domingo, 3 de abril de 2016

[Castle Fic] A Thousand Times




A Thousand Times

Autora: Karen Jobim
Classificação: NC17 (pitadas) – Drama
Capitulos: Oneshot – Songfic
Quando: S8 – entre 807 e 808...
Disclaimer: Castle e Beckett não me pertencem...são da ABC yada yada yada... conteúdo criado para diversão, todos os direitos da autora reservados!
Castle e Beckett estão separados devido a decisão de Kate em investigar Loksat. Infelizmente, o primeiro aniversário de casamento deles se aproximava e Castle recusava–se em deixar a data passar em branco. Não apenas isso, ele estava sofrendo com a ausência dela e decidiu demonstrar isso da melhor maneira que podia.

Nota da Autora: Uma oneshot baseada na música da Sara Bairelles chamada “A Thousand Times”. Aliás, aproveitei a oportunidade para bagunçar novamente a linha do tempo. Misturei os dois episódios criando um ambiente AU. Espero que gostem. Eu pessoalmente queria escreve-la em inglês, mas por respeito a vocês, leitoras, fiz em português. Aproveitem a viagem.

PS.: Sugiro ouvir a canção durante toda a fic porque dessa vez não há momento certo. Tanto Castle como Beckett usam linhas da canção. Pensei em fazer POV, mas mudei de ideia. Ficou um pouco. Podem deixar a música em loop infinito. Sendo assim, segue o link da música no YouTube e da letra. 




A Thousand Times

Castle estava em seu escritório. Olhava para a tela do computador sem inspiração para continuar o próximo capítulo de sua aventura de Nikki Heat. Apenas “Capítulo 12” e o resto da página em branco. O cursor piscava na tela. Não conseguia se concentrar. O porta-retratos a sua frente não deixava. Ele e Kate, a foto tirada no dia de seu casamento. Dali a dois dias eles fariam um ano de casados. Era para ser uma data especial. Ainda era especial. O único problema era como comemorar algo com a pessoa que ama se a mesma não dividia o mesmo teto com ele, se o deixara? Não fazia parte de seus planos. Castle nunca pensou que se veria numa situação como essa. Fora dos planos de Kate depois de tudo o que sofrera e vivera para ficarem juntos.

Levantou–se, servindo-se de uma dose de whisky, ele ponderou o que poderia fazer para reverter essa situação. Kate deixara claro que não voltaria para casa, estava protegendo-o. Como ele detestava isso. Essa obsessão com o caso misterioso, a rejeição que ela se impunha para não se permitir uma vida normal. Ele sempre a ajudara em todos os casos. Por que mantê-lo fora desse? Já provara tantas vezes que era capaz. Salvara sua vida, arriscara-se. Quantas vezes fosse necessário, ele faria.

Seu amor por Kate Beckett era incondicional. Ela o magoara no momento que o expulsara de sua vida. No instante em que julgou que ela não deveria dividir o fardo como todo o casal. Não entendeu o significado da palavra casamento. Ele sabia o quanto a esposa era complicada, o quanto ela deixava seus traumas, seus problemas, interferirem em sua personalidade. Era parte de quem ela era. Algo que admirava e odiava ao mesmo tempo.

Terminou o copo de whisky e retornou para a mesa. Ultimamente estava se concentrando com migalhas, investigava casos na esperança de topar com ela, conversar com a capitã nem que fosse por cinco minutos. Não poderia deixar a data passar em branco. Mais que isso, queria fazer algo especial. Não se referia a presentes caros, joias ou acessórios femininos que sem dúvida agradariam a Beckett.

Não, um convite especial e um presente sentimental. Algo que refletia exatamente o que estavam vivendo naquele momento. Uma espécie de despertar para Kate quanto ao relacionamento e o que significava para eles. Uma promessa. Ela não podia ter esquecido o que o amor deles representava. São sete anos de muitas conquistas, idas e vindas, sofrimento e alegria.

Revigorado pela ideia, Castle se colocou à frente do notebook e começou a preparar algo que se tornaria inesquecível para os dois.

No dia seguinte, Rick Castle acordou animado. Ele conseguia encontrar uma maneira de convencer Beckett de simplesmente não negar um convite para jantar. Essa era a primeira parte de seu plano. Certificando–se que estava tudo certo, ele pegou o material e seguiu para a delegacia. Havia ligado para Ryan querendo sua ajuda para fazer tudo funcionar como deveria. Precisava que Beckett estivesse longe de sua sala para preparar tudo. O amigo romântico e apreciador dos gestos, não se negou, ajudou-o.

