A Thousand Times
Autora: Karen Jobim
Classificação: NC17 (pitadas) – Drama
Capitulos: Oneshot – Songfic
Quando: S8 – entre 807 e 808...
Disclaimer: Castle e Beckett não me pertencem...são da ABC yada yada
yada... conteúdo criado para diversão, todos os direitos da autora reservados!
Castle e Beckett estão separados devido a decisão de Kate em investigar Loksat.
Infelizmente, o primeiro aniversário de casamento deles se aproximava e Castle
recusava–se em deixar a data passar em branco. Não apenas isso, ele estava sofrendo
com a ausência dela e decidiu demonstrar isso da melhor maneira que podia.
Nota da Autora: Uma oneshot baseada na música da Sara Bairelles chamada
“A Thousand Times”. Aliás, aproveitei a oportunidade para bagunçar novamente a
linha do tempo. Misturei os dois episódios criando um ambiente AU. Espero que
gostem. Eu pessoalmente queria escreve-la em inglês, mas por respeito a vocês,
leitoras, fiz em português. Aproveitem a viagem.
PS.: Sugiro ouvir a canção durante toda a fic porque dessa vez não há
momento certo. Tanto Castle como Beckett usam linhas da canção. Pensei em fazer
POV, mas mudei de ideia. Ficou um pouco. Podem deixar a música em loop
infinito. Sendo assim, segue o link da música no YouTube e da letra.
A Thousand Times
Castle estava em seu escritório. Olhava para a
tela do computador sem inspiração para continuar o próximo capítulo de sua aventura
de Nikki Heat. Apenas “Capítulo 12” e o resto da página em branco. O cursor
piscava na tela. Não conseguia se concentrar. O porta-retratos a sua frente não
deixava. Ele e Kate, a foto tirada no dia de seu casamento. Dali a dois dias
eles fariam um ano de casados. Era para ser uma data especial. Ainda era
especial. O único problema era como comemorar algo com a pessoa que ama se a
mesma não dividia o mesmo teto com ele, se o deixara? Não fazia parte de seus
planos. Castle nunca pensou que se veria numa situação como essa. Fora dos
planos de Kate depois de tudo o que sofrera e vivera para ficarem juntos.
Levantou–se, servindo-se de uma dose de whisky,
ele ponderou o que poderia fazer para reverter essa situação. Kate deixara
claro que não voltaria para casa, estava protegendo-o. Como ele detestava isso.
Essa obsessão com o caso misterioso, a rejeição que ela se impunha para não se
permitir uma vida normal. Ele sempre a ajudara em todos os casos. Por que mantê-lo
fora desse? Já provara tantas vezes que era capaz. Salvara sua vida, arriscara-se.
Quantas vezes fosse necessário, ele faria.
Seu amor por Kate Beckett era incondicional.
Ela o magoara no momento que o expulsara de sua vida. No instante em que julgou
que ela não deveria dividir o fardo como todo o casal. Não entendeu o
significado da palavra casamento. Ele sabia o quanto a esposa era complicada, o
quanto ela deixava seus traumas, seus problemas, interferirem em sua
personalidade. Era parte de quem ela era. Algo que admirava e odiava ao mesmo
tempo.
Terminou o copo de whisky e retornou para a
mesa. Ultimamente estava se concentrando com migalhas, investigava casos na
esperança de topar com ela, conversar com a capitã nem que fosse por cinco
minutos. Não poderia deixar a data passar em branco. Mais que isso, queria
fazer algo especial. Não se referia a presentes caros, joias ou acessórios
femininos que sem dúvida agradariam a Beckett.
Não, um convite especial e um presente
sentimental. Algo que refletia exatamente o que estavam vivendo naquele
momento. Uma espécie de despertar para Kate quanto ao relacionamento e o que
significava para eles. Uma promessa. Ela não podia ter esquecido o que o amor
deles representava. São sete anos de muitas conquistas, idas e vindas,
sofrimento e alegria.
Revigorado pela ideia, Castle se colocou à
frente do notebook e começou a preparar algo que se tornaria inesquecível para
os dois.
No dia seguinte, Rick Castle acordou animado.
Ele conseguia encontrar uma maneira de convencer Beckett de simplesmente não
negar um convite para jantar. Essa era a primeira parte de seu plano.
Certificando–se que estava tudo certo, ele pegou o material e seguiu para a
delegacia. Havia ligado para Ryan querendo sua ajuda para fazer tudo funcionar
como deveria. Precisava que Beckett estivesse longe de sua sala para preparar
tudo. O amigo romântico e apreciador dos gestos, não se negou, ajudou-o.
