Nota da Autora: Apesar do dia ser meu, tem capitulo novo de presente para vocês. Vamos curtir um angst interessante com Beckett? Está na hora de Dana testar nossa detetice... será que ela vai passar no teste? Hummm.... leiam e descubram...não tenho ideia de quando será a proxima postagem e prometo que o angst é até light... reflexôes, reflexôes... enjoy!
Cap.61
Passados
alguns minutos nos quais ele ainda recordava o beijo, Castle lembrou-se que
precisava dar um telefonema importante. Tinha que alertar Dana da história que
contara para Kate a fim da terapeuta não se contradizer e acaba gerando um
problema ainda maior para todos. A terapeuta atendeu ao segundo toque.
- Não me
diga que descobriu outro prato divino para nós saborearmos?
- Não. Eu
apenas quero alerta-la sobre uma possível visita ou ligação de Beckett.
- O que
aconteceu?
- Ela
esteve no restaurante e Maddie deixou escapar que estávamos jantando juntos na
noite anterior. Você conhece-a tão bem quanto eu, ela pensou que estávamos
trocando figurinhas sobre o tratamento dela. Achou que eu a pressionei para
contar sobre as suas sessões como se estivesse espionando-a. Tive que inventar
uma história. Você vai precisar confirma-la quando ela a procurar.
- Tudo
bem, o que devo dizer? – Castle explicou tudo para a terapeuta, falou da reação
de Beckett e ainda mencionou o jantar, incluindo seu antes e depois – interessante.
Vou esperar para ver o que ela vai me dizer. Obrigada por avisar, Castle.
Amanhã ela tem consulta comigo. Posso precisar de você em algum momento. Fique
alerta.
- Você
quer que eu vá para o consultório?
- Não
precisa. Talvez tenha que ficar de olho nela. Saberei mais amanhã. Boa noite,
Castle.
- Boa
noite, Dana.
Beckett
optou por não confrontar a terapeuta naquela noite, abordaria o assunto no dia
seguinte durante a sua terapia. Apesar da irritação inicial quando descobriu
através de Maddie sobre os dois, a noite acabara sendo bem interessante. O
sabor da vingança era bom, mas devido ao efeito causado nela não podia ser
considerado um sucesso total. Kate Beckett precisou de um banho gelado para
afastar os pensamentos pecaminosos da mente. Infelizmente, a agua gelada não
apaga os registros do subconsciente e ela sonhou com o escritor. Um sonho bem
ao estilo Nikki Heat.
Castle
não aparecera no 12th distrito até quatro da tarde trazendo dois copos de café.
Ela se perguntara onde ele andava o dia todo, porém apesar da curiosidade, ela
resistiu a vontade de ligar. Esposito e Ryan aproveitaram a deixa para zoar com
ele.
- Oh,
Castle...o que aconteceu? Seu despertador quebrou?
- Chegou
cedo para amanhã...
- Faço
minhas as palavras deles. Mais um pouco e você perdia o jantar. Em que fuso
horário você acha que trabalhamos?
- Estava
trabalhando. Escrevendo até agora. As cenas de Frozen Heat saltavam da minha
mente para o computador. Escrevi quatro capítulos. Falta muito pouco para
conclui-lo. Quer saber a verdade, detetive? Você me inspirou ontem com a sua
visita. Por isso resolvi retribuir a gentileza trazendo café – ele reparou na
pilha de pastas sobre a mesa dela – como foi sua noite? Dormiu bem?
- Porque
não dormiria?
- Depois
daquele pequeno deslize, quem sabe o que poderia se passar, não? – Beckett
ignorou a pergunta. Bebia tranquila o café - Vejo que ainda está às voltas com
os casos antigos. Será que a morte tirou férias? Hum, sabe que até fiquei com
vontade de dar uma escapada? Pena que a única viagem programada em meu futuro
envolve trabalho.
- Já tem
data para a sua turnê? – perguntou curiosa sorvendo um longo gole do café.
- Ainda
não. Gina está esperando confirmações de locais. Em outros tempos, a convidaria
a vir comigo... agora não é mais possível. Limites. Preciso ir. Voltarei ao
loft, minha cabeça está fervilhando. Tudo graças a você, Beckett – ele se
levantou de sua cadeira cativa, sorriu e completou – se alguém morrer, me
ligue.
Beckett
apenas balançou a cabeça. Era estranho não tê-lo por perto no distrito. Ele
estava levando bem a sério o lance da escrita. Em outros tempos estaria
procrastinando para terminar o livro. Ela checou o relógio. Mais meia hora de
papelada e deixaria o distrito rumo a sua consulta.
Consultório
de Dana
A
terapeuta reservara o horário das cinco para a sessão com a detetive. Pedira
para sua secretaria cancelar a consulta da hora anterior, pois precisava se
preparar para uma terapia pesada. Dana não tinha ideia da resposta de Kate ao
seu experimento. Decidira que iria deixar a detetive começar o diálogo. Pelo
aviso de ontem dado por Castle, ela já imaginava qual era o primeiro ponto. De
certa forma, isso era bom porque a paciente se sentiria bem, determinada e com
a autoconfiança nas alturas. Deveria estimular que Kate comentasse do jantar no
Q4 e também da sua própria refeição na casa de Castle.
