momento. Diante de tudo, ela apenas suspirou. O que tudo isso
significava? Castle não escreveria isso à toa, justamente aquela palavra tão
importante para ambos. Não podia evitar em pensar que esse reencontro poderia
tornar-se algo maior que ter ajuda dele em um caso. Não queria cultivar
esperanças ou manter as suas expectativas elevadas, nem sabia se ele estaria
disposto a conceder um pouco do tempo dele para ajuda-la. Um passo de cada vez,
independente do que o destino os reservava, sua primeira abordagem com ele
deveria ser o caso, salvar a vida de Sasha. O resto ficaria para depois.
Tomou mais um pouco do café e sorriu. Foi muito bom vê-lo.
Apesar de um ar desanimado e demonstrar certo cansaço, ele ainda mantinha o
mesmo jeito de antes. O jeito dos cabelos, o peitoral largo e os braços fortes.
Os lindos olhos azuis penetrantes, capazes de lê-la completamente por dentro e
por fora como uma visão de raio-x. Olhar que a deixava de pernas bambas, quase
sem chão. Tentador e acolhedor.
Aos poucos, ela percebeu as pessoas começando a se
dissipar no salão. A fila para autógrafos diminuíra, menos de dez pessoas
agora. Faltava pouco para ele se juntar a ela. À medida que o momento se
aproximava, Kate ia ficando ainda mais ansiosa. Não tinha ideia de como ele
reagiria ao seu pedido porém acreditava ser capaz de sensibiliza-lo se ele a
escutasse. Viu quando Castle se levantou da cadeira e recebeu os cumprimentos
da gerente da livraria novamente. O evento ainda não terminara propriamente mas
o número reduzira e Castle caminhou em direção a Kate. Antes de sentar com ela,
pediu café para os dois. Assim que sentou, uma garçonete trouxe um pratinho de
canapés colocou sobre a mesa deles. Ainda sem dizer uma palavra, bebeu o
primeiro gole do café observando-a. Estava impressionado com o quanto ela
emagrecera nesses três meses. Seria o trabalho o responsável ou ele com a
separação? Vendo que Kate estava se remexendo na cadeira, sinal típico de
nervosismo dela, falou.
- Você cortou os cabelos... está diferente. Eu gostei,
continua linda.
- Obrigada – sentindo o rosto ruborizar.
- Então Kate, você esperou por mim para falar cinco
minutos. Deve ser algo muito importante.
- É sim, a vida de uma pessoa está em risco. Talvez
duas. Preciso da sua ajuda em um caso muito sério e confidencial.
- Qual o problema? O FBI não possui pessoal
especializado para ajuda-la? Você mesma me disse que eles tem o melhor arsenal
tecnológico disponível, deve perder apenas para a CIA. Não entendo porque iriam
precisar de mim, um escritor de mistérios que usa a imaginação para brincar de
detetive.
Ela notou o sarcasmo na voz dele. Não poderia
culpa-lo.
- O FBI não precisa de você. Eu preciso. Eles estão
errados na análise do caso e podem estar colocando a vida de uma moça em
perigo. Uma universitária filha de alguém muito importante. Não posso te dar
detalhes aqui. A leitura deles está apontando para o motivo errado e não
conseguem ver a história por trás do sequestro. Não aceitam o que digo. Fui
repreendida, advertida e afastada do caso porque não concordo com a linha de
investigação. Somente poderei voltar caso aceite seguir as ordens deles mas sei
que se fizer isso, a vida de Sasha corre muito perigo. Eles não conseguem
entender a história. Não é um palpite, um impulso. É uma intuição, estou certa
Castle, porém ninguém acredita em mim. Tenho algumas ideias do que eu poderia
fazer a partir de agora só que ainda acredito estar faltando algo, uma conexão.
Você é a única pessoa que pode entender e junto comigo encontrar a conexão que
falta. Você é o único capaz de compreender porque já esteve do lado da vítima.
Eu preciso de você, Castle. Muito.
Castle já tinha terminado o café. Ouvira atentamente
tudo que ela contara. Se ela estava pedindo a sua ajuda era porque a situação
era muito séria. Falou em sequestro, vidas ameaçadas e intuição. Realmente não
pediria nada a ele se o caso não fosse grave. Sabia que Kate era teimosa mas se
chegou a levar uma advertência é porque não está disposta a ceder, acredita em
sua própria investigação. Mais importante, acredita que ele pode se juntar a
ela e solucionar o caso salvando a moça. A forma como ela pedira era honesta, genuína.
- Eu não sei. Como você pretende investigar sem
recursos? Se não pode usar equipamentos ou armas?
- Já fizemos isso antes, lembra? Quando eu estava
afastada da NYPD e investigamos o caso do meu atirador. Você que me incentivou
a prosseguir e a situação agora não é a mesma. Não suspenderam meu porte de
armas nem minha insígnia.
- Kate eu estou no meio de uma turnê, amanhã terei
outra noite de autógrafos aqui em Washington e viajo de madrugada para Memphis.
Tenho meus compromissos, uma agenda definida. Não posso simplesmente desmarcar
tudo porque você quer minha ajuda – ele dissera e observava a postura dela, a
viu suspirar.
- Castle eu... – ela engoliu em seco e estendeu a mão
para tocar a dele – eu não pediria se não fosse importante. Não pense em mim ao
dar sua resposta, pense em Sasha ou em Alexis, encare esse pedido meu como pai.
Você já sentiu na pele a dor de não saber onde sua filha estava. Eu não sei a
quem mais recorrer.
O toque da mão fria de Kate sobre a sua provocou
sensações imediatas no corpo dele. Sentira falta desse toque. Ela estava
preocupada e seu pedido era um chamado por justiça.
