sábado, 17 de março de 2012

[Castle Fic] Rise Again - Cap. 15


Nota da Autora: esse capítulo foi bem estranho de escrever, o episódio é cheio de detalhes que deixa o cap enorme. Tentei entre os acontecimentos acrescentar algo a mais. E claro, a cena final. As vezes quero avançar a linha, daí lembro que não posso... resta esperar e confiar no Andrew! Enjoy!

Cap.15


O veículo ia afundando totalmente com os dois dentro. O desespero tomou conta de Kate. Era uma situação muito adversa. Eles tentavam abrir as portas para se salvar. Castle forçava a maçaneta, ela fazia o mesmo.

- Essa porta não abre.

- A minha também não. Acho que emperraram na batita.

A água começava a invadir o carro. Kate percebeu que o seu cinto não cedia por mais força que fizera, estava emperrado.

-Precisamos quebrar o vidro.

-Minha arma – ela apalpava o casaco e os bolsos, nada - Castle, não consigo... Não consigo achá-la. Acho que caiu quando fomos atingidos.

O olhar dela demonstrava preocupação.

- Ajude-me a procurá-la.

Ele começou a passar a mão por baixo d’água para ver se conseguia descobrir onde a arma tinha caido. Ela tentava soltar o cinto para ajudá-lo sem sucesso. Empurrou o corpo contra o banco e nada do cinto soltar.

- Estou presa.

- Como assim está presa?

- Meu cinto está quebrado, e o banco não se mexe.

Ele tentou em vão puxar o cinto junto com ela.

- E uma faca, você tem uma?

- Tenho... no porta-malas.

Nada. Se olharam por uns instantes, ambos apreensivos. Depois repararam a água subindo pelo fundo do carro, já estava na cintura de Beckett. Ficaram uns minutos contemplando a cena. Beckett acabou sendo a primeira a falar.

- Certo, estamos sem tempo, preciso que procure pela arma e ai só precisa atirar no cinto.

Ele tateava com as mãos em vão.

-Não consigo achar.

Ele finalmente achou a lanterna.

-Castle.

Ligou a lanterna e ordenou.

- Aguente aí, aguente aí. Fique aí.

Como se ela pudesse ir a algum lugar. Ele mergulhou e passou a procurar com a lanterna pela arma. Ele mexia em algumas coisas do porta-malas dela. Avistou um coldre. Puxou-o uma vez sem sucesso. O ar em seus pulmões começava a faltar. Beckett respirava ansiosamente, odiava se sentir impotente, lutava ainda com o cinto. Ele emergiu.

- Achei!

E apenas tomando fôlego, ele voltou a mergulhar para pegar a arma. Beckett podia ouvir ele se mexendo embaixo d’água e a mesma continuava subindo. Ele lutava puxando o coldre da melhor maneira que podia. Todas as tentativas pareciam ser em vão. Um puxão e o coldre escapuliu novamente. Tentou mais uma vez mesmo sentindo o ar diminuir, chegando ao seu limite. De repente, ela não ouvia mais nada. Um silêncio a rodeou. Ficou agoniada, com cuidado, ela mexeu a mão debaixo d’água tentando tocar nele para se certificar que ainda estava ali. O chamado saiu primeiramente como um sussurro.

- Castle?

Ela tentava tocá-lo. Agora, o grito fora mais forte.

- Castle!

Sem respostas, ela debatia-se no banco tentando se soltar. O carro continuava afundando cada vez mais. A agua estava agora na altura do peito dela. O desespero por querem escapar com vida injetou uma nova onda de adrenalina nela. Usava de toda a força que podia para se livrar do cinto. As mãos batiam no volante, a água atingiu o pescoço e Beckett lutava para se manter respirando. Estava quase sem um espaço livre, o ar estava acabando. Ela foi forçada a mergulhar. As mãos batiam no vidro numa tentativa de quebrá-lo, tudo que queria era sair dali viva. O carro submergia e ela se viu embaixo d’agua presa e sem ar. Ainda imprimia uma certa força sob o volante até que não mais resistiu e soltou-o, sinal de que suas forças acabaram. O carro descia rio abaixo. De longe, via-se um estrondo de vidro quebrando.

XXXX

Beckett estava parada às margens do Hudson. Vestia uma jaqueta para se esquentar, os cabelos molhados e embaraçados caiam nos ombros. Ela estava pensativa. Ao fundo, ambulâncias e sirenes de polícia. Ela sentiu alguém se aproximar. Era ele.

- Acho que a coisa boa de ter sua filha na cena do crime é que ela pode te trazer roupas secas.

Ele estendeu o café para ela.

- Obrigada, e... obrigada.

Sim, ela devia a vida a ele.

- Faria o mesmo por mim.

- É, talvez.

E riu para ela.

- Estou feliz por ter achado minha arma.

- Essa coisa de naufrágio de carro é mais legal nos filmes que na vida real.

- Prefiro assistir filmes de espião a estar neles.

Esposito os interrompe.

- Então... contem-me... como a vítima pode parecer com Nelson Blakely quando ele supostamente morreu há 10 anos?

-É, eu... Beckett não sabia o que dizer.

-É, estranho, não é?

- É. Estranho. Mortes falsas, carro na água... não acha que agora é hora de nos contar o que está acontecendo?

- Me desculpe, Javi. É confidencial.

- Eu fui das Forças Especiais. Eu comia confidencial no café da manhã. E o escritorzinho pode saber? – visivelmente chateado - Certo. Estarei lá com a patrulha do porto tentando descobrir um jeito de tirar a sua unidade da água.

E então ele falou.

- Estou feliz por estarem bem.

- Obrigada. Ela falou tentando se desculpar.

- Escritorzinho?

-Acha que o atirador era Gage?

-Sim. Acho que está se livrando de todos que possam expô-lo.

-Ele está fazendo um ótimo trabalho. Não sabemos o que é Pandora.

- Sabemos que Blakely estava com medo. E que estava trabalhando em algo grande que ameaçava o futuro do país.

- Só não sabemos em que ele estava trabalhando.

- Tem que ter uma pista em algum lugar da vida dele. Talvez haja algo no corpo.

Mas Lanie falou.

- Não. Checamos. Não havia nada nos bolsos dele. Mas como estavam revirados, parece que alguém mexeu neles e os esvaziou.

-Gage. Ryan, leve equipes para vasculhar o prédio.

-O que procuramos?

-Não sei. Mas ele nos trouxe aqui por uma razão. Lanie, veja o que acha... arquivo dentário, cicatrizes, digitais, tatuagens, o que puder nos dizer...

Nesse instante Beckett parou de falar ao ver um carro frear abruptamente e ninguém menos que Sophia descer dele. Bateu a porta com força. Castle caminhou até ela, Beckett foi atrás.

-Ele está morto.

-Sim. Eu posso explicar... Castle começou a falar mas foi interrompido por ela com uma ordem.

- Entrem no carro.

E Castle e Beckett obedeceram. Deixando Lanie e Alexis sem entender o que acontecia. Já no QG da CIA, Sophia irritada começou a falar.

- O que pensou que estava fazendo?

- O que você queria: achando Blakely.

- Desvendou o código e nem pensou em me avisar?

Beckett se manifestou.

- Em defesa de Castle, era um tiro no escuro e não queria que perdesse tempo se estivesse errado. E o estávamos trazendo...

-Quando foi morto na sua custódia.

- O que estavam fazendo lá? O outro agente perguntou. Castle respondeu.

- Ele pediu para levá-lo.

-Por quê?

- Não sabemos. Beckett respondeu.

-Descobriram alguma coisa?

-Sim. Ele foi contratado para analisar as vulnerabilidades dos Estados Unidos. Disse que encontrou um ponto fraco na nossa economia... um estopim inesperado que se alguém descobrisse, começaria um efeito dominó.

Beckett estava claramente desconfortável com aquela situação. Precisava se impor.

-Levando a quê?

Beckett respondeu.

- Ao fim do nosso país como o conhecemos.

- E qual será a próxima jogada?

- Não há próxima jogada. Não para vocês dois. Foi um erro trazer vocês. Sabe, realmente achei... Realmente achei que você tinha mudado. Mas quer saber? Você é o mesmo imbecil imprudente, imaturo e egocêntrico que sempre foi e colocou esta investigação em risco.

-Sinto muito...

Kate escutava calada sem realmente gostar do que ouvia, afinal isso servia para ela também, Castle era sua responsabilidade.

-Sente muito? Estamos perto do próximo 11 de setembro ou pior. Isso não é um dos seus livros, Rick. É a vida real e quando as coisas dão errado, não pode reescrever o final como fez conosco.