Quando Beckett comunicou-os que precisava ir ao 1PP, sabia que tinha a oportunidade perfeita. Enviou uma mensagem para o escritor na mesma hora. Quinze minutos depois, Castle surgia pelo elevador do distrito. Tendo carta branca do detetive, ele entrou na sala da capitã e fechou a porta. Meia hora depois, ele terminara e testara. Iria funcionar. Claro que ele se atrapalhou no primeiro momento e a coisa não saiu como imaginara. Pediu para Esposito segurar as pontas porque precisava de mais tempo.

Beckett retornou ao distrito mais rápido do que previam. Ela já ia entrar em sua sala quando Esposito a impediu usando sua briga com Ryan como desculpa. Sim, apesar de estarem se estranhando, eles uniram forças para ajudar Castle. Conseguiram enrolar a capitã tempo suficiente para que ele fizesse o que precisava, quase falharam. Castle saiu da sala segundos antes ela entrar, fingindo que acabara de chegar ao local.

Então, aconteceu. Beckett entrou na sua sala e encontrou uma pequena caixa de presente sobre a mesa. Abriu–a. Na contracapa, os votos de feliz aniversário. Dentro, um botão e uma nota dizendo “Push me”. Sorrindo, ela apertou não sabendo ao certo o que aconteceria. Fora surpreendia por um balão a gás que surgia por detrás de sua mesa. “Happy Anniversary”. Na corda, havia um cartão. A reação de surpresa em seu rosto era deliciosa. Ela pegou o papel e leu “ janta comigo amanhã? ”. Era um convite.

Nesse instante, Castle que observara toda a cena, entra na sala. Ela olha para ele, sorrindo.   

– Castle, isso é muito doce, muito você, mas eu não sei como isso poderia ser uma boa ideia.

– Eu sei que estamos dando um tempo nesse momento, porém amanhã é o nosso aniversário de casamento.

– Eu realmente adoraria, talvez você não imagine quanto, mas eu me preocupo que seria injusto porque teríamos um ótimo jantar e ainda assim eu preciso do tempo.

– Não, não estou tentando colocar um fim nele, eu só estou dizendo e se nós pudéssemos tirar um tempo...

– Dar um tempo no nosso tempo?

– Exato. Então o que você acha?

– Eu adoraria jantar com você amanhã – ambos sorriam. Era novamente um dia para se esperar, Castle ansiava tanto por um momento com sua esposa! Diante disso, o brilho no olhar ressurgira. Estava cansado de jantar sozinho, falar com Lucy. A máquina era paciente, mas não era Kate. Ele tratou de preparar-se para a grande noite.

As coisas infelizmente não saíram como planejara. Quando estavam de saída para o tal encontro a dois, Ryan e Esposito entraram em uma briga tão grande que não tiveram coragem de deixar os amigos sozinhos no distrito e cuidar da sua própria vida. Com uma postergação do jantar, eles ficaram na delegacia cada um cuidando de um detetive.

Não fora de forma nenhuma a noite que esperava. Castle estava triste. Olhava para um envelope sobre a mesa. A segunda parte de seu plano. Afinal, o jantar fora adiado ou cancelado? Ele não sabia dizer. Queria uma espécie de confirmação, mas receava perguntar. Beckett podia sentir-se pressionada e acabar desistindo.

O caso que investigavam chegara ao fim. Ele estava de bobeira em casa pensando o que faria com a segunda parte do plano quando a campainha tocou. Ao abrir a porta, ele se surpreendeu.

– Hey...

– Hey... feliz aniversário um dia atrasado... – ela sorria.

– Ou 364 dias adiantado – ele afastou-se da porta fazendo sinal para ela entrar. Kate tinha um pequeno pacote nas mãos.

– Eu trouxe o jantar para nós – mostrou o saco para ele.

– Hum Remy´s...perfeito – quando ela fez menção de se virar para falar com ele, foi surpreendida com Castle a puxando para si envolvendo-a em um beijo. Não podia resistir. Sentia muita saudade dela. Kate sentiu as pernas fraquejarem. Ao forçar a se separar, ela falou.

– Rick...espere isso não significa...

