Nota da Autora: Atendendo a pedidos, esse capitulo além de ter um dos meus episódios favoritos da S4, aborda uma ótima conversa de Dana e Kate que irá perdurar nos proximos capítulos. Espero que gostem e lembrando que com essa postagem, vou precisar de um tempinho pra ONO....Enjoy!
Cap.53
Dias se passaram e a vida continuava sob
controle. Beckett ia as sessões de terapia, escrevia em seu caderno azul,
resolvia casos com seus detetives e com seu parceiro. Aliás, desde quando ela
se abrira para Castle quanto a PTSD, a dinâmica entre eles mudou. Não sabia
explicar ao certo. Eles continuavam parceiros, dividindo as atenções nas
investigações e também compartilhando momentos juntos. A tal parceria com
benefícios parecia ter alcançado um outro nível. Além dos cafés diários, dos
jantares, da última aventura das algemas, Beckett sentia que o laço entre eles
estava mais apertado. Pequenos gestos, palavras. Ela mesma não sabia explicar
ao certo o que mudara. Por isso, levou sua preocupação até Dana.
Naquela tarde no consultório da terapeuta,
Beckett parecia um pouco aflita. As mãos contorciam-se incapazes de ficarem
quietas. Ela mordiscava a boca e seus olhos pareciam ter encontrado algo muito
interessante para observar pela janela. Dana sabia que algo perturbava a mente
da detetive, sendo assim, cutucou.
- Certo, Kate. Você já está no meu
consultório por vinte minutos e não disse sequer uma palavra depois que nos
cumprimentamos. O que está acontecendo? E nem adiante vir com o velho “nada” ou
“estou bem” porque não sou qualquer pessoa e conheço muito bem sua linguagem
corporal. Você está tensa, inquieta. O que a preocupa? Acredito que faz pelo
menos um mês que não te vejo assim, meio que fora do eixo.
- Eu... não sei bem como explicar.
- Então, algo definitivamente aconteceu.
Você teve outra crise de PTSD?
- Não. Faz três semanas que não tenho
nada. Nem sensações, nem sonhos. Não é isso.
- E o que é?
- Está tudo bem. E esse é o problema.
- Ok, você terá que ser mais especifica.
- A minha vida, quer dizer, está tudo bem.
Não tenho crises, o trabalho está fluindo. E minha parceria com Castle continua
bem. Está tudo certo e tudo errado. Acho que desde que contei sobre a PTSD e
agradeci a ele por ter salvo minha vida, as coisas têm sido diferentes.
- Diferente para bom ou ruim?
- Eu não sei! As vezes acho que é para
melhor, mas... nossa relação, nossa parceria. Ela parece ter mudado. Estamos
bem. Ultimamente parece que estamos saindo mais, curtindo mais, estamos mais
juntos.
- E isso é um problema por que?
- Você não consegue ver? Dana, e se eu
tiver me deixando levar por essa tal de parceria com benefícios além do que
poderia? Se tiver contribuindo para um outro nível de intimidade que não esteja
pronta para encarar ainda? Eu sei que você vai dizer que isso pode ser encarado
como uma evolução em meu relacionamento com Castle. Posso até ouvi-la dizendo
“Kate, isso é natural, você é apaixonada por ele”. Só que não é para acontecer
agora. Eu ainda tenho problemas a resolver. Não estou pronta para entrar de
cabeça em um relacionamento e muito menos dizer a Castle que sei que ele me
ama. Não, definitivamente não estou pronta – ela passou a mão nos cabelos em
sinal de nervosismo.
- Certo, gostei da sua interpretação de
mim mesma. Minha resposta a isso poderia ser de concordância, porém, eu prefiro
perguntar. Por que você está trazendo esse assunto à tona nesse momento?
- Dana, e se essa parceria for um erro? Se
isso apenas estiver servindo de tapa buraco para algo maior ou mesmo para
evitar que eu sabote meu tratamento? Eu não sei se deveria seguir adiante com
isso...
- Kate, sabe quantos “se´s” você usou nos
últimos minutos? Quatro evidentes e um implícito! O que significa que você está
rodeando, rodeando e não dizendo o que realmente está se passando na sua
cabeça. Você não pode basear sua terapia, seu tratamento em suposições. Tudo é
uma questão de objetivo. Você diz que quer ficar bem, fazer o tratamento porque
sua meta final é ser mais do que é, superar o seu passado e abraçar seu futuro,
que nesse caso é o seu relacionamento com Castle. Foi para isso que nós duas
concordamos em nos reunir duas vezes por semana. Para leva-la ao seu objetivo.
Ao invés de ficar me dando desculpas através de suposições, por que não me diz
o que está de fato te incomodando? E não fale da sua mãe, não é o seu passado
que está te deixando aflita.
Kate fitou a terapeuta por um longo
período de silêncio. Odiava o fato dela a ler tão facilmente.
- Tudo bem. Nós estamos ultrapassando os
limites. Eu e Castle. Estamos domésticos demais. Isso não era para acontecer. Eu
fazendo jantar para ele. Castle me deixando recadinhos além do café. Encontros
e sedução. Da última vez, eu sugeri uma ideia para transarmos e acabamos
enrolados como no caso, mas de uma forma boa. Dana, nós roubamos comida um do
prato do outro! Isso está errado!
- Estaria errado se vocês não se
permitissem. Alguma das partes reclamou?
- Não, mas esse não é o ponto. Você está
querendo tirar por menos, o ponto é... droga! Eu não sei qual é o ponto, perdi
meu argumento – dessa vez, Dana não conseguiu manter a pose de terapeuta e
desatou a rir.
- Hey! Por que está rindo? Isso não é
engraçado! Temos um problema sério aqui, você é minha terapeuta deveria me
ajudar e não zoar na minha cara.