- Não posso te dar uma resposta agora. Nem sei se
poderei ajuda-la.
- Por favor, Castle. Prometo não tomar muito seu
tempo. Seja meu parceiro de investigação pela ultima vez, por Sasha.
- Quem é a segunda vítima?
- Como?
- Você disse que duas vidas estão em risco. Sasha é
uma delas, quem é a outra? – Kate engoliu seco ao vê-lo preparar-se para
deixa-la.
- A segunda vida... sou eu – falou baixinho como um
sussurro.
- Eu te darei uma resposta amanhã. Eu ligo para você –
ele se levantou e deixou seus olhos vagarem observando-a de cima a baixo – boa
noite, Kate. Se cuide, você está precisando descansar.
E virou-se de costas para ela rumo aos fundos da
livraria. Kate ficou sentada sem reação ao que acontecera ali diante de si.
Esperava que Castle compreendesse a gravidade do pedido. Não era do feitio dele
não buscar justiça ou mesmo recusar um caso ainda mais do FBI. A única
explicação era a mágoa deixada pelo fim do relacionamento deles e se for isso,
Kate acabara de perder o último fio de esperança que cultivava para eles.
Triste, deixou a livraria.
Naquela noite no seu hotel, Castle estava sentado na
cama com uma dose de whisky na mão. A surpresa de encontra-la na livraria ainda
o fazia sorrir admirado. Apesar de mais magra, continuava bela. Como não
poderia? Reencontra-la trouxe de volta as recordações da vida a dois e junto
com os momentos felizes, era impossível não lembrar o quanto sofrera longe
dela.
NY – meses atrás
Ele já tinha em mente que seu retorno a New York não
seria fácil, fora pior, bem diferente do que imaginara. Já estava acostumado
com a convivência ao lado de Kate. Mesmo morando em um espaço bem pequeno se
comparado com o seu loft, Castle gostava de cada canto daquele apartamento em
Washington. Não apenas por ser aconchegante,mas principalmente por o manter
perto dela. Ali, ele criara uma nova rotina para ambos. Dividiam tudo e mesmo
assim viviam bem, felizes, ele acreditava, até as primeiras brigas.
Seu apartamento era grande demais. Nada ali lembrava
Kate realmente. Estava mais uma vez vivendo como um bachelor e não apreciava de
forma alguma essa nova etapa. Além de sentir a solidão, o trabalho começava a
ficar difícil. A inspiração fora embora dando lugar a raiva e a mágoa. Não
entendia ao certo a reação de Kate ao desistir de tudo, ao expulsá-lo. Preferia
atribuir ao stress e ao medo, de certa forma ele a pressionara. Nunca duvidou
dos sentimentos dela nem por um segundo e a conhecia o suficiente para saber
que se tudo isso significasse o fim de seu relacionamento, ela o teria feito de
maneira mais racional porque ela é assim.
Fazia uma semana que estava longe e não tivera
notícias dela. Também não escrevera no mesmo período. Não havia clima, se o
fizesse correria o risco de deturpar sua história com seus próprios
sentimentos. A Castle, restava apenas aguardar não importava quão longa fosse a
espera. Para preencher o tempo, sua agente acabou arrumando alguns
compromissos, sejam fotos ou entrevistas de rádio e tv, ele aceitara a todas no
intuito de manter a mente ocupada.
Na semana seguinte, um pouco mais calmo, Castle já
voltara a escrever e recebera o primeiro esboço de Heat Wave em quadrinhos para
sua aprovação dos desenhos. Percebera que o desenhista não conseguira capturar
a essência de Kate, ainda não era ela muito menos seu alter ego. Foi ao
escritório e abriu o armário debaixo da estante pegando uma caixa grande de
papelão. Retirou a tampa e suspirou. Havia várias fotos que os dois tiraram ao
longo do namoro, era uma espécie de brincadeira entre eles. Kate adorava tirar
fotos muito estranhas deles, seja na cama, na cozinha, no banheiro, em posições
espontâneas, ela dizia. Claro que também tinha fotos bonitas deles bem vestidos
juntos e separados. Duas fotos chamaram sua atenção. Numa, Kate trajava um
vestido vermelho e os cabelos estavam soltos. Um sorriso enigmático estilo
femme fatale. Na outra, ela estava séria com o mesmo olhar que geralmente usava
durante um interrogatório, típico de poder. Definitivamente, não havia melhor
modelo para Nikki. Estava absorto nas fotos admirando-a quando finalmente ouviu
a campainha. Ao abrir a porta deparou-se com Lanie.
- Pensei que tinha morrido e só ia encontrar o seu
corpo para fazer a autópsia. Já estou tocando a uns cinco minutos. Não desisti
porque sabia que estava em casa.
- Sabia? Devo ser muito previsível mesmo. Somente por
curiosidade, qual seria a minha causa mortis? – fez sinal para ela entrar.
- Solidão, com pitadas de tristeza e talvez teimosia –
ele a olhou intrigado, Lanie sentou-se no sofá – o que? Sua cara te denuncia, Castle.
Sem contar as fotos que você tem nas mãos – ele ainda segurava a foto de Kate
na mão - Sirva um vinho para mim e desembucha! Quero saber o que aconteceu para
você estar em New York e Kate em Washington. Esperaria ouvir que você está aqui
apenas a trabalho mas meu sexto sentido não me abandona. Vocês brigaram?
Ele serviu vinho para ambos e colocou algumas nozes e
amêndoas para petiscarem. Tentava ganhar tempo. Conhecia Lanie a ponto de saber
que a conversa não seria nada agradável. Sorveu um grande gole da bebida
buscando coragem.
- Então... estou esperando – ela lançou aquele olhar
de poucos amigos que apenas Lanie sabia usar com ele. Castle sentou-se ao lado
dela no sofá encarando-a.