Quando Beckett comunicou-os que precisava ir ao
1PP, sabia que tinha a oportunidade perfeita. Enviou uma mensagem para o
escritor na mesma hora. Quinze minutos depois, Castle surgia pelo elevador do
distrito. Tendo carta branca do detetive, ele entrou na sala da capitã e fechou
a porta. Meia hora depois, ele terminara e testara. Iria funcionar. Claro que
ele se atrapalhou no primeiro momento e a coisa não saiu como imaginara. Pediu
para Esposito segurar as pontas porque precisava de mais tempo.
Beckett retornou ao distrito mais rápido do que
previam. Ela já ia entrar em sua sala quando Esposito a impediu usando sua
briga com Ryan como desculpa. Sim, apesar de estarem se estranhando, eles
uniram forças para ajudar Castle. Conseguiram enrolar a capitã tempo suficiente
para que ele fizesse o que precisava, quase falharam. Castle saiu da sala
segundos antes ela entrar, fingindo que acabara de chegar ao local.
Então, aconteceu. Beckett entrou na sua sala e
encontrou uma pequena caixa de presente sobre a mesa. Abriu–a. Na contracapa,
os votos de feliz aniversário. Dentro, um botão e uma nota dizendo “Push me”.
Sorrindo, ela apertou não sabendo ao certo o que aconteceria. Fora surpreendia
por um balão a gás que surgia por detrás de sua mesa. “Happy Anniversary”. Na
corda, havia um cartão. A reação de surpresa em seu rosto era deliciosa. Ela
pegou o papel e leu “ janta comigo amanhã? ”. Era um convite.
Nesse instante, Castle que observara toda a
cena, entra na sala. Ela olha para ele, sorrindo.
– Castle, isso é muito doce, muito você, mas eu
não sei como isso poderia ser uma boa ideia.
– Eu sei que estamos dando um tempo nesse
momento, porém amanhã é o nosso aniversário de casamento.
– Eu realmente adoraria, talvez você não
imagine quanto, mas eu me preocupo que seria injusto porque teríamos um ótimo
jantar e ainda assim eu preciso do tempo.
– Não, não estou tentando colocar um fim nele,
eu só estou dizendo e se nós pudéssemos tirar um tempo...
– Dar um tempo no nosso tempo?
– Exato. Então o que você acha?
– Eu adoraria jantar com você amanhã – ambos
sorriam. Era novamente um dia para se esperar, Castle ansiava tanto por um
momento com sua esposa! Diante disso, o brilho no olhar ressurgira. Estava
cansado de jantar sozinho, falar com Lucy. A máquina era paciente, mas não era
Kate. Ele tratou de preparar-se para a grande noite.
As coisas infelizmente não saíram como
planejara. Quando estavam de saída para o tal encontro a dois, Ryan e Esposito
entraram em uma briga tão grande que não tiveram coragem de deixar os amigos
sozinhos no distrito e cuidar da sua própria vida. Com uma postergação do
jantar, eles ficaram na delegacia cada um cuidando de um detetive.
Não fora de forma nenhuma a noite que esperava.
Castle estava triste. Olhava para um envelope sobre a mesa. A segunda parte de
seu plano. Afinal, o jantar fora adiado ou cancelado? Ele não sabia dizer.
Queria uma espécie de confirmação, mas receava perguntar. Beckett podia sentir-se
pressionada e acabar desistindo.
O caso que investigavam chegara ao fim. Ele
estava de bobeira em casa pensando o que faria com a segunda parte do plano
quando a campainha tocou. Ao abrir a porta, ele se surpreendeu.
– Hey...
– Hey... feliz aniversário um dia atrasado... –
ela sorria.
– Ou 364 dias adiantado – ele afastou-se da
porta fazendo sinal para ela entrar. Kate tinha um pequeno pacote nas mãos.
– Eu trouxe o jantar para nós – mostrou o saco
para ele.
– Hum Remy´s...perfeito – quando ela fez menção
de se virar para falar com ele, foi surpreendida com Castle a puxando para si
envolvendo-a em um beijo. Não podia resistir. Sentia muita saudade dela. Kate
sentiu as pernas fraquejarem. Ao forçar a se separar, ela falou.
– Rick...espere isso não significa...
– Não, isso é apenas um tempo em nosso tempo...