A última frase chamou a atenção dela e olhou sorrateiramente para Sophia. Bem, ela já desconfiava.

- Tire-os daqui.


XXXXX


Enquanto estavam no elevador de volta ao distrito, a pensativa Kate não conseguiu resistir a sua vontade de perguntar. Ele não disse que responderia a todas as perguntas dela?

- Então... dormiu com ela.

- É. É, dormi com ela.

- Teve outras?

-Mulheres?

-Musas. Beckett rebateu.

- Não. Por quê? Até ali ele não tinha se interessado tanto quanto agora.

A porta do elevador abriu.

- Só queria saber o tamanho do clube. Só isso. Oi, gente. O que têm?

-Certo...

Ele a interceptou relutante. Tinha que explicar.

- Primeiro: não há um clube. E segundo: estamos fora do caso, caso não lembre.

- Estamos fora do caso deles. Ainda tenho um assassinato para solucionar.

Beckett sai andando pelo distrito e Castle atrás argumentando com ela. Ryan e Esposito observavam a cena sem entender nada.

- Que a sua chefe suspeita que está só no meio de uma operação da CIA.

- Não me importa no meio do que está. Thomas Gage matou três pessoas. Uma delas, sob minha custódia. Ele nos trancou num caminhão e jogou meu carro no Hudson.

- Gage é agente secreto treinado. Sem chances de você pegá-lo.

Ela parou na mesa e continuou justificando como poderia pegar Gage, era quase um meio de desafiar Castle, ela não iria ceder para a CIA, não depois do que ouvira de Sophia.

- Sim, eu posso, se eu descobrir aonde ele estava indo. Descobrimos no que Blakely estava trabalhando, encontramos o Estopim. Se o encontramos, encontramos Gage.

Ela olhou para a cadeira e percebeu que parara na mesa errada. Sem dizer nada, movimentou-se até o seu lugar para então perguntar.

-Algo no depósito?

-É, logo que saíram, os federais apareceram e nos expulsaram. Mas descobrimos algo sobre a vítima, Nelson Blakely. As digitais são de Scott McGregor da cidade de Long Island.

-O problema é, McGregor parece existir só nos papéis. Nenhum sinal no mundo real – Ryan falou.

- Enviaram unidades para o endereço registrado?

- Sim, e a família que mora lá nunca ouviu falar dele e ninguém reconheceu a foto.

-Alguém deve conhecê-lo.

E Castle se manifestou.

- Alguém conheceu. Ele joga xadrez. Não é um esporte solitário.

-Achei que estava fora do caso. Ela provocou.

- Ouviu o que Sophia disse. Sou um imbecil imprudente, imaturo e egocêntrico. Se você é teimosa o suficiente para continuar, sou idiota o suficiente para ir com você.

E com essas palavras, ela finalmente se convenceu que ele estava ao lado dela dessa vez.

- Certo. Vasculhem todos os parques de xadrez da cidade. Vejamos se conseguimos achar algum de seus oponentes.

O celular tocou.

- Beckett. O quê? O que quer dizer com o corpo não chegou?

Eles foram ao necrotério e Lanie mostrou o papel para Beckett.

- Eles o interceptaram no transporte. Aparentemente tinham uma ordem judicial.

- É impossível. Como conseguiram tão rápido?

- Não sei. Pergunte à sua namorada.

- Namorada? Lanie se admirou.

Castle já irritado, deu uma resposta atravessada.

-É, certo. Dormimos juntos. Foi há muito tempo. Qual é o problema?

- Não há "problema". Durma com quem quiser – visivelmente irritada e deixando o ciúme falar por ela - Quanto mais, melhor.

Alexis limpou a garganta logo após ouvir o “piti”de Beckett.

- Estou com os resultados da toxicologia.

- Sim, coloque-os ali, querida. Obrigada.

Castle e Beckett nem olhavam um para o outro. O clima de tensão era palpável na sala. Castle nem se preocupou em ficar mais com ela. Os dois precisavam esfriar a cabeça. Veio para casa com Alexis.

- E aí, está gostando de seu novo estágio?

- Estou aprendendo bastante.

- Até demais, eu acho.

- Achei que os cadáveres seriam o mais nojento.

- Engraçado. Boa noite. Ele estava apressado para se livrar da filha, não estava com paciência. Beckett certamente o irritara.


- Sobre quem Beckett estava falando?

- Não é da sua conta. Agora vá para a cama.

Alexis insistiu.

- A mulher das docas. Quem é ela?

- Ninguém. Agora vá dormir.

- Eu vi como olhou para ela, não é "ninguém".

- Não importa quem ela é porque nunca mais irei vê-la. Agora vá para a cama!

- Se vai esconder coisas de mim, vou começar a esconder coisas de você.

- Na sua idade, acho que seria uma boa ideia.

Ótimo, Castle se trocando com uma adolescente. Era até onde toda aquela situação mexia com ele, irritando-o. Caminhou até seu quarto, jogou as chaves na mesa e foi surpreendido mais uma vez.

- Sophia.

- Olá, Rick.

Ela estava sentada na cama dele com um exemplar de Deadly Storm em quadrinhos nas mãos.

- Como entrou aqui?

- Sou da CIA. Estão transformando em quadrinhos?

- Sim. Esse deu certo, então fizeram mais um.

Virando o quadrinho para ele, perguntou.

- O que acha, ela se parece comigo?

Mas Castle não estava a fim de joguinhos naquela noite.

- O que está fazendo aqui?

Ela se levantou indo até ele.

- Você vai atrás de Gage, não vai?

- Não. Saímos do caso, lembra?

Ele estava meio hipnotizado, sem saber ao certo o que dizer.

- Você mentia melhor. Sei que esteve procurando os pseudônimos de Blakely. Tudo bem, Rick. Não me importo – ela começa a jogar charme pra ele - Na verdade, eu quero você neste caso.

-Mas... ele estava confuso.

-Sei o que falei. Mas também sei o que está em jogo. Trazer você e Beckett não foi uma decisão popular, depois do evento com Blakely, tive que me posicionar. Mas sei o recurso que você pode ser. Sei que vai procurar, não importa o que eu diga, é de sua natureza, precisa saber como termina a história.

Ela se aproxima da televisão dele e toca a tela. O arquivo do caso de Beckett/Johanna aparece. Ela sorri.

- Como com ela.

Castle prende a respiração.

- Ela sabe sobre isto?

- Isso é...

- Sempre gostou de brincar com dinamite. – sorrindo e provocando ela falou - Tenha cuidado para não explodir em sua cara.

-Ela é diferente.

-É mesmo? Ou você acha que ela é?

E ela plantara a semente que queria, agora voltava a falar do caso.

- Soube que pararam no mesmo ponto que nós com Blakely. Pensei que poderia tentar isto.

Ela estendeu um papel para Castle.

- É o que Blakely procurava no píer. Encontramos em uma mala com dinheiro e identidades.

-Contas de banco?

-Todas de bancos domésticos. Como era cidadão americano.

-Você é proibida de olhá-las.

- Mas vocês não são.

Puro interesse era o que Sophia tinha em mente quando veio até ali.

- As contas podem ter pistas sobre quem o contratou. Imagino que ainda quer saber como termina a história. Mas mantenha-me informada desta vez.

Ele guardou o papel.

- Rick... Tente não ser morto. Ainda gosto de você.

E essa foi sua tacada final. Suficiente para trazê-lo de volta exatamente onde ela queria.


XXXXXXXXX


Ao chegar em seu apartamento tarde da noite, tudo que Beckett queria era tomar um banho e esquecer aquelas últimas horas malucas da sua vida. Exceto que não poderia. Ela livrou-se do agasalho e da blusa. Foi para o banheiro onde abriu a torneira para encher a banheira. Jogou alguns sais de banho e espuma de morango. Terminou de despir-se e voltou a pensar no que acontecera.

Ela já tinha se irritado por causa da tal Sophia, mas daí a ser repreendida por ela logo depois de uma experiência de morte? Isso era demais para ela. Pior, pode confirmar suas suspeitas. Sophia não fora apenas uma musa, fora bem mais que isso. E de uma maneira estranha, aquilo a magoou a ponto de perder seu senso racional e discutir com ele na frente de Lanie. E sabia que Alexis também escutara.

Entrou na banheira e deixou a água amortecer as dores do seu corpo deixado pela adrenalina e o perigo eminente que passara hoje. Afinal, o que estava acontecendo com ela? Deus! Essa era o que? A terceira vez que correra risco de vida esse ano? O que havia de errado com ela? O que o tiro, a ameaça do sniper juntamente com a PTSD e agora esse afogamento tentavam lhe dizer?

