domingo, 20 de setembro de 2015

[Castle Fic] One Night Only?! - Cap.35


Nota da Autora: Um capitulo com reflexões, sentimentos e um pouquinho de angst mental para prepara-los para o que vem por ai.... os próximos capítulos não abordarão episódios, mas logo chegaremos no momento ápice da SF da S3... aguardem! 

Enjoy!


Cap.35         


Beckett retornou para seu apartamento bastante cansada da viagem. O motivo? Desde o momento que pisaram em solo novaiorquino, ela não parou um segundo. Mesmo com a insistência de Castle para irem direto ao loft, ela não abriu mão de seguir direto do aeroporto para o necrotério de Nova York. Assim que pousaram, Beckett checou as mensagens de celular, entre elas estavam a do detetive da LAPD que avisava já ter submetido o relatório final do caso e liberado o corpo de Royce para ser enterrado. Justamente por isso, ela precisava concluir o processo que devia ao seu mentor. Já fizera justiça, agora era a hora de descansar.

Castle não discutiu. Sabia que quando a teimosia de Kate a guiava, discussões não facilitavam em nada a situação. Preferiu acompanha-la podendo ajuda-la no que fosse fazer, obviamente ele não tinha ideia do que a mulher calada a seu lado pretendia.

Ao chegarem no necrotério, Beckett foi direto procurar Lanie. Ela era a médica responsável pelo corpo de Royce. Respirando fundo antes de encarar a sala de autopsia, trocou um olhar com Castle o que imediatamente o fez alcançar a mão dela dando um pequeno aperto em sinal de compreensão e força. As portas se abriram e ambos deram de cara com um corpo aberto sobre a mesa.

- Ótima forma de recepção – disse Castle.

- O que você esperava, Castle. Isso aqui é um necrotério – retrucou Laine – oi, querida. O que faz aqui? Não estou sabendo de nenhum caso de homicídios desde ontem quando Esposito veio pegar uns exames toxicológicos.

- Não estamos aqui por um novo caso. Vim por causa de Royce. Recebi a informação de que o corpo dele já foi liberado. A investigação de seu assassinato está finalizada.   

- E o que você quer exatamente? Que contate o parente dele mais próximo? Na ficha dele diz que os pais já faleceram.

- Royce não tem parentes vivos. Ele também era filho único. Tecnicamente, eu sou a pessoa mais próxima a ele. Quero que você prepare o corpo para que eu possa leva-lo a uma funerária. Vou contratar um serviço para enterra-lo amanhã. Ele me pediu isso.

- Como? – Lanie parecia surpresa com a atitude de Beckett.

- Estava na carta, Beckett? – perguntou Castle.

- Sim, e também era uma coisa nossa. Prometemos que se algum dia um dos dois morresse em serviço, o outro cuidaria para que tivesse um final descente. Como Royce não pode ser enterrado com as honras da policia devido a perda de sua licença, eu sou responsável por cumprir a promessa que fiz.

- Eu posso ajuda-la.

- Castle, essa historia não é sua, portanto nem pense em se meter nela. Não quero seu dinheiro.

- Tudo bem, Kate. Não precisa ser uma ajuda financeira. Estou me oferecendo para ajuda-la com a cerimônia. Organizar as coisas no cemitério. Escolher o caixão, comprar flores ou no transporte. Podemos resolver grande parte disso hoje mesmo. Marcamos o enterro para amanhã por volta das dez horas da manhã. Parece bom para você?

- Certo, eu aceito. Lanie, a que horas podemos levar o corpo para a preparação na funerária?

- Se você me der meia hora, estará tudo pronto para o transporte.

- Ótimo, vamos Castle. Eu te ligo quando o carro estiver a caminho para pegar o corpo.

Eles saíram do necrotério rumo a uma funerária. O resto da tarde de Castle e Beckett fora bem agitada. Entre escolher os detalhes para o enterro, resolver a papelada da permissão, flores, caixão e horários da cerimônia, Beckett se mantinha bastante ocupada para sequer pensar no significado de tudo isso.

Quando o rapaz da funerária chamou Beckett para ver o final do trabalho de recuperação e maquiagem, Royce já estava no caixão escolhido. A primeira visão foi impactante para ela. Deitada inerte naquela caixa estava o seu parceiro, seu mentor. Um homem tão forte, tão cheio de vontades, estava ali. Perdido para a vida por causa de cobiça e dinheiro fácil e ilícito. Todas as vezes que Kate era obrigada a encarar uma cena como essas, a de um colega no caixão, se perguntava se teria o mesmo fim. Os olhos vermelhos lutavam para manter a pose.

Castle admirava-a de longe. Então percebeu que era o momento de conforta-la. Ele se aproximou dela abraçando-a por trás. O gesto a principio a assustou, porém logo se rendeu ao calor do abraço. Precisava disso.

- Finja que não estou aqui e chore, Kate. Você tem esse direito. Não reprima os sentimentos, Royce não ia querer isso – ele acariciava seus braços. Em poucos segundos, percebeu o peito dela arfar, estava chorando. Ele nada disse. Permaneceu quieto deixando-a se entregar ao momento. Foram cerca de vinte minutos até que Beckett considerasse que estava bem para ir embora.

Ao chegar em seu apartamento, sentiu o peso do cansaço daquele longo dia. Ela não conseguira dormir durante o voo, deu um breve cochilo e fora isso. Castle a levou até a porta, queria saber se ela ficaria bem. Com um beijo, ela se despediu dele combinando que a pegaria por volta das nove ali mesmo. Lembrou-a também de telefonar para Montgomery avisando que o enterro de Royce seria a razão dela não aparecer pela manhã no distrito. Ela agradeceu e fechou a porta atrás dele após um beijo de despedida.

- Se cuida! E descanse, por favor.

Kate suspirou quando encostou-se na porta pelo lado de dentro. O significado do dia finalmente a atingira. Teria poucas horas para dar adeus ao seu amigo. Sentiria saudades dos velhos tempos. Especialmente aqueles ainda como novata. Perder um parceiro não era algo fácil, mesmo que não trabalhasse com Royce a alguns anos, a dor não era menor. Suspirando, decidiu esquecer o assunto por alguns minutos. Queria tomar um banho e dormir pelo menos umas cinco horas. Viu a luz da secretaria eletrônica piscando. Passara três dias fora, poderia ser importante. Ao apertar o botão, a voz de Dana se fez presente.  