Quando a
detetive chegou, a secretária mandou-a entrar seguindo a orientação da
terapeuta. Kate não achou estranho, estava um pouco atrasada. Dez minutos para
ser mais exata. Entrou no consultório se desculpando.
- Oi,
Dana. Eu me atrasei. Desculpe por faze-la esperar.
- Tudo
bem, Kate. Estava fazendo umas anotações aqui. como você está?
- Ótima!
Mas antes de eu lhe contar porque, quero saber algo muito importante – disse a
detetive sentando-se no divã de frente para a terapeuta – por que diachos você
estava jantando com Castle no Q4? Ele anda te convidando para jantar a fim de
descobrir sobre meu tratamento? – usou a mesma abordagem que tivera com o
escritor. Precisava confirmar a história.
- Você
está afirmando que Castle me convidou para jantar, como um possível encontro?
- A
palavra que a Maddie disse que ele usou foi jantar de negócios.
- Foi
tudo uma coincidência. Você ficou de me arranjar uma mesa para jantar no Q4.
Acontece que estava passando na frente dele na outra noite e a vontade de comer
o nhoque de Rocco era tão grande que resolvi arriscar. Estava falando com a
hostess quando Castle me avistou e fez sinal para que fosse até a sua mesa. A princípio,
estranhei por encontra-lo sozinho jantando. Afinal, estamos falando de Rick
Castle, vê-lo só é algo atípico. Ele me explicou que era um jantar de negócios,
mas sua convidada, sua editora não pode acompanha-lo. Disse que seria um pecado
desperdiçar uma reserva no Q4 se podia saborear o nhoque. Ele me convidou para
sentar na mesa e depois de pedirmos nossa refeição, começamos a conversar sobre
culinária, cursos, pratos famosos. Ele é uma excelente companhia e não sabia
que era tão apaixonado por gastronomia. Maddie se juntou a conversa por um
tempo. Ela é divertida. Gosto do jeito como encara a vida – era uma pequena
alfinetada em Beckett – enfim, foi isso. Uma noite agradável com boa companhia
e aquele nhoque divino. Jantar com Rick Castle é extremamente prazeroso. Nem
todos os homens apreciam a boa culinária. Gostaria de ir a um jantar de
degustação acompanhada dele.
Dana
observava as reações de Beckett. Parecia ter considerado a história como
verdadeira.
- Não
sabia desse seu amor pela gastronomia. E Castle ficou bastante impressionado.
- Acho
que temos mais em comum do que imaginava. Desenvolvi meu amor por culinária
quando passei aqueles seis meses na França. Mas quero saber de você, o que
sentiu quando descobriu que eu e Castle estávamos juntos? Descreva para mim.
-
Raiva... e medo. Conheço bem o jeito de Castle, ele sempre dá um jeito de
enrolar as pessoas com sua conversa e arrancar informações importantes, as
vezes segredos.
- Mesmo?
Se ele é tão bom como ainda não arrancou de você sobre o segredo que vem
escondendo dele? – alfinetou Dana. Viu Kate morder os lábios. Mas não perdeu a
pose.
- Porque
sou melhor. Tanto que lembra-se da nossa última conversa? Na qual você me
aconselhou a não querer me vingar da provocação dele? Sinto informa-la, Dana
que estava errada. Você achou que eu não resistiria se tentasse entrar no jogo
dele. Eu me vinguei, paguei na mesma moeda. Ele ficou chupando dedo – certa de
seu triunfo, Beckett contou o que acontecera na noite anterior. Como usara as
palavras para deixa-lo na vontade. Ao terminar sua narração, Dana que fizera
algumas anotações percebera que a detetive estava relaxada, quase de bom humor
e bem satisfeita com o que acontecera. Isso seria bastante providencial para
estudar a mudança de seu humor e emoções uma vez que fizesse a tal experiência.
Mesmo sabendo que Beckett não concordaria com ela, Dana resolveu comentar sobre
o ocorrido na noite passada. Sua intenção? Estourar a bolha de Kate.
- Certo,
deixe-me ver se entendi corretamente. Você provocou Castle após invadir o loft
dele para questiona-lo demonstrando claramente ciúmes, depois dele a convidar
para um jantar agradável e tranquilo em família... qual a palavra mesmo? – Dana
olhava maliciosa para Kate – ah, doméstico! Provocou-o usando a mesma
estratégia de Castle... interessante.
-
Interessante? É isso que tem a dizer? Eu provei que você estava errada. Eu me
vinguei. Quid pro quo.
- Tem
certeza, Kate? Ciúme, loft, jantar, provocação.
- Não era
ciúmes. Era preocupação e sim, jantei com ele e a filha. Não foi como antes.
- Diga,
ao sair do loft, como se sentiu?
-
Excelente. Eu me vinguei, esqueceu? – de repente ficar sentada no divã não
pareceu uma boa opção para Beckett. Levantou-se indo em direção a janela.
- Você
sabe ao que estou me referindo... como se sentiu, corpo, mente... após a
provocação? – Kate ficara calada, a terapeuta a encurralara outra vez. Dana
percebeu a reação – precisou de um banho gelado ao chegar em casa, Beckett? – a
resposta estava estampada no rosto dela.
- Droga!
– foi tudo que conseguiu dizer.
- Hum,
Kate? Isso não foi uma vingança. É um clássico caso do feitiço virar contra o
feiticeiro. O que prova que eu continuo certa.
