Nota da Autora: Demorei para postar, sorry! Tive que entender o que queria desse capitulo e do próximo. Mais algumas rápidas menções aos episódios. Não se prendam muito em detalhes de casos, o objetivo aqui é a relação das personagens. Uma das últimas cenas teve sua inspiração em outra que amo. Certamente, alguns irão perceber a semelhança. Enjoy!
Cap.7
Algumas
semanas se passaram, apesar da agitação e dos momentos delicados com a presença
de uma das ex de Castle, Beckett continuou trabalhando resistindo à tentação.
Tinha um novo caso essa manhã, Jack Coonan, um integrante da máfia irlandesa
encontrado morto com trinta facadas. Barra pesada. Ela conhece o irmão, Dick
Coonan, que posara de bom moço comentando que o irmão nunca tomara jeito e
sempre esteve ligado ao crime. A detetive se sensibilizou com a dor dele, por
ter estado uma vez nessa posição. Porém, não tinha ideia do que aquele homem
iria representar para sua própria caçada. Beckett, sempre destemida, foi
visitar o covil da fera, o chefe da máfia situada em Hell’s Kitchen, Finn Rourke.
Lá, como já
imaginava, enfrentou muita resistência de todos quase rolando ameaças que não
intimidaram a detetive. Ela e Castle presenciaram uma verdadeira surra em um
cara chamado Truco que foi levado ao distrito, mas infelizmente manteve-se leal
ao povo da máfia. Logo Beckett descobriu que era tudo um golpe para encobrir as
ações dos irlandeses. Mais ainda, havia ligações de Jack para o FBI. Os
federais estavam usando-o para conseguir informações. Além disso, encontraram
um estilete que encaixava-se como a arma do crime, exceto que Lanie o
descartou. Castle notara algo estranho na ME, resolveu guardar a suposição para
si.
Ele já havia
percebido como Beckett estava poderosa naquele caso. Destemida de uma maneira
perigosa que a tornava sexy, desafiando sem medo. Os seus olhos estavam
particularmente brilhantes e esverdeados naquele dia e Castle desejou poder
tê-la em seus braços mais uma vez. Talvez isso acontecesse ao final do caso,
talvez tudo estivesse ligado ao envolvimento da máfia irlandesa. Uma simples
questão de fantasias. Afastando esse pensamento, ele procurou focar no caso.
Voltando no
bar à procura de Finn, ela não foi bem recebida piorando a situação quando
mencionou a traição de Jack à máfia. Finn discordou dela provando que Jack era
responsável. Disse que toda a reputação dele era real, mas em nenhum momento se
envolvera em drogas e alguém estava trazendo esse negócio para cá, usando seus
canais. A função de Jack era descobrir quem. Ele enxotou Beckett e Castle do
pub, não antes da detetive sacar que poderia ter encontrado um outro caminho.
Uma das moças
no bar parecia apreensiva e muito curiosa com seus movimentos. Beckett decidiu
fazer tocaia e estava certa, a mulher os procurou revelando um dos possíveis
motivos da morte de Jack. A chave de um armário de rodoviária que ele pedira
para ela entregar a polícia se algo acontecesse. Beckett, Castle, Ryan e
Esposito vão ao local. Antes de abrir o armário, Castle fez piadinha.
- Não faça
isso! – Castle alertou e Beckett fora ingênua demais para prestar atenção.
- O que? –
perguntou ela.
- Uma vez que
abra eles saberão. Pode ter um corpo de um alien ou a arca da aliança, ou – ela
revirou os olhos abrindo o armário – ou dvd’s do Johnny Vong? – Castle parecia
desapontado, mas Beckett já tinha suas suspeitas. Pegou uma das embalagens na
mão, abriu a parte do DVD e – voilá – encontrou um pacote maciço de drogas.
Usando um canivete, furou o pacote, usando o dedo para levar a substancia à
boca.
- Heroína –
declarou. Castle estava quase babando.
- Isso foi tão
legal – quase sussurrando olhando para a detetive.
- Você gostou?
– ela provocou.
- Sim, é muito
Miami vice – ela apenas sorriu. Sentia falta de provoca-lo assim.
De alguma
forma, o contrabando de heroína estava ligado a Johnny Vong. Alguém estava
usando sua cadeia de suprimentos para trazer drogas ao país. Ao questionar o
próprio Vong, Beckett descobriu que havia muito mais do que vira até agora.
Vong ficara tão apavorado que recusara a proteção da polícia preferindo a
prisão. Fora bem claro quando disse que ninguém poderia protegê-lo dele,
ninguém. Estavam entrando em um beco sem saída nesse caso, entretanto nada
preparara Kate Beckett para o que ela descobriria a seguir. Uma nova tempestade
se aproximava, de proporções imensas.
-Lanie, o que
faz aqui?
-É sobre o
caso do Coonan. Este é o Dr. Clark Murray. Ele é patologista forense. Eu o
consultei.
- Sou a
Detetive Kate Beckett. Richard Castle, o escritor.
- Nos
conhecemos – ao olhar para o médico, Castle entendera que Lanie comprovara algo
que suspeitava e isso estava prestes a ser revelado a Beckett. Sentiu o coração
apertar e um semblante preocupado formou-se em seu rosto. Numa sala, o médico
explicava o que descobrira em linguagem técnica e leiga para facilitar o
entendimento.
- Observe o
ferimento retangular em torno dessas feridas... Aqui e aqui... Causado pelo
cabo da faca que golpeou com força suficiente para comprimir a pele. E, como
resultado, ferimentos mais profundos do que o comprimento da lâmina. Ele também
afiou sua lâmina tão bem, que é o suficiente para quebrar em partes quando se
atinge o osso, por isso, lascas de lâmina foram encontradas dentro das duas
vítimas – enquanto a explicação corria, a apreensão de Lanie e Castle apenas
aumentava. Trocaram vários olhares diante do inevitável - Agora sabemos que as
lascas vêm da mesma arma do crime.
- Espere, duas
vítimas? Quantas pessoas ele matou? – Beckett perguntou à médica.
- Cinco que
nós sabemos.
- Então,
estamos procurando um assassino em série?
- Talvez.
Acreditamos que estamos lidando com um profissional, alguém com treinamento militar
extensivo – respondeu o médico.
- Um assassino
de aluguel?