– Não, isso é apenas um tempo em nosso tempo... – ela o olhava ansiando por mais, embora com um certo receio no olhar. O sorriso dele fez com que as dúvidas desaparecessem – então, está valendo?

– Sim... – com um sorriso enorme de felicidade, ela avançou para beija-lo. Sem quebrar o beijo, ele a guiou até seu quarto. Sua cama. Suas quatro paredes como um casal. Ali, eles se amaram. Roupas perdidas, lençóis revirados, desejos reprimidos tomando a dimensão real, o sentir, o tocar. Parecia que havia se passado uma eternidade. Era quase como se estivessem fazendo amor pela primeira vez.

O toque de Castle sobre sua pele, as bocas sedentas se buscando, explorando cada pedacinho do corpo um do outro, os gemidos ao senti-lo penetrar-lhe com cuidado, devagar, fazendo o momento durar quase como uma eternidade. Rolavam na cama, brincavam, provocavam. Ele a fez gozar a primeira vez ainda no colchão. A segunda, ele estava de joelhos provando-a. Depois, ela juntou–se ao chão com ele. Sentou-se em seu colo e deixou-o deslizar para dentro dela. Era a vez de Kate deixa-lo completamente vulnerável, retribuir o prazer que ele a proporcionara. Não imaginara o quanto ela conseguia excita-lo com tantos movimentos, ele amava a forma como Kate movimentava-se e friccionava-se contra seu membro aumentando o prazer. Quando ele finalmente gozou, ela ficou escorada no peito dele, sentindo o coração de Castle bater.

Estava feliz. Realizada. Sentia-se completa. Ergue-se do chão voltando a rolar preguiçosamente no colchão sabia que ele estava cansado, extasiado. Não se mexera. Um momento como esse a fazia repensar sua decisão. Estaria fazendo a coisa certa. Ficar longe dele estava ajudando a ambos? Eram os tipos de questionamento que sempre surgiam em sua mente. Agora mais ainda devido ao que acabara de experimentar. Deus! Como ela sentia falta dele. Então lembrou-se de outra dúvida que pairara em sua cabeça, parte da insegurança de Beckett criada exclusivamente por sua relação distorcida por conta de Loksat. Precisava perguntar.

Rolou novamente na cama. Preguiçosamente procurando por ele. As mãos dançavam insistentes procurando o outro par. Ao encontra-la, envolveu-a na sua.

– Foi ainda melhor do que eu me lembrava.

– Bem, eu preciso guardar algumas coisas para o segundo ano... – ela apoiou–se nos cotovelos, o fitava ao decidir perguntar.

– Rick? – ele murmurou um simples “hum” – quando visitou a advogada de divórcios, eu estava vendo. A revelação o fez despertar um pouco do transe, brincou com ela.

– Oh, Capitã Beckett, eu não tinha ideia. Eu me sinto tão violado… – ela riu do jeito dele, ajeitando os cabelos tornou a falar.

– Olhe, eu sabia que você estava apenas interpretando um papel, mas quando ela perguntou a você se havia esperança para nós e você não respondeu, foi... – ela não conseguiu terminar. Entendendo o que provavelmente se passava na cabeça da esposa, ele estendeu a mão para que a tomasse novamente.

– Kate... entrelaçando os dedos, continuou – nunca perdi as esperanças, desde o dia que nos conhecemos. Isso nunca mudará, a não ser que você me diga que deve – ela sorriu.

– Então não mude. Nunca.

– Está bem.

– Ótimo – ela inclinou–se para beija-lo. Foram vários beijinhos, não querendo deixa-lo mesmo sabendo que tinha que partir – eu tenho que ir – falava ainda trocando beijos com ele.

– Acho que o tempo acabou.

– Sim...– outro beijo – eu já volto – mas deixou a cabeça tombar no ombro dele, suspirando e inalando o cheiro dele, queria lembrar-se disso por alguns dias. Ter seu cheiro nela por algumas horas. Finalmente, ergueu-se da cama. O telefone dela vibrara, Castle checou a mensagem. Era algo do caso misterioso. Um lugar privado para falarem, um número misterioso e desconhecido, como odiava segredos ultimamente. Rapidamente, jogou algo dentro da bolsa dela, a segunda parte de seu plano estava concluída. Quando percebeu que ela voltava disfarçou como se ainda estivesse entorpecido pelo sexo. Avisa que o telefone dela soou. Pergunta se está tudo bem. Ela afirma que sim. Aproximando–se dele, o beija outra vez.