- Oi, Kate. É a Dana. Onde você está? Estou preocupada com você. Estive no distrito a três dias para chama-la para almoçar e soube da morte de Royce. Sinto muito. Sei o quanto você gostava dele e sua importância para sua vida profissional e pessoal. Ele era um bom amigo e confesso que foi um choque para mim. Se quiser conversar, pode me ligar, a qualquer hora. Se não achar que está preparada para falar sobre isso, pelo menos me ligue para dizer que está viva e bem. Preocupação de amiga. Um beijo.   

Kate sabia que precisava retornar a ligação. Também reconhecia que a conversa era necessária. Não agora, mas teria que se sentar no divã de Dana, colocar para fora o resultado desses últimos acontecimentos, desses três dias em Los Angeles que provocaram algo diferente nela. Pegando o telefone, discou para a amiga. Ao segundo toque já ouviu a voz dela.

- Oi, Dana.

- Kate! Finalmente... estava preocupada com você. Onde se meteu? E quando liguei para você não obtendo resposta fiquei preocupada que pudesse ter...eu não sei, sumido ou pior. Ryan disse que você tirou uns dias de folga por causa disso. Pode imaginar como me senti.    

- É uma longa historia que não quero contar por telefone. Estou cansada, minha cabeça dói por causa da falta de sono e do jetlag. Prometo que iremos conversar a respeito somente não agora com toda essa confusão rondando minha cabeça. Você já soube do Royce então ...

- Sim, fiquei triste e chocada. Espera, disse jatlag? Você viajou?

- Nem comece. Era trabalho. Não quero falar sobre isso.

- Tudo bem. Você sabe que eu gostava dele e também sei o quanto ele foi importante para você. Precisa desabafar com alguém. Não é todo o dia que você vê seus heróis caírem.

- Ele não era um herói, Dana. Ele era um homem comum com erros iguais a tantos outros, mas que teve uma participação especial em minha vida. Você sabe.

- Sim, eu lembro bem. O caso de sua mãe. Nem sabia que ele estava em Nova York.

- Acredite, ninguém sabia. Eu já não falava com ele desde que o prendi. Bem, mas existe um motivo porque liguei. O enterro de Mike será amanhã, imaginei que como você o conhecia, gostaria de estar presente. Provavelmente seremos apenas eu e Castle.

- Claro que irei. Onde será? – Kate informou o endereço do cemitério para a amiga, o horário e fez questão de dizer que seria uma cerimônia rápida – não se preocupe, eu estarei lá. Promete que vai se cuidar? E vou ficar esperando pela sua conversa.

- Obrigada, Dana. Te vejo amanhã. Boa noite.

Exausta, Kate seguiu para o banheiro. Após um banho quente, ela desabou na cama sequer pensou sobre Royce, assassinatos ou Castle. Seu cérebro nem conseguiria dizer quanto era dois mais dois. Acordou por volta de sete da manhã. Espreguiçando o corpo, sentiu-se bem melhor após sete horas de sono ininterrupto. Levantou-se da cama em busca de uma boa dose de café e cereal. Estava com fome. A última tentativa de comida que botara na boca fora um croissant logo que chegaram a Nova York. Depois, seu corpo recebera apenas café.

Na cozinha, Kate preparou a cafeína e a tigela com cereal, leite e banana, a única fruta que conseguiu encontrar em casa. Enquanto sorvia o café, sua mente vagava como se tivesse em um grande vácuo. Não havia pensamentos ou imagens. Era uma espécie de pausa quando nada vinha a cabeça. Não era uma sensação ruim, pois lhe dava a oportunidade de apenas saborear o que comia.

Nem sabia quanto se demorara naquele desjejum, somente sabia que seu primeiro pensamento real fora em Castle. Ele deveria aparecer logo para busca-la. Seria muito bom tê-lo ao seu lado durante o momento que diria adeus a um grande amigo. Checou o relógio. Oito e meia. Tinha pouco tempo para se arrumar.

Retornou ao seu quarto, tomou um banho e usando apenas a lingerie aproveitou para se maquiar antes de colocar a roupa preta. Ajeitou os cabelos, vestiu a calça. Dez minutos e certamente Castle já devia estar chegando. Terminou de se arrumar rapidinho, foi até sua mesa de trabalho abriu a última gaveta tirando de lá uma bola de baseball velha. Sorriu ao examina-la. Colocou dentro da sua bolsa. Pegou o casaco e assim que chegara na sala, a campainha tocou. Abriu a porta.

- Quase pontualidade britânica, Watson – ela inclinou-se para beija-lo – bom dia!

- Bom dia. Por que me chamou de Watson? Por que você tem que ser Sherlock?

- Talvez porque eu seja realmente uma detetive?

- Isso não quer dizer nada, eu sou escritor e Sherlock e um personagem da ficção e...

- Você realmente quer discutir isso agora, Castle? Acha cabível para o momento? Era uma brincadeira – ela o olhou meio contrariada.

- Tem razão, desculpe. Estraguei um momento descontraído. Não precisa ficar chateada. Está pronta?

- Sim, podemos ir – vestindo o casaco, ele deu espaço para que saísse primeiro. Juntos desceram no elevador para pegar o caro de Beckett. Ele sequer cogitara a possibilidade de dirigir para Kate. Em momentos como esse, era primordial que ela mantivesse a posição de controle da situação. Isso a ajudaria a enfrentar melhor o que vinha pela frente.

Estacionando em frente ao cemitério, eles desceram do carro. Logo, Castle avistou a amiga de Kate, Dana. Olhando com cara de interrogação para a detetive, ela acenou para a amiga e respondeu a pergunta implícita de Castle.

- Eu a convidei. Dana conhecia Royce também.

- Ah, tudo bem – eles se aproximaram da terapeuta – olá, Dana. Uma pena estarmos nos reencontrando em um momento tão triste e inesperado.

- E verdade, Castle. Infelizmente, isso faz parte da vida. Todos estamos sujeitos a passar por essa experiência cedo ou tarde.