- Não estou zoando. Foi apenas engraçado.
Só por curiosidade antes de continuar, o que exatamente você propôs para
Castle? Algum joguinho de sedução? Fantasia?
- Não é da sua conta – Beckett fechou a
cara visivelmente chateada com a terapeuta.
- Relaxa, Kate. Você quer ouvir minha
explicação para o que está acontecendo? Puxa! Eu estou muito satisfeita. Essa
sua declaração de que você e Castle estão ficando muito domésticos, nada mais é
do que o reflexo do seu tratamento. A terapia está funcionando. Olha para você!
Kate Beckett está se permitindo desfrutar de bons momentos na vida. Isso é
progresso. Instintivamente, inconscientemente você deixou uma pequena brecha e
Castle vem se aproveitando, vem se aproximando. E sabe o que é mais
interessante, Kate? Você se deixou levar. Se abriu para a possibilidade.
- Você está me confundindo. Não jogue seus
truques em mim, Dana!
- Não! – ela riu – não se trata de truque,
estou dizendo para você que nosso tempo juntas tem valido a pena. Quer saber
quem está confusa? A velha Beckett. Aquela que teima em viver no passado,
angustiada atrás do algoz de sua mãe. A Kate que vê o medo e os muros como
proteção, resistência. É ela quem está poluindo sua mente e fazendo você se
questionar sobre o que vem melhorando na sua vida. Na verdade, não esperava que
fosse diferente. Sabia que isso ia acontecer em algum momento. É natural. A
questão aqui é como você decidira prosseguir.
- Velha Beckett? Como assim? Eu continuo a
mesma, com meus problemas, esses mesmos que você citou.
- Não, você está evoluindo, mas parte de
quem você foi por quinze anos ainda está viva. E você não irá perde-la. Deve
encontra o caminho de sobrepô-la, tornar-se maior do que seu antigo eu. Você
gosta dessa nova Kate, a que tem o lado doméstico?
- É, acho que sim.
- Você quer que ela continue a evoluir a
ponto de derrubar todos os muros?
Kate fitava a terapeuta. Soltou um longo
suspiro.
- Sim, eu quero.
- Então, continue. O que quer que esteja
fazendo com Castle, continue. Porque, no fundo, isso está fazendo muito bem a
você. E não se iluda, a velha Kate ainda não vai te abandonar. E tudo bem,
porque eu também reconheço que não acabamos. Dúvidas irão surgir. Da próxima
vez que ela a abordar, tente enxergar a situação sob outra perspectiva. Isso
irá ajuda-la sobre que direção tomar.
- Tudo bem, Dana. Vou ter que lidar com
isso – Kate se levantou do sofá, pronta para ir embora – obrigada, Dana. Nos
vemos na quinta?
- Você não vai mesmo me contar o que você
e Castle aprontaram?
- A curiosidade matou o gato, Dana.
- Droga! – Kate riu ao deixar o
escritório. Era uma pequena vingança pelas vezes que a terapeuta e amiga a
deixara inquieta.
Duas semanas depois...
Beckett chegara cedo ao distrito. Nem bem
tivera tempo de sentar em sua mesa, o celular tocou. Lanie. Tinham um novo
assassinato. Ao receber as orientações de onde era a cena do crime, já
imaginava que Castle ia adorar esse lugar, isso se não soubesse historias por trás
dele. Ela desligou e acionou seu nome na lista de favoritos.
- Detetive Beckett... que bom ouvir sua
voz as oito da manhã. Saudades?
- Não. Temos um caso. Está a fim de
investigar ou está enrolado com seu livro?
- Você sabe que troco qualquer coisa por
uma cena de crime ao seu lado...
- Certo, passo aí em quinze minutos.
Eles chegaram a cena do crime com Castle
já animado. Pudera! O local era um clássico dos anos 40, época dos gangsters e
mafiosos. Pennybaker Club.
- Wow! O Pennybaker Club, nos anos 40
todos os poderosos jogavam aqui. se essas paredes pudessem falar, imaginem o
que diriam.
- É, mas a única história que precisamos
ouvir é sobre... – Beckett esperou Lanie dar as informações da vítima. Stan
Banks. Ferimento a bala. Tentou se defender sem sucesso. Não era um assalto,
porem alguém revirou o corpo em busca de algo. Apesar de ser morador da cidade
tinha uma chave de quarto de hotel. Ao conversar com a ex-mulher dele,
descobriram que Stan começou a ficar obcecado por tesouros antigos. Primeiro um
dobrão, uma moeda rara espanhola. Ficou pior depois que ele assistiu um
documentário sobre Clyde Belasco, o caçador de tesouros. Obviamente, Castle
sabia de quem ela estava falando. Stan tornou-se um também. Desistiu da
carreira para buscar tesouros. Da última vez que se falaram, comentara o quão
perto estava de achar a borboleta azul que ela não tinha ideia do que fosse.
Estava com problemas financeiros e um cara
ligou para a ex-mulher falando que devia dez mil dólares e que se não pagasse, haveria
consequências.
Vasculhando as coisas de Stan, não havia
nada que os levasse a uma próxima pista. Castle procurava por referências a tal
borboleta azul, não encontrando nenhuma. Muitos livros sobre gangsteres e os
anos 40. Beckett, por outro lado, rastreou o telefone e conseguiu o número da
pessoa que ameaçou Stan. Ryan foi checar.
Castle tinha uma espécie de diário nas
mãos. Ria enquanto lia. Parecia estar se divertindo. Beckett olhou para ele sem
entender.