Beckett suspirou e mergulhou a cabeça na banheira. Automaticamente, a sensação que sentira horas atrás, voltou e ela emergiu. Brincando com pequenas gotas d’água, ela continuava pensativa. Será que isso era uma forma de mostrar a ela que a vida é curta e não deve ser desperdiçada? Que tudo pode acabar num simples estalar de dedos? E então, se era isso, qual a decisão que ela precisava tomar?

No fundo, ela sabia. Tinha que assumir seus sentimentos. Criar coragem e contar tudo a Castle.

Castle. E ela bateu na água demonstrando sua irritação com ele. Detestava brigar com ele mas parece que ele procura apertar os botões que a afetavam sempre. Quando pensava que progrediam, algo acontecia para desafiar sua confiança.

Kate fechou os olhos e lembrou-se de como Castle descrevera Clara em seus livros. A imagem de Sophia lhe veio à mente sorrindo sorrateiramente e deixando Rick zonzo. Sim, ela o afetava. Era sua musa, a primeira. Sophia Turner. Odiava aquela mulher, odiava o fato dela mexer tanto com ela e com Castle. Odiava saber que ele dormira com ela, descrevera a ela em seus livros. Sua primeira musa. Como posso lutar contra isso?

E sem poder segurar mais, Kate deixou a tensão e as emoções daquele dia fluírem para fora de seu corpo e chorou.


Na manhã seguinte...


Beckett estava em sua mesa checando uma papelada. Castle se aproxima e coloca o café sobre a mesa dela. Ela olha para ele ainda demonstrando um pouco da irritação do dia anterior. Ou ele é muito cheio de si ou muito cara de pau para voltar aqui. Quer saber? Fico com a primeira opção. Ele perguntou.

- Onde estão os rapazes?

- Estão em parques de xadrez, procurando alguém que conhecia Blakely.

- Por que não está com eles?

Ela respondeu irritada.

- Porque meu carro está no fundo do Hudson, Gates não quer me dar outro até eu escrever o relatório, o que não posso fazer porque o caso é confidencial.

-O quê? Ela olhou para ele sem paciência.

-Nada. Isso é um exemplo perfeito de um Estopim. Este caso pode não se resolver porque você não tem um carro.

Ela olhou séria para ele.

- Não me faça atirar em você.

- Se atiram em mim, quem vai me ajudar a ir atrás desta pista?

Ele puxou um papel do bolso e mostrou a ela.

- As contas de banco de Blakely, era o que queria no píer, se rastrearmos o dinheiro...

- Onde conseguiu isso?

- Sophia foi à minha casa ontem à noite.

Ela evitou olha-lo e abriu um sorriso de quem acabara de xingar até a 5ª geração da mulher.

-Não desse jeito.

-Claro que não – ela disse irônica - E sobre o "imbecil imprudente, imaturo e egocêntrico"?

- Ela estava posando para os colegas.

Beckett fez bico e deixou claro que não acreditava na desculpa esfarrapada de Castle.

- Beckett, é uma pista. Ela nos quer no caso.

Beckett pensou e sua curiosidade foi maior, pegou o papel das mãos dele para checar. As contas, nenhuma no nome de Blakely, movimentavam altas quantias de dinheiro num total de 2 milhões de dólares com destaque para um pagamento de 500 mil feito a uma semana em contas do exterior, provavelmente para financiar a operação Pandora mas as contas os levaram a um beco sem saída. Enquanto isso, Ryan e Esposito encontraram alguém que reconheceu Blakely e os levou até outra pessoa, Janacek Spivey, Jani um professor de Economia na escola de Relações Internacionais, consultor do FMI, no Conselho Econômico da ONU e no Comitê de Finanças do Congresso. Beckett o trouxe para interrogatório. Mostrou a foto de Blakely que Jani reconheceu imediatamente.

- Sim, é ele. Mas ele disse que seu nome era McGregor, não Blakely.

- O que sabe sobre ele?

- Era um grande jogador de xadrez. Sabia cada movimento que eu ia fazer antes que eu fizesse.

-Não, quis dizer... pessoalmente.

- Ele nunca falou sobre sua vida pessoal.

- Testemunhas disseram que vocês conversavam muito.

-Sobre o quê?

-Teoria econômica. Quando descobriu o que eu fazia, tinha um milhão de perguntas.

- Que tipo de perguntas?

- Sobre forças econômicas mundiais, modelos socioeconômicos históricos. Houve momentos que parecia que ele sabia mais que eu. Ele parecia obcecado.

-Ele era mais que obcecado. Ele focou em algo específico?

- Não que eu me lembre. Ele estava preocupado com a economia dos EUA.

- Ele nunca mencionou familiares ou amigos? Ryan insistiu.

-Não.

-Onde comprava? Algo que possa indicar onde ele morava?

- Não, mas acho que morava na Union Square.

-Por que diz isso? Finalmente algo que podemos explorar, pensou Beckett.

-Depois de um dos passeios, descobri que tinha deixado meu jogo de xadrez no parque. No caminho de volta, eu o vi entrando em um edifício.

- Pode identificar o edifício para nós? Beckett perguntou.

- Acho que sim.

-Preciso de seu carro. Ela disse a Ryan.

Ela e Castle foram até o local indicado por Jani e ao falar com o síndico, descobriram que ele usava outro nome ali. Finley. Ele abriu o apartamento deixando Castle e Beckett a vontade.

Beckett já avaliava o lugar. Castle perguntou.

-O que procuramos?

-Documentos, computadores, registros telefônicos, contas, algo que ajude a descobrir o que estava fazendo.

Ele circulava pelo apartamento até abrir a porta de um dos cômodos.

- Beckett. Acho que encontrei.

Ao entrarem no cômodo, um misto de confusão e dúvida refletia-se nos rostos deles. Todas as paredes do local estavam repletos de papéis, fotos, informações interligadas por um emaranhado de fios devidamente conectados como se fossem uma cama de gato onde os sinos foram substituídos por post-its com alguns eventos. Uma teia de eventos.

- Mas o que é isto?

- Rebelião fiscal.

- Colapso da economia europeia.

-O Irã invade o Iraque!

-A Síria ultrapassa Israel.

- EUA envia tropas para Taiwan.

- EUA envia tropas para o Oriente Médio. A Rússia ultrapassa a Europa Oriental. Que tipo de desfecho esse Estopim deveria causar? Beckett parecia preocupada.

- O fim do nosso país, como o conhecemos – disse Castle e engolindo em seco completou com a informação do papel - A Terceira Guerra Mundial.

Logo abaixo, as seguintes informações estavam escritas: AGOSTO, 2017. EUA SE RENDE. 27 MILHÕES DE VÍTIMAS.

Beckett olhava ainda cética mas intrigada para toda aquela loucura à sua frente.

- Não pode ser verdade. Ninguém pode prever tudo isso.

- Talvez não, mas muita gente mais inteligente que nós acha que ele pode e mataria para encobrir isso.

Castle avaliava o emaranhado de fios que se cruzavam. Lembrava das palavras de Blakely. “Encontrei uma vulnerabilidade alarmante... um estopim que estava ligado à economia e causaria crise e devastação além de tudo o que já vimos. O dominó nunca pararia de cair.”

Ele reparou em um fio mais grosso que se dirigia a uma foto na parede.

- Aqui.

- Quem é ela?

O fio encontrava-se na foto de uma garotinha.

- Eu não sei, mas é ela. Ela é o Estopim. O primeiro dominó a cair que conduzirá à guerra.

Castle olhou para o centro dos fios, um papel dizia: Estopim revelado. E ele lembrou-se das palavras do louco matemático : “Eu dei a eles o plano que trará o fim do nosso país.”

- Preciso ligar para eles. Eles precisam saber.

Mas foi interrompido por uma voz e uma arma apontada para eles.

- Largue o telefone.

-Gage?

-Largue o telefone agora. Agora corram.

-O quê?

-Corram!

E o vidro da janela se quebrou, uma espécie de granada foi atirada. Beckett e Castle saíram correndo protegidos por Gage.os tiros continuavam e eles se agacharam para tentar se proteger enquanto Gage recarregava a arma. Castle exclamou.

- Achei que você fosse o vilão.

- Se eu fosse, vocês já estariam mortos.

-Por aqui.

-Meu carro está lá na frente.

- Estão vigiando seu carro. Se for lá, morre.

- Quem está lá? Quem são eles?

- Podem obter respostas ou viver. Vocês escolhem.

Gage começou a andar, vendo-o se distanciar, eles se levantaram e o seguiram. Gage dirigia em alta velocidade com eles no furgão.

- Fiquem abaixados.

- Temos que contatar a CIA – Castle insistiu - Dizer o que está havendo.