- Não! Eu
me vinguei. Deixei-o plantado com gosto de quero mais. Eu sei... – mas as
palavras já não pareciam tão convincentes.
- Seria
uma vingança se não causasse qualquer efeito em você, o que sabemos não ser
verdade.
- Por que
você tem que fazer isso?
- O que?
Falar a verdade? Estourar sua pequena bolha de ilusão? Detetive, eu apenas
relato o óbvio – Dana se levantou da sua cadeira dirigindo-se a cafeteira,
estava na hora de falar sério. Devagar e cautelosamente – quer café, Kate?
Sente-se, relaxe, fique à vontade.
- Aceito
café, sim – ainda incerta do que a terapeuta estava tramando, ela retornou ao
divã. Escolheu recostar-se no pequeno sofá. Fechou os olhos por um instante,
suspirou. Ao abri-los, encontrou a terapeuta sentada a seu lado com um envelope
pardo em suas mãos. Entregou-lhe o café. O cheiro da bebida quente encheu seus
pulmões. Kate tomou um pouco do liquido – isso está bom. Que café você está
usando?
- Um
brasileiro que comprei na Starbucks, edição especial.
- E você
serve isso para todos os seus pacientes?
- Não.
Apenas para os especiais. Kate, eu tenho um assunto importante e delicado para
conversar com você. Tenho segurado por duas sessões devido aos momentos de
desequilíbrio emocional que vem experimentando. Quer dizer, toda a irritação, a
endorfina... porém, não posso mais adiar.
- Dana,
do que você está falando?
- Um dos
seus detetives encontrou uma possível pista que indicava uma conexão com um
caso em particular. O seu atentado – o semblante sério voltou a molda-la.
- Por que
não me procuraram? E como você ficou sabendo disso e... Castle. Só pode ser
ele.
– Kate,
eles ficaram receosos de contar para você. Procuraram Castle porque acreditam
que ele seria a pessoa mais adequada para contar. Ele sabe o quanto esse
assunto lhe domina, a contamina para ser mais exata. Então, ele me procurou.
- Esse
foi o motivo de vocês jantarem juntos? Para discutir sobre como me contar?
- Não,
Kate. O jantar foi puramente uma surpresa. Castle considerou que o assunto era
delicado demais para ele lhe contar com o seu tratamento e a PTSD, por isso me
procurou. A história da evidência não acaba ai.
- Vocês
estavam agindo pelas minhas costas?
- Pelo contrário,
todos estavam preocupados com você. Em como reagiria. Eles sabem da delicadeza
do assunto. Castle me procurou por isso. Kate... – a terapeuta pegou a mão dela
na sua - Não se trata apenas de seu atentado. A informação está ligada a outro
caso – ela olhou diretamente para a detetive – é sobre a sua mãe.
No mesmo
instante que Dana acabara de falar, ela viu a cor no rosto de Kate desaparecer.
Estava pálida. A mão que ainda segurava estava gelada. Tinha medo dela
desmaiar.
-
Respire, Kate. Você está bem? Quer uma agua?
- Não...
eu – ela suspirou – eu estou bem... continue. É isso que tem nesse envelope?
Informação para reabrir o caso?
- Sim. É
o momento da verdade, Kate. Há meses atrás, logo após sua crise de PTSD você
entrou nesse consultório e pediu para que eu a ajudasse a colocar seu passado
de lado, pediu para eu ensina-la a ser mais do que era, se descobrir. Eu venho
fazendo desde então. Você fez progressos incríveis. Alguns nem sequer percebe,
mas seu tratamento não chegou ao fim. E Kate? Parte dele pode ser definido por
esse momento.
Dana fez
uma pausa para observa-la. Séria, mas o rosto também revelava ansiedade, medo e
dúvida. No fundo, a terapeuta odiava ter que fazer isso com ela. Entendia as
consequências do ato que estava apresentando, como terapeuta e amiga precisava
fazer isso.
- Você se
lembra da nossa conversa sobre a vida lhe apresentar situações nas quais teria
que decidir? Esse é um desses momentos. Você tem uma escolha a fazer. Pode ver
o que há no envelope ou pode simplesmente esquecer que eu mencionei isso. O que
vai ser, Kate? – Dana segurava o envelope deixando-o disponível para que a
detetive o tocasse caso quisesse. Podia imaginar as milhares de interrogações
na mente da sua paciente agora. Dúvida, temor. O senso de justiça gritando e
lutando contra toda a vontade de virar a página e seguir em frente.
- Então,
Kate, o que vai ser? – Beckett engoliu em seco. A ardência na garganta
provocada pelo choro começava a sufoca-la. Naquele instante, ela sabia o que
estava em jogo. A busca de uma vida contra a sua própria evolução a caminho de
sua felicidade. As mãos tremulas tocaram o envelope. As lágrimas começaram a
rolar.
- Eu
sinto muito, Dana... – a terapeuta já tinha a sua resposta.
- Tem
certeza, Kate?
- É mais
forte que eu... desculpe – ela abriu o envelope com cautela. Os dedos trêmulos
puxaram duas folhas de papel apenas para revelar um nada. Páginas em branco.
Nenhuma única palavra. Ela deixou escapar um suspiro seguido de uma palavra
antes de olhar para a terapeuta – não... – ela entendeu. O rosto marcado pelo
choro foi erguido do papel para encara-la. A voz baixa e embargada.