– ela o olhava ansiando por mais, embora com um certo receio no olhar. O
sorriso dele fez com que as dúvidas desaparecessem – então, está valendo?
– Sim... – com um sorriso enorme de felicidade,
ela avançou para beija-lo. Sem quebrar o beijo, ele a guiou até seu quarto. Sua
cama. Suas quatro paredes como um casal. Ali, eles se amaram. Roupas perdidas, lençóis
revirados, desejos reprimidos tomando a dimensão real, o sentir, o tocar.
Parecia que havia se passado uma eternidade. Era quase como se estivessem
fazendo amor pela primeira vez.
O toque de Castle sobre sua pele, as bocas
sedentas se buscando, explorando cada pedacinho do corpo um do outro, os
gemidos ao senti-lo penetrar-lhe com cuidado, devagar, fazendo o momento durar
quase como uma eternidade. Rolavam na cama, brincavam, provocavam. Ele a fez
gozar a primeira vez ainda no colchão. A segunda, ele estava de joelhos
provando-a. Depois, ela juntou–se ao chão com ele. Sentou-se em seu colo e
deixou-o deslizar para dentro dela. Era a vez de Kate deixa-lo completamente
vulnerável, retribuir o prazer que ele a proporcionara. Não imaginara o quanto
ela conseguia excita-lo com tantos movimentos, ele amava a forma como Kate
movimentava-se e friccionava-se contra seu membro aumentando o prazer. Quando
ele finalmente gozou, ela ficou escorada no peito dele, sentindo o coração de
Castle bater.
Estava feliz. Realizada. Sentia-se completa.
Ergue-se do chão voltando a rolar preguiçosamente no colchão sabia que ele
estava cansado, extasiado. Não se mexera. Um momento como esse a fazia repensar
sua decisão. Estaria fazendo a coisa certa. Ficar longe dele estava ajudando a
ambos? Eram os tipos de questionamento que sempre surgiam em sua mente. Agora
mais ainda devido ao que acabara de experimentar. Deus! Como ela sentia falta
dele. Então lembrou-se de outra dúvida que pairara em sua cabeça, parte da
insegurança de Beckett criada exclusivamente por sua relação distorcida por
conta de Loksat. Precisava perguntar.
Rolou novamente na cama. Preguiçosamente
procurando por ele. As mãos dançavam insistentes procurando o outro par. Ao encontra-la,
envolveu-a na sua.
– Foi ainda melhor do que eu me lembrava.
– Bem, eu preciso guardar algumas coisas para o
segundo ano... – ela apoiou–se nos cotovelos, o fitava ao decidir perguntar.
– Rick? – ele murmurou um simples “hum” –
quando visitou a advogada de divórcios, eu estava vendo. A revelação o fez
despertar um pouco do transe, brincou com ela.
– Oh, Capitã Beckett, eu não tinha ideia. Eu me
sinto tão violado… – ela riu do jeito dele, ajeitando os cabelos tornou a
falar.
– Olhe, eu sabia que você estava apenas
interpretando um papel, mas quando ela perguntou a você se havia esperança para
nós e você não respondeu, foi... – ela não conseguiu terminar. Entendendo o que
provavelmente se passava na cabeça da esposa, ele estendeu a mão para que a
tomasse novamente.
– Kate... entrelaçando os dedos, continuou –
nunca perdi as esperanças, desde o dia que nos conhecemos. Isso nunca mudará, a
não ser que você me diga que deve – ela sorriu.
– Então não mude. Nunca.
– Está bem.
– Ótimo – ela inclinou–se para beija-lo. Foram
vários beijinhos, não querendo deixa-lo mesmo sabendo que tinha que partir – eu
tenho que ir – falava ainda trocando beijos com ele.
– Acho que o tempo acabou.
– Sim...– outro beijo – eu já volto – mas
deixou a cabeça tombar no ombro dele, suspirando e inalando o cheiro dele,
queria lembrar-se disso por alguns dias. Ter seu cheiro nela por algumas horas.
Finalmente, ergueu-se da cama. O telefone dela vibrara, Castle checou a
mensagem. Era algo do caso misterioso. Um lugar privado para falarem, um número
misterioso e desconhecido, como odiava segredos ultimamente. Rapidamente, jogou
algo dentro da bolsa dela, a segunda parte de seu plano estava concluída. Quando
percebeu que ela voltava disfarçou como se ainda estivesse entorpecido pelo
sexo. Avisa que o telefone dela soou. Pergunta se está tudo bem. Ela afirma que
sim. Aproximando–se dele, o beija outra vez.