- Tudo bem, você quer a verdade? Direi o que aconteceu
para você porém, quero pedir para que antes de tomar partido, você me ouça com
cuidado como amiga e não como advogada de Kate, ok?
- Certo. Prometo que irei ouvir a sua versão. Na
verdade, eu vim aqui para saber o que aconteceu porque vi sua entrevista essa
manhã no jornal matinal. Tua cara te denunciou, Castle. Soube na hora que algo
havia acontecido.
- Você está certa. Nós brigamos. Nah, brigar é um
termo muito vago. Nos desentendemos por vários motivos, situações que vivenciamos
e foram nos atingindo a mim mais do que a ela aparentemente. Lanie eu fiz tanto
por Kate, cedi tantas vezes, a servi, fui um exemplo de namorado, procurei
compreender o lado dela em uma nova cidade, com um novo desafio. Tudo o que
pedi foi um pouco de atenção. Algumas vezes, engolia o orgulho e procurava me
convencer de que era assim que a vida a dois deveria ser. O nosso problema era
que as concessões somente eram feitas do meu lado. Nos poucos momentos que a
quis comigo, ela não pode atender ao meu pedido. Isso foi me consumindo, me machucando
por dentro e pude perceber que em três meses juntos, Kate não aprendera a viver
a dois, como um casal. Estava sempre esperando que eu aceitasse tudo o que ela
queria ou dizia. A gota d’água foi depois da minha volta de New York. Estava
louco para contar a ela as novidades, fiz um jantar e bem no meio ela recebeu
um chamado e me ignorou, me deixou sozinho com a comida, o vinho e a sobremesa.
Nem ouviu o que tinha para contar e ainda desdenhou do meu trabalho, o chamou
de aventuras editoriais. Aquilo doeu demais em mim. Uma semana depois, chamei-a
para conversar. Disse que gostaria de um tempo de nós, falei que voltaria para
cá e de repente, ela fez algo impensável. Kate me ameaçou. Ela disse que se eu
saísse pela porta era o fim do noivado, de tudo. Não me deu alternativa.
Castle sorveu a bebida esvaziando o copo. Percebera
que Lanie tinha lágrimas nos olhos.
- Nossa, eu não tinha ideia de que fora tão sério.
Você não fez nada depois da ameaça?
- Eu estava decidido a vir para cá. Além disso, Kate
estava no afã da raiva, teimosa como ela é como poderia fazer algo? Não, ela
precisa desse tempo. Apenas quando entender o que “nós” realmente significa,
ela estará pronta para me procurar.
- Tem certeza do que está fazendo? Acha mesmo que Kate
virá te procurar? E se a razão falar mais alto e ela por teimosia decidir tocar
a vida sem você?
- Não acredito nisso, Lanie. Ela me ama, nós nos
amamos e não há espaço para outra mulher em minha vida. Mesmo sofrendo e
morrendo de saudades, necessito dar o tempo para ela se encontrar. Por ela. Acredito
em nós e se ela precisar de verdade, estarei lá.
- Acho que você me convenceu. Sorriu.
- Não se trata de convencimento, isso não deixa de ser
uma forma às avessas de cultivar o amor.
- Queria poder fazer algo para você, para Kate mas me
sinto de mãos atadas.
- O tempo se encarregará disso, não você. Lanie se
levantou e abraçou-o. Despediu-se e ofereceu o que podia.
- Se precisar de um ombro para se consolar, me avise.
Preciso sair agora mas ponha um sorriso nesse rosto – ele obedeceu – só por
curiosidade, o que fez com a torta?
- Joguei no lixo.
- Ouch! Se cuida, Castle. E deixou o apartamento.
XXXXXXX
Sentado com o olhar perdido, ele suspirou com as
lembranças. No fundo, Castle sempre tivera esperança de que Kate voltasse a
procura-lo, afinal ela já o fizera uma vez. Eram momentos tristes que ele não
gostava de trazer de volta à mente. Ela lhe fizera um pedido. A ajuda em um
caso, uma última vez. Se fosse para estar próximo a ela por mais algumas horas
ou dias, porque não? Pegou o telefone e discou o número de sua agente.
Precisavam fazer alguns acertos na agenda de lançamentos. Alegaria problema
pessoal. Era exatamente isso, não? Pegou o celular, discou o número da Paula.
- Paula, pode conversar? Tenho um problema e preciso
parar a turnê por uns dias.
- Como é? Mas temos uma agenda.
- Sei que temos compromissos mas foi uma situação
atípica que surgiu nas últimas três horas. E não posso adiar. Preciso que
remarque as datas de Memphis.
- Poxa, vou ter que enfrentar um monte de gente.
Brigar por datas...
- Paula, preciso disso. Não estaria pedindo se
realmente não fosse importante.
- Somente me diga, tem a ver com uma certa detetive também
conhecida por musa?
- Não diretamente porém envolve vidas.
- Entendi, o que eu não faço por você meu escritor preferido?
– ela riu.
- Tantas coisas, ah...tantas – riu também – obrigado,
Paula.
Apartamento de Beckett
Ela chegou em casa e antes de fazer qualquer coisa,
serviu-se de uma taça de vinho. Bebeu-a vagarosamente. Sentia os músculos do
pescoço duros, as pontadas de dor foram aumentando à medida que as coisas
ficaram mais difíceis durante o dia. Kate não planejara perder a cabeça com o
seu chefe imediato, também não pretendia ser afastada do caso que já se
envolvera completamente. Precisava salvar Sasha, dera sua palavra ao pai dela.