- Não,
não... isso é... – Kate foi ficando vermelha, as lágrimas ainda escorriam pelo
rosto – não tem nada aqui! Como você pode... Você me enganou, Dana... – a
realização a pegou de surpresa. Era um teste? – não existe evidência ou pista,
certo? Isso não passou de um teste, uma mórbida brincadeira. Como você pode
fazer isso comigo? Depois de tudo o que eu lhe confidenciei. Um teste, um
maldito e sádico teste?
- Sim,
Kate. E você falhou... sinto muito – Dana se levantou do sofá, queria dar
espaço a ela. Pegou o envelope amassando-o e jogando na lata de lixo – eu
realmente sinto muito por tê-la exposto a isso. Por remexer em feridas tão
dolorosas. Contudo, eu precisava realiza-lo por dois motivos. O primeiro era
saber até onde consegui afeta-la com a terapia, o segundo mostrar a você que
seu tratamento não terminou. Eu vi a sua luta interior, você relutou em abrir o
envelope. Tentou esquecer. Não foi o suficiente. Você fez uma escolha e apesar
de ser a errada para o momento, você me mostrou que estamos no caminho certo.
- Você me
traiu! Você me fez acreditar... a coisa mais importante da minha vida... Como,
Dana? Como eu posso estar fazendo progresso? Eu falhei! Eu escolhi saber, não
pude deixar isso para trás! – ela andava de um lado a outro do consultório.
Beckett detestava fraquejar, errar.
- Sim,
porém em outros tempos, você não debateria o assunto internamente em sua
cabecinha. Você não sofreria tanto tentando decidir. Isso é evolução. A velha
Kate teria agarrado esse envelope com unhas e dentes e corrido porta afora para
a delegacia, ávida por respostas, por ficar cara a cara com um possível
suspeito. Por isso sei que estamos no caminho certo. Não chegamos lá ainda, mas
estamos perto.
- Quanto
dessa história é verdade? – ela voltou a sentar-se no sofá - Sobre Castle e o
resto?
- Nada.
Absolutamente nada. Eu inventei tudo. Não há evidência, nem pista. Como disse,
foi um teste. Não me odeie por isso, Kate.
- Dana,
eu sei que está fazendo seu trabalho. Acabou de esfregar na minha cara que não
estou pronta para alcançar o fim do tratamento. Sou fraca, me deixo levar pelo
senso da justiça e da vingança. O caso da minha mãe é delicado, quase um tabu.
Não odeio você, por mais cruel que tenha sido seu teste, estou com raiva. De
mim, por agir do jeito que agi. Esse assunto... não me faz bem. Eu preciso de
um tempo.
- Tempo
para pensar? Analisar e refletir porque ainda não está pronta para colocar toda
essa história para trás? Posso conviver com isso.
- Você
abriu a ferida. Derrubou minhas defesas. Eu preciso de tempo para encontrar o
equilíbrio outra vez. Não tome como pessoal, mas eu terei que me afastar.
Talvez não apareça por algumas semanas.
- Kate,
entendo que precise de tempo, desistir da terapia não é o melhor caminho.
- Não
estou desistindo, Dana... eu só preciso ficar sozinha – ela se levantou e saiu
pela porta sem se despedir. Dana suspirou. Tomou um gole do café. O clima
pesado ainda estava no ar. Esperava que não tivesse pressionado demais. Como
terapeuta, sabia que dessa vez ela não se esconderia na toca do coelho. Não,
Kate Beckett era uma nova mulher. Fez algumas anotações no arquivo de Kate. Ao
terminar, pegou o celular. Castle tinha que ficar alerta aos movimentos dela.
Ele
estava sentado na frente do notebook escrevendo, sua imaginação estava
fervilhando. O celular tocou. Ele sorriu.
- Hey,
Dana... tudo bem? Descobriu um novo paraíso gastronômico que podemos visitar? –
ele andava tão focado na escrita que nada mais parecia importar.
- Castle,
não é por isso que estou ligando – notou a seriedade na voz da terapeuta – Kate
acabou de sair do meu consultório. Eu fiz a tal experiência, consegui o
resultado que queria, mas ainda não tenho certeza de como isso afetará Beckett
– ele tinha esquecido o que a terapeuta falara no jantar.
- Não
sabia que ia fazer isso hoje. O que quer que faça? Quer que eu vá atrás dela?
- Não.
Kate disse que precisava ficar sozinha. Eu ainda tenho esperança que ela tente
lhe procurar, não posso afirmar nada. Somente peço que fique atento ao que ela fizer.
Se notar que está agindo estranhamente, me avise.
- Dana,
eu posso ir até o apartamento dela agora? Afinal, o que você disse para ela a
ponto de afeta-la assim?
- Sinto
muito, Castle. Não posso dizer. Sigilo médico-paciente, você entende.
- Sim,
entendo. Você me deixou preocupado.
-
Desculpa. Não queria que pensasse em coisas ruins. Não vá atrás dela, Castle.
Kate precisa de um tempo para digerir o que acabou de experimentar. Apenas
fique de olho e seja você. Amanhã.
- Tudo
bem. Obrigado por confiar em mim para ajuda-la, Dana.
- Não é a
mim que estará ajudando, Rick. É a Kate. Ela confia em você, o que me faz
confiar também. E a confiança serve como uma via de mão dupla. Você a ama. Isso
é o que importa. Mantenha-me informada, ok?