- Esse diário nas coisas do Stan também é
dos anos 40. Parece de um detetive particular. Ouça isso: “Geralmente as
esposas começam a chorar quando veem fotos da traição de seus maridos. Mas não
essa dama. Ela queria vingança. O que é pior: ter um caso com uma cliente ou
depois cobra-la pelos seus serviços prestados? ” – sim, Castle estava
fascinado. Ela sorriu.
- Fofo.
- Fofo? Esse cara parece um detetive durão
saído de um dos romances de Raymond Chandler. Onde será que Stan conseguiu
isso? – Beckett não parecia tão interessada e continuava escrevendo seus
pensamentos sobre o caso. Castle aproveitou o descaso dela para pedir um favor
– Beckett, se importa se eu levar isso comigo para casa essa noite? Pode ter a
chave do que Stan procurava.
- Você só quer ler porque acha legal.
- Isso também.
- Certo, contanto que... – quando levantou
a cabeça ele já estava há metros dela indo no rumo do elevador, incrível! –
traga-o de volta na manhã... – ela praticamente sussurrou – garotos serão
garotos...
Naquela noite no loft, Castle serviu-se de
uma dose de whisky, sentou-se em seu escritório e deixou sua imaginação viajar
diante da incrível história daquele detetive. Na verdade, ele podia ver o
quadro claramente em sua cabeça. As imagens do conto tinham várias personagens,
nada comparado ao detetive e a bela dama que com um olhar roubara seu coração.
Castle se viu no enredo. Ele, Joe Flyn. Um detetive durão diante de um caso
trazido por Sally McQueen, uma cliente que procurava por Vera McQueen, sua irmã
que viera para Manhattan para ser uma dançarina. Vera tornara-se Beckett, a
bela dama na visão do escritor.
Quando ele a viu pela primeira vez, sabia que a foto
não lhe fazia justiça. Ela era um problema ambulante. E mesmo assim, bastou um
olhar para saber que ele se encantara por Vera. Ela estava com um dos maiores
mafiosos de Nova York. Tom Berenger. Logo, o chefão suspeitou dele fazendo seus
capangas levarem-no para vê-lo. E Joe apanhou apenas por não conseguir tirar os
olhos da garota. Jogado no fundo do bar próximos aos sacos e latas de lixo, ele
tentava se recuperar, perguntando-se se valera a pena. Então, ela apareceu. Joe
disse a si mesmo. Valeu. Ela valia cada soco. Estava preocupada com ele. “Está machucado?
” perguntou. “O que isso? Não foi nada. Você deveria ver o que o meu rosto fez
com o punho do outro cara. ” Ele ajeitou o chapéu, ela sorriu aliviada.
- Qual o seu nome, valentão?
- Isso importa, boneca? – gritaram seu nome, os
capangas chamaram por ela. Vera olhou para os dois e outra vez tornou a fitar
Joe. Foi quando ele a viu. A borboleta azul pendurada no pescoço dela. Um último
sorriso selou o encontro dos dois.
- A borboleta azul. É um colar! –
finalmente Castle saíra de seu transe.
No dia seguinte, enquanto Beckett e Ryan
discutiam evidencias reais, ele apareceu na delegacia alegando que sabia o
motivo porque Stan estava naquele bar. Não era pelas dividas como Beckett
supunha. Explicou que Stan estava atrás do colar a borboleta azul cheio de
diamantes e que vale cerca de um milhão de dólares. Mostrou a foto para
Beckett.
- De onde você tirou tudo isso?
- Do diário do PI.
- Stan caçava um tesouro.
- Exato. Fiz uma pesquisa. A borboleta
azul desapareceu nos anos 40 e há boatos de que está escondida no Pennybaker.
Se ele achou um colar de um milhão de dólares, isso é motivo para assassinato.
O colar antes pertencente a uma esposa de um nazista veio para a América e
tornou-se propriedade de Tom Dempsey, o mafioso dono do bar. O bastão verde
encontrado na cena do crime podia ser do escritório de Dempsey que de acordo
com o diário era todo decorado em verde. Também dizia-se que o mafioso mantinha
a joia em seu cofre no mesmo escritório. Beckett decide voltar com Castle a
cena do crime.
De volta ao clube, Castle conta para
Beckett a história do diário. Realmente Stan havia arrancado o bastão do
escritório, mas o cofre não tinha nada dentro, estava inutilizado há anos. Mas
Castle discordava dela.
- Esse não é o cofre secreto? – ela
perguntou após Castle afirmar isso.
- Eis um fato engraçado. As pessoas mantem
dois cofres, um fácil de encontrar, para coisas de menor valor, e outro, muito
mais difícil de se localizar, para coisas especiais como a borboleta azul.
- Castle, onde está o cofre secreto? – ela
já estava ansiosa para saber.
- Estou chegando lá. Faz cinco dias que
Joe e Vera se conhecem e estão muito apaixonados.
- Depois de cinco dias? Qual é!
- Eles não perdiam tempo nos anos 40 – por
que ela sentira que isso fora uma indireta? – na verdade, estavam tão
apaixonados que arriscaram tudo – Castle tinha agora um olhar sonhador.
- E o que isso tem a ver com o nosso cofre
secreto?
- E isso aconteceu nos bastidores – ele
viajava outra vez na história, as vezes odiava como Beckett arruinava seus
pensamentos com a logica – lá em cima. Estavam juntos, o que era perigoso
porque ela era a garota do Dempsey. Quando eles olharam nos olhos um do outro,
o coração de Kate acelerou...
- Você acabou de dizer Kate? Está se
imaginando como o detetive e eu como a amante do gangster? – ela estava
intrigada, claramente esse podia ser um dos motivos pelo qual ele estava tão
fascinado pela história além de seu interesse como escritor.