Kate Beckett não costumava deixar de cumprir suas promessas. Porém, de tudo o
que não planejara durante o dia fora seu reencontro com Castle. Esquecera-se
completamente do lançamento do livro. Não esperava encontra-lo. Muito menos
pensara vê-lo descartar a ideia de ajuda-la. Claro que ela reconhecia que ele
não esnobou o caso, nem desconsiderou o resto. Talvez Castle ainda estivesse
magoado com tudo. Ultimamente, ela evitava pensar muito sobre o que acontecera
há cerca de três meses atrás, se agira certo ou não, porque pensar era o mesmo
que remoer o sofrimento, a dor voltava avassaladora consumindo-a em tristeza e
lágrimas.
Kate se jogou de cabeça no trabalho. Doze, quatorze
horas diárias foram o remédio por ela encontrado para manter a mente ocupada
depois que ele se foi. Lutara a cada minuto para afasta-lo de seus pensamentos.
Tudo fora em vão. Nunca conseguiria esquecê-lo, muito menos deixar de ama-lo. Independente
das brigas ou de não ter mais um relacionamento, sempre o amaria. Esse fora o
preço que ela tivera que pagar ao agir por impulso, deu raiva e recebeu em
troca tristeza e solidão. Consequências de seus atos e infelizmente teria que
arcar com eles.
Washington – meses atrás
Foram os piores momentos da vida de Kate quando vira a
porta fechar atrás de si. Apenas chorava por longos minutos que se
transformaram em horas. A raiva permanecia a esmagar o peito. A razão, senhora
de si também fora abandonada, esquecida em um canto. Ela se arrastou até o
quarto deitando-se na cama apenas para sentir o cheiro dele impregnado no
travesseiro. Enterrando seu rosto nele, soluçou e aceitou a dor em seu coração.
Assim adormeceu.
Voltou a acordar dez horas depois com o celular
tocando. Jordan. Atendeu e escutou as instruções. Pediu meia hora para se
apresentar no bureau. Lavou o rosto e disfarçou as olheiras e as marcas
deixadas pelo choro no rosto com maquiagem. Então, Kate fez o que sabia de
melhor: enterrou-se no trabalho.
Durante dias ela vivera a base de cafeína e casos. Nem
bem fechara um, já começava a analisar outro. Ficara mais de 48 horas
trabalhando ininterruptamente, tirando cochilos pelos cantos do bureau. Não
queria voltar para casa. O motivo era
apenas um, tudo ali lembrava Castle. Ele estava presente em cada espaço, na
roupa de cama, em seu guarda-roupa e no banheiro. Ainda sentia o cheiro do
perfume dele no ar e suas guloseimas continuavam na geladeira. Era uma tortura
para ela. Usar o trabalho era sua forma de não remoer a dor e os motivos que os
levaram até o rompimento do namoro. Por orgulho e teimosia, Kate não aceitava
ser a maior culpada na história. Para ela, Castle não conseguira dar o apoio
que tanto prometera quando viera a Washington, fez disso sua verdade e assim
durou por muito tempo. Apenas se enganando.
New York – três meses atrás
Ao sair da casa de Castle, Lanie remoeu tudo o que
ouviu e tomou uma decisão. Podia não conseguir ajudar Castle diretamente mas
isso não queria dizer que deveria se manter alheia aquela situação. Voou para
DC e bateu a porta dela. Kate precisava de um choque de realidade. Ao vê-la na
porta, Lanie tomou um susto. Estava muito magra. Os olhos fundos e cheios de
olheiras.
- Lanie?
- Kate... o que você anda fazendo? Meu Deus! Olhe pra
você...
- O que você está fazendo aqui?
- Ao que parece te salvando de uma desnutrição – ela
entrou – tem comida nessa casa porque senão vamos já para a rua.
- Deixe de exagero, Lanie. E tem comida sim, eu acho.
Lanie sequer pensou em começar a conversar. Sua
prioridade era alimentar Kate. Não sabia como ainda não tinha ido parar em um
hospital. Checando os armários encontrou um pacote de macarrão e alguns
temperos e creme de leite. Ia ter que servir. Sem pedir licença, ela começou a
cozinhar ordenando a Kate que preparasse a mesa. Vinte minutos depois, as duas
sentavam frente a frente para jantar e enfim iniciar a conversa séria que Lanie
tanto pretendia. Ouvira um lado, era a vez de saber a versão da amiga.
- Kate, o que aconteceu afinal entre você e Castle?
Como brigaram desse jeito? Vocês iam casar. Porque tudo mudou?
- Lanie, se soubesse que você queria conversar sobre
isso, tinha poupado sua vinda a Washington.
- Pra eu receber apenas a noticia de algo ruim que
acontecera com você? Estou aqui como sua amiga, para te apoiar, ouvir e ser seu
ombro para chorar se assim quiser. Não esconda nada de mim. Desabafar faz bem.
Kate bebeu um pouco mais do vinho e após colocar mais
uma garfada na boca, ela suspirou.
- Quer mesmo saber? Nosso rompimento foi por um pouco
de tudo e um monte de nada. A vida a dois aqui em Washington não estava sendo
tão fácil assim. Vivíamos altos e baixos. Mudar para uma cidade e se adaptar já
é algo difícil, com um novo emprego e dividindo o apartamento 24 horas com
alguém transforma isso de maneira exponencial. Tivemos ótimos momentos aqui, não
nego. Porém, era mais simples para ele se adaptar. Ele fez concessões por mim,
cedeu e compreendeu a minha situação várias vezes. Errei ao não cumprir meu
papel de namorada, de parceira com ele. mas Lanie, como poderia? Simplesmente
ignorar um chamado do FBI ou uma prisão. Por Deus! São minhas
responsabilidades.