- Usei a
reconstrução tomográfica das feridas de Coonan, para gerar um modelo 3-D da lâmina
utilizada – no instante que Beckett segurou a arma em suas mãos, a mente não
conseguiu bloquear o inevitável. O formato, o tamanho, as fotos. Tudo a remetia
alguns anos atrás. Ao caso que nunca solucionara. Contrariando sua vontade, o
medo corria em suas veias - É a faca de um grupo de operações especiais... usado
pelas forças especiais na guerra do Golfo. Ele mata com um único golpe com
estes outros ferimentos para camuflar a habilidade com que o curso inicial foi
dada. O mesmo método e a mesma arma de um assassino de aluguel... de dez anos
atrás – Castle já sabia que ela entendera.
- Lanie...
- Lamento.
- Detetive
Beckett, não há nenhuma dúvida, na minha opinião, que Jack Coonan foi
assassinado pelo mesmo homem que assassinou sua mãe – Beckett ficou pálida como
uma vela. Sua segunda reação foi a raiva, descontou-a na amiga enquanto Castle
assistia de longe. Não sabia como tudo isso iria afetá-la, apenas reconhecia
que não havia como não acontecer. Ele também estava com medo, por ela.
- Eu sou a
investigadora deste caso. Você não tinha o direito de barrar as evidências de
mim.
- O que
esperava? A última vez que Castle tentou falar com você sobre isso, quase
arrancou cabeça dele.
- Por favor,
Lanie.
- Eu notei a
semelhança da ferida. Fiz contato com o Dr. Murray. O impedi de dizer até saber
se a evidência era sólida. Beckett, viemos a você quando tivemos certeza – a
discussão entre as duas gerou uma certa comoção no meio do salão. Ninguém
ousara se meter entre elas, a preocupação no rosto dos amigos era visível,
especialmente em Castle. O próprio capitão do 12th distrito resolveu intervir
para entender como sua detetive estava. Não era nada fácil receber um golpe
desses.
- Beckett,
posso ter uma palavrinha com você? – ele esperou que entrasse e fechasse a
porta para oferecer a garrafa com bebida - Analgésico para quem está mal – ela
aceitou - Sei que o assassinato de sua mãe foi a razão para você se tornar
policial. E como quase se arruinou para tentar resolver o caso na primeira vez que
tentou. Achei que cedo ou tarde, quando estivesse pronta, gostaria de ter outra
oportunidade nele. Não imaginei que ele fosse reaparecer num golpe desses. Kate,
me escute. Você é a melhor da homicídios que já treinei, sem exceções. E quero
que fique no caso se conseguir, se ainda tiver forças – ela podia ver a
sinceridade nos olhos de seu superior - Eu não estaria fazendo o meu trabalho
como seu capitão se eu não perguntar... Consegue aguentar isso?
- Sinto muito,
senhor. Eu não posso – segurando as lágrimas, ela saiu da sala de seu chefe,
pegou o casaco e rumou para o elevador. Não queria passar nem mais um minuto
ali.
- Beckett –
Castle chamou-a – Kate - Ela não deu a mínima para ele.
Assim que
pisou na rua, sua reação foi escorar-se na parede do prédio e fechar os olhos.
Ela voltara a sentir todos os sinais de medo e ansiedade de outrora. A garganta
fechara, ardia pela força das lágrimas que enchiam seus olhos. Uma dificuldade
de respirar a fazia levar a mão aos cabelos para depois envolver-se nos
próprios braços, como uma espécie de proteção. Respirava quase ofegando.
Precisava sair dali, rápido.
Tomando
coragem, ela deu alguns passos até seu carro. Por algumas horas, ela rodou pela
cidade sem rumo, sem objetivo. A mente fervilhava com a possibilidade de pegar
o assassino de sua mãe, a primeira chance em anos. Tinha muito medo, querer
justiça não era a mesma coisa que investigar. Não se sentia preparada. O que ia
dizer ao pai? Ele também tinha o direito de saber. Sofrera tanto quanto ela. O
problema é que não estava preparada para conversar com ele ainda, nem com
ninguém.
No seu
apartamento, Beckett se serviu de uma dose de whisky. Sentou-se no sofá. Bebia
olhando para o nada. Deixou o copo vazio sobre a mesinha. Agarrada a uma
almofada, fechou os olhos, as lembranças da mãe voltaram à mente. O sorriso, o
rosto, os momentos compartilhados entre jantares, ringues de patinação. A
empolgação ao saber que a filha ia seguir seus passos na advocacia. Então, a
fatídica noite fria de janeiro que mudara a vida dela e do pai, para sempre.
Sabia que a
amiga não fizera por mal, Castle também não fizera há meses atrás. Desde a
última vez quando quase acabara com sua vida, ela decidiu que não voltaria a
buscar respostas. É diferente, dizia para si. Não estava sozinha. Não procurara
por isso. Apenas não estava preparada para enfrentar a verdade.
Quando
sentiu-se um pouco melhor, levantou-se, vestiu o casaco e saiu. Na antesala do
consultório da Dr. Anderson, ela fraquejou. Sentiu as pernas bambas. Ao dar
meia voltar para ir embora, a porta do consultório se abre e a terapeuta chama
por ela.
- Kate? Não
tínhamos sessão hoje. Aconteceu... – não terminou a pergunta. O semblante dela
dizia tudo – venha comigo, querida. Você precisa se sentar – a terapeuta
levou-a até o divã. Serviu um chá de camomila para a detetive antes de se
colocar sentada a sua frente.
- Não devia
estar aqui. Foi um erro. Eu preciso ir embora – ela balbuciava deixando a
xícara sobre a mesinha de apoio.
- Não, Kate.
Você pode até sair em seguida, termine seu chá – quando viu Kate tornar a pegar
a xícara, voltou a falar – eu conheço esse olhar. Não é a expressão de alguém
chateada por alguma besteira de Castle, ou quando se entrega ao desejo, nem
mesmo de uma policial que acaba de resolver um caso ou matara um bandido. Esse
é um olhar de dor. De sofrimento. Nada te deixa tão perturbada quanto o caso de
sua mãe. Eu mais do que ninguém sei reconhecer isso. O que aconteceu?
Kate evitava
encarar a terapeuta porque no momento que o fizesse, cederia ao autocontrole.
Fora um erro vir até ali pelo simples fato de saber que ela reconheceria qual
era o problema, a obrigaria a falar.
- Tudo bem.
Não estou pedindo para você me contar. Fique calada, não me importo. Quero que
aproveite esse momento comigo para refletir. Acalmar sua mente e seu coração –
a terapeuta permaneceu calada por um intervalo de cinco minutos, somente
observando os gestos da mulher tão forte e tão fragilizada a sua frente,um contrassenso.