- Claro.
Boa noite, Dana – ao desligar o telefone, a vontade de escrever desaparecera.
Castle ficou pensativo. Queria ligar para ela. Mas diria o que? Não havia caso
para ser discutido, não estavam juntos, sem benefícios. Por que motivo ligaria?
Não, isso era errado. Tinha que seguir as recomendações da terapeuta. Fechou o
notebook e serviu-se de uma dose de whisky sentando-se em seu sofá. A mente
vagava querendo adivinhar o que Beckett estaria fazendo.
XXXXXXXX
Kate
Beckett andava pelas ruas de Nova York sem um destino especifico. Apenas
caminhava, a mente entrara em um loop recordando a última hora que passara no
consultório da terapeuta. Estava chateada com sua reação. Triste por perceber
que ainda não estava pronta e mexida por ter que encarar o assunto mesmo que de
maneira fictícia. Era difícil, complicado, doloroso.
Seus
passos a levaram para um lugar comum. De grandes reflexões. Ela sentou-se no
balanço a princípio apenas para compreender o porquê estava ali. Depois, ela se
permitiu chorar. Suas mãos seguravam as correntes com força enquanto o pranto
lavava seu rosto. Dizia baixinho apenas para ela mesma.
- Sinto
muito, mãe. Eu não queria falhar... eu não queria.
Mais
calma, ela fechou os olhos. A imagem que surgiu em sua mente foi a de Castle.
Os olhos azuis, o sorriso. Era uma forma de lembra-la porque estava fazendo
isso. Queria ser mais do que era. Queria reencontrar aquela garota cheia de
sonhos, de vida que aprontava no colegial. Queria ser destemida em sua vida
pessoal da mesma maneira que era na profissional.
Falhara.
Dana lhe desafiara e ela falhara, terrivelmente em sua opinião. O que isso
dizia sobre ela? Quando seria capaz de assumir seus sentimentos, falar
abertamente com Castle sobre tudo o que acontecera, sobre o que ouvira
claramente após seu tiro? Isso teria um fim? Dana falara que evoluíra. Será
mesmo? Porque para ela parecia que continuava pegando a estrada errada. A
terapeuta a forçara a responder uma das perguntas. Talvez a mais temida. Para
Kate, era essa a situação que poderia encontrar ao longo do caminho e Beckett
podia se ver perdendo o chão quando isso acontecesse.
Enxugou
as lagrimas que marcavam sua face.
Por que
se deixava consumir pelo assassinato de sua mãe? Sua vida não deveria ser
dirigida por isso. Ela merecia justiça, merecia ter seu caso encerrado de
maneira digna. Nós falamos pelos mortos, mas não comandam nem dominam nossas
vidas. As palavras de seu capitão vieram-lhe subitamente. Dana já dissera que
ela não estaria falhando com a mãe. Não a decepcionaria. Será que Johanna
Beckett gostaria de ver sua filha trocando sua chance de ser feliz por uma
caçada desesperada e cega a um assassino que não sabia quem era?
Ela
aprendera a honrar a mãe em cada caso, em cada vítima. O senso de justiça fazia
parte de quem ela era, uma característica herdada da própria mãe confirmada
pelo seu pai que apenas intensificou-se após a sua perda. Não seria o gesto
suficiente? Honra-la ao invés de vinga-la? Claro que sua mãe merecia justiça,
mas Kate já concordara que essa saga não poderia definir sua vida. Por isso seu
comportamento, seu entendimento dessa experiência é importante. Quanto mais
rápido compreendesse, mais rápido poderia se curar e encerrar a terapia e então...
restava Castle.
Levantou-se
do balanço e caminhou de volta ao seu apartamento. Perdera a noção das horas.
Não importava. Ela precisava de tempo para analisar, se estruturar. Com isso,
Beckett fez algo inusitado, fora da caixa para a detetive.
12th
Distrito
Castle
chegara na delegacia por volta das dez da manhã trazendo dois copos de café.
Estava curioso para saber como Beckett estava e se ia comentar sobre o assunto
com ele. Foi direto para a mesa dela, colocando o copo em frente ao monitor do
computador como já fizera diversas vezes. Ela não estava ali, deve estar na
minicopa. Sentou-se em sua cadeira cativa. Ao invés de Beckett, quem apareceu
foi Esposito. Sem cerimônia, ele fez menção de pegar o café de cima da mesa,
ato que Castle impediu protegendo bravamente a bebida de Beckett.
- Hey! O
que você está fazendo? Quer morrer? Ou você pensa que porque é detetive,
Beckett não vai atirar em você se beber o café dela? Pense outra vez. Beckett e
café formam um relacionamento muito sério, qualquer ameaça é letal.
- Estou
apenas evitando que esfrie ou estrague, bro.
- Onde
ela está?
- Não
está aqui.
- Foi ao
tribunal assessorar em algum caso? 1PP?
- Não,
Castle. Ela não veio trabalhar hoje. Não sabemos porquê. Ela ligou para a
capitã. Tudo que Gates disse foi que Beckett pediu uma folga para resolver um
problema pessoal.
- É, você
sabe se aconteceu algo com o pai dela? – perguntou Ryan se metendo na conversa.
- Não que
eu saiba, mas não é como se ela me dissesse tudo – os dois detetives olharam para
ele não acreditando em nenhuma palavra – estou falando sério!