- Kate, você é minha amiga e estarei sempre a seu lado
porém por esse mesmo motivo tenho obrigação de dizer que está errada. Castle
fez sacrifícios por você. Mudou por você e não estou falando apenas dessa
mudança, de tudo. Você está me dizendo que essa briga aconteceu depois da volta
de New York? Justamente próximo aquele telefonema que trocamos e eu lhe contei
como ele estava feliz? Porque você não falou?
- Eu não sabia de tudo, estava focada no meu caso e
quando você me contou da torta...ah, Lanie! Eu errei e o remorso me corroeu
porém acredito que era tarde demais. minha reação acabou culminando na nossa
separação.
- Porque o extremo, Kate? Ele te pediu um tempo. Algo
para ajudar a você mesma. Porque você acabou o relacionamento, o noivado? Não
consigo entender. Foi radical demais na minha opinião.
- Raiva, Lanie. Simplesmente me deixei levar pela
raiva cega. Estava sob pressão, com problemas e quando Castle veio tomar
satisfação, me cobrar, eu surtei. Fui guiada pela emoção e acabei falando
demais.
- Se tem consciência disso, porque não procura por
ele? Esclarece as coisas? Pede perdão, sei lá! Qualquer coisa para não perder o
que vocês tem. Não pode deixar o amor de vocês acabar assim, sem ao menos
conversar uma vez mais. Me dói o coração ver o que estão fazendo um com o
outro.
- Ele pediu um tempo, estava decidido. Tenho culpa em
grande parte do que aconteceu mas tenho também razão. Minha carreira está em
jogo, eu arrisquei toda a reputação que construí nesse novo desafio, não irei
abandona-lo.
- No entanto está disposta a abrir mão da sua
felicidade, de alguém que te ama e já provou tantas vezes inclusive arriscando
a própria vida por você? Sabe Kate, Castle tem razão. Você precisa ficar longe
dele. Sua teimosia é típica. Aliás, esse é um comportamento clássico de Kate
Beckett. Talvez com o passar dos dias, semanas, você cai em si e comece a ver o
erro que está cometendo.
Kate ficou calada por um tempo. Não tinha argumentos
para refutar o que a amiga dizia. Resumiu apenas em poucas palavras o resultado
dessa conversa difícil.
- Entendo que você fique ao lado dele. Estou começando
a acreditar que é melhor assim.
- Não estou defendendo Castle. Quero fazer você
acordar e lutar pelo que ama ou acha que ele está melhor que você? Eu estive
com ele. Não escreve desde que voltou, está abatido e triste. Sabe o que ele
tinha em mãos quando abriu a porta para mim? Uma foto sua! – ela percebeu que
Kate ficara sem ação – tudo bem, eu fiz minha parte. Leve o tempo que quiser
para tomar uma decisão,Kate apenas lembre que quando isso acontecer pode ser
tarde demais.
Depois que Lanie foi embora, ela ficou pensando no
teor da conversa. Kate tinha um defeito muito grande. Quando alguém dizia umas
verdades a ela, tendia a deturpa-la. Era difícil assumir que estava errada,
reconhecer que falhara para Castle porque Kate detestava o fracasso. Isso quase
a levou à loucura em seus primeiros anos de NYPD devido ao caso de sua mãe.
Como seu pai não cansava de repetir, era no trabalho que ela se refugiara por
medo de admitir que a vida do lado de fora estava pronta para recebê-la de
braços abertos.
Quando pensava em Castle, não esquecia tudo que ele
fizera por ela. Buscava sempre agrada-la e mima-la, talvez por isso exigira o
mesmo dela. Então se perguntava o que houve com o “estarei sempre ao seu lado”,
“o que você decidir” e a parceria? Se me ama tanto, porque foi embora na
primeira oportunidade?
O que aconteceu com eles? Onde estavam errando?
Perguntas demais, pontos de interrogação demais. Fora a rotina que fizera isso
com ela? A acomodação?
Mas o choque de realidade tão necessário para Kate
nesse momento fora adiado com uma ligação do FBI. Mais uma vez, ela se enfiara
no trabalho evitando o que precisava enfrentar. E a prioridade mudara como já
acontecera outras vezes.
xxxxxxx
Ainda lembrava das conversas com Lanie. Ela tentou
colocar um pouco de juízo na cabeça da amiga, porém a teimosia de Kate fora
maior. A amiga tentou de tudo, apelara para sentimentos e emoção. A decisão
boba em meio ao momento delicado. Nada fizera Kate voltar atrás em sua decisão.
Os dias arrastaram-se durando muito mais do que parecia aos olhos de Kate.
Transformaram-se em meses. Apenas quando estivera à beira de uma estafa, Kate
assumiu que precisava parar. Curiosamente, quando decidiu seguir em frente, o
caso de Sasha chegou as suas mãos trazendo memórias intensas que ela gostaria
de deixar para trás.
Levantou do sofá e decide tomar um banho, refrescar as
ideias para então voltar e pensar no caso. Buscar algo que houvesse perdido e
principalmente focar na sua vida sem Castle.
Sim, ela deveria encarar a realidade. Se ao pedir
ajuda ele a negou, era sinal de que havia seguido em frente. Tinha que encarar
o fato de que não fazia mais parte da vida de Castle. Então ela se recriminou.
Que bobagem é essa que está falando, Kate? E o autógrafo? E o que você quer?
Foram três meses insanos de noites mal dormidas, tristeza e solidão. Como você
pode sequer imaginar sua vida sem ele? – o monólogo continuava em voz alta -
Você descobriu que o seu plano de ficar sozinha não funciona. Também reconheceu
que sabotara a sua vida a dois seja por medo ou stress. Você é uma idiota,
Kate! – dizia para si – idiota! Ela andava pelo quarto matutando o seu próximo
passo enquanto enxugava os cabelos. E a conversa continuava em voz alta.