Viu as lágrimas escaparem pelo rosto pálido da detetive. Entendia que era
difícil para ela dividir o que sentira. Desde a última vez, a detetive moveu
montanhas para sair do buraco que se metera. Isso lhe custou muito esforço e
perseverança. Todo choque de realidade tem suas consequências. Com Kate Beckett
não fora diferente. Ela fechou-se para o mundo. Vivia numa redoma segura por um
sentimento complicado: o medo. Meses atrás, quando ela a surpreendera em seu
consultório, Dana se deparou com a mesma mulher de anos atrás. Decidida,
destemida e objetiva quando se falava de trabalho. Confusa, ansiosa e relutante
quando se analisava as relações pessoais. Dana, porém, vira algo mais. Um novo
brilho em seu olhar. O motivo tinha nome e sobrenome. Rick Castle.
- Kate – ao
ouvir seu nome, voltou a atenção para a mulher a sua frente,ainda sem fita-la –
antes de você ir, se me permitir dar um conselho. Pode descarta-lo se quiser.
Não tenho a dimensão da dor que está passando. Não poderia entender, nem que
quisesse. Meu papel aqui é ajuda-la se quiser ser ajudada. O que quer que tenha
surgido sobre o caso da sua mãe, certamente foi um golpe inesperado. Você está
com a sensação de que lhe roubaram o chão. Mas não estamos mais em 1999 ou você
não é mais uma recruta da NYPD. é uma detetive experiente, inteligente. A carga
é um pouco menos pesada dessa vez. Pode se tornar suportável até. Uma das
formas de aguentar a pressão, driblar o medo, é contando com as pessoas que se
importam com você. Pessoas que serão capazes de compreender sua dor ou deixa-la
confortável para ver objetivamente através da névoa negra que esconde a verdade
de seus olhos. Você sabe exatamente quem procurar.
Pela primeira
vez, Kate encarou-a. Entendera o conselho. Suspirou. Levantando-se do divã,
pegou a bolsa e caminhou até a porta. Virando-se, ela deixou escapar um meio
sorriso.
- Obrigada.
Saiu. Não voltou diretamente para o carro. Consultou o relógio. Três da tarde.
Caminhou pela rua até se deparar com uma cafeteria. Entrou e pediu um café.
Sentou-se numa mesa ao canto procurando criar coragem para encarar seu próximo
encontro.
XXXXXXX
Castle estava
sentado em seu escritório, pensativo. A garrafa de whisky já estava pela
metade. Ele temia por aquele momento. Temia por Kate. Desde sua última conversa
sobre esse assunto, ele percebeu que o medo de sucumbir ao desespero do passado
ainda a aterrorizava. Independente dos anos de experiência, não amenizava estar
do outro lado. Queria poder ajuda-la, não apenas investigando como propusera
anteriormente. Queria dar apoio, conversar, emprestar seu ombro. Qualquer coisa
que pudesse tirar aquele olhar de dor que vira naquela sala hoje.
Se Beckett
realmente não quisesse ir adiante no caso da mãe, precisaria de alguém a seu
lado. Não podia ficar sozinha. Um esteio, um amigo, alguém para segurar sua mão
e dizer que, isso também, iria passar. Ouviu uma batida de porta. Sua mãe.
- Em casa tão
cedo, kiddo? Em plena tarde, não são nem quatro horas! A detetive Beckett o
expulsou do distrito novamente? Richard, você tem que parar...- ela percebeu o
semblante sério do filho, algo não estava bem – o que foi? Problemas no caso?
- É, o caso
que estávamos investigando. A vítima. Ela foi morta pelo mesmo assassino da mãe
de Beckett.
- Meu Deus! E
como ela está?
- Eu não sei!
Ela saiu às pressas do distrito, não quis falar com ninguém – ela viu a
apreensão no rosto do filho – ela não está bem, mãe. Não pode estar. Esse é o
maior pesadelo de Beckett. Eu tenho medo que ela faça uma besteira. Queria
ligar, mas e se ela me odiar por isso?
- Richard,
nesse momento ela precisa de um tempo sozinha. Para digerir o que aconteceu.
Mas, isso não o impede de lembra-la que se preocupa – Martha se levantou e
deixou o filho com seus próprios pensamentos. A mãe tinha razão. Ele precisava
encontrar um caminho para chegar a ela.
Kate terminara
o café. Queria marcar um encontro com o pai. Ela não podia mantê-lo afastado em
um momento como esse, da mesma forma que não poderia deixa-lo vê-la assim tão
arrasada. Pegou o telefone e ligou para Jim, era um encontro de pai e filha. Explicou
que era algo relacionado ao caso da mãe. Jim escolheu uma pequena lanchonete
perto do apartamento dela, sete e trinta era um bom horário. Agora que já dera
o primeiro passo, Kate rumou para casa. Precisava de um banho, uma troca de
roupa, descanso. Tudo para não transparecer tanto ao pai o quanto aquele
assunto estava afetando-a. Não queria preocupa-lo. Não podia voltar ao mesmo buraco.
A ideia de uma
chuveirada bem quente animou-a. Debaixo do chuveiro, Kate deixou a água bater
em seus músculos procurando relaxar. Não tinha noção do quanto estava tensa e
doída com toda a situação. Fechando os olhos, concentrou-se em sentir os efeitos
do jato em suas costas e nas palavras da terapeuta. De todas as pessoas que
sabia do caso de sua mãe, Dana era talvez a mais indicada para guia-la. Já
passara por isso antes, fora com ela que Kate conseguira se reerguer. Não podia
desprezar o que falava.
Após um banho
bem demorado, antes de se vestir, ela checou o celular. Havia três ligações
perdidas de Castle e uma nova mensagem de voz, com certeza dele. Suspirou. Não
estava com cabeça para ouvir o que ele tinha a dizer, provavelmente iria
elencar vários motivos para continuar com a investigação porque mesmo da outra
vez que discutiram, ele deixara claro que devia tentar novamente. Não, que ele
estivesse errado. Esse tempo que se dera servira para pensar em como agiria.
Ela não seria uma boa detetive se deixasse as emoções sobreporem a razão, a
chance de justiça que devia a sua mãe. Beckett precisava entender que a vida
lhe dera uma nova oportunidade, caberia a ela usa-la sabiamente. Dera outra
olhada no celular. Não, nada de Castle.
Por volta das sete
e trinta, ele chegou à lanchonete. Criando coragem para conversar com seu pai
sobre o assunto delicado, permaneceu um tempo no carro antes de sair para
encontra-lo. Seu pai já a aguardava.
