quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

[Castle Fic] Don't Give up on Chasing Rainbows - Cap.8


Nota da Autora: Demorou mas chegou. Capitulo com reflexões por parte de Kate e uma cena shipper bem legal no final. Mas, sem NC. No próximo compenso! Enjoy! 



Cap.8

Kate acordara agitada hoje. À noite seria o tão esperado jantar na casa de Castle. O que sentia era uma ansiedade muito grande não que a noite fosse assim especial, ou uma noite de gala, mas era seu primeiro encontro com seu pai e Castle. Seu desejo? Que tudo saísse muito bem. E deveria afinal Martha era um doce com Kate e Castle é capaz de conquistar qualquer um com seu charme mas seria o suficiente? Seu pai não era uma pessoa difícil de agradar porém assim como ela, era bastante reservado. Conhecendo Castle e sua mãe que eram seus opostos, isso podia ser uma combinação perigosa. Não Kate, você não pode pensar assim. Vai ser uma ótima noite.

Ela combinara com o pai de encontra-lo em seu apartamento para então seguirem para o de Castle. Esperava conversar um pouco com o pai sobre como andava seu relacionamento com ele para inclusive prepara-lo para qualquer conversa que surgisse durante o jantar. Ela procuraria explicar a ele que sua relação com Castle apesar de se conhecerem a cinco anos ainda estava no início. Era um novo patamar na vida deles, subiram um degrau porém ainda tinham muito o que descobrir sobre o outro. É claro que somente pelo modo dela falar sobre ele, seu pai já saberia qual era o nível do relacionamento dela. Quando Kate falava sobre Castle era impossível evitar o sorriso no rosto, o olhar bobo de apaixonada. Fato real mas que por sua discrição ela evitava.

Enquanto isso, Martha cuidava dos últimos preparativos antes do jantar. Os pratos principais e seus respectivos acompanhamentos já estavam encaminhados e ela agora acertava os últimos detalhes da sobremesa que escolhera. Tinha certeza que faria sucesso com essa escolha hoje à noite. Castle entrou na cozinha e sorriu ao ver a dedicação da mãe a esse jantar afinal isso não era algo típico de Martha Rodgers o que o deixava extremamente feliz. Ele sabia o quanto a mãe admirava Kate e esperava que a mesma simpatia fosse estendida a Jim. Ele meteu a mão no doce que a mãe estava preparando e levou uma tapa nas mãos e saiu logo reclamando.

- Richard! Assim você vai estragar o doce. Quero que tudo esteja muito bem. Não quero que o pai de Kate tenha uma impressão errada de nós.

- Isso é bom porque eu queria mesmo falar sobre isso com você. Não podemos cometer exageros especialmente porque o Jim assim como Kate é uma pessoa muito reservada e tem certas coisas que nós fazemos ou gostamos que ele pode não aprovar.

- Do que você está falando?

- Só que nós devemos nos conter em certos aspectos. Nada de exageros, afinal você sabe que somos excêntricos.

- Oh, Richard! Com quem você pensa que está falando? Não tenho doze anos! Sei me comportar.

- Hum, espero. Vou ligar para Kate, acho que ela está muito ansiosa com esse jantar.

- Faça isso e diga a ela que não tem nada que se preocupar.

Ele pegou o celular e ligou para ela.

- Olá, gorgeous. Tudo sob controle para hoje. Como você está?

- Não sei Castle, um pouco preocupada. E se nada disso der certo?

- Relaxe, Kate. Vai ficar tudo bem. Você tem certeza que não quer que eu passe no seu apartamento para apanhar vocês?

- Não Castle, é melhor eu chegar com o meu pai.

- As sete então?

- Sim. Obrigada.


À noite... 


Ela arrumou-se e checava os últimos detalhes na frente do espelho. Depois de ajeitar o cabelo, deu-se por satisfeita e saiu. Já a caminho do apartamento de Castle, ela conversava animadamente com o pai e explicava que ele ia gostar muito de Martha assim Kate esperava.

- Pai, você sabe que Castle é rico,vive bem e você verá coisas no apartamento dele que talvez não aprove só não comente, ok? Ah e sobre o jeito dele eu queria que...