- Tem razão. Vamos entrando? – ele esperou que Kate se adiantasse a frente para concluir um pensamento para Dana – espero que a minha seja bem tarde. Ainda tenho muito o que viver – Dana apenas sorriu. O ministro já esperava por ela. Kate o cumprimentou informando que seriam apenas os três presentes, portanto poderia começar o quanto antes. Assentindo o pedido dela, abriu sua bíblia e começou a cerimônia. Castle mantinha-se ao lado dela, segurando sua mão. Dana observava a reação da amiga a medida que o ritual do enterro chegava ao fim. Também se pegara analisando a interação dos dois. Para Dana, eles eram um casal singular e complementar. Kate podia negar o quanto quisesse, mas tinha ao seu lado um homem que a amava e estava disposto a fazer tudo pela mulher que venera. Podia ver em seus olhos todo o amor que sentia por sua amiga. Não pode deixar de sorrir.

Quando a cerimônia terminou, o ministro se dirigiu a Kate.

- Acredito que gostaria de um momento final com o Sr. Royce antes dele ser enterrado.

- Obrigada – Kate se aproximou do caixão. Podia vê-lo através da pequena abertura quadrada. Deu um pequeno sorriso tocando o vidro. Abriu a bolsa, retirou a bola de baseball. Acariciou-a na mão e levou-a até a abertura – lembra disso? Yankees contra Red Sox em 2004. O ano que o Sox foi campeão. Mas não ganhou aquele jogo. Você estava torcendo contra NY, estava a fim de te dar umas boas porradas por azarar os jogadores. Nona entrada, você teimou que o jogador dos yankees iria errar e ter três strikes. Eu apostei com você dizendo que se você estivesse errado, deveria invadir o campo e roubar uma bola para mim. Você queria que eu corresse toda a extensão do campo. Adorei ter vencido. Ver aqueles seguranças correndo para pega-lo foi impagável. Uma das minhas melhores memórias, Mike. Achei que devia levar com você um dos símbolos que provam eu estar certa a maioria das vezes.

Naquele cemitério, quase vazio exceto pela presença deles, o silêncio era o companheiro mais presente. A voz de Kate parecia estar saindo por um megafone tamanha era a acústica do lugar. Castle e Dana ouviram a historia. Ao final, ambos tinham um sorriso nos lábios. Ela afastou-se e fez sinal para o coveiro começar o trabalho. Após a colocação do caixão no buraco, Kate jogou a bola ouvindo-a quicar sobre a madeira. A terra começou a ser jogada sobre o caixão e ela pode sentir novamente o toque quente dos dedos de Castle entrelaçados aos seus.

Terminada a cerimônia, Castle agradeceu o serviço do ministro e dos empregados do cemitério. Dana aproximou-se para dar um abraço na amiga. Ele se permitiu atrasar o passo para dar um certo espaço para as duas conversarem se quisessem. Porém, não pareciam estar falando nada. Ao chegarem na porta do cemitério, Castle tornou a se juntar as duas.

- Que tal um café? Sei que já está próximo ao horário do almoço, mas tenho quase certeza que Kate não esá com vontade de comer nesse momento. Nos acompanha, Dana?

- É uma boa ideia. Acredito que todos estamos precisando de uma dose de cafeína.

- Tudo bem. Você está de carro, Dana? Se não pode vir conosco. Eu dirijo.

- Vim de metro, algum lugar em mente, Castle?

- Se Kate não se importar podemos ir a Dean & Deluca – ela apenas sorriu. Em quinze minutos, eles chegaram ao local. Castle se encarregou das bebidas enquanto as mulheres escolhiam uma mesa. Preferiu não sugerir qualquer acompanhamento. Ele mesmo pegaria alguns, queria que Kate se alimentasse de algo além de café. Logo juntou-se a elas com uma bandeja de papelão com três copos de café e dois sacos de guloseimas – aqui estão os cafés. Esse é o seu, Kate. Como gosta. Tomei a liberdade de pedir um mochaccino para você, Dana – com as bebidas devidamente distribuídas, sua atenção voltou-se para os sacos de papel.

- O que tem ai dentro, Castle? – ela perguntou curiosa.

- Nada demais. Croissants, pães doces, algo para forrar o estomago e acompanhar o café. Você aceita, Dana?

- Porque não? Tomei café antes das sete, preciso comer alguma coisa. Fico com o croissant salgado, mas vou comer um pão doce depois. E você, Kate? Não quer um pedaço?

- Primeiro meu corpo necessita de cafeína. Não estou com vontade de comer – virou o copo nos lábios enquanto percebia o olhar trocado entre Dana e Castle – o que foi?

- Nada. Eu acredito ter sido um ótimo serviço para Royce. Singelo e bonito. Espero que seja sua opinião também – disse Dana.

- Pelo menos podemos dizer que foi enterrado adequadamente. E respondendo sua pergunta, estou satisfeita.

- Sim, eu gostei de saber sobre a historia de baseball. Você e Mike tinham suas apostas também. Não é a toa que acabamos fazendo a mesma coisa. Foi um gesto bonito enterra-lo com a bola.

- Você ouviu? – ela parecia surpresa.

- Claro. Não havia muito barulho no cemitério. Gosto de conhecer historias sobre você antes da minha fase, você sabe.

- Não pense que vai me sensibilizar com palavras para contar minhas experiências, seu plano não vai funcionar.

- Eu não estaria tão certa assim, ele já lhe convenceu a fazer muitas coisas – provocou Dana olhando maliciosa para a amiga. Como defesa para não responder a insinuação, Kate pegou o saco e retirou um pão doce dando uma mordida nele. Castle sorriu. Ponto para Dana, a fez comer algo mesmo diante de uma situação embaraçosa – então, você voltará para o trabalho hoje?

- Não, quando liguei para Montgomery ontem, ele disse para tirar o dia. Voltarei amanhã, o que é bom, pois preciso arrumar meu apartamento e comprar comida. Estou sem nada!  

- Se quiser, te acompanho ao supermercado. Cancelei todas as minhas consultas de hoje.

- Sei o que você está querendo fazer e já aviso não vai funcionar. Se quiser me acompanhar como amiga para ajudar nas compras, dar sugestões, será muito bem-vinda, porém se pensar em me analisar durante o processo, nem se incomode. Aliás, vale para os dois.

- Nem sei como você pensou isso de mim, Kate. Eu fico feliz em saber que você terá um tempo livre para se organizar. Já estava com um peso na consciência por deixa-la sozinha. Tenho um almoço de negócios e uma reunião na sequencia com Gina e dois executivos da editora. Ela exigiu minha presença, estou encurralado. Dana será uma ótima companhia, aproveitem para fazer aquilo que mulheres mais gostam: compras.