- Katie – ele
levantou-se para abraça-la. Ela deixou-se demorar um pouco naquele carinho.
- Oi, pai.
- Oi. Então...
o que encontrou?
- Eu não sei
ainda.
- Mas é suficiente
para assustá-la.
- Sim.
- Não dormi
bem o primeiro ano inteiro depois que você saiu da academia. Ouvia sirenes na
noite e imaginava você em algum lugar da escuridão. Tinha pesadelos em que você
acreditava em tudo.
- Pai, não
quero perder essa.
- Sua mãe
sempre disse que a vida... Nunca entrega nada que não podemos lidar. Quer
dizer, ela viveu por isso, sabe? Chamava de lei imutável do universo de
Johanna. E por anos, achei que ela estava errada... Porque eu não podia lidar
com a ideia de perde-la. Agora... Eu quase posso ouvi-la sussurrar, "Eu te
disse".
- As palavras
favoritas da mamãe.
- Olha...Ela
era crente na verdade, e se ela estivesse aqui agora, diria: "A verdade
nunca pode prejudicá-la". Sabe, esta pode ser a maneira de sua mãe chegar
até você, Katie... E lembrando que a verdade...Ainda é a arma da autoridade, não
a deles – segurava a mão da filha na sua. Jim forçou-a a comer um hambúrguer,
conhecia sua filha o suficiente para saber que diante de situações
estressantes, acabava se privando do básico, como se alimentar. Diante da
refeição, o pai procurou mudar o assunto – fora isso, o que anda acontecendo na
sua vida, Katie?
- Eu vinha
numa naturalidade em tudo, antes desse drama bater a minha porta.
-
Naturalidade? Das vezes que conversamos, não havia nada de natural. Sempre
tinha algo para contar sobre as loucuras de Castle, ou as teorias, algo que ele
aprontara que te deixara irritada. Isso não acontece mais? Ele parou de
segui-la?
- Você... quer
dizer, eu falo tanto dele assim? – Kate assustou-se com o comentário do pai,
fazia mesmo isso?
- Sim, todas
as vezes que você me ligava ou começava o assunto com Castle ou terminava com
ele. Aliás, eu percebi que você não tira os olhos do celular. Conversa um
pouco, come e olha para a tela disfarçadamente. Está esperando alguma ligação
importante? Algum desdobro do caso?
- Desculpe,
pai. Não estou esperando nada. É que desde que deixei a delegacia não falei com
ninguém. Tenho três ligações de Castle e uma mensagem de voz.
- Deve estar
preocupado com você – Jim falou sinceramente.
- Ou ansioso
por saber se voltarei para investigar o caso de Coonan.
- Não é como
eu encararia. Por que não escuta o que ele tem a dizer? Katie, sei que é muito
difícil para você enfrentar novamente a abertura dessa ferida, remexer em
lembranças guardadas a sete chaves. Quero que saiba de algo muito importante.
Você não tem obrigação de fazer isso, não deve nada a sua mãe. para ser
sincero, mesmo com todo seu senso de justiça, Johanna não iria querer vê-la
remexer em algo que a fizesse sofrer, ou pior, a afetasse de tal maneira que se
tornasse irreconhecível perante aqueles que a conhecem.
Jim levou a
mão da filha aos lábios. Beijou-a.
- Por outro
lado, caso decida seguir em frente, não faça isso sozinha. Acredito que
reconhece quem poderia compreender o quão importante esse assunto é para você –
ela entendia exatamente onde o pai queria chegar, ressaltara o mesmo ponto da
terapeuta.
- Obrigada,pai.
- Você sabe
que não gosto de comentar demais sobre a ausência da sua mãe, não sou a melhor
pessoa. Mas, o que quer que precise, um abraço, uma conversa, ou apenas ficar
um tempo calada comigo, é só chamar. Apesar que você já possui a pessoa ideal
para isso.
- Eu te amo,
pai.
- Também te
amo, Katie.
Quando saiu na
rua, o frio obrigou-a fechar o casaco. Kate procurou agasalhar-se no carro
fugindo da chuva que ainda insistia em cair. Kate colocou o celular no ouvido.
Antes de mais nada, queria ouvir o que Castle tinha a lhe dizer. Dependendo do
que escutasse, talvez teria que rever suas opções. Ao acessar o recado, o mero
som da voz dele dizendo seu nome a fez tremer.
“Kate... eu
imagino que esteja confusa, triste e não queira falar com ninguém. Não a culpo.
Apenas queria dizer que independente da sua decisão, eu a apoiarei, eu estarei
aqui. Kate, por favor, não deixe o medo guia-la e quando puder, dê notícias.
Preciso saber se está bem. “
Kate suspirou
profundamente. Sem perguntas, sem cobranças, apenas se preocupara em saber se
ela estava bem. Eram quase dez horas, sabia que ele não estaria dormindo.
Também não queria dar abertura para qualquer outra possibilidade que não fosse
o seu objetivo principal. Decisão essa que tomara instintivamente desde que
saíra do consultório da terapeuta, somente precisava de um tempo para ordenar
seus pensamentos. Ela discou.
- Castle, sou
eu. Temos que conversar sobre o que aconteceu hoje.
- Tudo bem.
Quando? Pode ser agora, se quiser.
- Olhe, só me
prometa uma coisa. Você vai fazer o que eu pedir. Estou a caminho.
- Será assim –
Castle desligou o celular, por uns instantes fitara o nada. Quando Kate chegou
ao apartamento de Castle, instintivamente levou a mão ao pescoço, puxando a
corrente, tocando o solitário da mãe. Ponto sem retorno, pensou. Tocou a
campainha. Quem abriu a porta foi o próprio Castle.
- Hey...
- Hey... – ela
não pode deixar de sorrir. Era bom olhar para ele novamente.
- Entre.
- Obrigada.
- Aguenta
firme, criança – Martha disse abraçando-a.
- Obrigada,
Martha.
- Sobras na
geladeira. Estaremos no andar de cima se precisar de nós – saiu puxando Alexis.
- Por favor –
Castle a incentivou a adentrar sua sala. Kate queria ser direta, aparentemente,
Castle também. Tanto que não deixou que a detetive falasse primeiro.
- Vou fazer
tudo o que você precisa, incluindo nada, se é isso que quer.
- O que quero
é encontrar o assassino de minha mãe – ela falou com uma certeza que quase o
fez sorrir. Ela estava bem, ela estava confortável no papel que combinava com
ela.