- Preciso falar com ele mas se eu ligar agora, pode
achar que estou cobrando ou forçando sua resposta sobre o caso. Pode
interpretar qualquer movimento meu como desespero. Amanhã. Sim, será melhor
procura-lo amanhã na livraria. A campainha toca. Kate tranquilamente dirigi-se
à porta e ao abri-la, dá de cara com Castle usando jeans, camiseta e um casaco
de lã, escorado em sua porta. O coração dispara. Rapidamente enrola a toalha na
mão. Os cabelos molhados ainda pingavam nos ombros e Castle teve a incrível
sensação de voltar para casa ao sentir o cheiro tão familiar de cerejas.
- Hey...
- Hey, posso entrar?
- Claro, desculpe. Eu pensei que você não viria até
aqui, disse que telefonaria – ela falava tentando conter a ansiedade.
- Achei melhor vir direto. Não havia necessidade de
avisa-la já que provavelmente passaremos a noite em claro trabalhando no caso.
- Você vai me ajudar? E a sua agenda de compromissos?
Não pode se prejudicar por causa de um caso que nem sob a minha
responsabilidade está mais.
- Kate, eu já resolvi meu problema de agenda. Sei o
quanto um caso de sequestro mexe com você e sei o que significa pois já
vivenciei um. A justiça é importante, salvar uma vida deve ser sua prioridade.
Não estaria aqui disposto a ajuda-la se não acreditasse em você. Se realmente
houver uma história como você afirma, vamos interpreta-la e juntos acharemos um
meio de salvar a moça.
Kate calou-se por um momento para apenas olhar para
ele. Deixar o turbilhão de emoções que acontecia dentro de si acalmar antes de
qualquer outra reação. Um alívio percorria sua espinha. Ela que já havia
desistido e de maneira pessimista pensava em elimina-lo de sua vida, de repente
se depara com o inesperado. Castle estava ali para ajuda-la. E justamente por
isso, ela viu ali uma nova chance. Ele aparecera na sua porta como um presente
bastando apenas que ela engolisse seu orgulho ferido e se jogasse na direção
certa.
Ele que também tirara o momento para admira-la,
resolveu voltar à realidade.
- Então... você tem as informações?
Kate respirou fundo. Prioridades - pensou.
- Sim, sente-se. Vou pegar o material.
Kate volta do quarto com as pastas da investigação que
montara e o tablet. Entrega a ele. Castle já ligara o notebook na tv e se
preparava para montar o quadro do caso. Enquanto fazia isso, Kate começou a
contar detalhes da investigação sem tirar os olhos dele. Castle ouvia
atentamente ao copiar arquivos do tablet dela. No seu ponto de vista, por tudo
que já ouvira parecia um caso simples no que se referia à investigação, porém
tornava-se complexo pelo nível das pessoas envolvidas. Figuras importantes do
governo americano. Ao analisar previamente os dados, Castle tinha que concordar
com ela. Não parecia mesmo um crime político. Tudo indicava ser um crime
passional. Vendo que ele estava concentrado lendo algumas informações, ela se
levantou e decidiu fazer um café. Enquanto mexia na cozinha, virou-se para
perguntar.
- Você esta com fome? Posso preparar algo? Estou
fazendo um café.
- Posso comer mais tarde, a menos que você esteja com
fome. Podemos pedir uma pizza.
- Ok, faremos isso mais tarde. Conheço um lugar que
faz entrega 24h - voltou a sentar ao lado dele e estendeu a caneca de café. O
cheiro do café quentinho trazia uma outra atmosfera ao ambiente. Castle sorveu
um gole da bebida forte pensando em como tudo parecia como antes. Sentado ali
com ela, aqueles últimos três meses cruéis apagavam-se da sua mente
momentaneamente, como um passe de mágica.
Kate olhava fixo para a tela da tv com a caneca nas
mãos. Tinha um ar típico de quem analisava detalhes. Ele por sua vez, tinha uma
foto do estacionamento onde Sasha fora levada nas mãos. Franziu a testa em
sinal de algo estranho. Voltou-se para o notebook e assistiu o vídeo da câmera
de segurança novamente. Reprisou e pausou onde queria. Comparou com a foto. Fez
questão de verificar três vezes antes de se dar por satisfeito. Sorrindo, ele
pensou. Bingo!
- Acho que encontrei algo - ela virou-se para prestar
atenção nele - olha essa foto. Repare no canto direito inferior. Tem um carro
azul marinho, certo? Vê uma placa parcial? Agora repare no mesmo carro na
filmagem da câmera do estacionamento, antes e depois do momento em que Sasha é
sequestrada - Castle repassou o vídeo, repetindo o processo de pausa.
- É o mesmo carro e sai logo em seguida da van. Quase
no mesmo minuto. Não dá para saber se tem alguém lá dentro. O insulfilme...
- Não deixa-nos enxergar, mas a placa é visível -
disse Castle - a pergunta é de quem é esse carro? Quem seria essa testemunha?
Pegando o tablet, ela acessou o programa do FBI para
verificar a placa. Digitou o número 255-ZVG e clicou em "search".
Estava ansiosa quando a resposta pulou na tela.
- Oh meu Deus!
- O que foi? - perguntou Castle
- O carro está registrado em nome da empresa de
petróleo do pai de Josh.
- Você quer apostar quanto que o motorista é o próprio
Josh? - disse Castle.
- Não preciso apostar, concordo com você. Nem sei como
não vi isso antes. Passou despercebido. O problema é que apesar do carro ser da
empresa, eu não posso chamar novamente o dono para depor, mesmo com essa nova
evidência ainda não posso provar o crime passional e nem mostrar que aceitei o
motivo da investigação deles, ou seja, nada de voltar ao FBI.