- Hahaha... muito engraçado você, Castle. Não tenho tempo nem dinheiro para gastar em futilidades. Preciso comer.

- Você sabe que posso fazer algo a respeito disso...

- Nem comece! – ele ergueu as mãos como se estivesse rendendo-se. Levantando-se da cadeira, ele deu um beijo na testa dela, estendeu a mão para cumprimentar Dana e sorriu – já está na sua hora?

- Sim,preciso ir. Divirtam-se, ladies! – assim que Castle saiu, ela tornou a pegar mais um pão doce.

- Vou comprar mais um café, quer outro? – perguntou Kate.

- Aceito, mas você me promete que depois das comprar comeremos algo com maior substancia para me alimentar, nem que seja um lanche. Meu organismo precisa de sal ou posso passar mal...

- Tudo bem...pare de reclamar, Dana – a amiga riu ao ver Kate revirando os olhos enquanto se distanciava para pegar o café.

Após estarem com a nova dose de cafeína em mãos, elas deixaram o local rumo a feira de rua da Union Square. Kate gostava de ter produtos frescos em casa e somente depois complementariam o supermercado passando no Whole Foods da Columbus. Na feira, Dana dava algumas dicas de combinações de legumes que poderia usar. As frutas da estação estavam deliciosas tanto para comer como para virarem sucos.

No supermercado, Dana arriscou-se ao puxar o assunto sobre a viagem e a perda de seu mentor, porém para não assusta-la, optou por começar o papo falando de Castle porque era esse o objetivo final da terapeuta. Queria saber o que a morte do mentor e amigo afetara sua relação com o escritor. Na opinião pessoal de Dana, Kate precisava revisitar pensamentos e sentimentos que abandonara a algum tempo. Estava obviamente falando do próximo passo. Amor.

- Sabe, agora que estamos sozinhas posso comentar o que queria desde cedo. Ainda me impressiono com o jeito como Castle a trata. Estava observando o comportamento dele no cemitério. Sempre atento, preocupado com você. Isso é raro. Não é todo homem que se dispõe a participar de uma homenagem a outro que era claramente seu rival. A forma como ele cuida de você mostra o quanto é importante esse momento. Ele realmente é uma gracinha, muito fofo mesmo.

- Qual é o seu ponto, Dana? Esse papo furado tem um objetivo. Por que essa chuva de elogios a Castle?

- E Kate, relaxa. Somente fiz uma observação. Achei muito bacana a atitude dele. Admirável, realmente. Ele esteve com você em Los Angeles, não?

- Como sabe disso? Ah, nem precisa responder. Castle.

- Não o culpe. Eu comentei algo sobre você e sua forca, ele acabou falando que foram investigar o assassinato de Mike.

- Exato. Era trabalho, a busca de um assassino. Olha, Dana, entendo perfeitamente o que você quer com essa conversa. Pois não terá. Ainda não quero falar sobre o caso. Quando estiver pronta, eu a procuro. Pare de tentar analisar a mim ou a Castle, não vou cair no seu truque. Se quiser continuar ao meu lado, terá que mudar de assunto.

- Entendi. Sou paciente, posso esperar. Sendo assim, que tal aquele lanche? Terminamos as compras e comemos aqui mesmo.

- Isso eu posso aceitar.

As amigas escolheram aquilo que as agradava dentre as variedades e sentaram-se para comer. O assunto da conversa mudara completamente. Dana estava pensando em fazer um curso fora, na Espanha. Se tudo desse certo, ela ficaria quase um mês fora. O problema era o numero de pacientes que necessitavam de ajuda e para viajar ela teria que transferi-los para um colega. Desse modo, a ideia ainda estava em estagio embrionário.

Terminaram a refeição, elas se despediram seguindo cada uma seu caminho nas ruas de Nova York. Kate usou o resto da tarde para organizar sua vida. Castle ligara para ela informando que a reunião acabara, mas Kate pediu para que ele viesse apenas a noite.

Tomou um longo banho para recobrar as forcas. Por volta de sete e meia, Castle tocara a campainha trazendo umas sacolas. Ao ser questionado, ele respondeu.

- Resolvi fazer umas compras para o nosso jantar. O que você acha de um risoto napolitano?

- Essa não é outra receita de Peppe, e?

- Não, internet. Vejo que você já está relaxada e usando pijamas, portanto seu único trabalho devera ser servir o vinho.

- Gosto disso e ainda terei o prazer de observa-lo cozinhando – ela tirou o vinho da geladeira servindo duas taças. Queria desfrutar calmamente do momento, depois dos últimos dias isso seria uma benção para si. Castle remexia em seus armários procurando as ferramentas que precisava para fazer o risoto. Parecia bem a vontade na cozinha de Kate. Bebendo calmamente a bebida, Kate sorria ao ver o jeito como ele trabalhava. Cozinhar era uma das gratas surpresas que descobrira entre os talentos de Castle. Coisas que apenas um relacionamento poderia lhe proporcionar.

Castle estava concentrado na execução de seu prato. Enquanto cortava os temperos e ingredientes para o risoto, ele decidiu ser uma boa hora para perguntar sobre seu passeio com Dana.

- Como foi o resto do seu dia? Conseguiu fazer o que queria?

- Sim, a despensa esta abastecida, a geladeira e arrumei a casa. Estava precisando, tudo muito sujo! – e bebeu mais um pouco do vinho.

- E quanto a Dana? Foi uma boa companhia na minha ausência?                                 

- Se com essa pergunta você está querendo saber se Dana e eu conversamos sobre meus sentimentos, sobre a perda de Mike, está perdendo seu tempo, Castle. Da mesma forma que eu disse a ela, não estou a fim de análise, portanto apenas conversamos sobre assuntos bem diferentes dos que você tinha em mente.

- Ah! Que bom. Sinal de que se divertiu. Fez compras também?

- Não dessa vez. Aliás, eu sei que falou da nossa ida a Los Angeles – com o pânico no olhar de Castle, ela teve que sorrir - não precisa se preocupar, não vou te matar por causa disso. Vou te dar essa chance, mas é incrível como você tem uma boca enorme. Não pode perder a oportunidade de ficar calado uma única vez?

- Hey! Ninguém sabe que estamos juntos, sabem?- Kate não tinha argumentos contra isso, portanto optou por mudar de assunto.

- Quer falar sobre o que está fazendo?