- Então
precisamos pegar o Johnny Vong.
- Então, vamos
pegá-lo – disse Beckett. Antes que decidisse ir para a rua, ela foi
surpreendida por um abraço confortante e sentiu os lábios dele beijarem seus
cabelos. Não havia nada de sexual naquilo, tratava-se de apoio. Ficou grata
pelo gesto.
Eles voltaram
ao distrito com um plano em mente. Se Vong temia tanto por sua vida, ele iria
ficar aterrorizado quando Beckett o informasse que estava livre. Foi o que
ocorreu. O pavor o fez revelar quem havia contratado seus serviços e como toda
a operação funcionava. Tanto Beckett quanto Castle ficaram surpresos com a
revelação. Dick Coonan era o cara. Ao ser questionado se Jack fora assassinado
pelo próprio irmão, Vong deixou claro que não. Coonan contratara um
profissional conhecido como Rathborne. Ninguém poderia informar sobre seu
paradeiro exceto Dick.
Castle e
Beckett foram até o escritório de Dick Coonan. Mostrando-se preocupado e sensibilizado
com a morte do irmão, perguntou a detetive se havia novas pistas. Beckett
informou que Jack descobrira um novo traficante que andava ciscando no terreno
dos Westies e Rourke não tolera drogas. Mandou mata-lo, o problema é que Jack
não teve coragem. Dick disse que era a cara do irmão. Mas, sem paciência,
Beckett o freou despejando tudo sobre o seu triângulo de heroína.
- Afeganistão,
Hong Kong, New York... também sabemos que contratou um assassino chamado
Rathborne para matar o seu irmão antes de ir aos federais contar de você.
- Prove – sem
discutir, Beckett o arrastou para o distrito. Queria uma conversa formal. Da
sala de observação, ela analisava o suspeito. Ali a sua frente estava a pessoa
com a informação mais concreta que obtivera em dez anos. Castle estava a seu
lado, percebendo que estava concentrada. Podia ver as ideias rodando as
engrenagens de seu cérebro.
- Você está
bem? – era a segunda vez que ele lhe fazia essa pergunta. Kate decidiu
responder com a dúvida que pairava em sua mente.
- Faz dez anos
desde que vim para casa e encontramos um detetive nos esperando. Desde que
cruzamos a fita amarela e entramos naquele beco. E cada vez que atravesso a
fita na cena do crime, penso nessa noite.
- Isso é o que
faz de você uma policial tão boa.
- E se eu
decepciona-la?
- Sabe por que
escolhi você como minha inspiração para a Nikki Heat?
- Não. Por
quê?
- Porque você
é exigente – essa não era nem metade das razões, mas serviria por hora - Agora
vá lá e faça o seu trabalho – ela acatou. Beckett entrara naquela sala
resolvida. Iria aperta-lo, precisava saber de Rathborne. Começou a dizer que
estavam revirando as contas da organização de Coonan. Se houvesse indícios de
heroína, eles achariam. Declarou que o maior problema dele era ter contratado um
assassino como Rathborne indicando que houve premeditação, o que lhe
qualificara para a injeção. Então, Beckett fez um movimento que talvez em
outros casos não faria, porém a ansiedade por querer chegar ao tal atirador,
acabou fazendo-a mostrar suas cartas cedo demais.
- Estou
disposta a retirar a alegação da circunstância especial do processo se você me
entregar Rathborne.
- As únicas
circunstâncias especiais aqui, detetive, são a sua completa falta de evidências
contra mim.
- Tenho Johnny
Vong.
- O cara com o
sotaque falso fraudador de imóveis? É o melhor que consegue fazer? – Coonan e
ela sabiam que isso não significava nada para uma condenação
- Está
realmente disposto a apostar sua vida supondo que Vong não vai confirmar as
acusações, Sr. Coonan? Dê-me o assassino, e coloco pro promotor assassinato como
alegação.
- Quando nos
encontramos pela primeira vez, você me disse que já esteve no outro lado da
mesa. Lembra? Esse pode ser o motivo para você estar tão interessada em pegar o
assassino misterioso? – foi assim que Beckett reconhecera ter apostado muito
alto, um momento, um deslize e ela podia ter colocado tudo a perder - Pois,
devo supor, diria que alguém próximo a você foi assassinado, e você acha que
Rathborne tem algo com isso. Mas não devo supor, devo? Porque está escrito na
sua testa.
- Isso não
muda o fato de que você é culpado de assassinato.
- Talvez não. Mas
pelo baixo, baixíssimo preço da isenção transacional, eu posso te dar o
desfecho que você está procurando. Você fica com Rathborne e eu com a liberdade.
e esta, detetive, é minha oferta final.
Beckett saiu
da sala, expos tudo ao seu Capitão. Mexendo uns pauzinhos, Montgomery conseguiu
o que ela o pedira. Ela voltou a sala acompanhada de Castle para entender quem
era Rathborne e como o pegariam. Segundo Coonan, eles serviram juntos até um
ano atrás pensou que ele estava morto. Explicou o esquema de contratação para a
detetive. Beckett ordenou que Coonan contatasse para matar Johnny Vong, ele
estava sendo aguardado pela promotoria e não podia chegar lá vivo.
- Não funciona
dessa forma. Ele recebe o dinheiro antes, são 100 mil, não negociáveis.
- 100 mil? A
cidade não vai concordar nunca.
- Quer pegar o
assassino dela? O preço é 100 mil.
- Não posso
jogar tanto dinheiro no espaço sem nenhuma chance de recebê-lo de volta –
Beckett disse.
- Você não
pode – Castle disse - Eu posso. Isso é comigo.
- Castle... –
ela queria alerta-lo que não devia fazer isso, mas sabia que não a ouviria.
- Temos um
acordo? – Castle perguntou.
- Temos, mas a
isenção do meu cliente começa no momento que Rathborne aceitar o contrato –
afirmou o advogado - Uma vez que a transferência esteja completa.
- Assim que
Rathborne pegar o trabalho. Sua parte está feita – disse Beckett.
- E estou
livre?
- E você está
livre – ela afirmou.
Rathborne
mordeu a isca. Uma operação especial foi montada para simular o encontro com o
promotor. Usariam um policial no lugar do alvo. Repassaram os detalhes e
mobilizaram muitos recursos. Beckett não fora autorizada a ir para a rua.
Recebia atualizações em um rádio. Estava nervosa, nada poderia dar errado.
Castle estava com ela e reafirmava que estavam no caminho certo. Então, o pior
acontece e a a operação falha. Rathborne não apareceu. Beckett passa a mão
pelos cabelos, arrasada.