- Tenho uma ideia melhor mas primeiro, que tal aquela
pizza? Estou com fome. Já são quase duas da manhã - ele se levantou do sofá e
serviu-se de um copo d'água - se o que estiver pensando funcionar, você terá
motivos para trazer Josh novamente para depor ou talvez poderá chegar a Sasha
antes do que imagina.
- Como assim? Explique.
- Não, primeiro peça a pizza - ela revirou os olhos e
pegou o celular. No fundo, tinha um pequeno sorriso nos lábios, ele a provocava
como nos velhos tempos.
Meia hora depois, a pizza chegara. Comiam quase em
silêncio, trocando uma ou outra palavra sobre detalhes do caso. Ele ainda lia
as folhas de anotações dela. Percebia o quanto ela estava curiosa pelo o que
ele deixara no ar. Não conseguindo mais, ela pediu.
- Castle você vai revelar sua ideia para mim ou posso
ir dormir? O tempo é tudo agora.
- Certo, a única forma de conseguir ligar Josh ou seu
pai ao sequestro seria provar que existe algo claro. Se ambos suspeitamos que
Josh dirigia, então podemos afirmar que ele usa esse carro constantemente.
Minha sugestão é simples. Ficarmos de tocaia na casa de Josh e segui-lo assim
que ele deixar sua casa. Você não chegou a ir só ao campus atrás dele, acredito
– ela confirmou que ele estava certo com um leve movimento de cabeça - Então,
faremos como nos velhos tempos. Investigação de rua, pista a pista. Aposto que
ele usa o mesmo carro e descobriremos mais sobre ele na universidade. Que tal
uma boa visão de policial dos anos noventa sem grandes tecnologias? Café e
donuts para nós dois?
- Você me conhece, Castle. Sou da escola antiga. Fazer
tocaia é moleza. Acho que você tem razão. Voltar ao básico pode dar as melhores
alternativas para desvendar esse crime e salvar Sasha.
- Ótimo! - ele salvou as alterações no notebook e o
fechou - vamos dormir. Recomeçamos amanhã às 9 horas,pode ser? Ambos precisamos
dormir e descansar - puxou um cartão da sua carteira e entregou a ela - esse é
o meu hotel. O número do quarto está no verso caso precise me contatar. Você se
importa se eu levar essa pasta com alguns dos materiais do caso? Sei que já
tenho grande parte no notebook mas precisamos de toda informação que pudermos.
Quem sabe eu não encontre mais alguma pista?
- Claro! Você está aqui para me ajudar a investigar.
Passo lá às 9 da manhã sem falta. Tomamos café juntos?
- Por mim tudo bem. Te vejo amanhã, Kate - ela abriu a
porta pra ele ainda achando estranho vê-lo sair pela porta mais uma vez, um
deja vu incômodo. Nos últimos minutos da noite, ela se pegou pensando em
sugerir para Castle dormir ali. Mordeu os lábios e quase pediu para ele ficar
com ela no apartamento.
- Boa noite, Castle.
Com a porta fechada atrás de si, ele suspirou.
Sentia-se bem como não acontecia a muito tempo. Esse era o efeito Kate Beckett
em sua vida. De volta ao hotel, ele dedicou um pouco mais de tempo na leitura
do caso. Ele sabia que muitas vezes os pequenos detalhes faziam diferença na
hora de uma investigação ou na definição de um suspeito. Aprendera isso ao
escrever seus livros de Derrick Storm e apenas comprovara quando começou a
trabalhar com Kate no 12th. Gradativamente, ele juntava as peças do
quebra-cabeça e não pode deixar de notar a semelhança da história de Sasha e
Josh com a deles. Passava das quatro horas da manhã quando ele resolveu dormir.
No dia seguinte às 9 horas, Kate estacionava o carro
na frente do hotel. Castle provavelmente já estaria acordado e esperando por
ela. No saguão do hotel, nem sinal dele. Dirigindo-se ao elevador para o andar
onde ele se encontrava hospedado. Tocou a campainha várias vezes até finalmente
ouvir o barulho do trinco sendo destrancado. A cara amassada de Castle
denunciava que perdera a hora.
- Kate? – por um momento, ainda sonolento e enrolado
no lençol pareceu esquecer porque ela estava ali.
- Já passa das nove – ela entrou assim que ele lhe deu
espaço – o que aconteceu? Combinamos e você ainda dorme.
- Desculpe, acabei dormindo tarde. Fiquei lendo os
detalhes do caso e perdi a hora, apenas me dê uns minutos – ele se dirigiu ao
banheiro. Kate pode ver a papelada aberta sobre a pequena mesa de apoio que
simulava um escritório. Sorriu. Sabia como ele gostava de fazer suas próprias
análises e vinha em seguida com suas teorias, algumas vezes um tanto
excêntricas. Caminhando pelo quarto, ela observava os detalhes do local.
Possuía o mesmo formato de tantos outros, o que estava interessada eram nas
coisas dele espalhadas por ali. Ao aproximar-se da cama, ela viu sobre uma
poltrona a camisa que ele usava ontem. Por impulso, ela pegou a camisa e
levou-a ao nariz. Fechar os olhos fora apenas complemento do reflexo. Kate
inalou o cheiro amadeirado do perfume e da pele dele. Ao abrir os olhos, ela se
deparou com algo familiar sobre a cama próximo aos travesseiros. Um pano rosa.
Ao toca-lo, Kate reconheceu sua camisa. Mas o que ela fazia ali? A menos que...
então Kate lembrou o que poderia ter acontecido, esquecera a peça na casa dele.
Era o único modo de explicar o que encontrara. Ouviu um barulho no banheiro de
porta se abrindo e rapidamente ela livrou-se das peças em mãos para não
levantar suspeitas. Finge estar olhando a paisagem pela janela.