- O que? Não! – Droga! Fora pego. Tinha
que desmenti-la – e eu não disse Kate. Disse Fate. O coração do destino
acelerou. Estava sendo poético. Deus! – mas ela não acreditara em uma palavra
do que ele dizia. De costas para ele, sorria. Castle continuou – enfim, como
dizia, eles estavam prestes a se beijar quando os capangas de Dempesey
apareceram prontos para dar outra surra em Joe. Por sorte, Betsy, a cantora do
bar apareceu e deu a entender que ele era, na verdade, seu namorado. Após
livrarem-se dos capangas, Betsy virou-se para os dois. “Melhor ficar esperta,
vera. Dempsey irá te massacrar se descobrir. Ele beija bem e tudo mais, mas
caramba, essa delicia vale a pena? ”. “Ele é o creme do meu café” foi o que
Vera respondeu. Eles tentaram escapar. Joe sabia que Betsy estava certa. Então,
Vera pede para Joe fugir com ela levando o colar como garantia de dinheiro. Ela
sabia onde o cofre ficava.
Kate interrompeu a narrativa dele já
ansiosa pela nova descoberta.
- E?
- E, é isso. Foi a última anotação no
diário.
- Como assim? O que aconteceu com Joe? Com
Vera? – sim, por mais que não quisesse admitir, Beckett gostara da história.
- Não sei.
- Por que contaria uma história se você
não sabe o final? – frustrada era o mínimo para definir sua reação no momento.
- Se quer o começo, meio e fim, escrevi 27
livros que pode escolher – ele a viu grunhir e revirar os olhos.
- Certo, então onde está esse cofre
secreto? – avaliando melhor o local, Beckett suspeitou de uma estrutura de
madeira, ao remove-la encontrou o cofre aberto. Stan o encontrara e isso o
matou, a questão era quem fizera isso.
De volta a delegacia, Castle comentou que
descobriu de quem Stan comprou o diário, da neta da secretaria de Joe. E Ryan
revela algo interessante. O revolver 38 que matou Stan está ligado a um outro
crime não resolvido que teve duas vítimas em 1947.
- Sabia que havia uma conexão – disse
Castle.
- Quem eram as vítimas?
- Uma dama chamada Vera McQueen e um
detetive Joe Flyn – Castle e Beckett trocaram olhares espantados.
- Assassinados. Isso é ruim. Eu sempre
achei que os dois conseguiriam...
- É, não exatamente o fim que eu esperava
– concordou Beckett.
- Ambos foram baleados com o 38 e o carro
de Joe incendiado. O único suspeito na época foi Tom Dempsey, mas eles não
tinham evidência suficiente para condena-lo.
- Aposto que Dempsey pegou os dois fugindo
e os matou. A questão é como a arma está ligada a Stan?
- A menos que Dempsey matou Stan – sugeriu
Ryan – ele teria 90 anos mas ainda seria possível.
- Não pode ser Dempsey. Ele morreu de um
ataque cardíaco quatro meses depois que Joe e Vera foram assassinados – disse
Castle – ainda assim, nós deveríamos olhar o relatório policial de 1947. Pode
haver algo lá sobre a arma que ajudará na morte de Stan.
- Ok, irei ao armazém checar os casos
antigos – disse Ryan.
- Espere, eu quero ir – Beckett riu e
concordou. Esposito também tinha novidades. Clyde Belasco comprou todas as
armas de Dempsey em um leilão incluindo duas 38. Também voou de Paris para Nova
York uma semana antes de Stan ser morto e segundo informações, Belasco procura
pela borboleta azul a quinze anos. Hora de chama-lo ao distrito.
Depondo, Belasco confirmou a compra e
ofereceu-os para teste. Também que Stan foi procura-lo para saber informações
sobre a borboleta azul. Ele queria toda a pesquisa sobre o bar. Stan também
afirmou para ele que estava sendo seguido por um mustang branco. Alguém mais
estava interessado no colar.
Enquanto isso, Castle e Ryan reviravam a
caixa de evidências do crime de 1947. Havia a foto da cena, o carro queimado e
os corpos, muita papelada. Era como procurar agulha no palheiro. Uma declaração
da secretaria de Joe parecia bem curiosa. Castle começou a ler para Ryan e
viajar novamente em sua própria história, imaginando, obviamente ele e Beckett.
“- Olhei todas as possibilidades, boneca. Não há forma
de arrombarmos o cofre de Dempsey.
- Então, como o pegaremos?
- Fácil. Você saira com ele pela porta essa noite.
- Como? Já foi difícil despistar os capangas dele essa
manhã. Será muito mais difícil se eu estiver usando a borboleta azul.
- Será moleza. Confie em mim. Especialmente com a
ajuda de nosso amigo Jimmy Doyle.
- Quem é Jimmy Doyle? – Vera perguntou.
- Um lutador. Essa noite enfrenta Sugar Ray Robinson
pelo título de meio-médio.
- E?
- Todo homem verdadeiramente irlandês se reunirá ao
redor de um rádio, torcendo por Jimmy. Você esperará até uma parte animada da
luta e então pedirá para se retirar. O responsável por te observar mal prestará
atenção então você sairá pela porta dos fundos onde estarei esperando por você.
- Joe... – ela se aproximou do detetive sorrindo - é
perfeito – nesse momento foram interrompidos pela secretaria que afirmava que
era loucura.
- No que está pensando, Sr. Flyinn? Essa garota não é
coisa boa.
- Do que você está falando? Olhe para mim, sou um novo
homem. Um homem melhor. Não bebo desde que conheci Vera e se isso não é um
milagre, não sei o que é.
- Era melhor você com uma garrafa do que com essa ai.
E em que estão baseando esse relacionamento? Em um roubo e uma mentira?
- Que mentira?