– Te vejo por aí.
Ela se fora deixando um vazio. A sensação
incomoda tornaria a fazer parte de seus dias. Ele esperava que a influenciasse
de alguma forma nas próximas horas ou dias talvez.
As próximas horas não era o que Beckett tinha
em mente. Quando descobriu que Vikram mandou aquela mensagem apenas para que
ela deixasse Castle, ela ficou muito irritada. Já não bastava estar correndo
perigo, tinha que lidar com pessoas tomando decisões sobre sua vida pessoal.
Ela não queria estragar seu casamento com Castle especialmente depois da noite
anterior.
Um caso cortou sua conversa. Lá estava ela
olhando uma cena de crime, literalmente um navio de cruzeiro. E Castle apareceu
dando uma de Leonardo de Caprio em Titanic. Não era o que esperava muito menos
depois do navio deixar o porto levando os dois a bordo.
O problema do caso era que levava de volta para
uma parte do que investigavam em Loksat. Independente disso, eles decidiram
trabalhar juntos. Nada daquilo realmente importava. O caso continuava em aberto
e Castle tinha outra ideia em mente.
Desde que vira a mensagem no celular de
Beckett, ele tomara uma decisão. Precisava hackea-la, ela estava em perigo e
não queria que sua vida estivesse na linha. Mas, tudo traria consequências
pesadas para sua vida de casados. Eventualmente, ambos sabiam que estavam
cruzando limites. Ela descobriu que ele tentava a espionar e ele sabia que ela
já suspeitara também. Começava a fazer sentindo para Castle. O porque Beckett
agira daquela maneira, porque investigava sozinha. Porém, isso tinha que
acabar. Eles precisavam conversar e não poderia esperar mais.
Castle foi direto para o distrito surpreendendo
a fim de que não pudesse escapar.
– Beckett, precisamos conversar – ele entrou em
seu escritório trancando a porta atrás de si – quando comecei a trabalhar como
investigador, sabia que seguiria algumas esposas só não imaginei que a minha
seria uma delas – fechou as persianas.
– Castle, por que você não pode apenas confiar
em mim?
– Como pode me perguntar isso? Vi o sms que
Vikram te mandou ontem a noite. Achei que estivesse com problemas. Ao invés
disso, descubro que esteve mentindo para mim.
– Eu estava tentando proteger você – ela estava
tensa. Essa era uma conversa que poderia não terminar bem.
– Do assassinato de Allison Hyde? É, foi fácil
de descobrir uma vez que percebi que você não queria um tempo para si mesma.
– Loksat pensa que seu acobertamento funcionou.
É por isso que nos deixou viver e se descobrir que ainda estou investigando
isso, ele me matará e qualquer um próximo a mim. Por isso eu precisei te
afastar.
– O fato de você pensar assim parte meu
coração. Eu entraria em um tornado por você, Kate.
– E eu morreria se perdesse você. Quase
aconteceu uma vez – ele não se deixou levar pelas palavras dela, mesmo sabendo
serem verdadeiras.
– Sabe o que mais me machuca? Você poderia ter
me procurado com tudo isso, nos separado, exatamente como fez, mas seria um
disfarce. E, juntos, em segredo poderíamos derrubar esse cara. Mas isso nem
passou pela sua cabeça. Porque no fundo, você gosta dessa neurose e você
precisa dessa obsessão. Não importa o que eu faça, não consigo mudar isso. Só
você pode, Kate.
O silêncio pairou entre eles. Kate engolia em
seco, não sabia como responder aquilo. Ela reparou na posição deles. Ele, no
fundo da sala, olhando-a. Kate se pegou contando os passos entre eles. 105. Um
número enigmático. Era como uma linha reta, podia ver pequenas lâminas
indicando o caminho em sua mente. Bastava caminhar para ficarem pele contra
pele. Podia esquecer tudo. Tirar aquele olhar magoado do rosto que amava. Olhos
no chão, a vergonha a tomava. Por que escondera aquele segredo? Porque
arriscara o seu casamento? Obsessão. Talvez em outra vida ela não ficasse
calada, mas as palavras simplesmente a abandonaram.
– Eu já percebi que não tem nada para me dizer.
Eu preciso ir. Você tem um caso para resolver.
– Espere, Castle... – o som saiu como uma lamúria,
ele deu uma última olhada nela, suspirou e saiu.