-Nada de ligações.

E voltou a apontar a arma para eles. Continuou dirigindo até entrar numa garagem subterrânea e parar o carro abrindo a porta e ainda armado aproveitou para conversar com eles. Beckett perguntou.

-Onde estamos?

-Em um lugar seguro, mas não temos muito tempo. Monitorei algumas conversas. O que quer que seja, acontecerá amanhã. Chegaram a Blakely antes de mim. Quem é o alvo?

- Por que matou Blakely e McGrath? Beckett perguntou.

- Não matei.

Ao olhar para ela, viu a arma de Beckett apontada para ele.

- Quer que eu tire sua arma de você de novo? Não temos tempo.

-Ache tempo.

Gage deixou a arma de lado e passou a se explicar.

- Sendo um agente, precisa-se desenvolver certas habilidades de sobrevivência. A principal é saber que algo está errado sem saber porquê. É sempre algo pequeno... Estática no telefone de sua casa, um leve atraso na autorização para uso do cartão de crédito ou pausas quase imperceptíveis em conversas com seu superior. Algo está errado... e se você não descobrir o quê, não sobreviverá até o final da semana. Alguém está tentando colocar o mundo em guerra e querem que eu leve a culpa, mas nada disso acontecerá. Preciso que me digam o nome do alvo.

Beckett estava pensativa, absorvendo o que Gage falara. Castle queria logo pedir ajuda.

- Deixe-me ligar para meu contato na CIA. Ela pode nos ajudar.

-Não – Gage foi enfático - Tudo indica que Pandora é financiada por empresas militares ligadas à Europa Oriental. Não conseguiriam realizar essa operação sem ajuda interna – ele percebeu que Beckett estava questionando mentalmente tudo aquilo, reconsiderando então ele continuou - Detetive... você não entendeu? Meu próprio pessoal armou para mim. E não irão parar até eu estar morto, porque eu sou a distração. Se todos estão tentando me parar, ninguém...

-Está tentando parar Pandora. O reconhecimento de Beckett saiu quase como um sussurro.

- Apenas eu. Vou perguntar pela última vez. Quem é o alvo?

Um barulho enorme seguido de luzes e caras armados abriram a porta do furgão. Os três entenderam de quem se tratava. Sophia.

- Olá, Thomas.

Eles prenderam Gage e levaram Castle e Beckett para o HQ da CIA novamente. O agente Jones e Sophia discutiam com eles.

- É o plano mais antigo de todos. Criar uma crise só para poder salvar o dia. Gage os enganou. Queria que achassem que era inocente. Queria sua confiança.

- Então por que ele perguntou quem é o Estopim? Ele não saberia disso? Beckett questionou.


-Estava protegendo a operação. Queria ver o quanto sabíamos antes de matar vocês.

- Se tiver razão e o ataque a nós foi forjado, ele não age sozinho. Gage deve ter um parceiro.

-Então isso não acabou.

Uma agente veio dar as ultimas noticias ruins.

-Os bombeiros não puderam conter o fogo no apartamento de Blakely. Toda a pesquisa dele foi destruída.

Com a foto da garota nas mãos, Sophia ordenou.

- Quero que rode isto em todos os nossos bancos de dados. Quero saber quem ela é e como uma garota de 10 anos pode ser o 1º dominó no caminho para guerra. Onde está Gage?

-No tanque.

Sophia foi até ele para interrogá-lo. Beckett e Castle podiam assistir à conversa.

- Sabe o cara que você jogou pela janela? Gary Harper? Ele era um amigo.

- Então não devia tê-lo mandado atrás de mim.

- Nós já nos encontramos antes. Em Berlim. O negócio de Mannheim. Você estava na entrega para o Espanhol. Você era bom. Para quem está trabalhando agora? Quem é a garota? Quem é o Estopim?

- Quem me incriminou? Quem armou para mim?

- Então acha que há alguém dentro da CIA... um desertor, um traidor? É o que acha? Acho que pode ter razão. E acho que é você.

- Está cometendo um erro.

- Não. Você e seu parceiro estão cometendo um erro.

- Não tenho um parceiro. O cara que matou McGrath e Blakely e jogou seus amigos no rio, que está executando a operação Pandora, não trabalha comigo. Eu o vi nas docas, o jeito como se movia. Ele está com vocês. Ele é da CIA.

Sophia sorriu para ele e deixou a sala. Beckett não estava totalmente convencida.

- Certeza que ele está mentindo? Ele não expressou nenhum indício fisiológico.

Martin respondeu.

- Ele é treinado para mentir. Ele quer nos dividir, fazer um suspeitar do outro. Acredite em mim. Ele é o único traidor.

- E se estiver errado? E se ele diz a verdade?

Sophia os interrompeu.

- Isso é irrelevante. Há alguém lá fora pronto para ir em frente com Pandora e aquela garota é a chave. Precisamos achá-la.

Eles estavam na frente do telão observando a procura pela garota.

- Negativo em todos os bancos de dados. Ela é estrangeira. Pode não estar nos nossos.

- E o uniforme? Podem identificá-la por ele?

- Já tentamos. O emblema não está visível o bastante.

Beckett ainda não estava convencida. Havia algo no ar que ela ainda não identificara.

- Realmente acredita que matar uma garotinha poderia levar ao colapso dos EUA? Parece loucura.

- O 1º Estopim de Blakely também parecia.Pediram a ele uma estratégia militar não nuclear que acabasse com a União Soviética. Tudo que precisamos fazer foi gastar mais que eles. Falemos com Gage novamente. Parece que ele é tudo o que temos.

Sophia voltou com o agente Martin até a sala apenas para encontrar Gage morto.

- Feche tudo. Ninguém entra ou sai desta instalação.

Beckett e Castle estavam agora na sala. Ela observava a cena do crime e concluiu.

- Queimaduras por contato. Foi um tiro à queima-roupa.

- Como ninguém ouviu o disparo?

- A sala é à prova de som. A pergunta certa é... – Sophia olhava para as câmeras da sala - como ninguém viu?

De volta ao salão principal, a técnica confirmou.

- Hackearam a transmissão de vídeo.

Castle não acreditava.

- Como isso é possível? Vocês são a CIA. Têm os computadores mais seguros.

- Gage estava certo. Há um traidor na CIA e ele é desta unidade.

O agente Danberg voltou e informou.

-Tudo bloqueado. Todos os funcionários estão presentes.

-Quantos tiveram acesso à sala?

-18.

- Senhora, isolei a sub-rotina usada para alterar o vídeo. Foi incorporada a um worm para não ser detectada.

- Então não há como dizer de onde veio.

Mas a técnica não desistiu.

- Posso tentar usar um logaritmo redutor para isolar o caminho percorrido no sistema.

-Pode dizer onde foi carregado.

-Consegue fazer isso?

-Posso tentar.

-Faça.

Castle cutucou Beckett e comentou.

- Não sei do que estão falando, mas isso é muito emocionante.

Ela teve que sorrir diante da excitação dele.

- Aí está. Iniciando o rastreamento. Consegui. O endereço do terminal onde o vírus foi inserido.

Os dados surgiram na tela.

- De quem é?

- Do agente Trahn.

Sophia, Martin e mais alguns agentes apontavam suas armas para o suposto traidor.

- O quê? Não! Isso é um erro.

- Mãos onde eu possa ver.

- No chão! Para o chão!

-No chão, agora!

A técnica gritou.

- Esperem! É uma isca. O hacker pegou carona nesse IP. Não é o Trahn.

-Então quem é?

- Usaram o IP do terminal do Trahn para esconder o seu. Eles são bons, mas eu sou melhor. Isolei o código de usuário. Estou descriptografando agora.

A mensagem apareceu na tela : ENDEREÇO IP IDENTIFICADO

- Combine com os da equipe.

Ao fazer isso, o nome do seu parceiro apareceu na tela.

-Martin?

-Não, Soph... Sou leal. Sabe que sou leal.

Sophia sacou sua arma e apontou para ele. Beckett fez o mesmo.

- Então largue a arma.

-Largue!

-Está bem.

O clima tenso pairava no ar. Mesmo sob armas, Martin parecia não se dar por vencido.

- Tudo bem.

Ele pegou uma das integrantes da equipe e a fez de refém.

-Martin!

-Atirem e ela morre. Para trás!

-Não faça isso.

Ele saiu arrastando a moça com uma arma apontada para a cabeça dela. Beckett e Sophia mantinham as armas apontadas para ele.

-Para trás! Para trás! Ative.

E utilizou a mão da refém para ativar o elevador.

- Martin, não faça isso. Sophia pedia em vão.

- Martin, não faça isso! Martin!