Na minicopa,
ela sorvia um pouco de café, ainda não acreditando nos erros que cometera.
- Eu a
decepcionei.
- Não, não
decepcionou – Castle se recusava a deixa-la se culpar por isso. Na verdade, ele
sentia-se culpado.
- Rathborne no
vento. Dick Coonan está quase livre. Algo me escapou - admitiu.
- Pode ter
sido eu. Rathborne pode ter checado o código da transferência e percebido que o
dinheiro veio da minha conta e não do Dick. Parece arrogante.
- Não te achei
arrogante, Castle – ainda não tivera tempo para agradecê-lo pelo gesto - Acho
que o que você fez foi doce. E eu vou repor...
- Negativo,
escritor fantasma é um preço pequeno por um tiro no assassino da sua mãe.
- O assassino
dela? – Beckett entendera onde havia errado.
- O quê?
- Coonan disse
que era 100 mil para capturar o assassino dela – Beckett afirmou.
- Você nunca
disse para ele que sua mãe que foi assassinada – disse Castle.
- Não existe
Rathborne. É apenas um disfarce. Foi você – ele já assinava os papeis para se
ver livre.
- Garota
esperta – no segundo seguinte, ele atingiu o policial ao seu lado, roubou-lhe a
arma e prendeu Castle pelos braços mantendo o revolver apontado para as costas
dele.
- Certo – ele
apertava a arma contra o corpo de Castle fazendo-o gemer. Eis o que vai
acontecer: nós vamos nos mover até o elevador, juntos. Simples assim.
- Isso nunca irá
acontecer – disse Beckett.
- Se você
fizer um ruído, tentar um sinal, basta que você limpe sua garganta, para que eu
coloque uma bala no fígado desse homem. E ele morrerá lentamente e sentindo
muita dor – Beckett que fez menção de pegar sua arma, recuou – Vamos – saíram
andando juntos pelo corredor. O pânico se instalara na face de Beckett. Mil coisas
passavam pela sua cabeça. Ela queria mais - O quê? Nenhum comentário sagaz da
última fileira do teatro? – ele implicou ao se deparar com o silêncio de ambos
- Não é tão engraçado quando está encarando a própria morte, né?
- Eu não sei,
Dick. Me diga – Castle respondeu - A última vez que eu chequei isso aqui era
uma delegacia.
- Você soube
antes de eu te prender, não soube? Você soube, minha mãe foi sua vítima –
Beckett insistiu. Montgomery ao ver os três caminhando tão quietos e juntos,
desconfiou. Então, viu a arma.
- Não foi
pessoal, sua mãe era só mais um trabalho.
- Ela era
minha mãe. Quem o contratou para matá-la?
- Esqueça,
você nunca tocará nele. Ele irá te sepultar.
- Me diga quem
– nesse instante Montgomery apareceu na frente deles apontando a arma na
direção de Coonan.
- Não! Não! –
ela se colocou entre eles - Preciso dele vivo!
- Está certa,
você realmente precisa de mim. Agora ele abaixa a arma ou Castle morre.
- Senhor,
abaixe a arma, por favor – Beckett pediu.
- Você sabe
que eu não posso fazer isso – disse Montgomery.
- Quer saber
quem mandou matar sua mãe? É melhor se certificar que eu saia inteiro daqui –
ela encarou Coonan e depois Castle. Ele mexia a cabeça negativamente indicando
que ela não desistisse. Mas, Kate queria um nome, de preferência sem colocar a
vida de Castle em risco.
- Roy, por
favor – a súplica no olhar dela o fez recuar, baixou a arma.
- Assim que se
faz Roy. Limpo e claro – então Castle acertou Dick com a cabeça fazendo-o soltá-lo
e perder o equilíbrio com o nariz sangrando por uns segundos. Mas ainda não
terminara. Beckett viu que ele ia atirar em Casle. Não ia deixar que
acontecesse. Fora mais rápida que ele e o tiro disparado da sua arma, o fez
cair. Castle olhou assustado para ela.
Ali na sua
frente, uma fração de segundos a fez perder. Jogando sua arma no chão, cega e
desesperada, Beckett tentara ressuscita-lo, reanima-lo. Ninguém ousava se aproximar
dela.
- Vamos lá. Vamos...Fique
comigo. Três, quatro, vamos lá, fique comigo. Não, vamos, fique comigo – ela
chorava, mas não desistia de aplicar a massagem nele, as mãos sujas com o
sangue de seu inimigo. Não se importava - Um, dois, três, quatro, cinco, seis,
sete, oito – era tarde demais, ele se fora e Beckett não desistia. Então,
Castle tocou-lhe o ombro em um sinal que acabara. Ela se afastou chorando,
passou a mão ensanguentada na testa.
Montgomery
ordenou que limpassem tudo, recolhesse evidências e a arma de Beckett. Ele iria
fazer o relatório. Mas Beckett mal o ouvira. Não conseguia fazer nada. Estava
entorpecida, ainda na mesma posição com Castle a seu lado. O escritor ajudou-a
a levantar. Com cuidado, a guiou até o banheiro do distrito.
Com a maior
paciência do mundo, lavou o sangue das mãos dela. Limpou-as com todo o carinho.
A testa também tinha um pouco de sangue, assim
como as roupas. Ele molhou um lenço de papel certificando-se de tirar
todo o sangue presente na pele dela. Kate o deixou fazer isso, sem questionar.
Sua mente estava um total branco, sem pensamentos, sem ação. Depois, ele foi
até o armário dela, pegou uma roupa entregando-a.
- Você deveria
tomar um banho – ela o olhou resignada – troque de roupa. Vai se sentir melhor.
Quer que eu te leve para casa?
- Não... vou
ficar por aqui.
- Tem certeza?
Você deveria descansar – ele deixou as roupas sobre o balcão da pia. Acariciou
primeiramente os braços para então envolve-la num abraço carinhoso. Com o rosto
em seu peito, ela suspirou e chorou. Frustrada, aliviada, arrasada. Castle não
falou uma palavra sequer, mesmo sabendo que ela salvara sua vida. Não era o
momento. Cinco minutos depois, ela se afastou dele. Tocou o seu rosto, fitou os
olhos azuis e percebeu que estavam tristes, opacos. No fundo, tudo o que
aconteceu com eles essa tarde, afetara suas vidas.
- Eu vou tomar
banho...