– Te vejo por aí.

Ela se fora deixando um vazio. A sensação incomoda tornaria a fazer parte de seus dias. Ele esperava que a influenciasse de alguma forma nas próximas horas ou dias talvez.

As próximas horas não era o que Beckett tinha em mente. Quando descobriu que Vikram mandou aquela mensagem apenas para que ela deixasse Castle, ela ficou muito irritada. Já não bastava estar correndo perigo, tinha que lidar com pessoas tomando decisões sobre sua vida pessoal. Ela não queria estragar seu casamento com Castle especialmente depois da noite anterior.

Um caso cortou sua conversa. Lá estava ela olhando uma cena de crime, literalmente um navio de cruzeiro. E Castle apareceu dando uma de Leonardo de Caprio em Titanic. Não era o que esperava muito menos depois do navio deixar o porto levando os dois a bordo.

O problema do caso era que levava de volta para uma parte do que investigavam em Loksat. Independente disso, eles decidiram trabalhar juntos. Nada daquilo realmente importava. O caso continuava em aberto e Castle tinha outra ideia em mente.

Desde que vira a mensagem no celular de Beckett, ele tomara uma decisão. Precisava hackea-la, ela estava em perigo e não queria que sua vida estivesse na linha. Mas, tudo traria consequências pesadas para sua vida de casados. Eventualmente, ambos sabiam que estavam cruzando limites. Ela descobriu que ele tentava a espionar e ele sabia que ela já suspeitara também. Começava a fazer sentindo para Castle. O porque Beckett agira daquela maneira, porque investigava sozinha. Porém, isso tinha que acabar. Eles precisavam conversar e não poderia esperar mais.

Castle foi direto para o distrito surpreendendo a fim de que não pudesse escapar.

– Beckett, precisamos conversar – ele entrou em seu escritório trancando a porta atrás de si – quando comecei a trabalhar como investigador, sabia que seguiria algumas esposas só não imaginei que a minha seria uma delas – fechou as persianas.

– Castle, por que você não pode apenas confiar em mim?

– Como pode me perguntar isso? Vi o sms que Vikram te mandou ontem a noite. Achei que estivesse com problemas. Ao invés disso, descubro que esteve mentindo para mim.

– Eu estava tentando proteger você – ela estava tensa. Essa era uma conversa que poderia não terminar bem.

– Do assassinato de Allison Hyde? É, foi fácil de descobrir uma vez que percebi que você não queria um tempo para si mesma.

– Loksat pensa que seu acobertamento funcionou. É por isso que nos deixou viver e se descobrir que ainda estou investigando isso, ele me matará e qualquer um próximo a mim. Por isso eu precisei te afastar.

– O fato de você pensar assim parte meu coração. Eu entraria em um tornado por você, Kate.

– E eu morreria se perdesse você. Quase aconteceu uma vez – ele não se deixou levar pelas palavras dela, mesmo sabendo serem verdadeiras.

– Sabe o que mais me machuca? Você poderia ter me procurado com tudo isso, nos separado, exatamente como fez, mas seria um disfarce. E, juntos, em segredo poderíamos derrubar esse cara. Mas isso nem passou pela sua cabeça. Porque no fundo, você gosta dessa neurose e você precisa dessa obsessão. Não importa o que eu faça, não consigo mudar isso. Só você pode, Kate.   

O silêncio pairou entre eles. Kate engolia em seco, não sabia como responder aquilo. Ela reparou na posição deles. Ele, no fundo da sala, olhando-a. Kate se pegou contando os passos entre eles. 105. Um número enigmático. Era como uma linha reta, podia ver pequenas lâminas indicando o caminho em sua mente. Bastava caminhar para ficarem pele contra pele. Podia esquecer tudo. Tirar aquele olhar magoado do rosto que amava. Olhos no chão, a vergonha a tomava. Por que escondera aquele segredo? Porque arriscara o seu casamento? Obsessão. Talvez em outra vida ela não ficasse calada, mas as palavras simplesmente a abandonaram.

– Eu já percebi que não tem nada para me dizer. Eu preciso ir. Você tem um caso para resolver.

– Espere, Castle... – o som saiu como uma lamúria, ele deu uma última olhada nela, suspirou e saiu. 