- Abaixe a arma, Martin. Beckett ordenou. Ele entrou no elevador com a refém e respondeu enquanto a porta se fechava.

- Não, obrigado, prefiro viver.

- Tragam o elevador de volta. Ordenou Sophia.

Um dos agentes correu no computador e após imputar alguns comandos falou.

- Pronto. Preparem-se. Estou trazendo-o de volta.

Vários agentes empunharam as armas, Beckett inclusive. O elevador voltou e ao abrir as portas nem sinal de Martin. Apenas a refém. Castle olhava para tudo aquilo espantado. Mais uma reviravolta nesse caso.

De volta à frente do telão, Sophia se lamentava para Castle e Beckett. Foi ele quem tentou tranquiliza-la.

- Não tinha como você saber.

- Não? Quando soubemos sobre Pandora, foi Danberg quem achou todas as conexões. Foi ele quem ligou isso à Gages. Tudo só para se encobrir. Até tentou me convencer a me livrar de vocês.

Sophia andava de um lado a outro enquanto falava. Beckett observava pensativa.

- E o pior é que... ele pode não estar trabalhando sozinho. As consequências de Pandora são enormes.

Beckett se pronunciou ainda procurando por algo que explicasse tudo isso.

- Não entendo como um dos nossos iria querer colocar o país ou o mundo em guerra.

- Dinheiro, ideologia... Nada disso faz sentido. Disse Sophia e Castle alertou.

- Os motivos não importam. O importante é parar Pandora. Gage disse que algo acontecerá amanhã.

- Ouvimos o mesmo, ou seja, não temos tempo. Precisamos encontrá-la.

- Deve haver algo que não vimos, algum detalhe que ajude a dizer quem ela é. Beckett insistia na investigação.

Castle pegou a foto para avalia-la enquanto Sophia conversava com Beckett.

- Olhamos em todos os bancos de dados. Procuramos em tudo.

Então, ele teve um estalo.

- Não tudo. Vocês têm mapas topográficos da Terra, certo?

-Sim. Por quê?

-Não procure a menina. Procure as montanhas. Se soubermos de onde ela é, podemos restringir a busca.

- Você é um gênio.

Sophia sorriu para ele, pegou a foto das suas mãos e deu-lhe um beijo na bochecha. O ego de Castle só podia inflar e ele sorriu presunçoso. Beckett apenas observava sem gostar do que via. Sophia retornou para a frente do telão com Castle a seu lado. Beckett resolveu se unir a eles. Perguntou.

-Quanto tempo vai demorar?

-O mundo é grande. Excluímos paisagens secas e tudo acima e abaixo de 60º de latitude, mas ainda

estão calculando, pode levar 32 horas.

Beckett tirou o casaco e sentou-se de frente para o telão.

- Será uma noite longa. Vou buscar café.

Castle saiu deixando as duas sozinhas. Ao olhar para Beckett, Sophia sorriu e não poderia deixar de provocar.

- Ele sempre foi carinhoso.

Beckett resolveu jogar verde.

- Você gosta dele.

- Gostei. Uma vez.

Sophia se colocou ao lado de Beckett. Kate Beckett insistiu, precisava saber. Queria saber.

- O que aconteceu? Se não se importa em responder.

E engoliu em seco, com medo da resposta.

- Você já encontrou alguém e teve aquela... atração intensa? Sabe, aquela tensão?

Beckett não respondeu, manteve-se calada para não dar bandeira, apenas um pensamento se passou pela mente dela: a história da minha vida com Castle.

- Brigamos por meses por ela, e então... não conseguimos mantê-la mais. Mas depois parecia que aquela tensão era tudo o que realmente tínhamos, e, sem ela, tudo que nos restava eram... as coisas que nos deixavam loucos. Você sabe como ele pode ser.

Sophia sorriu e Beckett também lembrando que era exatamente essas coisas que a faziam sorrir e acabaram por fazê-la se apaixonar por ele.

- Sim, eu sei.

- Às vezes, desejo que nunca tivéssemos ficado juntos. Prolongado aquilo.

Essa frase de Sophia chamou a atenção de Beckett. O que ela queria dizer com aquilo? Que se arrependia do relacionamento, ou estava de certa forma tentando desestimular ou mesmo evitar que ela passasse pelo mesmo? Qual era o jogo de Sophia?

Mas Kate não pode continuar sua investigação pessoal pois Castle já retornara com o café para elas.

- Até suas canecas de café dizem "CIA". É tão legal.

- Se salvarmos o mundo, talvez te deixe ficar com uma.

- Motivador. E ele brindou com Sophia, deixando Beckett intrigada com seus próprios pensamentos.

A noite transformou-se em dia e o computador continuava trabalhando. O agente estava quase dormindo à frente do telão quando ele apitou e a frase surgiu na tela.

ANÁLISE COMPLETA

Ele despertou e verificou os dados ligando em seguida para a agente Turner. Os três retornaram para o salão e verificavam os dados.

- A topografia bate com um terreno na província chinesa Zhejiang, logo após a cidade de Hangzhou.

-É perto de Xangai. Procure todos os emblemas de escolas daquela região.

Foi Beckett quem encontrou o emblema correspondente.

- Ali em cima, do lado direito. São da mesma cor.

- Xangai, Escola para meninas, nº12. Eles têm um site?

-É protegido por senha. Conseguindo o acesso agora. Entrando no arquivo de fotos para comparar as imagens. Buscando os dados e comparando.

A agente trabalhava como louca no teclado.

- Encontrada. Mia Ganghong.

-O que sabemos sobre ela?

-Pouca coisa. Ela é a filha de Xiang e Biyu Ganghong.

-Xiang Ganghong?

-Quem é Xiang Ganghong?

A ficha do cara apareceu no telão enquanto Sophia explicava.

- É um empresário chinês com laços estreitos ao Ministro da Fazenda e aos membros do partido no poder.

- Por que a filha dele é o alvo? Beckett perguntou e Sophia explicou.

- Xiang é fundamental. Ele é extremamente influente na política econômica de seu governo. Ele fez sua fortuna vendendo hardware militar chinês, às vezes, para nossos inimigos, só não agimos porque apoiava a ajuda chinesa na dívida dos EUA. Se alguém fosse derrubar Xiang, pouca coisa mudaria. Mas se a filha fosse morta numa tentativa de homicídio e os chineses a rastreassem direto para o governo dos EUA?

-Isso levaria a Gage. Disse Castle.

- É concebível que Xiang usaria sua grande influência para acabar com a ajuda chinesa na dívida dos EUA.

E então Beckett compreendeu o que aconteceria, um caos. Falou.

- O país continuaria com déficits. Se não pegássemos dinheiro... e Castle a complementou.

- Não cumpriríamos tratos, o governo iria à falência.

- Ações rígidas seriam tomadas. Perderíamos a habilidade de ter o exército pelo mundo.

E Beckett complementou.

- Com os EUA neutralizado, nossos inimigos poderiam explorar seus interesses.

- Correto - concordou Sophia - E conflitos regionais iriam explodir, qualquer um nos levaria para um guerra mundial.

- Uma guerra que não venceríamos. Disse Beckett.

- Um dominó cai, o mundo inteiro muda. Castle complementou e foram interrompidos por um agente.

- Localizamos Xiang. Ele e a delegação chinesa pousaram há uma hora.

-Ele está aqui?

Para uma reunião da ONU no prédio McKinley. Estão a caminho agora. E, senhora, a filha está junto.

Els começaram a se arrumar. Beckett sugeriu.

- Se ligarmos, consigo uma equipe para protegê-los.

- Acha que seus policiais podem deter agentes treinados da CIA? Eles acabariam mortos. Além disso, se divulgarmos, poderia acarretar um incidente de enormes proporções. Precisamos limpar a bagunça, não fazer uma.

Foi a vez de Castle questionar.

- Nós e quem mais? Disse para não confiar porque podem estar com Danberg.

Eles entraram no elevador.

- Este não é o único posto da CIA na cidade. Há outra equipe a caminho. Feche tudo até que eu volte. Nenhuma ligação entra ou sai. Não vou arriscar.

-Sim, senhora.

Eles saíram do QG e após algumas voltas na cidade, entraram cantando pneus numa garagem. Ao saltarem do carro, encontraram um agente os esperando.

- Agente Corrigan, det. Beckett e sr. Castle. Onde está a equipe?

-A 5 minutos.

Eles andavam por um corredor enquanto Sophia fazia as perguntas.

-Estamos prontos?

-Temos grupos no saguão e agentes na rua.

-E Danberg? Perguntou Beckett.

- Um guarda o viu entrar no prédio há 45 minutos. Temos equipes autorizadas a atirar nele, mas ainda não achamos o parceiro.