- Estou pronto – ele percebe a blusa dela sobre a cama
e logo procura evitar que Kate perceba pois não saberia o que ela pensaria -
Vamos? Estou louco por um café.
- Claro – ela sorriu aquecendo o coração dele com o
gesto.
Pararam na primeira Starbucks que encontraram.
Revigorados com café e alguns muffins, também levaram algumas guloseimas para
depois e seguiram para o endereço da mansão dos Matthews. A uma certa distância
da saída da mansão, Kate estacionou o carro. Castle desceu do carro para
observar pelos portões para verificar se o carro suspeito estava à vista. Kate
nem podia pensar em aparecer já que se soubessem que ela rondava a propriedade
poderia ser realmente complicado para sua situação no FBI. Minutos depois,
Castle volta ao carro.
- A propriedade é bastante grande e não consigo ver o
carro que procuramos mas há movimentação na casa, acho que alguém sairá em
breve.
E estava certo. Com menos de cinco minutos, os portões
da mansão se abrem e o carro azul marinho deixa o local. No volante estava
Josh. Castle sorri pra Kate.
- Hora da caçada, agente Beckett...
Mantendo certa distância, eles seguiam o carro que
como Castle suspeitava fora direto para a universidade de Washington.
Estacionou e com pressa caminhava para o prédio da universidade com sua mochila
nas costas. Parecia um estudante como outro qualquer, nada suspeito. Esse
comportamento de Josh não agradava a Castle porque poderia significar que o
rapaz realmente não tinha envolvimento no crime porém, ele sabia que Beckett
não insistiria nessa ideia caso não tivesse conhecimento suficiente para
suporta-la. Não podia deixar que ela percebesse o que estava pensando. Kate estranhou
o momento de silêncio que se seguira entre eles. Estaria Castle pensando o
mesmo que ela?
- Castle e se eu estiver errada? Quer dizer, Josh
parece um universitário comum.
- Kate, eu acredito em você. Li o caso, acredito ser
totalmente possível. Quantas vezes sua intuição a traiu? Muito poucas. Além
disso, as aparências enganam. Vamos esperar mais um pouco – Castle virou-se
para fita-la, queria comentar algumas coisas do caso com ela mas estava receoso
de como ela iria encarar a conversa – ontem quando reli os dados do caso, não
pude deixar de notar como a vida de Sasha e Josh se alterou por forças de
circunstâncias. Eles pareciam um casal feliz, completo. A partir de uma
mudança, tudo começou a desandar. O estágio de Sasha, a possibilidade de se
destacar e crescer na área da medicina fez com que Josh se sentisse enciumado,
trocado. Mas ele também falhou com ela, o tempo de cada um parece não casar
entre eles. As prioridades ganharam destaque além do sentimento. Ele resolveu
também investir em si não como uma forma de competição mas Josh é ambicioso e
quer a aprovação do pai. Precisa disso. Essa é a história que o FBI não
consegue enxergar, talvez apenas por não tentar entender ou se colocar na mente
dos envolvidos. Você enxergou isso, eu enxerguei isso provavelmente por nos
identificarmos com as personagens, por semelhanças ou mesmo por sermos mais
observadores das relações humanas.
Quando Castle começou a falar, Kate primeiramente
acreditou que ele estava apenas fazendo algumas observações sobre o caso porém,
percebeu que assim como ela, Castle notara a similaridade com a história deles
e ficou mais aliviada quando ele não se estendeu trazendo o assunto do
relacionamento deles à tona naquele momento.
- Acho que você está certo. Essa é a razão de vermos o
outro lado, nos colocamos no lugar dos envolvidos.
- Lições da NYPD com um toque de um bom escritor,devo
acrescentar.
Ela sorriu. Sempre convencido. Suspirou. Era bom estar
novamente com ele, sentia falta de seu parceiro em todos os sentidos não podia
negar e por isso considerava essa pequena aventura entre eles uma espécie de
momento agridoce porque sabia que em alguma hora tudo iria acabar. Para driblar
a sensação de ardência que começara a sentir no fundo da garganta, resolveu
implicar com ele.
- Você não perde a chance de se vangloriar hein? Deixa
de ser exibicionista, Castle.
- Não estou me exibindo. Falo a verdade, quantas vezes
já estive certo durante as nossas investigações? É praticamente um fato
estatístico. E também... – mas ele não continuou a frase pois Kate o impediu
apertando sua coxa e chamando a atenção dele.
- Castle, olha. Lá vem o Josh. Parece apressado.
- Hum, e não estamos nem a duas horas aqui esperando.
As aulas não terminaram. O que será que Josh está aprontando?
Ela não respondeu ficando atenta aos movimentos do
rapaz que entrava em seu carro e arrancara.
- Hora da diversão, Castle.
- Tudo que eu estava esperando, Kate – e ela arrancou
atrás do veiculo azul marinho.
Continua.....
3 comentários:
A cada capítulo fico mais ansiosa pra saber o futuro desses dois!!
Tô amandoooooooooo essa fic!!!
Karen vc quer me matar com essa fic.A cada capítulo quero sempre mais. Amando demais essa fic. Por favor não demore para postar.
Ei só tive tempo de aparecer aqui hoje.Enfim,Kate tem coragem viu?!Acho que EU não teria,entendi as atitudes do Castle em pensar no trabalho dele manter o foco,numca defendi tanto ele durante este 1 ano em que sou caskett e em toda fic que já li sua.Voltando...
...Este grito de socorro da Bex me deixou com um nó na garganta,pensei que ele não iria ajuda-la só que o amor falou mais alto,aos poucos e da maneira mais dolorosa Kate esta aprendendo o significado da palavra "NÓS".Esperando pelo proximo cap.
Postar um comentário