Enquanto caminhava até o
elevador, se segurava para não esmurrar as coisas, a raiva o consumia. Não
dela. Por ter dito todas aquelas coisas. Sabia que isso poderia trazer traços
da velha Beckett de volta. Estava quase se odiando por isso. Porém, ficou claro
que ela ainda não vira o que ele deixara em sua bolsa.
Beckett estava calada. Sem qualquer ação diante
do que acabara de ouvir. O coração apertado no peito. E pela primeira vez, ela tinha
certeza de que arriscara e acabara com seu casamento. Tudo o que Rita a
aconselhou a não fazer. Ela fez errado, pagaria um preço muito alto por isso.
Escolhas erradas.
Esposito entrou em sua sala. Viu que ela estava
abalada. Algo não estava bem entre Castle e Beckett.
– Você quer ouvir o que achamos ou precisa de
um minuto?
– Não, quero resolver esse caso de uma vez –
sim, a ânsia era para encontrar o parceiro e talvez desvendar algo sobre as
drogas, para incriminar Loksat. Queria tira-lo de sua vida o quanto antes, isso
se ainda tivesse tempo de salvar seu casamento.
Infelizmente deu tudo errado. Ao confrontarem o
sujeito, por proteção, Ryan acabou atirando nele, estava morto e com ele as
possíveis pistas que guiariam o caminho de Beckett até Loksat. Ela não
acreditava em tudo que acontecia. Uma maré de azar. Não, por que ficava
tentando encontrar desculpas quando a única culpada disso tudo era ela? Tudo o
que se sucedera era resultado de suas escolhas, causa e efeito. Consequências.
Ela estava sentada em sua sala. Cansada.
Arrasada pelo que acabara de acontecer. Martelava seus erros em sua cabeça.
Tudo fora em vão? Vikram entrou na sala sem pedir licença.
– Você está bem?
– Não. O parceiro do Acosta podia ter nos
aproximado de Loksat. Em vez disso, ele está no necrotério. É como se o mundo
estivesse desabando na minha cabeça e não tenho ninguém para culpar além de mim
mesma.
– Ah, momento de pena de si mesma. Tudo bem,
volto depois. Mas levarei comigo uma evidência muito boa – ele a instigava porque
mesmo em um momento complicado, sabia que ela ficaria tentada pela prova, pelo
algo mais.
– Se você estiver brincando comigo, posso
atirar em você – não, ela não estava com paciência para joguinhos.
– Então quer ouvir o que descobri?
– Claro.
– Eu consegui rastrear o proprietário do
armazém onde Sam Mackey levou a heroína. É uma empresa fantasma, olhei nas
corporações de 1999 não vai acreditar quem escreveu aqueles documentos. Caleb
Brown. O defensor público de Acosta.
Eles ainda ficaram conversando sobre a
descoberta. Era a primeira pista real que tinham para conseguir chegar a
Loksat. Assim que Vikram saiu da sua sala, Beckett respirou um pouco mais
aliviada até ela olhar para o porta-retratos em sua mesa. Ela e Castle.
– O que foi que eu fiz? Ele saiu daqui sem uma
despedida apropriada, sem ao menos um “vejo você depois” ou um aperto de mão.
Castle, como eu posso consertar a burrada que fiz sem colocá-lo em perigo?
Estava cansada. Pegou suas coisas, fechou o
computador, ia embora. Procurou pela chave do carro. Não estava sobre a mesa.
Revirou a bolsa e foi quando o envelope apareceu. O que era aquilo? Estava
endereçado em seu nome. A escrita à mão. Ela conhecia aquela letra. O coração
acelerou. As pernas falharam. Sentou–se na sua cadeira de capitã. Os dedos
tremiam ao abrir o envelope. Tirou a folha de papel de lá. Era uma carta. Kate
respirou fundo. A data no topo da página indicava que fora escrita um dia antes
de seu aniversário de casamento. Antes da discussão daquela tarde.
Criando coragem, ela começou a ler. Quase podia
ouvir a voz de Castle dizendo aquelas palavras.
“Querida Kate,
Como escritor, esse talvez seja o texto mais
difícil que tentarei escrever. Primeiro porque ainda não consegui entender o
motivo de ter que relembra-la da nossa história, porque você saiu pela porta
sem uma explicação coerente. Segundo, porque você me forçou a aceitar a
situação, mas não me consolo em simplesmente libera-la, deixa-la ir. Chega.