- Aconteça o que for, mantenha a menina viva. Entendeu?

-Sim, senhora.

-Aonde estamos indo?

-Por aqui.

Eles adentraram em um outro espaço semelhante a um estacionamento muito bem iluminado. Castle e o outro agente iam na frente seguidos de Beckett e Sophia que vinha mais atrás.

- O que fazemos aqui embaixo? Não deveríamos estar indo para o saguão?

Nesse momento, Sophia saca a arma e aponta para eles. Ao ouvir o barulho, Beckett faz o mesmo por reflexo e avisa chamando por ele. Suas desconfianças pareciam enfim estarem certas.

- Castle.

- Desculpe.

E o outro agente tirou a arma de Beckett. Castle parecia confuso.

- O que está fazendo?

Então Beckett sorrindo explicou.

- Danberg não era o traidor, era? Você é.

- Vá matar a garota. Cuidarei dos dois. Sophia ordenou.

- Era você esse tempo todo? Castle ainda não acreditava.

- Receio que sim.

Seu rosto estampava um misto de confusão e descrença. Precisava saber mais.

- Por que nos trouxe aqui? Por que não nos deixou na base?

- Porque vocês simplesmente não param. Precisam saber a história toda. E se algo não encaixa, vocês não deixam passar. Por que acham que os trouxe aqui dentro? Protegia a operação.

Beckett falou irônica.

- Como tentava proteger a operação quando matou Blakely e McGrath?

- Você armou para Gage.

- Para o Estopim funcionar, os chineses têm que culpar o governo americano. A operação foi rastreada até a CIA.

- Então precisou cobrir seus rastros e o matou. Então precisou de alguém. Precisou de Danberg – ele pausou e falou o nome dela ainda intrigado - Sophia... por que a Terceira Guerra Mundial?

- Digamos que alguns pagariam tudo para remodelar o mundo.

- Não acredito - como se ainda pudesse crer que aquilo não era verdade - A Sophia que conheço não venderia seu país, nem por dinheiro, nem por nada.

Ela caminha até eles e ri meio debochada.

- Nisso você errou, Rick – e pronunciou em russo - Este nunca foi meu país.

- De joelhos agora!

E ela chutou a Beckett na altura do joelho. Algo que ela já estava querendo fazer a muito tempo.

- Os dois!

- Nunca se dará bem nessa. Disse Beckett.

- Claro que vou. Direi o quanto tentamos parar com tudo isso e não conseguimos. E vocês foram mortos no processo por Danberg, claro. Não se preocupe. Farei soar heroico. Seu pai ficará orgulhoso.

Ao ouvir isso, Beckett olhou para Castle sem entender. Ele mesmo olhou para Sophia confuso.

- Meu pai?

- Não acha que ganhou acesso especial à CIA por causa do seu charme.

Beckett estava surpresa e Sophia pode ver a confusão na expressão de Castle. Então entendeu.

- Você não sabe mesmo, não? Acho que nunca saberá.

Ao ouvir o gatilho da arma, Beckett gritou e já ia se mover quando ouviu o disparo.

- Não!

Sophia caíra morta no chão. Ao olhar para trás, viu o agente Martin Danberg correndo até eles e tentou se recompor.

- Vamos! Somos só nós e estamos atrasados.

Beckett saiu correndo com Danberg. Ela só pensava em salvar a garotinha. Castle permaneceu de joelhos vendo Sophia inerte sobre o piso.

Nesse momento, a família do empresário chinês entrava no prédio. O agente que trabalhava com Sophia estava de tocaia. Beckett e Danberg corriam contra o tempo. Ao ver a família andando pelo saguão, ele começou a mover-se em direção a eles. Quando se viu a uma distância boa para atirar, ele elevou a arma pronto para atirar, ao tentar mirar foi derrubado no chão por Beckett. Danberg a ajudou a segura-lo e a comoção tomou conta do lugar chamando a atenção da família chinesa que olhou para ver o que acontecia, alheia do que acabavam de escapar.

- Está bem? Ele está bem.

- Ele está bem. Está ótimo.

Ambos disfarçaram como se o homem tivesse caído e se sentido mal.

-Senhor, está bem?

-Está?

-Por aqui. Talvez devêssemos sair.

E saíram escoltando o atirador.

De volta ao distrito,Castle e Beckett estava a portas fechadas com Danberg. Ryan e Esposito observavam pelo lado de fora da sala. Foi Esposito quem perguntou.

- Então o que acha que foi isso tudo?

- Não contaram para você? Ryan provocou.

- O quê? Contaram para você?

Na sala, Danberg explicava como desconfiara de Sophia.

- Uma vez me expulsou. Não demorou para entender. Mas tudo que pude fazer foi observar e esperar que ela se mostrasse.

Castle ainda estava pensativo, digerindo tudo.

- Difícil crer que era traidora. Foi tudo encenação.

Beckett sorvia o café e o observava. Sabia que isso fora um golpe pesado para ele.

- Langley acha que talvez fosse uma agente aposentada da KGB à deriva quando a União Soviética se desfez. Ficou na CIA porque não tinha mais aonde ir.

Para Beckett tudo fazia sentido agora, na sua cabeça passava um filme de todas as coisas que Sophia lhe dissera.

- Até receber uma oferta melhor.

- Chegou a descobrir para quem trabalhava? Quem estava por trás de Pandora? Beckett perguntou.

- Não e mesmo se tivesse, não contaria.

- Agente Danberg... Sophia disse algo sobre meu pai ser da CIA. Sabe algo sobre isso?

- Receio que não. Desculpe.

- Detetive Beckett. Aqui. Falei com nossos rapazes... – ele mostrou a chave do carro dela e a entregou -Cuide de seu carro.

- Tirou meu carro do rio?

- Sim. Creio que está melhor que um novo.

- Obrigada. Ela sorriu para ele.

- Era o mínimo que poderia fazer. Cuide-se.

E ele os deixou sozinhos. Beckett mantinha-se calada. Ela estava procurando a melhor maneira de abordar o assunto Sophia. Ela olhava para ele como se quisesse tomar coragem. Porém, foi Castle que a questionou primeiro.

- Acha que ela estava falando a verdade sobre meu pai? Isso explicaria por que ele desapareceu completamente.

Beckett pensou no que ouvira de Sophia, especialmente sobre os dois. Ponderou as palavras e falou.

- Eu... acho que Sophia contou um monte de mentiras. Deve ser difícil descobrir que ela era uma traidora, especialmente depois de inspirar Clara Strike nela.

- Bem... Clara começou como Sophia, mas... terminou mais como você... inteligente, feroz e gentil. Acho que era uma das razões para ter escolhido você... como musa.

O coração de Beckett disparou. E o gesto que ela fez com os lábios apenas evidenciou o quanto aquelas palavras lhe fizeram bem. Não era apenas um elogio a sua pessoa, era muito mais.

- Acha que Dr. Blakely estava certo... sobre o Estopim? Acha mesmo que salvamos o mundo?

- Acho que salvamos a vida de uma menininha... e é o bastante para mim.

Abrindo um sorriso, ela se levantou e ambos deixaram a sala. Caminhando pelo distrito, ela bateu de leve com o cotovelo nele. O sorriso continuava no rosto. Beckett ainda pensava em tudo que acontecera com eles nesses últimos dias, nas palavras de Sophia, na encenação. Podia imaginar o que se passava na cabeça dele, sabia o que significava levar uma rasteira do passado. Ela resolveu perguntar.

- Tem certeza que você está bem, Castle?

Ele olhou para ela. Percebeu que ela estava preocupada com ele. Isso o fez sorrir.

- Não ainda, mas vou ficar. Me pergunte amanhã.

Ela sorriu.

- Acho que ambos precisamos descansar.

- Eu vou para casa sim, amanhã é outro dia Beckett.

Ela pegou a mão dele na sua e apertou de leve.

- Boa noite, Rick.

- Boa noite, Kate.

E com o coração um pouco mais brando por um simples gesto dela, ele deixou o distrito.

No dia seguinte, Castle não apareceu no distrito a manhã inteira. Beckett por sua vez, esteve muito ocupada entre relatórios e explicações que não podiam ser totalmente ditas a sua Capitã. Ela não sentiu o tempo passar mas quando finalmente se viu livre da supervisora e dirigia-se para sua mesa, viu que ele sequer aparecera. Será que ele decidira tirar o dia de folga depois do que acontecera ontem?

- Hey, Espo! Alguma noticia de Castle?

- Não. Ele não ligou para você?