- Filha, tudo bem. Sei que Castle é uma celebridade, sei que é rico mas esse não é o ponto principal desse jantar. Também sei que se Castle fosse um cara interessado apenas em dormir com você, ele já tinha desaparecido no minuto seguinte que isso aconteceu.

- Pai eu...

- Não Kate, escute. Sei que esse jantar é importante por mais que você tente disfarçar ou dizer que não. Importa muito para você, eu te conheço filha. Vamos curtir o jantar, pensar nele como um momento de diversão para nós. Combinado?

- Combinado.

Já na frente da porta de Castle, o pai olha mais uma vez para a sua filha e sorri.

- Sabe, você está ainda mais bonita agora. É bom te ver feliz. Ela apenas retribuiu o sorriso e manteve-se calada.

Castle os recebeu como ela esperava. Como um cavalheiro. Fez sala, serviu-lhes bebida. Ele lembrou claramente do fato que Jim não tomava bebida alcoólica e evitou qualquer situação desagradável ou embaraçosa. Martha também estava animada conversando e falando na boa parte do tempo da vida de Kate e da interação dela com Castle no ambiente de trabalho. Não faltaram elogios à moça. Kate foi relaxando à medida que o tempo passava e o jantar foi se tornando algo bastante descontraído. Infelizmente, a noite ainda não havia acabado e algo desandou justamente na hora da sobremesa.

- Em comemoração a finalmente jantarmos juntos, eu fiz... uma sobremesa muito especial. Ela falou enquanto colocava a mesma na mesa.
-Martha, parece incrível. Elogiou de cara Kate ao sentir o aroma do chocolate chegar as suas narinas.

-É para morrer, literalmente. Eu o chamo de "Morte de Chocolate".

- Dado a sua experiência na cozinha, seria uma previsão? – brincou Castle.

- Presumo que cozinha não é um dos seus talentos, Martha. O comentário comum partiu de Jim e mal sabiam eles que isso desencadearia uma série de outros comentários nada amigáveis para os quatro.

- Bem, não de fato. Eu canalizei minha energia criativa para aperfeiçoar um ofício mais digno: atuar.

Até agora tudo bem, pensou Kate.

- E você, Jim? Como o Direito tem te tratado?

- Bem. Estou com uma ação que me mantém ocupado.

- Que bom. Espero que arrume um tempo de folga, Jim, e faça algo divertido.

- Claro. Tento sempre ir a um jogo de baseball. Kate sorriu para o pai, ela sabia o quanto ele gostava do esporte. Mas então, o próximo comentário de Martha deixou Kate e Castle entreolhando-se e já detectando sinal de perigo à vista.

- Meu Deus... Baseball. Isso não é maçante?

- Requer uma certa paciência. Jim respondeu.

- Uma certa falta de pulso, você quer dizer. Martha riu e Kate resolveu entrar para consertar o que parecia estar se transformando em um certo desastre.

- Acho que o que meu pai gosta são as nuances do jogo. Ela olhou para Martha de maneira expressiva o que a fez compreender a dica de Kate e consertou.

- Bem, sim, é claro. Tem seus méritos.

- Acho que minha mãe quis dizer é que não é exatamente... cheio de ação.

- Certo, mas isso depende de como você o vê, não é? Kate olhou para ele ao responder. Silenciosamente, ela se perguntava “o que você está fazendo? Dando sopa ao azar?” Mas era tarde demais. 

- É, suponho que atraia os mais... sérios, os mais... exigentes. Esse comentário fez Castle arregalar os olhos, conhecendo sua mãe, ele sabia que ela não deixaria passar.

- Jim... O que, exatamente, quis dizer?

- Só que os atores, por natureza, não são as pessoas mais sérias do mundo, são?

Kate fechou os olhos e engoliu em seco. Olhou para Castle como quem pede ajuda. Isso não estava nem um pouco dentro do planejado. O jantar já tinha ido por água abaixo.

- É mesmo? Então acha que não sou uma pessoa séria?

- Que tal nos mergulharmos nesta sobremesa? – Castle sugeriu e Kate concordou. Qualquer coisa para fazê-los desistir da discussão.