- Castle,
você sabe que esse tipo de atitude não é normal vindo da Beckett, faltar
trabalho? Um dia de folga para tratar de algo pessoal? Não combina com ela. E
nós sabemos que pessoal é sinônimo de perigo quando se trata de Beckett... –
disse Esposito.
- Ou ela
tem um novo namorado e não quer que ninguém saiba... – disse Ryan recebendo
olhares incrédulos dos outros dois.
- Você
acha que isso pode ter relação com a mãe? Com o caso? – então a ficha de Castle
finalmente caíra. Só podia ser sobre isso, o tal experimento de Dana, que outro
assunto podia ser tão delicado? Mesmo que suas suspeitas estivessem certas, não
podia compartilha-las com os rapazes.
- Não.
Duvido que seja algo relacionado ao caso da mãe. Se fosse, não aconteceria de
um dia para o outro. Ela estava bem ontem. Pode ser o pai ou algo com ela
mesma. Sabe, essas coisas de mulher – os rapazes olhavam para ele intensamente
– o que foi?
- Não é
óbvio? É você quem terá que descobrir.
- Claro
porque se alguém que pode levar uns gritos ou um tiro de Beckett sou eu.
- Você é
um cara inteligente, Castle – Esposito piscou para ele – nos conte o que
descobrir ou sobre a surra que levar depois que ela o expulsar a pontapés. Isso
seria engraçado de ver... – e os detetives saíram rindo. Pelo menos não
pareciam tão preocupados com a detetive. Se tivesse um pouco mais de abertura
com a capitã, ele certamente perguntaria a ela exatamente o que Beckett lhe
disse. Não era o caso. Pegou os dois cafés entregou aos rapazes e deixou o
distrito. Na rua, a primeira ligação que fez foi para Dana.
- Dana,
pode falar? – com a afirmação positiva do outro lado, ele continuou – você
realizou o tal experimento? Olha, eu não sei o que você conversou com a Beckett,
mas isso mexeu com ela.
- Em que
sentindo? Está irritada? Triste?
- Dana,
Kate não veio trabalhar hoje – a informação surpreendeu até mesmo a terapeuta –
isso não é algo que combine com Beckett. O que quer que você tenha feito, a
afetou de verdade. Ela ligou pedindo a folga, alegou problemas pessoais. Estou
preocupado. Por acaso tem alguma relação com o caso da mãe dela?
- Castle,
você sabe que não posso contar o que conversamos. Não é correto. Respeite o
sigilo, a confidencialidade. Acredite, Kate reagiu ao experimento como eu
imaginava. Sua ausência no distrito não foi algo que previ embora possa
entender. Ela pediu um tempo para mim, um tempo da terapia. Ela precisa pensar.
Tem algum caso rolando?
- Não,
apenas papelada.
- O que
facilita o seu afastamento.
- Dana, e
se você a pressionou demais?
- Não fiz
isso. Acredito que seja a hora perfeita para entrar em ação. Não ligue. Vá ao
apartamento dela, haja casualmente, porém expresse a preocupação.
- Como se
eu nem sei o que aconteceu?
- Você sabe
o suficiente. Kate Beckett não foi trabalhar hoje. Se ela se sentir à vontade,
conversará com você. Não a pressione para se abrir. Deixe que ela decida se
quer fazer isso. Sei que vai encontrar a melhor maneira de aborda-la. Você sabe
como fazer isso.
- Tudo
bem. O experimento tem algo a ver comigo?
-
Castle...
- Já
entendi... ética, não pergunto mais.
- Ligue
depois para me contar como foi. Suas observações serão importantes.
Castle
desligou o celular. Porém, ao invés de ir direto ao apartamento dela, optou por
passar em casa. Se o que Dana comentara realmente procedia, o fato de sua
ausência referir-se a necessidade de tempo e espaço, ele obedeceria sua
vontade.
De volta
ao loft, ele maquinava a melhor maneira de aborda-la. Na verdade, precisava encontrar
uma maneira de justificar sua ida ao apartamento dela. O fato dela não ter ido
trabalhar era o pretexto para bater a sua porta, para ser convidado a ficar e
passar um tempo com ela, teria que fazer melhor que isso, afinal Kate poderia
dizer que não queria falar com ninguém o que arruinaria completamente seus
planos.
Castle
perambulou pelo seu loft por duas horas até encontrar algo que podia satisfazer
sua ideia. Depois, sentou-se no escritório de frente para o computador e
consultou o que precisava. Ela não recusaria o que ele tinha a oferecer.
Por volta
das quatro horas, ele deixou o loft rumo ao apartamento de Beckett. No caminho,
fez duas paradas estratégicas. Ao chegar no prédio, não precisou ser anunciado
pois o porteiro dela já o conhecia. Castle agradeceu o gesto de não interfonar.
De frente para a porta do apartamento, ele respirou fundo antes de tocar a
campainha.
Kate
estava sentada no sofá bebendo uma caneca pela metade de café já frio. Sobre a
mesa, haviam fotos da mãe e dela, uma pequena caixinha de lembranças e um bloco
amarelo de anotações com vários pensamentos escritos. Sim, ela usara o método
que Dana lhe ensinara para pensar melhor e ajuda-la na análise. Passara o dia
entre o quarto e o sofá remoendo pensamentos. Seu combustível fora o café e
sequer deu conta de quantas horas haviam se passado. O toque da campainha a
assustou, porém, lembrou que pedira para o seu porteiro subir com a
correspondência há cerca de uma hora atrás. Ao abrir a porta, ela se deparou
com outra pessoa trazendo o que recebera do correio. Castle estava a sua
frente. Uma sacola pendurada em um dos braços, envelopes na mão esquerda e uma
bandeja de com dois copos grandes de café na mão direita.