Enquanto caminhava até o elevador, se segurava para não esmurrar as coisas, a raiva o consumia. Não dela. Por ter dito todas aquelas coisas. Sabia que isso poderia trazer traços da velha Beckett de volta. Estava quase se odiando por isso. Porém, ficou claro que ela ainda não vira o que ele deixara em sua bolsa.

Beckett estava calada. Sem qualquer ação diante do que acabara de ouvir. O coração apertado no peito. E pela primeira vez, ela tinha certeza de que arriscara e acabara com seu casamento. Tudo o que Rita a aconselhou a não fazer. Ela fez errado, pagaria um preço muito alto por isso. Escolhas erradas.

Esposito entrou em sua sala. Viu que ela estava abalada. Algo não estava bem entre Castle e Beckett.

– Você quer ouvir o que achamos ou precisa de um minuto?

– Não, quero resolver esse caso de uma vez – sim, a ânsia era para encontrar o parceiro e talvez desvendar algo sobre as drogas, para incriminar Loksat. Queria tira-lo de sua vida o quanto antes, isso se ainda tivesse tempo de salvar seu casamento.

Infelizmente deu tudo errado. Ao confrontarem o sujeito, por proteção, Ryan acabou atirando nele, estava morto e com ele as possíveis pistas que guiariam o caminho de Beckett até Loksat. Ela não acreditava em tudo que acontecia. Uma maré de azar. Não, por que ficava tentando encontrar desculpas quando a única culpada disso tudo era ela? Tudo o que se sucedera era resultado de suas escolhas, causa e efeito. Consequências.

Ela estava sentada em sua sala. Cansada. Arrasada pelo que acabara de acontecer. Martelava seus erros em sua cabeça. Tudo fora em vão? Vikram entrou na sala sem pedir licença.

– Você está bem?

– Não. O parceiro do Acosta podia ter nos aproximado de Loksat. Em vez disso, ele está no necrotério. É como se o mundo estivesse desabando na minha cabeça e não tenho ninguém para culpar além de mim mesma.

– Ah, momento de pena de si mesma. Tudo bem, volto depois. Mas levarei comigo uma evidência muito boa – ele a instigava porque mesmo em um momento complicado, sabia que ela ficaria tentada pela prova, pelo algo mais.

– Se você estiver brincando comigo, posso atirar em você – não, ela não estava com paciência para joguinhos.

– Então quer ouvir o que descobri?

– Claro.

– Eu consegui rastrear o proprietário do armazém onde Sam Mackey levou a heroína. É uma empresa fantasma, olhei nas corporações de 1999 não vai acreditar quem escreveu aqueles documentos. Caleb Brown. O defensor público de Acosta. 

Eles ainda ficaram conversando sobre a descoberta. Era a primeira pista real que tinham para conseguir chegar a Loksat. Assim que Vikram saiu da sua sala, Beckett respirou um pouco mais aliviada até ela olhar para o porta-retratos em sua mesa. Ela e Castle.

– O que foi que eu fiz? Ele saiu daqui sem uma despedida apropriada, sem ao menos um “vejo você depois” ou um aperto de mão. Castle, como eu posso consertar a burrada que fiz sem colocá-lo em perigo?

Estava cansada. Pegou suas coisas, fechou o computador, ia embora. Procurou pela chave do carro. Não estava sobre a mesa. Revirou a bolsa e foi quando o envelope apareceu. O que era aquilo? Estava endereçado em seu nome. A escrita à mão. Ela conhecia aquela letra. O coração acelerou. As pernas falharam. Sentou–se na sua cadeira de capitã. Os dedos tremiam ao abrir o envelope. Tirou a folha de papel de lá. Era uma carta. Kate respirou fundo. A data no topo da página indicava que fora escrita um dia antes de seu aniversário de casamento. Antes da discussão daquela tarde.

Criando coragem, ela começou a ler. Quase podia ouvir a voz de Castle dizendo aquelas palavras. 

“Querida Kate,

Como escritor, esse talvez seja o texto mais difícil que tentarei escrever. Primeiro porque ainda não consegui entender o motivo de ter que relembra-la da nossa história, porque você saiu pela porta sem uma explicação coerente. Segundo, porque você me forçou a aceitar a situação, mas não me consolo em simplesmente libera-la, deixa-la ir. Chega.