- Tudo bem, eu
vou dar uma saída. Por favor, se precisa de qualquer coisa... – ela assentiu e
virou-se para o chuveiro.
Castle não
estava abandonando-a. Ele também precisava de um tempo. Pela primeira vez,
sentia-se mal, culpado. Ele atrapalhara e como consequência causara morte e
sofrimento. Beckett nunca esteve tão próxima do assassino de sua mãe. Estragara
tudo. Como seguir adiante depois disso? Como saber que não colocaria novamente
sua vida em risco e pior, a dela? Kate podia ter sido morta, bem ali, em sua
casa. No 12th distrito. Entre a sua justiça e uma vida, Kate Beckett escolhera
a vida. Sua vida, pensou Castle.
Tinha um
comunicado muito difícil a fazer, doía-lhe o coração ter que abandona-la justo
nesse momento, onde ela precisava de apoio, de alguém que a fizesse compreender
que isso não era o fim de tudo. Estaria sendo muito radical? Egoísta? De uma
coisa ele tinha certeza, se saísse da sua vida agora, não haveria volta. Antes
de qualquer conversa, ele iria cuidar dela mais uma vez. Tinha certeza que ela
não se alimentara. Trocou de roupa, havia sangue na camisa provavelmente por
ajuda-la. Depois ia comprar algo para levar ao 12th, onde teria a difícil
conversa.
Ela estava
sentada na sua mesa, usava a roupa que ele a entregara. Percebeu quando se
aproximou. Ergueu a cabeça para fita-lo. Castle percebeu que ela tinha o
semblante mais calmo.
- O relatório
pós-incidente do Montgomery. Você se desprendeu igual ao Steven Seagal.
- Devo me
sentir lisonjeado ou insultado? – Castle perguntou.
- Ambos – e
sorriu para ele que interpretou o sinal como um convite. Sentou-se na cadeira
ao seu lado.
- Não sabia
como você se sentia, então eu trouxe sushi, comida italiana, tailandesa e
também cachorro-quente.
- Não foi sua
culpa, sabe? – Beckett era sincera ao dizer isso, porque imaginara que ele
estava sentindo-se assim por tudo o que conhecia dele, pelo que via em seus
olhos.
- Passei dos
limites. Vim aqui para dizer que sinto muito e que para mim acabou. Não posso
mais seguir você. Se não fosse por mim...
- Se não fosse
você eu nunca teria encontrado o assassino dela. E algum dia, em breve, vou
encontrar os filhos da puta que mandaram Coonan matá-la. E gostaria de você por
perto quando isso acontecesse – ela tomou coragem para pedir que ele ficasse -
E se você contar para alguém o que direi, haverá outro tiroteio. Mas... me
acostumei com você puxando meu rabo de cavalo. Tenho um trabalho difícil, Castle.
Ter você por perto torna-o mais agradável – ele gostou do que ouvira.
- Seu segredo está
seguro comigo – ela entregou um par de hashis para ele sorrindo. Tudo ia ficar
bem, bastava viver um dia de cada vez. Em uma atmosfera amigável, eles fizeram
a refeição juntos e conversando bastante. Castle sentiu-se aliviado pela
revelação de Beckett. Então, a detetive gostava de sua companhia e não era tão
imune ao seu charme por fim. Quando terminaram, ele ofereceu uma carona para
Kate. Ela aceitou.
Na frente de
seu apartamento, Kate sorriu e despediu-se dele.
- Obrigada,
Castle. Tê-lo ao meu lado durante esse caso foi fundamental. Ainda bem que
evitei a papelada – ela riu. Era bom vê-la sorrindo sem reservas novamente.
- Um
sorriso... gostei. Fiz o que poderia, faria de novo, por você – um silêncio de
cumplicidade parou entre os dois – vamos pegá-lo. Um dia, verei você colocar o
mandante da sua mãe atrás das grades – Kate se aproximou e beijou-lhe o rosto.
- Boa noite,
Castle.
- Até amanhã,
detetive – quando ela virou-se para deixar o carro, ele puxou o grampo que
prendia o cabelo dela, soltando os fios na altura do ombro. Kate apenas sorriu,
ele estava deixando claro que estaria ali para fazer o que ela queria.
Semanas
depois...
Desde o caso
de Coonan, as coisas voltaram aos eixos no distrito. Dias atrás, ele fora
considerado um dos solteirões mais cobiçados de Nova York. O que lhe rendera um
bom joguinho com Beckett além de uma noite na companhia dela, considerado um
encontro para os dois. Porém, não houvera beijos ou contatos, muito menos
voltaram a dormir juntos. No fundo, Castle sentia falta disso. A cada dia que
passa se afeiçoara à detetive mais do que imaginara possível e devido aos
últimos acontecimentos, ele não se imaginava longe dela.
Beckett
continuava vivendo um dia de cada vez. Não retornara à terapeuta e não contara
o que acontecera. Não estava disposta a remexer nesse assunto. Algumas noites,
ainda se pegava pensando na mãe, na cena no distrito. Necessitava de um pouco
mais de tempo para retomar qualquer conversa referente aquele assunto.
O caso que
estava investigando era de um cara ídolo do baseball americano, o cubano Cano Vega
fora assassinado. Castle teve a chance de conhecer um novo lado de Beckett. Ela
era uma grande fã de baseball. Isso foi apenas o começo. Ela era viciada, via
jogos com o pai desde os três anos. Quando foram fazer uma visitinha para Bobby
Fox, o empresário de Vega, Kate quase tem um troço ao ver Castle falando
casualmente com Joe Torres. Ela ficou tão agoniada e surpresa que mal conseguia
apresentar-se direito. Ao se afastar, ela começou a rir descontroladamente para
o estilo de Beckett. Não acreditara que apertara a mão dele, esquecendo o caso
por alguns minutos, ela foi ligar para o pai a fim de contar a novidade.
Por tudo que
aprendera sobre Beckett nesse caso, Castle decidiu que poderia fazer uma
surpresa para ela. Um pequeno programinha para pura diversão. Afinal, ele
conhecia pessoas e conseguia os melhores lugares. Antes de deixar o distrito
naquela noite, ele fez o convite.
- Beckett, o
que me diz sobre um programinha tranquilo para sábado à noite? Yankees contra
Red Sox, o que me diz, aceita o convite? Tenho excelentes lugares.
- Você está me
convidando para um jogo de baseball, Castle? Achei que não gostava do esporte.
- Na verdade,
não conheço muito. Mas, depois de ver você surtar com Joe Torres achei que
seria uma ótima oportunidade de nos divertirmos. Devo a você isso, uma retribuição
por ter salvado a minha vida. E você pode aproveitar para me ensinar um pouco
sobre o esporte. Então, aceita?