Por que tudo tem que ser difícil entre nós?
Desde o início. Tudo acontecia. Eu fui o cara que a seguia e a irritava, o amigo,
o parceiro, recebendo sorrisos e beijos de boa noite quando não me interessava.
Foram incontáveis as vezes que eu me arrisquei por você. Eu morreria por você,
sangraria até secar todas as vezes, tudo para ter você, te fazer minha. Eu fiz
isso. E não me importo. Porque independente do que aconteça, eu volto, voltarei
mil vezes.
Foi assim durante quatro anos, continuou pelos
restantes. Pensei que quando você tivesse a aliança no dedo pensaria diferente.
Deixaria de ser egoísta e dividiria tudo comigo. Cada problema, cada dor.
Estava errado. E isso dói.
Olho para nós, agindo como estranhos em um
lugar que antes nos fazia sorrir. Você e eu em lados opostos. Eu, no fundo da
sala, separados por passos amargos, sem toques, sem beijos, soa até irônico
dizer que a distância me faz contar os passos até você. 105. Você ainda se
recorda o que esse número significa, Kate? Eu já idealizava que seriamos
perfeitos desde a primeira vez que te vi. Aquelas páginas estão lá para provar
isso. Eu escrevi sobre nós como se pudesse antecipar nossa jornada.
Não pude. Os percalços foram tantos. Bombas,
incêndios, atentados, sequestros, inimigos. Vencemos cada um deles. Juntos.
Estava acostumado a pensar como você, em sincronia apenas com o olhar. Agora, a
palavra “nós” virou um tabu.
Olhos no chão, você não é capaz de me encarar.
Ou apenas se cala. Cobre sua boca com a mão e se cala deixando-me ir,
simplesmente me deixa ir para evitar falar de nós. Depois de tudo? Eu nunca
desisti. Você se lembra? Você me afasta, me diz nunca. Me faz esperar para
sempre. Outra vez, eu não me importo. Eu voltei, eu voltarei mil vezes.
Não queria te dizer não, nada poderia ser pior
do que o risco de perder o que eu não tenho agora. Você. Não tenho você. Não
tenho seu sorriso, seu olhar, seus beijos. Seu corpo contra meu corpo. Nada.
Essas palavras em uma página carregam a dor ao
invés de liberta-la. Infelizmente, estar longe de você apenas quebra meu
coração a cada minuto. Não me importo. Você pode me fazer esperar para sempre. Não
me importo porque isso é amar. Incondicionalmente. O amor é uma jaula e não
quero me libertar. Eu continuarei te amando, cada dia. Queria poder dizer como
é simples, voltar, pelo menos para mim. Voltaria mil vezes porque eu te amo.
Acredito no casamento. Em confiar e se abrir com o outro. Casamento é precisar,
ajudar. Mesmo machucado eu sei que ainda há esperança. Um ano de casados. Tudo
o que queria era minha esposa de volta.
E quanto a você, Kate? Voltaria mil vezes ou me
faria esperar para sempre? Vai continuar me afastando e dizer nunca?
Até quando terei que provar que estou do seu
lado e te amo?
Faria qualquer coisa por você. Qualquer coisa.
Apenas entenda, dois é melhor que um. Não jogue
tudo fora.
Eu te amo com todo o meu coração.
Always.
Rick Castle”
Ela já estava chorando desde a primeira linha
da carta. Ouvir as palavras de Castle naquela tarde doera, mas ler esse
depoimento era ainda pior. Muito pior. Essa era a dimensão do sofrimento que
ela causara, a dor que o submetera. Pensando que o protegia, ela o feria. Como
poderia conviver com essa culpa? Nunca quisera fazer mal a ele. E agora, ela
arrasara com seu coração.
Não podia deixar isso continuar. Eles não eram
dois estranhos. Eles eram casados. Se amam. Castle tinha razão. Era sua culpa.
Era sua vez de consertar o erro que cometera. Não podia ser tarde demais.
Loft de Castle
Castle estava sentado com um copo de whisky nas
mãos. Lucy a sua frente. Tornara-se patético. Conversando com uma máquina
tentando entender a cabeça de sua esposa. Lidando com a dor de estar longe, de
se sentir colocado de escanteio. Como se não fosse confiável. Era um inferno
ficar sem Kate.
– Pensei que você tivesse dito que mentir era
errado.
– Eu disse. E é, mas...ela achou que estava me
protegendo.
– Isso significa que poderia perdoa-la?