- Acho que é hora de esclarecer as coisas, não? –
disse Joe – boneca, não foi coincidência nos encontrarmos no clube. Fui
contratado para te encontrar, mas eu não podia te dizer. É que...
- Seja direto, Joe. Quem o contratou? – Vera estava
chateada e apreensiva.
- Sua irmã.
- Joe, eu não tenho irmã. “
- O que aconteceu depois? – Ryan
perguntou.
- Eu não sei. Esse é o fim do depoimento –
disse Castle – Sally enganou o detetive. Reviravolta clássica de filme noir.
- Mas por que? O que Sally planejava? – se
perguntava Ryan claramente envolvido pelo história como Castle.
Na delegacia, Esposito recebe um chamado
do gerente do hotel informando que um homem em um mustang branco acabara de
entrar no quarto de Stan e que ainda estava lá. Beckett e ele conseguiram pegar
o cara, surpresos por encontrar uma cópia de Tom Dempsey. O neto dele.
Castle e Beckett olhavam abismado para a
semelhança. Conversando com o neto, descobriram que Stan inventou uma história
sobre escrever a biografia do avô de Dempsey sem focar nos negócios ilegais.
Ele deu acesso a Stan de todos os documentos do avô até descobrir que era uma
mentira através de outra pessoa. Ele confirmou que havia uma cantora na época
no bar do avô. Betsy Sinclair. Duas semanas atrás ela faleceu. Fui dar minhas
condolências e quem ele encontrou lá? Stan conversando com um senhor. Assim que
o viu saiu correndo. Depois, soube da morte dele pelos jornais.
Castle ainda tentou insinuar que ele
seguiu Stan e o viu encontrar a borboleta azul por isso o matou. Mas Dempsey
sequer sabia disso. E seu álibi confirmou que não matara Stan. Inconformado em
não saber da história, Castle foi até a funerária e descobriu o motivo que
levou Stan ao funeral. Encontrar Jerry Maddox, o bartender e aparentemente o
ultimo link vivo que sabia da borboleta azul. Além disso, o sem teto que
costumava ficar pelo bar estava sendo trazido ao distrito. Beckett convidou
Castle para fazer uma visita a Jerry Maddox.
Um enfermeiro abriu a porta. Ele quem
cuidava do casal de idosos. Eles ofereceram sopa que Castle prontamente
aceitou. Beckett recusou educadamente. Ao ouvir os acordes, Castle perguntou se
ouvia “I can´t give anything but love” e o senhor confirmou dizendo que
provavelmente não era sobre isso que estavam ali. Beckett tomou a frente
dizendo que investigavam o assassinato de Stan. Jerry o reconheceu. A próxima
pergunta era sobre a borboleta azul e ele confirmou que Stan fez muitas
perguntas sobre o colar. Então, Castle perguntou sobre o assassinato de Joe e
Vera. Claro que ele se lembrava, as notícias foram muitas e todos comentavam.
Dempsey atirou neles a sangue frio. Castle perguntou se ele conhecia Sally.
Jerry lembrava-se porem o ano era 46 logo que fora contratado no clube.
Então, ele contou a história. Dempsey não
estava com Vera naquela época, andava com Priscila Campbell e ela tinha uma
filha, Sally. Logo após Vera chamar a atenção de Dempsey, ele as abandonou,
ficaram na sarjeta. Disseram que era a maldição da borboleta azul. Priscila se
matou com remédios.
- Sally culpava Vera pela morte da mãe
então ela conspirou contra Vera. De algum modo, ela usou o detetive para fazer
isso. Ela deve ter armado para eles.
- Mas como isso nos ajuda a descobrir quem
atirou em Stan? – perguntou Beckett.
De volta ao distrito, souberam que o sem
teto reconheceu Clyde Belasco afirmando que ele o pagara 400 dólares para que o
deixasse ficar no bar. Trazido para novo interrogatório Belasco revelou que
estava lá quando Stan morreu, mas que não fora ele quem o matara. Ele se
escondeu. Sua ideia era lhe dar um susto e pegar seu prêmio, o colar. Quando
Stan retornou do escritório, ele segurava a joia. Então, alguém colocou um lenço
em seu rosto com clorofórmio e ele apagou. Ao acordar, Stan estava morto e nem
sinal da borboleta azul.
Infelizmente, o caso era circunstancial
sem uma confissão. Beckett esperava que conseguisse um mandado para a casa de
Belasco. Enquanto isso, Castle desfazia o quadro de evidências visivelmente
decepcionado com o fim da história. Ele queria que através de Stan descobrissem
o que aconteceu com Joe e Vera. Beckett retrucou que já sabiam que Dempsey os
matara.
- Essa é a versão óbvia. E Sally? Qual a
parte dela nisso e por que contrataria Joe?
- Acho que nunca saberemos.
- Não, algo mais estava acontecendo. Algo
que não percebemos. Usando sapatos Salomé e uma roupa caipira, aquela ruiva era
um passarinho recém-saído do ninho.
- Espera, o que você disse?
- Foi como Joe a descreveu no diário dele.
- Não, a parte sobre os sapatos?
- Salomé. É quando a fivela vem... – mas
Beckett o interrompeu falando algo ao telefone e desligando. Ela acabara de ter
um insight. Pegando uma foto, ela se dirigiu a Castle.
- Certo, dê uma olhada nessa foto. Há um
sapato perto do carro. E olha qual o tipo de sapato.
- É um Salomé? Você não acha...
- Se a Vera estava no clube aquela noite
estaria usando um vestido elegante e...
- E saltos – completou Castle – essa não é
a Vera. É Sally.
- Mas não pode ser Sally, o bartender
disse que a viu meses após os assassinatos. A menos que...