- Nada demais. E um risoto muito simples. Tomates cereja, manjericão, mussarela de búfala e muito parmesão e orégano. Não se trata de nenhum prato gourmet. O bom e que o preparo e rápido. Sei que vai gostar – Kate se levantou e aproximou-se do balcão onde ele estava. Acariciando as costas dele, apoiou o queixo no ombro de Castle o que acabou por deixa-la na ponta dos pés. Ele sentiu os dentes dela sobre a camisa – hum, o que você esta fazendo?

- Apenas admirando o chef... – agora mordia o pescoço debruçando-se sobre ele, sabia que poderia fazer Castle perder a concentração ou estragar o jantar deles. Uma das mãos desceu até o meio das calças dele, deu um leve aperto. Foi suficiente para ele largar a faca derrubando um pouco dos tomates no chão – ops!

- Kate...

- Desculpe. Não era minha intenção, somente queria me divertir um pouco com você.

- Você vai deixar eu terminar o jantar? – ela beijou-lhe os lábios e sorrindo afastou-se.

- Tudo bem. Vou me comportar. Você pode continuar cozinhando. Vou por a mesa.

Meia hora depois, ambos estavam sentados a mesa saboreando o risoto de Castle. Estava delicioso. Ele caprichara mesmo. Conversaram um pouco sobre o dia dela, a volta ao trabalho e para evitar entrar em terreno perigoso, ela optou por querer ouvir sobre o dia dele.

- Então, como foi o seu dia? A reunião terminou bem?

- Ah, sim. Depois de ser obrigado por Gina a contar algumas aventuras nossas para deixar os executivos no clima, ela começou a parte chata da historia, a negociação que geralmente leva tempo, mas trás ótimos resultados para a minha conta bancaria. O que realmente aconteceu sem muita chatice dessa vez. Os caras eram bem simpáticos. Eles são da filial em Los Angeles. Estamos analisando a possibilidade de fazer um grande lançamento por lá.

- Duas grandes festas para Heat Rises? Nossa! Se ao menos eu tivesse lido para entender porque tanta pompa para esse livro...

- Kate... já falamos sobre isso. Quando eu tiver os primeiros impressos que irão para imprensa, você terá sua copia. Guarde um pouco dessa curiosidade para mais tarde – ela se levantou recolhendo os pratos deles, levou-os a pia.

- E o que temos para a sobremesa?

- Ops! – ele olhou sem graça para ela. Kate riu.

- Você não pensou nela... interessante. Acho que posso resolver esse problema – envolvendo seus braços no pescoço de Castle, ela começou a mordiscar sua orelha. Aos primeiros sons emitidos por ele, Kate deslizou a mão pelo peito sorrateiramente ate apertar novamente o membro sob a bermuda. Satisfeita com a reação, ela puxou-o pela mão – vamos, acho que devemos comer a sobremesa em outro lugar. Ele a acompanhou sabendo exatamente qual o nível de açúcar que estava prestes a consumir, a quantia perfeita para deixa-lo perto de enfartar e sempre querer mais.

Nos dias que se seguiram, Beckett voltara a sua rotina de antes. Os casos de homicídio apareciam em uma calçada, em um apartamento isolado, uma praça. As investigações corriam tranquilas e as atividades não exigiam tanto de si mesma. Espósito fora o primeiro a mencionar Royce depois que ela voltara a frequentar o distrito, mas Beckett tratou de cortar o assunto.

- Eu só acho que você deveria ter nos dito que ia enterra-lo, queríamos estar lá para apoia-la nesse momento. Por que somente contou ao capitão?

- Porque era algo que precisava fazer sozinha. Olha, eu agradeço sua preocupação comigo. Sim, eu fiquei triste, vou sentir falta dele, porém Royce é um capitulo da minha vida que já foi encerrado. Se de fato se importam, não mencionem o assunto, ok?

- Sabe, Kate, posso entender. Esse tipo de coisa não é bom fazer sozinha, enterrar alguém. Por isso perguntei.

- Tudo bem – ela sorriu deixando a minicopa. Ryan sorria de volta vendo a cara emburrada do parceiro.

- Não concordo com essas atitudes de Beckett, onde já se viu ficar sozinha em um momento desses? Isso me deixa chateado, quer ser forte, dizer que não precisa de nós e... – ele viu o olhar debochado de Ryan – o que?   

- Ela não fez isso sozinha, bro. Esquece.... já passou.

- Como você sabe que ela não fez?

- Ah, Castle estava com ela.

- Ele lhe disse isso? – Esposito parecia espantado.

- Cara, você realmente não entende de relacionamentos. Claro que Castle estava com ela, ele a acompanhou até Los Angeles, nada mais natural do que estar com Beckett durante o enterro de Royce. Mas, conselho de amigo. Nem pense em perguntar isso a ela. Acredite, não será nada bonito ver a reação dela – Esposito trocou um longo olhar com o parceiro e acabou por acatar o pedido.

Fazia quase uma semana que Beckett havia enterrado seu mentor quando numa noite de volta para casa, ela se deparou com a carta sobre sua cômoda. Com a folha de papel em suas mãos, ela se pegou pensando nas últimas palavras e no último conselho que seu mentor e amigo deixara para ela. Não tinha certeza se deveria revisitar aqueles pensamentos, porem não podia fugir de encerrar o capitulo de sua historia com Royce. Kate sabia que apenas daria um final a sua historia quando se abrisse totalmente com alguém. E havia uma pessoa que poderia ouvi-la sem julgar. Dana.

Depois de dois toques, a terapeuta atendeu ao celular.

- Hey, Kate! Tudo bem?

- Sim, está. Dana, eu estava pensando.... será que você poderia me receber amanhã em seu consultório? Acho que está na hora daquela conversa...

- Claro! Você não prefere um almoço ou jantar?

- Não, dessa vez prefiro o consultório. Deixa as coisas mais profissionais, me sentirei mais segura. Não estou falando de uma conversa informal com uma amiga. Falar de Royce e falar do que fiz, dos traumas que criei, preciso da terapeuta.

- Entendi. Pode deixar que vou arranjar um horário para você na minha agenda. Ao final da tarde, assim não iremos nos preocupar com o próximo paciente. Quatro da tarde serve?

- Sim, combinado. Nos vemos amanhã.