- Aceito. Vai
ser bem interessante.
No sábado,
Castle passou no apartamento de Beckett pouco mais de quatro da tarde. O jogo
era às cinco horas, o que não preocupava o escritor devido ao seu lugar vip.
Quando Kate apareceu na frente de seu prédio, Castle teve que sorrir. Ela
estava à caráter. Vestia uma calça jeans que caia maravilhosamente em seu
corpo, uma camisa dos Yankees do próprio Torres e um boné oficial. Trazia uma
sacola consigo.
Ao entrar no
carro e olhar para Castle, acertara em cheio no que estava dentro da sacola.
Somente iria entregar no estádio.
- A caráter,
Beckett?
- É um jogo de
baseball, do meu time preferido – ele sorriu dando partida no carro. No estádio
antes de entrarem, ela o parou.
- Castle,
espera – tirou da sacola uma caixa – para você. Aprenda uma coisa sobre
baseball, você não pode ir a um jogo com uma mega torcedora sem usar uma camisa
do time – ele abriu o embrulho tirando de lá uma camisa oficial dos Yankees – vista
logo! Não vejo a hora de entrar nesse estádio – Castle vestiu a camisa sobre a
camisa polo que usava. Beckett puxou da sacola mais um acessório. Colocou o
boné igual ao seu na cabeça dele – prontinho! Digno de um verdadeiro fã dos
Yankees. Vamos?
Ele a guiou
com as mãos na parte inferior das costas para o estádio. Era melhor do que Kate
esperava. Os lugares de Castle eram incríveis. Os melhores. Ela estava
empolgada. Castle podia notar o sorriso e quanto estava feliz. Isso o deixava
aliviado e feliz também. Durante o jogo, Kate explicava as regras e os
acontecimentos do jogo a Castle. Ao final da terceira entrada, ele avisou que
ia atrás de algo para comerem. Retornou com cachorros-quentes, batatas fritas e
cerveja.
- Meu lanche
favorito para um jogo, Castle.
Juntos
acompanharam o resto da partida que felizmente fora favorável aos Yankees. Kate
vibrava e gritava, torcendo como uma boa novaiorquina. Ele estava encantado com
tudo. A sua ideia acabara se tornando uma bela diversão. Algo que ambos mereciam
a algum tempo. Quando o jogo acabou, ele pediu para que ela aguardasse. Com
passe livre, assim que o estádio esvaziou, ele a levou até o campo.
- Levando em
consideração que você é uma grande fã, já deve ter andado por esses gramados,
não? Também conhece muito as regras do jogo. Que tal me ensinar a rebater?
Sabe, no dia que encontramos Vega, você e Esposito estavam falando dos pais e
do esporte. Eu fiquei um pouco embaraçado com aquela conversa. Eu não conheço
meu pai, não tenho essa ligação com o jogo ou com qualquer outro. Isso me fez
pensar se não perdi algo precioso.
- Hey,
Castle... – ela acariciou seu braço – aposto que você experimentou muito mais
coisas interessantes que nós. Não devia ficar triste ou chateado por isso. Se é
tão importante, eu o ensino a rebater.
- Obrigado –
disse Castle com um sorriso genuíno no rosto.
Eles desceram
para o campo. Kate o ensinou o básico sobre apanhar a bola. Passaram um bom
tempo jogando a bola um para o outro. Em seguida, ela pegou o bastão para
mostrar como rebater. Na frente dele, ela fazia os movimentos com o corpo para
conseguir uma bela rebatida. Acionara a maquina e com leveza acertava cada uma
das bolas em sua direção. Castle estava adorando observar o movimento do corpo
a sua frente. Entregou o taco para ele pedindo que fizesse o mesmo que ela.
Percebeu que o movimento estava errado. Não acertava nenhuma bola.
- Não, Castle.
Está errado. Está girando errado – ela se colocou por trás dele ajeitando os
quadris, erguendo as mãos dele na altura necessária. Usando suas mãos, ela
segurava os braços de Castle indicando como deveria fazer o movimento. Os
corpos estavam juntinhos, mantendo contato como já não faziam desde o
lançamento de Heat Wave. Kate percebeu o que podia acontecer caso não se
importasse com a proximidade do rosto dele junto ao seu. Castle sussurrou.
- Assim está
correto, Kate? Posso rebater?
- Seu taco
está preparado, Castle? – ela o viu gemer. No mesmo instante ligou a maquina e
uma saraivada de bolas foram disparadas na direção dele. Tentava em vão
rebatê-las acertando uma ou outra. Ela ria da cena até que decidiu dar um
descanso a ele, não sem perder a chance de implicar.
-
Definitivamente, não dá para confiar no seu taco... você é muito ruim - rndo muito dele..
- Não, diga
isso. Meu taco a serviu muito bem – prevendo que ao aceitar a provocação eles
podiam atravessar a linha novamente, Kate recuou lutando contra todas as suas
forças.
- Baseball não
é para você, Castle. Mas, quando tiver outras entradas para jogo como essas,
não me importaria de vir com você. Não seja tão duro com você mesmo, ninguém
conta histórias como você – ela enroscou o braço no dele, sorrindo - Vamos para
casa, escritor.
Castle parou
em frente ao seu apartamento. Kate sorriu para ele.
- Eu me
diverti muito hoje. Estava precisando.
- Eu também
adorei o passeio e as aulas apesar de ser reprovado.
- Talvez um
dia você pegue o jeito. Ser fã de baseball não é mandatório para ninguém,
especialmente quando se tem uma estrela da Broadway como mãe. isso é para
poucos – tirando o boné dele, Kate se aproximou e beijou-lhe o rosto, tornou a
colocar o boné – boa noite, Castle.
- Boa noite,
Kate.
Continua...
4 comentários:
Capítulo tenso, mas com um final fofíssimo. Adorei!
E cada vez mais o amor e carinho um pelo outro está aparecendo *-*
Ansiosa pelo próximo... Beijos!
Nossa! Capítulo angustiante. Todo o sofrimento e o medo voltando a atordoar a Kate. O bom é que o relacionamneto dos dois está melhorando.
O caso da mãe dele sempre trás a tona feridas ainda abertas,que bom que o Castle dá o espaço que ela precisa. E sempre volta ao seu modo para ajudá-la e o momento a base do baseball foi tudooooooooo :)
O caso da mãe dela é muito duro de se encarar!
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