- Porque toda essa coisa de morte... parece ótima, agora – Castle sussurrou para ela. De repente, uma mensagem no celular de Kate traz uma noticia bem apropriada. 

-Houve um assassinato no centro.

- Perto o suficiente. Castle sentiu-se aliviado por ter que sair e acabar com isso tudo mesmo não sabendo se era uma boa ideia deixar aqueles dois sozinhos. 

- Sinto muito termos que sair correndo.

- Vocês dois: tenham cuidado.

- Sim, vocês dois também.


XXXX


Eles caminhavam até a cena do crime. Kate estava visivelmente chateada.

- Foi um completo desastre!

- Foi... estranho mas não tão ruim, certo?

- Como pode falar isso? Faltou pouco para eles subirem um no pescoço do outro Castle.

- Só estou dizendo, houve jantares piores.

- Como qual?

- A cena do jantar de "Alien" me veio à mente.

- Uma criatura saindo do peito do meu pai poderia ter melhorado o humor.

- Devíamos ter esperado isso. Eles vêm de mundos diferentes.

- É, sua mãe deveria ter sido mais sensível a isso – ela soltou com raiva.

- Espere. O quê?

- Nossa, parece arrumada. Batom, não é? Noite de encontro? – Esposito adorava mexer com eles.

- Não, jantar com o pai dela e minha mãe.

- Já? E como foi? – a curiosidade de Esposito foi sanada com um simples olhar matador de Kate e uma cara de poucos amigos de Castle. Entendeu o recado.

- Certo. Falando em padres, temos um bem aqui. Padre Joe McMurtry, 52 anos. Dona do imóvel apareceu para mostrar a propriedade...

-E encontrou o religioso. Disse Castle.

-Sabemos o quê nossa vítima fazia em um prédio abandonado?

- Ainda não. E ele estava longe de casa.Sua paróquia é no subúrbio.

-Hora da morte? Beckett perguntou a Lanie.

-Entre 19h e 22h de ontem. Provável causa da morte: três tiros no peito.

- São marcas próximas. O assassino é um atirador.

- Cuidadoso, também. Levou todas as cápsulas usadas.

- Câmeras de segurança?

- Nenhuma virada para o prédio.

- Parece o trabalho de um profissional.

- Alguém quer um padre assassinado? É uma conspiração do Vaticano. É "O Código DaVinci" – Castle já começava a se empolgar.

- Ou... não. Por que não checamos a vida dele e vemos se alguém tem motivos?

- Uma freira irá nos encontrar. Ela trabalhava com ele. Talvez nos dê alguma luz.

Ryan se aproxima e faz o sinal da cruz ao ver o padre estendido no chão.

- Então...Policiais fizeram uma batida na Chumson's Tavern. O bartender, Jerry Jenkins, disse saber sobre o assassinato,mas só falará com detetives.

-Castle e eu iremos. Vocês falam com a freira.

-Espera um pouco. Interrogaremos uma freira?

-Sim, e serei o bom policial. Você será o mau, então... – e Ryan estava visivelmente agoniado com isso.

Beckett e Castle foram ao tal bar encontrar com o bartender.

- Pedi por um detetive porque meus clientes tendem a se assustar com policiais uniformizados.

- Jerry, o que sabe sobre o assassinato?

- Ontem à noite, esse cara errante, Leo, disse que ouviu tiros na esquina da 5ª, depois viu um cara sair correndo do prédio. Então, hoje, ouvi que um padre foi estourado.

- Então Leo foi testemunha. Tem ideia de onde ele está?

- Ele ficou muito bêbado, então o coloquei em um táxi para casa, no Bronx.

- Lembra do endereço?

- Claro. 223ª Rua, nº 9245.


No 12th...


Ryan observava a freira entrar no distrito.

- Uma freira entra em uma delegacia... Parece o começo de uma piada de mau gosto – ele diz.

-Quer um pente emprestado?

-Cala a boca.

- Sabe o que isso me lembra? – Esposito provocou - Aqueles filmes de troca de corpo, onde o cara parece um homem adulto, mas ele tem 12 anos.

- Deixe-me te dizer algo... Escola católica é como o combate. Se não esteve lá, você não sabe.

- Eu já estive "no combate" e é bem pior do que uma velha senhora.