Consultório de Dana Anderson

Kate Beckett chegou ao local um pouco mais de quatro horas. Acabara se atrasando devido a um relatório que precisara terminar para seu capitão. Castle fugira de sua companhia indo investigar uma pista sobre um outro caso com os rapazes, o que serviu perfeitamente para evitar de dizer onde iria após o trabalho. Assim que a viu, a secretaria comentou.

- A doutora esta esperando por você. Pode entrar.

- Obrigada – ela bateu na porta como sempre fazia pedindo permissão, ouviu a voz afirmando para entrar – oi, Dana. Desculpe o atraso, acabei me enrolando com o fechamento de um relatório – sentou-se no divã, tirando o casaco que vestia colocando-o ao seu lado, olhando para o ambiente ela comentou aproveitando para papear despretensiosamente – você mudou a decoração. Aquele quadro não estava ali da última vez que vim aqui. E vejo que adquiriu novos livros para sua estante.

- Após ler Heat Wave, a curiosidade pelos trabalhos de Castle aumentou. Estou esperando o próximo ansiosamente. Dei uma chance para Derrick Storm, mas ele não tem o mesmo appeal de Nikki.

- Não é verdade, eu gosto das aventuras de Storm e da relação conturbada entre ele e Clara Strikes. Elas são importantes para mim.  

- Eu sei disso. Não estamos aqui para falar dos livros de Castle, acredito que você tenha uma ideia de como quer iniciar essa conversa. Fique a vontade. Estou pronta para ouvir. Especialmente a parte de como você acabou em Los Angeles com Castle. Parece que adivinhei seu destino de viagem bem antes de você pensar sobre ele, não?

- De certa forma, pena que não foi da maneira que você imaginava. É estranho que Royce tenha reaparecido na minha vida em um momento particularmente tranquilo. Eu acabara de voltar de uma ótima viagem a Roma, descobri que Josh estava longe em algum lugar da Africa, tudo indicava que havia uma rotina se estabelecendo. Mas acho que não sou uma dessas pessoas que passam pela vida com tudo controlado e planejado.

- A começar pela profissão que escolheu, Kate. Você não tem exatamente um daqueles empregos de nove as cinco, segunda a sexta. Ser detetive acaba com a ideia de rotina.

- Verdade. A última vez que falei com Royce, coloquei um par de algemas em suas mãos que lhe renderam uma prisão e a perda da licença. Não fora uma despedida agradável. Engraçado como as coisas acontecem. Ele veio morrer em Nova York, dentro da minha jurisdição. Royce sabia disso quando entrou naquele avião em Los Angeles. Por isso, trouxera em seu bolso uma carta endereçada a mim. Aquele voo era seu último. Já pensava que não sairia vivo dessa.

- O que a faz pensar assim?

- Além do que o envolveu no caso? Era algo grande com muito dinheiro, mas a carta meio que o denuncia.

- Quer falar sobre a carta? É esse o motivo de estar aqui, não?

- Um deles, sim. Preciso encerrar essa historia. Não poderia sem colocar para fora o que foram esses dias. Eu decidi ir para Los Angeles contrariando meu capitão quando ele me afastou do caso. Não podia simplesmente virar as costas para Royce, não depois de tudo o que ele fizera por mim no passado. Mike merecia justiça e eu estava disposta a consegui-la.

- E arrastou Castle nessa batalha pessoal...

- Não, eu planejava ir sozinha. Droga! Era o meu plano. Não disse a ele o que pretendia fazer, mas la estava o escritor viajando no mesmo avião na primeira classe com uma poltrona esperando por mim.

- Mas gostou que ele a tivesse seguido...

- Eu pretendia me arriscar sem ter a responsabilidade sobre outra pessoa. Estava me colocando na linha de frente, quebrando regras, não era uma policial em LA. Confesso que pensei em ligar para ele, afinal Castle sempre me ajudava em casos difíceis onde não se tem muito em que se agarrar. Quando o vi sentado naquela poltrona sorrindo com uma taça de champagne na mão, fiquei aliviada. Claro que não disse isso a ele, mas no fundo ele sabia. Fez questão de me dizer. Passamos três dias desafiando a LAPD em busca de pistas sozinhos. Mesmo quando Montgomery me deu uma bronca e me obrigou a voltar para Nova York, ele não desistiu de me apoiar. Eu me recusei e ele concordou. Se sou teimosa, ele parece ser teimoso e meio.

- Uma bela dupla não acha? Além da investigação do assassinato de Royce, aconteceu mais alguma coisa em Los Angeles que queira me contar?

- Se pensa que aproveitamos a cidade para transar que nem coelhos como fizemos em Roma, pode esquecer. Mas, algo mais aconteceu. Eu percebi uma coisa. Sabe toda a admiração que tive por Mike? Como eu me agarrava a suas palavras, aos seus ensinamentos como uma aluna deve fazer? Por vezes venerei o chão que ele pisava. Mike foi o único que me fez sentir forte. Ajudou-me durante o período mais sombrio da minha vida. Não posso deixar de reconhecer seu papel na minha vida. Eu me perdi um pouco nas ideias. Acho que o que estou tentando dizer é que essa mesma admiração, eu pude perceber em Castle em relação a mim. Eu vi em seus olhos.

- E como você se sente diante dessa revelação?

- Lisonjeada pelo elogio, grata por ele enxergar algo diferente em alguém comum, receosa por saber que sou uma pessoa capaz de cometer os piores erros e decepciona-lo pode ser meu próximo passo. Não acho que ele mereça isso.

- Concordo. Castle não merece. Só que talvez você esteja esquecendo de avaliar a situação por um outro ângulo. Eu sei do seu passado com Mike, você mesma confessou para mim anos atrás que desenvolvera uma espécie de relação de admiração que acontece com muitas jovens, o amor pelo professor. Mike a ajudou a se reerguer, manteve você focada em sua carreira, sua profissão e até a fez tratar o caso de sua mãe de maneira diferente. Já reparou que além de Royce, Castle foi a única pessoa que obteve esse mesmo acesso? Sem falar na influencia de seus livros sobre você. Já parou para pensar que a admiração é recíproca?

Kate permaneceu calada por alguns instantes. Entendera qual era a intenção de Dana. Estava preparando o terreno para falar sobre o próximo passo no relacionamento deles. Admitia que dessa vez queria trocar algumas ideias sobre o assunto. Já estava confusa o bastante, talvez Dana a ajudasse. Enfiou a mão no bolso do casaco retirando a carta de Royce. Respirou fundo antes de entrega-la a Dana.