Por que tudo tem que ser difícil entre nós? Desde o início. Tudo acontecia. Eu fui o cara que a seguia e a irritava, o amigo, o parceiro, recebendo sorrisos e beijos de boa noite quando não me interessava. Foram incontáveis as vezes que eu me arrisquei por você. Eu morreria por você, sangraria até secar todas as vezes, tudo para ter você, te fazer minha. Eu fiz isso. E não me importo. Porque independente do que aconteça, eu volto, voltarei mil vezes.

Foi assim durante quatro anos, continuou pelos restantes. Pensei que quando você tivesse a aliança no dedo pensaria diferente. Deixaria de ser egoísta e dividiria tudo comigo. Cada problema, cada dor. Estava errado. E isso dói.

Olho para nós, agindo como estranhos em um lugar que antes nos fazia sorrir. Você e eu em lados opostos. Eu, no fundo da sala, separados por passos amargos, sem toques, sem beijos, soa até irônico dizer que a distância me faz contar os passos até você. 105. Você ainda se recorda o que esse número significa, Kate? Eu já idealizava que seriamos perfeitos desde a primeira vez que te vi. Aquelas páginas estão lá para provar isso. Eu escrevi sobre nós como se pudesse antecipar nossa jornada.

Não pude. Os percalços foram tantos. Bombas, incêndios, atentados, sequestros, inimigos. Vencemos cada um deles. Juntos. Estava acostumado a pensar como você, em sincronia apenas com o olhar. Agora, a palavra “nós” virou um tabu.  

Olhos no chão, você não é capaz de me encarar. Ou apenas se cala. Cobre sua boca com a mão e se cala deixando-me ir, simplesmente me deixa ir para evitar falar de nós. Depois de tudo? Eu nunca desisti. Você se lembra? Você me afasta, me diz nunca. Me faz esperar para sempre. Outra vez, eu não me importo. Eu voltei, eu voltarei mil vezes.

Não queria te dizer não, nada poderia ser pior do que o risco de perder o que eu não tenho agora. Você. Não tenho você. Não tenho seu sorriso, seu olhar, seus beijos. Seu corpo contra meu corpo. Nada.

Essas palavras em uma página carregam a dor ao invés de liberta-la. Infelizmente, estar longe de você apenas quebra meu coração a cada minuto. Não me importo. Você pode me fazer esperar para sempre. Não me importo porque isso é amar. Incondicionalmente. O amor é uma jaula e não quero me libertar. Eu continuarei te amando, cada dia. Queria poder dizer como é simples, voltar, pelo menos para mim. Voltaria mil vezes porque eu te amo. Acredito no casamento. Em confiar e se abrir com o outro. Casamento é precisar, ajudar. Mesmo machucado eu sei que ainda há esperança. Um ano de casados. Tudo o que queria era minha esposa de volta.

E quanto a você, Kate? Voltaria mil vezes ou me faria esperar para sempre? Vai continuar me afastando e dizer nunca?

Até quando terei que provar que estou do seu lado e te amo?

Faria qualquer coisa por você. Qualquer coisa.

Apenas entenda, dois é melhor que um. Não jogue tudo fora.

Eu te amo com todo o meu coração.

Always.

Rick Castle”


Ela já estava chorando desde a primeira linha da carta. Ouvir as palavras de Castle naquela tarde doera, mas ler esse depoimento era ainda pior. Muito pior. Essa era a dimensão do sofrimento que ela causara, a dor que o submetera. Pensando que o protegia, ela o feria. Como poderia conviver com essa culpa? Nunca quisera fazer mal a ele. E agora, ela arrasara com seu coração.

Não podia deixar isso continuar. Eles não eram dois estranhos. Eles eram casados. Se amam. Castle tinha razão. Era sua culpa. Era sua vez de consertar o erro que cometera. Não podia ser tarde demais.


Loft de Castle


Castle estava sentado com um copo de whisky nas mãos. Lucy a sua frente. Tornara-se patético. Conversando com uma máquina tentando entender a cabeça de sua esposa. Lidando com a dor de estar longe, de se sentir colocado de escanteio. Como se não fosse confiável. Era um inferno ficar sem Kate.

– Pensei que você tivesse dito que mentir era errado.

– Eu disse. E é, mas...ela achou que estava me protegendo.

– Isso significa que poderia perdoa-la?