– Não sei, talvez – a quem ele queria enganar?
Era louco por ela.
– Não me entenda mal, Rick, mas você não está
fazendo nenhum sentido.
– É porque eu estou apaixonado. Mas você não
entenderia isso.
– Então por que você está conversando comigo a
respeito disso?
– Touché – sim, patético. Era sua própria conclusão.
Batidas na porta. Ele foi atende-la. Kate Beckett simplesmente entrara sem
pedir licença, foi logo falando.
– Você está certo.
– Está bem.
– Tudo o que disse você estava totalmente certo
– ela tirou o casaco, estava nervosa e se movimentar escondia o que realmente
se passava com ela.
– Pode ser mais especifica? – ela o encarou.
– Que nosso término poderia ter sido uma
fachada para que pudéssemos acabar com LokSat juntos.
– Sim, poderia ter me procurado.
– Eu estou aqui agora... façamos isso – ele
olhou intrigado para Kate.
– Não é tão fácil assim.
– Achei que você fosse...
– Aceitar você de volta depois de tudo que me
fez passar? – ela evitou os olhos dele por um momento. Sabia que ele tinha todo
o direito de agir daquela maneira.
– Castle, eu sinto muito. Odeio ter te
machucado. Nunca quis isso – ela se aproximou dele. O semblante sério, Castle
não ia ceder como ela imaginara.
– Mas me machucou, Kate. E o pior é que você
perdeu a fé em mim.
– Não, eu nunca... preciso de você, Rick. Não
vi o quanto eu precisava de você até isso tudo acontecer. Por favor, não me
force a fazer isso sem você – o silêncio pairou no ar. Ela o fitava ansiosa. As
mãos entrelaçadas, inquietas.
– Por que agora, Kate? Por que eu a confrontei?
Apenas porque eu descobri o que estava fazendo. Reconhece que eu posso tanto ou
mais que você rastrear e investigar Loksat. Foi por isso que veio pedir minha
ajuda? É para isso que me quer ao seu lado?
– Não! Como você pode pensar assim de mim?
– Você me deu evidências demais nos últimos
tempos. Você saiu pela aquela porta sem uma explicação, dizendo que me amava e
que iria para sempre, mas queria um tempo. E eu não a pressionei – deu um
sorriso sarcástico – Olha onde isso nos levou?
Criou coragem para tentar traze-lo para ela
novamente, ela precisava convence-lo de que não estava ali para usá-lo como um
recurso, um acessório. Estava ali por amor.
– Eu não me eximo da culpa. Do que fiz. Não
quero você ao meu lado porque tem recursos ou dinheiro. Isso não é importante.
Quero você ao meu lado porque preciso do meu parceiro. Da sua inteligência e da
maneira como funcionamos juntos. Tenho dificuldade em assimilar algumas
particularidades dessa palavra. Juntos. Talvez porque nunca a usei ou
compreendia-la tão bem quanto você. Nunca a considerei antes de estar com você.
Ela respirou fundo antes de continuar. Castle
continuava sério. Fitando-a.
– Eu vi a carta. Aquilo partiu meu coração.
Como pude errar tanto? Eu senti medo. Perguntei a mim mesma o que foi que fiz. Aquele
não é o Castle por quem eu me apaixonei. Mesmo dizendo que me ama, ele está
machucado, com dor e amargo. Quero meu Castle de volta. Aquele que me fazia rir
com suas piadas, tentava me convencer de suas teorias malucas, o escritor que
se apaixonou pela musa. O meu marido com os beijos mais deliciosos, com o toque
delicado, o abraço envolvente. Quero o homem que me traz café todos os dias em
troca de um sorriso. Por esse Rick Castle, eu volto. Uma, duas, mil vezes. Eu
morreria por você, Rick... – ela chorava – e morreria sem você. Já passei por
um inferno quando perdi você, não quero isso de novo. Não precisa provar nada
para mim. Apenas me aceite de volta.
Ele olhava para a mulher a sua frente. O rosto
marcado pelas lágrimas. A ansiedade em sua linguagem corporal. E medo, de ser
rejeitada. De ter estragado tudo... ele deu mais um passo na direção dela. Definitivamente,
ela não era boa nisso, em relacionamentos.