- Olá,
detetive! Achei que estivesse precisando de suas correspondências. E por que
não um café? – ele estendeu os envelopes para Beckett forçando sua entrada no
apartamento – na verdade, seu porteiro pediu que aproveitasse a viagem e
trouxesse as contas. Meu objetivo aqui é outro.
- Acho
que não preciso perguntar o que você está fazendo aqui... vai me dizer de
qualquer forma.
- Sim,
café? – ela pegou um dos copos da bandeja e rapidamente voltou a sala
recolhendo todas as fotos da mãe e guardando-as na caixa antes que ele
percebesse. Castle apoiou a bandeja de café no aparador da sala – se importa de
irmos para a cozinha enquanto explico o motivo da minha visita?
- Como se
eu tivesse escolha, olha Castle eu já imagino porque está aqui e qualquer ideia
que tenha se passado na sua mente, não é a hora nem lugar para apresenta-la
para mim. Você devia ir embora.
- O tempo
da minha visita dependera exclusivamente de você, Beckett. Imagine a minha
surpresa ao chegar hoje ao distrito para levar seu café, torcendo por um
assassinato e descobrir que tinha pedido um dia de folga. Isso não é comum para
Beckett foi o que pensei, ao saber que alegara motivos pessoais, sabia que
estava com algum problema. Pensei em seu pai, mas você certamente informaria se
ele estivesse doente ou em uma emergência seja para mim ou para os rapazes. Então,
sabia que se tratava de outra coisa. Talvez estivesse doente, embora parecesse
muito bem ontem para mim. Descartei essa possibilidade. Somente consegui pensar
em outro problema, uma investigação. Obviamente não é isso porque não estaria
em casa se tivesse seguindo pistas e seu porteiro disse que não saiu de casa, o
que confirma minha teoria. Portanto Kate pensei que qualquer que tenha sido a
razão para você pedir esse dia, dar um tempo, dizia respeito unicamente a você.
- Wow!
Você dedicou muito tempo pensando sobre os motivos da minha ausência.
- Sou
escritor, pensar e criar teorias e cenários faz parte do trabalho diário, risco
da profissão.
- Se
decidiu que o motivo da minha ausência no trabalho não o interessa, por que
está aqui, Castle? Não faz sentido.
- Ah! Eu
sei como você costuma agir quando tem sua mente focada em determinado assunto.
Você se esquece do mundo e posso apostar que passou o dia todo a base de café.
Não se alimentou. Está com um ar cansado para quem ficou em casa o dia inteiro
e esse, detetive, é o motivo da minha visita. Alimenta-la.
- O que?
- Trouxe
seu jantar. Não cozinhei, comprei. Está em embalagem aquecida mesmo assim, irei
colocar no forno. Torta de frutos do mar. Cinco minutos e estará perfeita – ele
já ligara o forno e colocara a torta lá dentro. Acionara o timer.
- Castle,
você não precisava. Olha, eu realmente agradeço sua gentileza e preocupação,
mas estou bem e somente quero ficar sozinha. Não irei fazer nenhuma loucura se
é isso que está pensando e colocando esse olhar preocupado em seu rosto...
apenas, me deixe.
- Kate,
eu não estou aqui para espiona-la ou questiona-la. Vim apenas trazer o jantar,
sem segundas intenções. E perdoe-me se insistir, porém não arredo o pé antes de
vê-la comer. Precisa de combustível para pensar. Finja que não estou aqui. Apenas
coma – o olhar encontrou o dela. Beckett notara o semblante tenso. Outra vez,
ele a assustara por conhece-la tão bem. Era verdade, não comera nada. Estava a
base de café desde a hora que acordara. Ela suspirou e sentou-se na mesa. Ao vê-la
ceder, Castle sorriu. Primeira parte de seu plano fora concluída com sucesso,
pensou ao ouvir o timer disparar.
Ele
serviu a travessa da torta quente colocando-a na frente dela, entregando a
espátula para servir-se. Após colocar um pedaço em seu prato, ela tomou um
pouco do café e olhou para ele.
- Tem
torta suficiente para duas pessoas. Você não vai comer?
- Você
quer minha companhia para desfrutar a refeição?
- Por
favor, Castle. Não vou comer tudo isso e chega a ser perturbador o jeito como
me olha. Coma. Já que se recusa a ir embora antes que eu acabe de comer, ao
menos me faça companhia adequadamente.
- Tudo
bem – Castle viu o gesto como progresso, pegou um prato e serviu-se de torta.
Começou a comer calado. Assim que Kate deu a primeira garfada, percebeu o
quanto estava com fome. Para tornar tudo melhor, a comida estava deliciosa.
- Isso
está delicioso.