- Ele mentiu! – disseram os dois em
sincronia.
- Mas isso acabou a meio século atrás. Por
que mentiria?
- Beckett, eu acabei de perceber algo... –
ela olhava para ele concentrada.
- I can´t give you anything but love…
- O que? – por um momento, ela se sentiu
muito confusa. Estava falando com ela?
- Era o que tocava quando entrevistamos o
garçom.
- Certo, certo – se recuperando do pequeno
arrepio que sentira com as palavras dele – ele disse que essa era a melhor
versão da música.
- Era a versão de Louis Armstrong. No
diário, Joe diz que seu artista favorito é Satchmo. Qual o real nome de
Satchmo?
- Louis Armstrong.
- Juntando tudo... a resposta é clara.
Batidas na porta. Assim que a senhora
abre, sorri.
- Olá, novamente – ao ver Castle e
Beckett.
- Olá, Vera – disse Beckett.
- E olá, Joe – completou Castle quando o
ex-detetive apareceu ao lado da mulher. Claro que foram convidados a entrar.
Beckett começou perguntando.
- O que aconteceu? Stan descobriu a
verdade? Que vocês mataram duas pessoas para fugir com a borboleta azul? Então
você o atraiu até o bar e atirou nele?
- Moça, você entendeu errado. Stan me
encurralou no funeral da Betsy querendo saber como a conhecia. Então menti e
disse que era bartender.
- Stan era esperto demais. Ele nos
descobriu. Ele veio aqui querendo saber onde a Borboleta Azul estava – disse
Vera – ele ameaçou nos expor.
- Como um cachorro atrás do osso. Então
dissemos o que ele tinha que saber. Contamos onde estava. Mas não o matamos.
- Vamos lá, pessoal. Sabemos que foram
vocês. Usaram a mesma arma dos assassinatos de 1947.
- Mesma arma? – disse Vera – guardamos
aquela arma...
- Na gaveta do armário chinês – completou
Joe ao ver o enfermeiro rapidamente correr até lá. Obviamente, Beckett era bem
mais rápida e sacou sua arma.
- Nem pense nisso – disse apontando para
ele. O enfermeiro era na verdade filho da senhora que vendeu o diário a Stan. Ele
se candidatara ao emprego para descobrir mais sobre a joia, quando Stan soube
de mais informação que ele, decidiu armar uma emboscada e pegar o colar. Usando
clorofórmio. Exceto que fora Belasco quem desmaiou. Ele acabou lutando com Stan
pela arma e atirando. Beckett levou-o para a delegacia. Após ficha-lo, ela
mandou revistarem o apartamento dele.
Castle estava desmontando o quadro de
evidencia quando ela se aproximou.
- Castle, olha o que encontramos no
apartamento de Francis – ela mostrou o colar com a borboleta azul.
- Oh, meu Deus... – ele a pegou nas mãos –
é linda!
- É falsa.
- O que?
- Confirmamos com um avaliador. É uma
bijuteria bem trabalhada.
- Todo esse tempo e é uma réplica? Isso
é... talvez uma reviravolta em uma reviravolta. Talvez a real tenha sido trocada
por essa há anos.
- Seja o que for, isso não muda o fato de
que ainda temos mais um caso para solucionar – disse Beckett. Eles voltaram no
apartamento de Vera e Joe.
- Então agora que sabemos que Frankie
matou Stan, ainda há duas mortes que precisam ser resolvidas. Sally Campbell e
seja quem for que colocaram naquele carro.
- É hora de vocês esclarecerem o que
aconteceu no dia 24 de junho de 1947. Na noite em que vocês desapareceram –
disse Castle. Vera contou o que de fato ocorrera, ela conseguiu escapar dos
capangas de Dempsey para encontrar com Joe que já esperava com o seu carro do
lado de fora do bar. Porém, Sally e o marido os encurralaram. Sally tinha uma
arma, a 38, queria vingança. Ela apontou a arma para Vera, mas o marido disse
que ia pegar a joia. Nesse instante, Joe o segurou para impedi-lo e Sally
acabou errando a mira e atirando no próprio marido. Foi quando Vera tentou
tirar a arma das mãos dela, as duas lutaram e o tiro foi disparado
acidentalmente. Sally estava morta. Joe tinha um plano. Colocou os dois corpos
no carro e jogou gasolina nele, queimando-os. Preocupada, Vera perguntou se
iriam prende-los. Castle e Beckett trocaram um olhar.
- Por que eu faria isso? Me pareceu
autodefesa. Além disso, a mulher que procuramos chama-se Vera, não Viola. E um
detetive chamado Joe, não um ex-bartender chamado Jerry.
- Não sabemos como lhe agradecer.
- Eu sei – disse Castle – respondam duas
perguntas. Primeira se tinham a Borboleta Azul, por que não a levaram? Segunda
onde ela esteve todo esse tempo?
- Estávamos livres até essa boneca aqui
ter uma epifania. Ela concluiu que a joia era amaldiçoada. Eu a escondi em um
tijolo falso do Pennybaker.
- Amaldiçoada ou não, nunca pensaram em
pega-la? – perguntou Beckett.
- Eles não entendem, Joe – eles sorriam
olhando um para o outro.
- Nós temos quatro filhos, sete netos,
dois bisnetos... e um ao outro. Por que precisaríamos de uma Borboleta Azul? –
Beckett sorriu diante da declaração. Eles se despediram e deixaram o
apartamento.
- Acha que deveríamos contar a Joe e Vera
sobre a Borboleta Azul? – perguntou Beckett.