– Ok, terminou? – ela o encarava. Em sua mente
estava claro. Era o fim. Ele iria expulsa-la da sua vida. Não, era Castle, ele
a amava. Confusão e desespero. Era quase como se tivesse voltado no tempo para
aquele mesmo dia de tempestade onde tudo o que queria era ela. Castle – eu
consigo entender o que você está pensando nesse momento. Está imaginando que
vou dizer para ir embora, que não a aceito de volta. Porque mesmo sabendo do
meu amor, você ainda tem medo, é insegura, tudo por culpa de sua neurose.
– Castle, eu...
– Tudo bem. Não a recrimino por isso. Você foi
moldada por medo, por vingança e justiça. Confiar é difícil. Eu levei quatro
anos para entende-la completamente e ainda sou surpreendido por atitudes suas.
Se você leu a carta, sabe a minha resposta, Kate. Não duvide de minhas palavras
- ele tomou-a em um beijo. Assim que se afastou, ela abriu o sorriso entre lágrimas
e avançou para um novo beijo. O coração batia acelerado – mas você sabe que
antes eu vou ter que te punir um pouco, não é?
– Punição sem roupa? – ela já mordiscava os
lábios.
– Totalmente sem – ele tornou a beija-la. O
sorriso de Kate despontara no rosto enquanto Castle a puxava para o quarto.
Nosso quarto, ela pensou.
De frente um para o outro, ele contemplava a
esposa. Fora ela quem tomara a iniciativa. Tirara sua blusa. Depois desabotoava
a camisa de Castle. Seguiu para as calças. No chão, a trilha de peças. Nus. A
comunicação foi feita pelo olhar. Não havia necessidade de palavras. Eram
apenas os dois, seus gestos, seus sentimentos.
Ele deitou-a cuidadosamente no colchão.
Retomando os beijos de onde pararam. Não eram dois estranhos. Eram eles.
Apaixonados, cheios de desejo. O corpo dela era o seu próprio parque de
diversões. Sua boca viajava pelas curvas, sentindo o calor da pele, a maciez e
o cheiro delicioso. O cheiro de Kate Beckett.
Ele estava prestes a penetra-la quando Kate
segurou seu rosto com as duas mãos. Queria fitar os olhos azuis, sorriu. Beijou
cada bochecha, o nariz, o queixo e mordiscou os lábios. Era seu Castle. Ele
estava de volta. Na verdade, nunca desaparecera. E ela estava feliz por isso.
– Meu Castle... você nunca me deixou... nunca e
eu te amo por isso. Por ser você - Então o beijou sentindo Castle a invadi-la
completamente. Juntos. Funcionavam muito bem juntos, na cama e fora dela. Esse
foi o último pensamento de Kate antes de sentir a explosão que a dominara. Ele
veio com ela.
Minutos se passaram até que eles falassem algo.
Kate estava aninhada com as costas no peito dele. Sentira falta do calor
daquele corpo. Muito. Ainda tinham alguns pontos a acertarem.
– Castle... está dormindo?
– Não... – cheirou o cabelo dela, o pescoço.
– Nós ainda precisamos conversar sobre o nosso
disfarce...
– Depois, estamos reprisando o nosso
aniversario de casamento. Teremos tempo para as coisas não importantes da vida.
– Castle, em outra vida nós agiríamos
diferente? Se não nos conhecêssemos a tanto tempo? Em outra vida eu o deixaria
ir?
– Na outra vida, mesmo não me conhecendo apropriadamente,
apenas pelos meus livros de Storm, você não me deixou, Kate. Você acreditou em
mim. E eu morri por você. Foi o sonho que eu vivi, a razão porque pedi que se
casasse comigo de uma hora para outra.
– Em outras palavras... estamos ligados por várias
vidas?
– Eu acredito nisso. Você não?
– Tem uma coisa que acredito... eu sempre
voltarei, cedo ou tarde, mil vezes. Não me importo. E tem mais uma coisa. 105.
Eu realmente gostaria de repetir o que foi de Nikki e Rook com você.
– Hum, 105 um número sugestivo. Isso é um
convite, Capitã Beckett?
– Uma intimação, e Rick? Podemos fazer mais que
mil vezes... não será suficiente para expressar o que sinto por você.
– Não me importo de tentar... – ele a beijou
deslizando as mãos para o centro das pernas dela. Era hora do bis do seu
aniversário de casamento.
Juntos, novamente. Era a única certeza que
tinha. Não importava as brigas, os desentendimentos. Voltariam mil vezes.
Sempre que precisassem. Por amor.
THE END
Um comentário:
Realmente esse era o diálogo que gostaríamos de ter visto na série, excelente fic.
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