- Que bom
que gostou. É de um pequeno bistrô no Soho. Pelo menos você está se alimentando
– ela sorriu e permaneceu calada pelos próximos minutos. Era estranho dividir
uma refeição com Castle sem conversar, porém ele estava cumprindo o que
prometera. Se fazendo ausente. Esse comportamento a fez pensar sobre o que
acontecera ontem e sobre suas próprias reflexões. Talvez não houvesse alguém
com quem ela gostaria mais de dividir seus pensamentos do que Castle, porém ele
também era parte de sua análise, de seu tratamento. Não seria correto. Resolveu
ater-se a uma conversa mais comum.
- Então
você esteve no distrito. Nenhum caso novo?
- Não, os
rapazes estavam atolados na papelada.
- Vocês
chegaram a teorizar juntos sobre os motivos de eu não ter ido trabalhar?
- Um
pouco, mas eles não pareciam tão incomodados com a sua ausência – ótimo, ela
pensou, menos oportunidades para responder perguntas – apesar que estavam
torcendo para procura-la e levar uns pontapés.
- Bom,
isso não aconteceu, mas quem sabe? Ainda temos tempo – ela se serviu de outro
pedaço da torta – quer vinho? Tenho um chardonnay aberto – certo, ela estava
começando a gostar do que estava acontecendo ali, pensou Castle.
- Por que
não? Vinho branco sempre cai bem com frutos do mar – ela serviu a ambos e
retornaram a conversa.
-
Progrediu em seu livro? Você estava bem animado...
- Sim –
mentiu. A última coisa que fizera hoje fora escrever, seus pensamentos todos
estavam voltados para Beckett – mais dois capítulos finalizados. Cheguei a
metade da história – ela apenas sorriu. O resto da refeição se deu em silêncio.
Kate recolheu seus pratos até a pia, Castle bebeu o liquido que ainda restava
em sua taça e preparava-se para ir embora. Pegou o casaco e dirigiu-se até a
porta – agora que você já está bem alimentada, posso ir para casa tranquilo. E
faça um favor para nós dois, Beckett. Não beba mais café por hoje. Você já
extrapolou sua dose de cafeína do dia. Nem sei como seu estomago resistiu.
- Você já
vai? – embora não quisesse, ela acabou soando surpresa com a decisão de Castle
em cumprir o acordo. No fundo, ela queria uma companhia, não corrigindo, ela
queria a sua companhia. E ao mesmo tempo, queria tentar explicar sem
comprometer o assunto.
- Sim,
foi para isso que vim.
- Olhe,
Castle, me desculpe se eu soei brusca ou meio que o expulsei mais cedo. Foi
errado. Você não precisa sair correndo. Pode ficar mais um pouco.
- Quer
que eu fique?
- Pelo
menos uma hora mais. Vamos para o sofá. Eu te ofereceria sorvete, mas o meu
pote de chocolate acabou ontem.
- Sabia
que tinha esquecido alguma coisa – ela sorriu. Castle decidiu investir mais um
pouco – você me parece preocupada, Beckett. Por acaso você não teve uma nova
crise de PTSD, teve? Pensei que já tivesse melhor, afinal você vem fazendo
terapia regularmente.
- Castle,
não é PTSD. Não quero que fique preocupado. Sei que está. Eu não posso lhe
dizer o que aconteceu exceto que tem a ver com o meu tratamento. Precisava de
um tempo para organizar minhas ideias. Eu estou me esforçando. Descobri coisas
interessantes sobre a minha pessoa. Comecei a entender a forma como lido com
certos assuntos. Há momentos bastante delicados nos quais sofro para enxergar o
que deveria. Até ontem não tinha percebido como eu moldei minha vida ao redor
de certos pilares. Dana abriu minha mente. Nada é fácil, exige dedicação. O
caminho é complicado, mas Dana tem me ajudado muito. Desculpe, não posso
revelar mais nada.
- Tudo
bem, eu compreendo. Você acha que evoluiu? Desde a última vez que conversamos?
– era obvio que ele se referia a quando ela rompera a parceria com benefícios.
- Dana
diz que sim, eu demoro a perceber na maioria das vezes, mas sei que ela está
certa. Queria poder dizer que estou perto de concluir meu tratamento, descobri
que não.
- Você
acha que vai demorar muito? – ele parecia ansioso ao fazer a pergunta.
- Eu
realmente não sei. Espero que não.
-
Sinceramente, eu também – ele se levantou do sofá – é melhor eu ir andando.
Você precisa de uma boa noite de sono, Kate.
- Eu o
acompanho até a porta – fez questão de abrir a porta para Castle e sorrir fazendo
um último comentário – obrigada pelo jantar, Castle. E por se preocupar.
- Always...
– a voz era sincera - É sempre um prazer, Beckett. Descanse. Vejo você amanhã
no 12th – sorrindo, deixou o apartamento. Apesar de toda a conversa enigmática,
ele sabia que ela falara da mãe. E Dana tinha razão, havia progresso.
Kate foi
dormir mais calma naquela noite. A visita de Castle a fizera bem. Dessa vez,
nada de provocações ou pensamentos impuros, ele a tranquilizou somente por
estar ali, apoiando-a sem ao menos saber o que de fato acontecera. Mesmo não
revelando muito, ela pode colocar alguns pensamentos para fora e ver que apesar
de sua última briga e dos joguinhos com o escritor, Castle realmente se
preocupava com seu bem-estar. Não o enganara ao dizer que não tinha ideia de
quanto o tratamento chegaria ao fim, no entanto, torcia para se redescobrir de
vez e criar coragem o mais rápido possível para dizer o que sabia e o que
sentia a Castle.
Continua...