Ela apenas deu de ombros, não ia expressar o que realmente sentia diante dos rapazes. Sentou-se à mesa e seu olhar foi para o telefone. Deveria ligar? Era prudente ou ela soaria muito intrometida, ele podia achar que ela estaria o sufocando? Droga! Apenas queria saber se ele estava bem. Como se alguém ouvisse o seu pedido, o celular dela começou a tocar. Castle. Soe natural,Kate!

- Hey, Castle...

Mas a voz saiu mais melosa do que ela pretendia. Ele notou.

- Oi, Beckett. Desculpe não ter ligado antes, acabei tendo que resolver algumas coisas.

- Como você está?

Ele sabia que ela se referia a Sophia e aos acontecimentos do dia anterior.

- Estou melhor. Na verdade, estou ligando para te fazer um convite. Quer jantar comigo hoje?

O pedido a pegou de surpresa. Castle a convidando para jantar? O que isso queria dizer?

- Jantar?

- Sim, você mesma disse que queria provar das minhas habilidades culinárias. Não esqueci. Então, posso cozinhar para você hoje?

O sorriso abriu-se automaticamente nos lábios.

- Claro!

- Te espero às 7h. Não se atrase ou vai perder o show do Chef.

Ela riu do jeito dele.

- Estarei lá.

E desligando o telefone, ela fitou o monitor a sua frente. O pensamento voava longe, nele apenas uma pessoa : Rick Castle.


XXXXXXX


Kate apenas passara em casa para um rápido banho e uma troca de roupa. Não vestia nada sofisticado, uma calça jeans, blusa branca de botões e manga três quartos e seus sapatos altos que não poderia faltar nunca. O casaco vermelho dava o toque final com seus cabelos soltos espalhados pelo ombro. Ao abrir a porta do apartamento, ela sorriu ao vê-lo com um pano de cozinha no ombro e uma espátula na mão.

- Olá, Beckett!

- Hum, vejo que você já está com a mão na massa...

- Literalmente, entre tire esse casaco e me acompanhe até a cozinha. Quer beber alguma coisa? Vinho talvez?

- Vinho está ótimo.

Ele sentiu o cheiro característico dela ao adentrar o apartamento. Cerejas.

Beckett sentou-se em um dos bancos do balcão da cozinha americana de Castle. Ele colocou a taça de vinho à frente dela. O lugar estava repleto de ingredientes para a tal macarronada. Castle continuava seus afazeres de cozinheiro cortando os itens para o molho pesto.

- Decidi fazer um molho pesto em vez do carbonara que é o preferido de Alexis. Espero que goste.

- Vamos ver, se não der certo, eu vou ser obrigada a provar o carbonara.

Apesar da relativa bagunça no balcão, ele parecia se virar muito bem com os instrumentos de cozinha e o cheiro dos ingredientes começavam a despertar a vontade de comer em Beckett. Ainda distraído com seus afazeres, Castle não percebeu o jeito que ela olhava para ele, admirando, imaginando e perdeu também o olhar apaixonado que ela dirigia sem perceber a ele. Quebrando o silencio, ele perguntou.

- Como foram as coisas no distrito hoje?

- Um pouco complicadas demais. Gates me ocupou quase toda a manhã querendo saber detalhes do caso Pandora que eu não podia revelar. Foi difícil redigir aquele relatório sem a maior parte das informações que deveriam constar nele.

- Você contou algo a mais para ela?

- Não, Castle. Mantive o discurso que prometi a CIA. O chefe dos detetives a contactou para maiores explicações.

Ele despejou os temperos na panela e começou a preparar o molho. O cheiro tomava conta da casa e dava água na boca de Beckett.

- Hum, está cheirando bem... já estou até com fome.

- Espere até provar.

Ele pegou um saco de amêndoas e picou-as em pedacinhos bem menores. Salpicou parte delas na panela do molho. Ela esticou a mão para pegar uma parte das amêndoas picadas sobre a tábua e ele deu um tapinha na mão dela.

- Não mexa na comida, Kate. Chef nenhum gosta disso. Aqui – e estendeu o pote de amêndoas a ela que se serviu de algumas – e comporte-se estou quase terminando.

- Nossa! Quanto zelo e exigência, Chef. Da ultima vez que chequei você era um escritor de Best-seller, o que mudou? Vai abrir seu restaurante? Ela sorria.

- Não, cozinhar é um hobby para mim. Todos nós devemos ter um. Qual o seu?

- Atirar.

- Você faz isso para viver! Isso não é hobby. E nem adianta dizer luta porque também é parte do seu trabalho.

- Ler é meu hobby, Castle. Um novo sorriso que ele retribuiu, sabia o que ela queria dizer.

- Ok, acho que está pronto. Quer provar para ver se está a seu gosto, madame? Cuidado pois está quente.

Ele colocou um pouco do molho na colher e estendeu a ela. Beckett encostou os lábios de leve e provou. Ele a obeservava sorver o caldo com a boca. Era tão sexy! Qualquer movimento dela era sexy.

- Hum! Está muito bom.

Castle percebeu que um filete de molho ficou no canto da boca. A vontade de lamber era enorme mas não podia fazer isso sem a permissão dela.

- Beckett...tem um pouco de molho aqui – indicou o lugar com o dedo.

Ela naturalmente passou o dedo indicador e colocou-o na boca lambendo-o num gesto tão simples que não percebeu que Castle prendera a respiração.

- Acabou meu vinho, Castle. Vai me servir mais? Na verdade você deveria me acompanhar, não gosto de beber sozinha.

- Er...sim, é, claro...

Ela ergueu a sobrancelha sem entender a reação dele. Ele encheu a taça dela novamente mas não serviu a bebida para ele.
- Você pode me dar uns minutos para eu tomar um banho e então jantarmos?

- Tudo bem, já vi que vou beber mais uma taça sozinha.

- Prometo que será a última. Vou ser rápido.

E saiu apressado subindo a escada. Enquanto Castle estava tomando banho, Beckett caminhava calmamente pela sala observando o espaço. Ela tinha tanta coisas na sua mente naquele momento. Queria perguntar como ele estava, se ainda pensou muito em Sophia, se essa perda afetaria o relacionamento deles de certa forma. Não queria saber do passado, por incrível que parecesse, o fantasma de Sophia não a aterrorizava como antes. Talvez por descobrir que ela não passava de uma mentirosa, tornou-se mais fácil entender que tudo o que ela fizera ou dissera era apenas para manipula-la, faze-la questionar sua relação e seus sentimentos por Castle mostrando que isso não podia ser algo bom baseado em sua experiência de anos atrás.

Passado. Beckett prometera a si mesma que não deixaria o passado influencia-la em suas decisões. Ela estava lutando contra ele em seu dia a dia justamente para aceitar seu momento presente, viver sua felicidade. Daquela história toda, o que realmente importava era ele, saber como ele se sentia.

Ela estava agora no escritório dele. Via os seus próprios livros arrumados cuidadosamente na estante. Viu o notebook dele ligado sobre a mesa. Sorriu ao ver a tela de proteção. Nikki Heat. As capas iam e vinham com a foto da silhueta da mulher que supostamente era ela. Ao desviar o olhar, viu o exemplar de quadrinhos de Derrick Storm. Abriu e se deparou com a sua personagem preferida. Clara Strikes. Observou os traços do desenho, sim lembrava Sophia. Ela estava distraída quando sentiu a presença dele e um cheiro delicioso de perfume masculino.

- Bisbilhotando meu esconderijo, Kate? Acho que essa não é uma boa hora para agir como uma fangirl. Nada de procurar spoilers.

Ela virou-se para ele já fazendo bico, irônica.

- Hahaha!

Então, ele percebeu o livro que ela tinha na mão e na sua mente pareceu entender o motivo dela estar ali. Pelo menos era o que ele imaginara. Sophia ainda a incomodava.

- Vem, vamos jantar.

Tirando o livro das mãos dela, ele ofereceu o braço e a conduziu até a sala. Como um cavalheiro, ele puxou a cadeira para ela sentar-se à sua frente. Em seguida, voltou à cozinha para desligar o molho que colocara para esquentar antes de chama-la. Despejou tudo numa travessa funda e habilmente misturou o molho. Voltou à mesa trazendo o talharim fumegando. A mistura de azeite, alho e manjericão encheu a boca de Kate de água.

- Que cheiro maravilhoso!

Ele serviu o vinho tinto para ambos e sentou-se.

- Fique à vontade!

Ela sorriu e se serviu da massa. Castle fez o mesmo. Ela provou a primeira garfada. Ela podia identificar cada um dos sabores do molho. A massa perfeita, exatamente como ela gostava al dente. Kate fechara os olhos para saborear a mistura e ele a observava, ansioso por saber sua opinião. Quando tornou a abrir os olhos, sorriu para ele.