– Não sei, talvez – a quem ele queria enganar? Era louco por ela.

– Não me entenda mal, Rick, mas você não está fazendo nenhum sentido.

– É porque eu estou apaixonado. Mas você não entenderia isso.

– Então por que você está conversando comigo a respeito disso?

– Touché – sim, patético. Era sua própria conclusão. Batidas na porta. Ele foi atende-la. Kate Beckett simplesmente entrara sem pedir licença, foi logo falando.

– Você está certo.

– Está bem.

– Tudo o que disse você estava totalmente certo – ela tirou o casaco, estava nervosa e se movimentar escondia o que realmente se passava com ela.

– Pode ser mais especifica? – ela o encarou.

– Que nosso término poderia ter sido uma fachada para que pudéssemos acabar com LokSat juntos.

– Sim, poderia ter me procurado.

– Eu estou aqui agora... façamos isso – ele olhou intrigado para Kate.

– Não é tão fácil assim.

– Achei que você fosse...

– Aceitar você de volta depois de tudo que me fez passar? – ela evitou os olhos dele por um momento. Sabia que ele tinha todo o direito de agir daquela maneira.

– Castle, eu sinto muito. Odeio ter te machucado. Nunca quis isso – ela se aproximou dele. O semblante sério, Castle não ia ceder como ela imaginara.

– Mas me machucou, Kate. E o pior é que você perdeu a fé em mim.

– Não, eu nunca... preciso de você, Rick. Não vi o quanto eu precisava de você até isso tudo acontecer. Por favor, não me force a fazer isso sem você – o silêncio pairou no ar. Ela o fitava ansiosa. As mãos entrelaçadas, inquietas.

– Por que agora, Kate? Por que eu a confrontei? Apenas porque eu descobri o que estava fazendo. Reconhece que eu posso tanto ou mais que você rastrear e investigar Loksat. Foi por isso que veio pedir minha ajuda? É para isso que me quer ao seu lado?

– Não! Como você pode pensar assim de mim?

– Você me deu evidências demais nos últimos tempos. Você saiu pela aquela porta sem uma explicação, dizendo que me amava e que iria para sempre, mas queria um tempo. E eu não a pressionei – deu um sorriso sarcástico – Olha onde isso nos levou?

Criou coragem para tentar traze-lo para ela novamente, ela precisava convence-lo de que não estava ali para usá-lo como um recurso, um acessório. Estava ali por amor.

– Eu não me eximo da culpa. Do que fiz. Não quero você ao meu lado porque tem recursos ou dinheiro. Isso não é importante. Quero você ao meu lado porque preciso do meu parceiro. Da sua inteligência e da maneira como funcionamos juntos. Tenho dificuldade em assimilar algumas particularidades dessa palavra. Juntos. Talvez porque nunca a usei ou compreendia-la tão bem quanto você. Nunca a considerei antes de estar com você.  

Ela respirou fundo antes de continuar. Castle continuava sério. Fitando-a. 

– Eu vi a carta. Aquilo partiu meu coração. Como pude errar tanto? Eu senti medo. Perguntei a mim mesma o que foi que fiz. Aquele não é o Castle por quem eu me apaixonei. Mesmo dizendo que me ama, ele está machucado, com dor e amargo. Quero meu Castle de volta. Aquele que me fazia rir com suas piadas, tentava me convencer de suas teorias malucas, o escritor que se apaixonou pela musa. O meu marido com os beijos mais deliciosos, com o toque delicado, o abraço envolvente. Quero o homem que me traz café todos os dias em troca de um sorriso. Por esse Rick Castle, eu volto. Uma, duas, mil vezes. Eu morreria por você, Rick... – ela chorava – e morreria sem você. Já passei por um inferno quando perdi você, não quero isso de novo. Não precisa provar nada para mim. Apenas me aceite de volta.

Ele olhava para a mulher a sua frente. O rosto marcado pelas lágrimas. A ansiedade em sua linguagem corporal. E medo, de ser rejeitada. De ter estragado tudo... ele deu mais um passo na direção dela. Definitivamente, ela não era boa nisso, em relacionamentos.