- Não. Por que estragar tudo para eles? Os
sonhos são feitos dessas coisas – eles entraram no elevador. Em sua mente,
calado, Castle imaginava o final perfeito para aquela história em 1947. Vera e
Joe olhavam uma para o outro. Ao fundo, o carro em chamas escondia a evidência
de um crime e a prova de um amor. Joe segura a amada pela cintura puxando-a
para perto. “Diga que me ama, Joe” foram as palavras de Vera, a imagem de Kate
elegantemente vestida surgia claramente em sua cabeça. A resposta dele como o
próprio Joe, foi única “Always”. E eles trocaram um beijo apaixonado antes de
sumir no mundo.
O elevador já chegara ao térreo. Beckett
notara a cara de bobo de seu parceiro. Parecia estar em outro planeta.
- Terra para Castle... hey! – ele a fitou
– no que estava pensando?
- Nesse caso, no clima de filme noir. Sabe
qual a melhor maneira de encerra-lo? Com uma rodada de bebidas no Old Haunt. O
que me diz, Beckett? Posso te pagar uma bebida? – ela ponderou o convite, tinha
um relatório para concluir. Ah, tudo bem. Ninguém morreria se ela deixasse a
papelada para amanhã, afinal os rapazes já estavam adiantando tudo.
- Tudo bem, Castle. Em homenagem a Vera e
Joe.
The Old Haunt
Castle e Beckett chegaram no bar por volta
das sete da noite. Era uma quinta-feira, apesar de ser um dia que geralmente as
pessoas começam a pensar no fim de semana, o ambiente estava calmo. Ele
escolheu uma mesa próximo ao piano. Cumprimentou Eddy como sempre fazia e
sentaram-se um ao lado do outro. O garçom se aproximou e ele pediu duas doses
de Jameson.
- Quer comer alguma coisa, Beckett?
- Uns nachos não iam ser de todo ruim.
- Mande preparar uma porção de nachos com
queijo, sour cream e guacamole. Obrigado – ao voltar com os copos da bebida, o
rapaz trouxe também um potinho de amendoim. Assim que se afastou, Castle pegou
o copo nas mãos e preparou-se para fazer um brinde – a mais um caso concluído,
aos grandes detetives de antigamente e de hoje.
- Pensei que ia brindar ao mistério da
Borboleta Azul... – ela sorriu brindando com ele e virando de uma vez o copo
com a bebida. Castle fez o mesmo e sinalizou o garçom para repor o shot.
- Sim, a joia, o mistério. Tornam esse
caso intrigante. Adoro essa atmosfera antiga, os anos 40, aqueles diários. Não
foi à toa que comprei esse bar, Beckett.
- Você realmente gostou desse caso. É o
tipo de assunto que combina com você, Castle. E admito que a história de Vera e
Joe é muito interessante.
- É um verdadeiro filme noir – sorriu
lembrando-se das imagens que formara dele e de Beckett em sua mente – falando
nisso, Eddy, tenho uma solicitação. Pode tocar “I can´t give you
anything but love”?
- Com prazer! – os acordes da canção
começaram a serem dedilhados no piano. Ela sorriu. Tipico de Castle. Ele sempre
se envolvia demais com certos casos. Mas ela também desenvolvera um carinho
especial por esse mistério em questão. Afinal, era uma história de amor por
fim. Eles tomaram duas outras doses de Jameson, saboreavam os nachos e quando a
música terminou, ele estava pensativo.
- Hey! Terra para Castle. Você ainda está
pensando sobre a joia, o fato dela ser falsa?
- Também, você tem que concordar comigo
que seria bem mais interessante para a história que ela realmente valesse um milhão
de dólares. Na verdade, eu estava lembrado das palavras de Joe e Vera. Quando
eles disseram que não entendíamos. O fato é que eu compreendo muito bem o que
eles quiseram dizer. Nenhuma joia ou dinheiro é mais valioso que a nossa
história, o que construímos durante nossa vida. No caso deles, uma família
feliz, satisfação e amor. Ainda tem um ao outro depois de todos esses anos.
Queria um dia ser tão afortunado assim. Espero contar a história da minha vida
nesse estilo um dia – ao falar isso, ele olhava intensamente para Beckett. Ela
ficou embaraçada, remexeu-se na cadeira. Prendeu a respiração por alguns
segundos voltando a respirar após um longo suspiro. Disfarçando, ela
questionou.
- Que tal outra rodada?
- Não, chega de Jameson. Tem uma coisa que
quero te mostrar. Está no escritório. Me acompanha? – ele não esperou resposta
assumindo que estava implícita no silêncio dela. Eles seguiram até o corredor
que levava ao escritório. Desceram as escadas. O lugar não mudara muito desde a
última vez que ela estivera ali. Castle dera seu toque pessoal, colocara algum
de seus livros espalhados, porém a essência de um lugar dos anos 20, 30 estava
presente.
- Você não mudou muito isso aqui...
- Não, quis que continuasse o mais fiel
possível ao seu tempo – indo até uma das prateleiras da estante, ele começou a
remover alguns livros. Depois tirou uma espécie de fundo falso e da suposta
parede, pegou uma garrafa de whisky. Não qualquer whisky. A mesma garrafa
vermelha que servira de evidência quando investigaram o caso.
- Castle, como você tem uma garrafa
dessas? Montgomery lhe deu apenas uma e nós a terminamos naquele dia no bar.
- Uma semana depois que a NYPD fez a limpa
e concluiu seu trabalho no bar, eu pude finalmente fazer o reconhecimento da
minha nova propriedade. Eu estava bisbilhotando o escritório, a estante, quando
me deparei com esse esconderijo. Parece que nosso amigo não colocava seus ovos
em um cesto somente. Atrás da parede falsa, eu encontrei mais cinco garrafas do
mesmo whisky.
- Imagino sua festa ao descobrir esse
pequeno segredo. E quantas garrafas você tem agora?