- Aqui está a sua resposta? – a terapeuta perguntou – porque eu realmente quero ouvir sua opinião.

- Leia a carta, depois eu respondo. Tem café?   

- Sim, fique a vontade – a ideia de Kate era ganhar um tempo antes de responder, também sabia que Dana iria ler a carta, fazer anotações e quem sabe sair com outras perguntas capciosas. Acabou servindo a bebida para ambas. Após um longo gole, Kate ficou quieta com o olhar perdido pela janela. Dana terminou a leitura. Estava particularmente feliz por alguém além dela ter apontado a conexão existente entre os dois. Melhor ainda por ser alguém que Kate costumava considerar.

- Terminei. Então, quer falar agora?

- Tem certeza que não quer dizer nada? Expressar sua opinião sobre o que Mike escreveu? Eu sei que você gosta de fazer isso – Dana pressentiu o nervoso na voz dela. Se isso a ajudaria a falar, por que não?

- Tudo bem. Realmente foi uma bela carta de despedida. O perdão, o pedido para cuidar dele, talvez ele ressentisse o modo como as coisas terminaram entre vocês, usou esse pedido para se reconectar a você. Claro que a parte mais importante da carta é o final. Você e Castle. Não acha incrível que apenas por conviver algumas horas com vocês ele já tenha percebido o obvio que você demorou meses? E não termina ai, Royce deu o melhor conselho que alguém poderia quando o assunto é relacionamento. Não quero forçá-la a nada, meu desejo e que reflita sobre o que as palavras de Royce e essa viagem a Los Angeles significou. Não é por esse motivo que você decidiu vir conversar comigo? Sinta-se livre para falar o que vier a mente, sem restrições.

- A morte de Mike foi inesperada. Meu senso de justiça não me deixaria ficar sentada em casa de braços cruzados sem fazer nada. Eu precisava descobrir a verdade, prender um assassino. Ter Castle a meu lado ajudou. Como já declarei antes, ele sempre tem boas ideias e em Los Angeles tinha recursos. O fato dele aceitar arriscar-se ao meu lado seria considerado imprudência, porém sei que ele fez ciente, fez por consideração a mim. Você me perguntou se podia admira-lo? Claro que sim. Não vou aqui relembrar tudo o que me disse durante a nossa estadia em LA, somente revelarei que isso mexeu comigo. A carta que Mike deixou para mim nem tanto, talvez se eu não estivesse em um relacionamento com Castle já a algum tempo, poderia ter sido uma revelação. A carta foi um estimulo a mais para me fazer pensar porque Castle se tornou tão importante. Por que a ideia de não ter sua ajuda, de não estar ao meu lado incomoda?

- E você consegue pensar em respostas para essas perguntas?

- Eu não sei, talvez. São três anos convivendo com ele ao meu lado, me acostumei.

- Costume? Essa é a sua resposta? E quanto ao sentimento? Por que você acha que Castle se submete a situações perigosas, erradas, pela aventura? Pela excitação de talvez virar um herói? Tenho certeza que não.

- Tem um pouquinho disso também, o lado moleque irresponsável de Castle o leva a fazer certas doidices. Se por sentimento você se refere a estar apaixonado, eu acredito que já cobrimos esse ponto. Eu e Castle estamos apaixonados.

- Não, vocês continuam apaixonados, contudo esse não é mais o sentimento que manda em suas ações e em seus corações. Não quero inferir sobre o que você sente, mas posso afirmar que os sentimentos de Castle vão alem da paixão, ele a admira e mais importante, ele a ama.

- Como você pode dizer isso com tanta certeza?

- Kate, por que mais um cara iria acompanha-la numa viagem ao outro lado do pais correndo riscos para caçar o assassino de outro homem importante na sua vida? Por que fez questão de ajuda-la e até se ofereceu para cuidar do funeral dele? Porque ele se importa, sabe o quanto era importante para você. Isso e amor, detetive. Não preciso ser gênio para perceber. Eu vi a forma como ele olhava para você, com devoção, preocupação, com olhos apaixonados. No meio daquele azul, eu enxerguei o amor.

- Você está apelando para a poesia a fim de me convencer?

- Não, estou expressando minha opinião. Você queria ouvi-la. Olha, eu já disse que não pretendo te pressionar quanto ao assunto, mas chegou a hora de você se perguntar o que espera do futuro. Não tenho duvidas que Castle já lhe deu provas suficientes de seus sentimentos. E quanto a você? A paixão cresceu e começou a transformar-se em outra coisa?

- Você diz que Castle me deu provas. Ele não disse que me ama, como pode ter certeza?

- Quer dizer que se ele disser que te ama, apenas assim você ira acreditar nele? E dizendo as palavras mágicas, automaticamente você responderia e assumiria seu amor por ele?

- Não! Eu não disse isso. É complicado.

- Não entendi. Quando uma pessoa nos diz “eu te amo” só existe duas respostas. Ou você retribui a frase, ou melhor nem ouvi-la porque certamente ira magoar o outro. Se não estiver pronta para dizê-la, mantenha a boca fechada e não de chance para que o seu parceiro faça. Não foi a toa que perguntei se você está pronta para o próximo passo. Como está seu coração?

- Essa é uma pergunta difícil de responder. Ler essa carta de Mike, a viagem a Roma, esses últimos dias. Eu não sei parece que esses dois meses trouxeram muitas revelações. Sinto que todas as vezes que minha vida parece entrar nos eixos, acabo surpreendida por outra reviravolta.

- Montanha-russa emocional. Devo concordar com sua colocação, mas dessa vez não foi algo tão pesado. Você não corre risco de morte, Castle está bem. Tem uma relação estável. Agora se você não tem mais nada para me dizer, eu gostaria de encerrar essa sessão com uma proposta - Kate passou as mãos pelos cabelos. Dana conhecia aquele gesto. Nervoso. Havia algo importante que ela não estava contando - Kate?

Dana viu a amiga recostar-se no diva fechando os olhos por alguns segundos. Respirando fundo, ela tornou a fitar a janela antes de começar a falar. Queria evitar o olhar da amiga nesse instante.