– Ok, terminou? – ela o encarava. Em sua mente estava claro. Era o fim. Ele iria expulsa-la da sua vida. Não, era Castle, ele a amava. Confusão e desespero. Era quase como se tivesse voltado no tempo para aquele mesmo dia de tempestade onde tudo o que queria era ela. Castle – eu consigo entender o que você está pensando nesse momento. Está imaginando que vou dizer para ir embora, que não a aceito de volta. Porque mesmo sabendo do meu amor, você ainda tem medo, é insegura, tudo por culpa de sua neurose.

– Castle, eu...

– Tudo bem. Não a recrimino por isso. Você foi moldada por medo, por vingança e justiça. Confiar é difícil. Eu levei quatro anos para entende-la completamente e ainda sou surpreendido por atitudes suas. Se você leu a carta, sabe a minha resposta, Kate. Não duvide de minhas palavras - ele tomou-a em um beijo. Assim que se afastou, ela abriu o sorriso entre lágrimas e avançou para um novo beijo. O coração batia acelerado – mas você sabe que antes eu vou ter que te punir um pouco, não é?

– Punição sem roupa? – ela já mordiscava os lábios.

– Totalmente sem – ele tornou a beija-la. O sorriso de Kate despontara no rosto enquanto Castle a puxava para o quarto. Nosso quarto, ela pensou.

De frente um para o outro, ele contemplava a esposa. Fora ela quem tomara a iniciativa. Tirara sua blusa. Depois desabotoava a camisa de Castle. Seguiu para as calças. No chão, a trilha de peças. Nus. A comunicação foi feita pelo olhar. Não havia necessidade de palavras. Eram apenas os dois, seus gestos, seus sentimentos.

Ele deitou-a cuidadosamente no colchão. Retomando os beijos de onde pararam. Não eram dois estranhos. Eram eles. Apaixonados, cheios de desejo. O corpo dela era o seu próprio parque de diversões. Sua boca viajava pelas curvas, sentindo o calor da pele, a maciez e o cheiro delicioso. O cheiro de Kate Beckett.

Ele estava prestes a penetra-la quando Kate segurou seu rosto com as duas mãos. Queria fitar os olhos azuis, sorriu. Beijou cada bochecha, o nariz, o queixo e mordiscou os lábios. Era seu Castle. Ele estava de volta. Na verdade, nunca desaparecera. E ela estava feliz por isso.

– Meu Castle... você nunca me deixou... nunca e eu te amo por isso. Por ser você - Então o beijou sentindo Castle a invadi-la completamente. Juntos. Funcionavam muito bem juntos, na cama e fora dela. Esse foi o último pensamento de Kate antes de sentir a explosão que a dominara. Ele veio com ela.

Minutos se passaram até que eles falassem algo. Kate estava aninhada com as costas no peito dele. Sentira falta do calor daquele corpo. Muito. Ainda tinham alguns pontos a acertarem.

– Castle... está dormindo?

– Não... – cheirou o cabelo dela, o pescoço.

– Nós ainda precisamos conversar sobre o nosso disfarce...

– Depois, estamos reprisando o nosso aniversario de casamento. Teremos tempo para as coisas não importantes da vida.

– Castle, em outra vida nós agiríamos diferente? Se não nos conhecêssemos a tanto tempo? Em outra vida eu o deixaria ir?

– Na outra vida, mesmo não me conhecendo apropriadamente, apenas pelos meus livros de Storm, você não me deixou, Kate. Você acreditou em mim. E eu morri por você. Foi o sonho que eu vivi, a razão porque pedi que se casasse comigo de uma hora para outra.

– Em outras palavras... estamos ligados por várias vidas?

– Eu acredito nisso. Você não?

– Tem uma coisa que acredito... eu sempre voltarei, cedo ou tarde, mil vezes. Não me importo. E tem mais uma coisa. 105. Eu realmente gostaria de repetir o que foi de Nikki e Rook com você.

– Hum, 105 um número sugestivo. Isso é um convite, Capitã Beckett?

– Uma intimação, e Rick? Podemos fazer mais que mil vezes... não será suficiente para expressar o que sinto por você. 

– Não me importo de tentar... – ele a beijou deslizando as mãos para o centro das pernas dela. Era hora do bis do seu aniversário de casamento.   

Juntos, novamente. Era a única certeza que tinha. Não importava as brigas, os desentendimentos. Voltariam mil vezes. Sempre que precisassem. Por amor.  



THE END

Um comentário:

CYBERBULLYING NÃO disse...

Realmente esse era o diálogo que gostaríamos de ter visto na série, excelente fic.