- Quatro. Eu bebi apenas uma. Logo após
seu atentado, quando você me pediu para me afastar. Naquele dia, eu voltei ao
meu loft e bebi muito whisky. Não era suficiente para dissipar a raiva e a
frustração que eu estava sentindo. Então, eu me lembrei desse whisky. Vim até
aqui, me sentei nessa mesa e bebi metade de uma garrafa. Eu fui para casa
completamente acabado. No dia seguinte, eu retornei ao pub, terminei a outra
metade. Foi quando me dei conta do desperdício que estava fazendo. Aquela
bebida era muito valiosa para eu desperdiçar com algo tão triste. Fiz uma
promessa para mim mesmo. Apenas voltaria a bebe-lo em uma ocasião especial.
Como hoje. Não foi apenas o caso que foi especial. É sobre tudo o que passamos
nos últimos meses. No dia em que me contou sobre a PTSD, a forma como confiou
em mim e está se tratando. Isso merece um shot desse whisky especial, Kate. Eu
queria fazer isso desde aquele dia em que me contou. Aceita uma dose?
- Aceito. Apesar de não considerar minha
PTSD algo tão especial...
- Não é a PTSD em si, é o que ela
representou. Aquela crise, ela quase a matou, Beckett. Você sabe disso. Não
fazia muito tempo que havia escapado de algo difícil. Isso a torna especial.
Assim como tudo o que Joe e Vera conquistaram em suas vidas – ele serviu os
copos, entregou um deles para ela e ergueu o seu no ar.
- Qual será o brinde dessa vez? – ela
perguntou.
- Aos momentos especiais e a parceria. Ela
nos representa e nos molda a cada dia.
- Certo, a parceria. E a uma boa história,
escritor. Saúde! – eles beberam a dose e Castle serviu mais uma. Após
terminarem, ele guardou a garrafa para uma próxima vez. Arrumou os livros no
lugar e ao virar-se, encontrou Beckett sentada em sua escrivaninha. As pernas
cruzadas e tinha um chapéu no estilo de gangster como antigamente. Era um dos
objetos da decoração. Sorria. Castle se aproximou dela. Beckett colocou o
chapéu sobre sua cabeça e inclinou o rosto para o lado a fim de observa-lo
melhor.
- Combina com você. Posso imagina-lo como
um cara dos anos 40.
- Um detetive particular dos anos 40?
Porque eu posso imagina-la facilmente como uma bela dama naquela época. Os
cabelos, o vestido, o batom. Um belo casaco de pele de animal. Linda – ele não
esperou por um sinal de permissão vindo dela. Apenas segurou seu queixo e a
beijou. Kate cedeu ao gesto. Não quis se livrar do chapéu. Era um tempero a
mais ao momento. Ela descruzou as pernas para que ele pudesse se aproximar
ainda mais. Ela o abraçou aprofundando o beijo. As mãos dele nas suas costas.
Ficaram vários minutos somente provando um ao outro, entregues aos beijos, aos
simples toques. Não precisavam de nada além disso aquela noite.
Ao se afastar, Castle tirou o chapéu e
ofereceu a mão para ajuda-la a descer da mesa. Sabia que era o momento de
encerrar a noite. Estava satisfeito pelo breve instante em companhia dela.
Juntos, eles retornaram até o salão do bar, Castle se despediu de Eddy e
deixaram o Old Haunt.
Enquanto caminhavam na rua até o
estacionamento onde Beckett deixara o seu carro, Castle assobiava uma canção
antiga. Ela reconheceu a melodia, as palavras brincavam em sua mente “Sweet
dreams till sunbeams find you, sweet dreams that leave all worries far behind
you and in your dreams whatever they be… “, não resistindo citou a última estrofe que também
era título da canção.
- Dream a little dream of me.
- Muito bem, Beckett. Vejo que seu
conhecimento musical está afiado.
- Eu gosto muito dessas músicas antigas,
especialmente interpretadas na voz do Blue Eyes – ele sorriu. Jurava que ela
estava fazendo um trocadilho a ele e não somente uma referência a Sinatra. Após
deixa-lo em casa, dessa vez sem um beijo de despedida, ela seguiu para casa.
Em seu apartamento, devidamente pronta
para dormir, ela pegou o caderno azul e sentou-se na cama. Esquecera-se
completamente de sua consulta com Dana ao final da tarde. A noite agradável com
Castle abriu uma série de questionamentos outra vez sobre a relação deles. A
história de Joe e Vera também contribuíra para isso. No fundo, Kate se pegou
pensando sobre a última conversa com Dana e a nova forma que ela vinha
assumindo. Cada dia que passava, ela tinha mais certeza que alguns limites
estavam sendo transpostos, o que a deixava confusa, quase apavorada. Não seria o
momento de recuar um pouco? Ou estava chegando perto de precisar revelar o que
de fato sabia desde o dia de seu atentado?
Com esses pensamentos, ela acabou por
escrever até a última folha do caderninho azul. Surpresa com sua divagação, ela
sabia que teria que levá-lo em sua próxima sessão com Dana. Deixando-o na sua
cabeceira, ela deitou-se enrolada nas cobertas e adormeceu. E sonhou.
Exatamente como Castle sugerira. Sonhara com ele. Com beijos e carinhos. Com
estrelas, pássaros e figueiras. Beijos ao luar e aos primeiros raios de sol,
sonhara com ele exatamente como a canção dizia.
Continua....
3 comentários:
Ai ai! Katherine, você às vezes é tão difícil. Sabe o que mais amo nessa fic? Os ricos detalhes dos episódios,e que agora mais do que nunca são preciosos.
Eita Fic Boa ...vem 54
Maravilhoso capítulo! 🌟
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