- Delicioso, Castle... acho que você pode pensar em ser chef como segunda profissão.

- Você quer dizer terceira, afinal sou um detetive da NYPD.

Ela riu. Ele adorava o riso dela. Ele ergueu a taça para propor um brinde. Ela fez o mesmo.

- A que vamos brindar?

- Aos mistérios da vida e a capacidade que eles tem nos tornar mais fortes. A nossa parceria e a vida que mesmo teimando em nos pregar peças, sempre nos apresenta uma saída para uma nova etapa.

- E falou Rick Castle, o escritor.

Eles brindaram e beberam o vinho. Voltaram sua atenção ao jantar. Beckett estava tão absorta saboreando a massa que nem percebeu a música suave ao fundo que ele colocara. Foi Castle quem tomou a iniciativa de trazer o assunto que ambos pareciam evitar à tona.

- Você não perguntou mais nada sobre Sophia, saiba que minha oferta ainda está de pé. Pode perguntar o que quiser.

- Obrigada mas não preciso.

Ele franziu a testa. Não era a resposta que esperava dela, achava que ela tinha varias perguntas até se preparou para ser interrogado pela sagaz detetive.

- Porque não? Achei que...

- Não importa mais, pelo menos não para mim.

- Porque ela está morta?

- Não, porque é passado. E também porque de certa forma, Sophia provou quem ela era para mim. Sabe que fantasmas não me atingem, minha pergunta é apenas uma: como você está realmemte, Rick?

Rick. Ele sabia que ao chamá-lo pelo primeiro nome era uma demonstração de preocupação e carinho genuína vinda de Beckett. Ele contaria a ela mesmo assim.

- Estou bem de verdade. Sophia apareceu na minha vida a muito tempo, eu não era o que sou hoje. Talvez a minha busca pelo conhecimento, a curiosidade de escritor acabou projetando-se em algo mais. Ela não foi apenas a minha musa naquela época, eu me envolvi em um relacionamento com altos e baixos que acabou. Hoje compreendi que a importância dele não é a mesma que foi no passado. Talvez nunca tenha sido tão grande quanto pareceu a você.

- Você acredita que ela foi aquela que você deixou escapar?

- Não. Olhando o que aconteceu, o que tivemos não poderia sequer ser chamado de relacionamento. Talvez um caso de paixão e conveniência que se perdeu no momento que o desejo não importou mais.

- É difícil para você Rick, não negue. Ela foi sua primeira musa de qualquer forma independente da mulher que se tornou.

Toda vez que ela mencionava essas palavras sentia um nó na garganta e engolia em seco.

- Pensava que sim, mas descobri que isso não é verdade. Ela nunca foi realmente a melhor inspiração. Ela já era assim naquela época, apenas achou meio melhores de continuar sua missão. Sei disso agora por sua causa.

Kate tomou mais um pouco de vinho, não queria demonstrar que essa conversa estava mexendo demais com ela. Castle continuou e novamente a surpreendeu com suas palavras.

- Uma musa para mim não é apenas a figura de uma mulher bela e determinada com uma profissão perigosa e poderosa capaz de fazer as mentes imaginarem aventuras interessantes com ela. Ser uma musa é ser uma inspiração capaz de despertar a criatividade, o dom do artista. Alguém inteligente, que te desafia, alguém real, de carne e osso que passou parte da sua vida aprendendo, sofrendo, crescendo e mesmo com as peças que a vida lhe pregou ela ainda é capaz de ver a bondade nas pessoas, ainda acredita em justiça, luta por ela. Não podia ter escolhido melhor musa, Kate – ele sorriu para ela – agradeço todos os dias a Harrison Tisdale por ter usado meus livros como pano de fundo de seus crimes. Sem isso, não haveria Nikki Heat e não estaríamos aqui saboreando essa deliciosa refeição. Nunca vou esquecer sua cara ao me mostrar seu distintivo pela primeira vez. Centrada, preocupada, posuda e linda, Kate. Entende agora? Não poderia ter escolhido melhor. Não importa o que aconteça, você será sempre a minha eterna musa.

Kate mordia os lábios. O coração estava acelerado, as pernas amolecidas e não era pela bebida. Ela abriu um sorriso lindo para ele e esticou a mão para tocá-lo. Entrelaçou os dedos nos dele.

- Obrigada, Rick.

E permaneceu assim por alguns minutos. Depois voltou a atenção para sua comida. Castle sabia que a atingira em cheio com suas palavras mas ele tinha que dizer a verdade, o que sentia. Para não deixar a tensão no ar, ele tornou a brincar com ela elogiando a si mesmo.

- Mestre com as palavras e do sabor. Essa massa está mesmo muito deliciosa! Acho que me superei – ele sorriu maroto para ela e acrescentou – não pensei que fosse possível, sou incrível!

Funcionou. Ela riu graciosamente.

- Cuidado para não inflar muito o seu ego e sair voando Castle...

Eles terminaram o jantar e seguiram com seus copos para a sala. Conversavam um pouco mais sobre coisas sem grande importância. Kate deixou a bebida de lado, já chegara ao seu limite. Estava desejando um café. O pedido saiu mais meloso do que pretendia.


- Castle, eu estou desejando um café fumegante agora... pode atender o pedido da sua musa?

- Seu pedido é uma ordem.

Ele se levantou e foi à cozinha. Quando voltou, trazia nas mãos duas canecas fumaçando. Ela sorveu o liquido e sorriu.

- Obrigada. Você é mesmo um amor.

A última frase saiu sem ela perceber. Sorrindo, ele resolveu falar de outro assunto que o incomodava.

- Kate, você acha que a Sophia sabia quem é meu pai?

- É difícil dizer. Isso te deixou mexido não?

- Curioso diria.

- Você nunca teve vontade de procurar por ele, descobrir quem ele é, onde estava?

- Acho que nunca tive necessidade. Minha mãe soube me manter ocupado e ela sempre buscou o melhor para mim do seu próprio jeito.

- Isso de alguma forma vai contra sua natureza, Castle. Você é curioso, tem vontade de desvendar mistérios. Porque não esse?

- Eu não sei...

Ele pareceu ansioso para ela por causa do assunto. Não, era outra coisa mas Beckett decidiu que era melhor deixar isso de lado por hora. Ela bem sabia o que assuntos delicados poderiam fazer com a mente de uma pessoa. Terminou o café e levantou-se.

- Eu já vou.

- Porque?

- Está tarde, algumas pessoas trabalham amanhã bem cedo sabia?

Ela vestiu o casaco e ele a acompanhou até a porta.

- Prometo que estarei lá amanhã. Sei o quanto você sente minha falta, Beckett.

Ela apenas balançou a cabeça e sorriu. Tinha que ser o Castle.

- Adorei a noite, Castle. O jantar e a companhia.

- Acha que devemos fazer isso mais vezes?

- Porque não? Adoro homens prendados. Da próxima vez, você prepara o carbonara.

Ela sorriu e ele pegou a mão dela levando até os lábios.

- Boa noite, Kate.

- Boa noite, Castle. Durma bem e tente não pensar muito nos assuntos do passado, nós dois sabemos que geralmente isso não trás respostas, apenas mais perguntas e ansiedade. Parece que ambos temos nossa cota de esqueletos no armário afinal.

Sorrindo ela se inclinou e beijou-lhe a bochecha.

- Te vejo amanhã, Castle.

E a porta se fechou atrás dela.



Continua....

2 comentários:

val disse...

MARAVILHOSO...e o que vc acrescentou então ficou perfeito!! esse epi foi bem marcante para mim,,, eu gostei muito de ver Beckett se remoendo de ciúmes, poxa afinal de contas ela é mulher quem não sente.
sem contar que estamos nos aproximando do final da temporada, tá uma loucura tanto spoiler meu Deus meu coraçãozinho não aguenta desse jeito.

bjim fofa e até o próximo capitulo.

Eliane Lucélia disse...

Oi gêmea, mil anos depois, apareci :(, mas vamos o que interessa. Adorei o cap, as reações da Beckett em ralação a Sophia foram ótimas, com algumas pitadinhas a mais acrescentado pela escritora ficou ainda melhor, odiei essa Sophia, mas temos que concordar que ela deu uma sacudida bem legal na Beckett,o ciúme dela só não via quem não queria ver mesmo, mas mesmo com todo o ciúmes, o lado profissional dela ficou sempre atento, adoro isso nela, no fundo ela sabia que a Sophia tinha culpa no cartório, ainda bem que Castle soube se sair muito bem, quem resiste a uma boa massa regada a vinho? sinto que o lago entre eles está cada dia mais seco, está chegando o grande momento, e a curiosidade tá grande. bjosss