- Aconteceu uma coisa muito importante em Los Angeles. Após eu descobrir que Ganz matara Mike, meu objetivo era prendê-lo e recuperar as balas para ajudar a LAPD em retribuição ao uso de seus recursos para que alcançasse o que queria. Eu sabia que Ganz iria fugir se sacasse a presença da policia. Eu estava determinada a não deixa-lo escapar. Eu o persegui por todo aquele píer, pela praia e finalmente consegui derruba-lo com um tiro na perna nas docas. Ao alcança-lo, estava consumida por uma raiva indescritível. Bem ali, aos meus pés, estava o assassino do meu amigo. Tudo o que eu precisava fazer era apertar novamente aquele gatilho.

- O que você não fez. Por quê?

- Estava prestes a cruzar a linha tênue entre a ética e a responsabilidade dada a mim por meu distintivo e a vingança irracional. Honestamente, se Castle tivesse demorado mais cinco segundos, talvez eu não estivesse aqui na sua frente agora. A exemplo de Mike, eu perderia minha licença. Em meio ao caos, ao ódio, ao desespero, foi a voz de Castle que me fez cair em si. A forma como ele chamou por mim, a angustia no tom daquela voz tão familiar... Castle me salvou naquele dia, talvez do maior erro da minha carreira, da minha vida.

- Você contou isso a ele? – Dana pode notar as lágrimas que rolavam no rosto de Kate.

- Não, eu não tive coragem. Você falou da admiração que ele tem por mim, contar que eu quis matar aquele homem apenas acabaria com a imagem que ele tem. Seria uma grande decepção. Eu sei o que eu senti ao ouvi-lo me chamar: gratidão por ter alguém como ele, tão fiel, tão determinante ao meu lado.

- Novamente, você está vendo apenas um ponto de vista. Você diz que decepcionaria Castle quando na verdade o encheria de orgulho por saber que fora capaz de lhe trazer de volta a razão, por ter uma grande influencia sobre você. Kate acabou de responder algumas das perguntas que discutimos aqui hoje. Não que isso esteja claro para você agora, quando realmente compreender seus sentimentos na totalidade ira contar para Castle.   

- Eu não... – mas Dana a interrompeu.

- Não racionalize sobre isso agora. Esqueça por um tempo. Você não precisa responder as perguntas sobre seus sentimentos agora, apenas esteja aberta para considera-los. Vou sugerir um exercício.

- Você não vai me mandar escutar musicas de se matar novamente, vai? Por favor, Dana! – a terapeuta riu – não é engraçado.  

- Não se preocupe, não se trata de musica. E nem foi tão mal assim. O que quero que faça e observar as atitudes de Castle e as suas reações a elas. Uma frase bonita, uma brincadeira, um gesto de carinho até mesmo uma briguinha ou uma cena de ciúmes. Em cada um desses momentos, como a Kate se sentiu? Qual a retribuição a cada ação. Estou forçando um pouco da lei de Newton aqui. Depois que o ato acontecer, você precisa registrar em algum lugar o que aconteceu. Um caderno de anotações desses que vocês detetives usam está ótimo. Dois, três dias depois, você relê o que escreveu. Tenho certeza que vai abrir sua mente para novas possibilidades e quando isso ocorrer, você vira falar comigo porque terei o maior prazer em ouvi-la dizer que ama Castle.

- Tudo isso soa estranho. Parece coisa de escola. Não tenho ideia de que isso servira para alguma coisa.

- Não conteste o método, eu sei o que estou fazendo. Na verdade, vou inclusive poupa-la do trabalho de comprar um caderno – Dana abriu a gaveta de sua mesa retirando de lá um pequeno moleskine de capa vermelha entregando-o para Kate – pronto. Sem desculpas agora. Aliás, se quiser começar com a viagem de Los Angeles acredito que terá algumas boas paginas para escrever.

- Quer saber? Você não vai largar do meu pé se eu me negar a fazer o que está pedindo. Não vou contestar, você ganhou.

- Boa garota. Quem vai sair ganhando e você, pode acreditar. Agora, que tal encerrarmos essa consulta com um bom café ali na esquina então eu posso tirar a carapuça de terapeuta e você me conta as loucuras sexuais que andou aprontando ultimamente com Castle.

- Dana! Como você pode dizer isso?

- Ora, Kate... eu te conheço e não foi a toa que Castle inspirou Nikki em você.

- Tudo bem, eu só preciso dar ... – nem bem terminou de falar o celular tocou – falando no diabo... oi, Castle.

- Onde você está, Kate? São quase oito da noite não me diga que ainda está trabalhando naquele relatório para Montgomery.

- Não, eu já sai do distrito. Estou com Dana. Vamos tomar um café.

- Então você não virá jantar em casa? Quer dizer, no loft?

- Ainda não jantei, mas pode aproveitar para curtir sua filha. Eu como alguma besteira quando chegar. Sim, eu irei dormir com você.

- Tudo bem, não demore muito, estou com saudades.

- Sei, sei... – ouvido-o gemendo do outro lado, ela sorriu – te vejo depois, um beijo – desligando o telefone, ela viu o sorriso enorme no rosto da amiga – vamos? Aposto que você está louca para ouvir sobre o strip que fiz...

- Wow! Isso vai ser melhor que eu pensava... – rindo elas deixaram o consultório rumo a cafeteria.                

Em uma coisa Kate Beckett tinha razão. Sua vida não era nem de longe monótona e apesar da insistência de sua amiga para desvendar seus sentimentos, ela acabaria por confronta-los de uma maneira nada agradável. Talvez a palavra certa fosse extrema.

Dias negros estavam por vir roubar a tranquilidade da detetive pessoal e profissionalmente.


Continua.... 

Um comentário:

Silma disse...

Mais que capítulo reflexivo 👌🏽 tia Kate e o seu mundo interno É difícil pra alguém que sempre esteve presa no seu "mundo" de repente se vê saindo dele,eu a entendo perfeitamente e me orgulho da pessoa que ela tá se tornando.Está se redescobrindo,deixando-a ser capaz de viver o novo.
"Dias negros estava por vir roubar a tranquilidade..." mais gente cadê a piedade com os corações dos leitores sofridos? 😩 Sempre que termino de lê essa fic eu fico no chão,aqui dona Karen não brinca não 👌🏽 Deixando claro,que pode vir o que vier,depois de TODO SOFRIMENTO eu QUERO ORGASMOS MÚLTIPLOS!!!!Vários!!!OK?Obrigada,de nada. 😏 😏 😏 😏