Durante o interrogatório, a freira revelou que o padre era um homem muito bom e que sempre estava disposto a ajudar a sua comunidade. Também disse quem o matou. Michael Dolan nada mais nada menos que o chefão da família O’Reilley, mafioso barra pesada. Ele e o padre cresceram juntos e eram amigos mas tiveram uma briga feia a dois dias que deixou o padre muito chateado. Ontem, ele saira após receber uma ligação que disse ser sobre Dolan. Eles telefonaram para Beckett alertando sobre a novidade. 

- O sacerdote e o mafioso. É uma história clássica – disse Castle - Amigos de infância. Um recebe o chamado superior enquanto o outro segue o caminho de crimes e assassinatos.

- Se a testemunha identificar Dolan, seu caminho vai levar direto para a prisão.

- Deveríamos ter vindo de metrô. É perigoso estacionar aqui.

- Vai ficar tudo bem. Beckett disse enquanto caminhavam pelo bairro escuro e perigoso. Então Castle aproveitou o momento para retomar a conversa deles que fora interrompida.

- O que quis dizer antes sobre minha mãe ser mais sensível?

- Quis dizer que eu queria que você pedisse para ela parar de criticar o meu pai.

- Ela estava expressando a opinião, assim como o seu pai, quando quase a chamou de leviana e estúpida.

- Meu pai não disse isso, Castle.

- Quer saber? Esqueça. Disse Castle sabendo que os dois estavam visivelmente chateados com tudo aquilo e certamente não podiam brigar assim no meio de uma investigação.

- Certo.

Ela saiu andando apressada e claramente chateada com o tom da conversa. Mas não conseguiu ficar quieto por um minuto sequer. Eles já estavam dentro do prédio rumo ao apartamento quando ele tornou a falar quando Beckett batia na porta.

- Para ser justo... ela só estava comentando sobre o passatempo dele, enquanto ele a estava insultando.

- Castle, cuidado.

-O quê? Há uma diferença... – ele pensou que Beckett estivesse falando ainda da sua mãe e já ia argumentar quando viu a fisionomia dela mudar e a mão buscar a arma.

-Não.

- Largue a arma – e Beckett sentiu a arma apontada para sua cabeça, largou a sua própria no chão - Passe os telefones e carteira.

- Tudo bem.

Castle jogou a carteira, o telefone e Beckett avançou e tirou o distintivo do bolso - Estão cometendo um grande erro. Sou policial – e jogou o mesmo ao chão.

- Deve estar atrás de Leo. Devemos ligar para o chefe.

- O chefe tipo... Mickey Dolan?

- Sabemos sobre McMurtry. Vão embora enquanto têm a chance.

- Não conseguirá aquela testemunha.

Então a porta do apartamento se abriu e Leo apareceu.

- O que é todo esse barulho aqui fora? E foi a chance que Beckett queria para criar uma desatenção. Chutou a arma do cara para longe e conseguiu ainda acerta-lo. Junto com Castle, conseguiu entrar no apartamento de Leo e fechar a porta trancando-os. Faziam tudo pedindo desculpas.

- Esperem. Quem são vocês?

- Polícia de NY.

-Abram! Abram agora!

-Estas travas não aguentarão.

- Abram!

- Castle, traga aquilo. Temos que bloquear a porta – Beckett mantinha o corpo contra a porta e viu o armário. Enquanto Castle e Leo empurravam o armário, Beckett correu para o telefone apenas para descobrir que não funcionava.

-Devem ter cortado a linha.

-O que está acontecendo?

-Estamos aqui para te salvar.

- Entreguem o cara e não iremos machucá-los! Os gritos do outro lado da porta continuavam.

- Não acredito nele.

-Que cara? Eu?

-Sim, você é o cara.

-O que eles querem comigo?

- Aquele cara que viu segurando uma arma? Ele matou alguém e você é a testemunha – ela tentava abrir a janela sem sucesso.

- Testemunha que querem se livrar.

- Isso não é bom. Não é bom.

- Como eles sabem o que vi?

- Da mesma forma que nós. Abriu a boca em um bar.

- Mas estava escuro. Eu nem vi isso tudo.

- Até onde eles sabem, viu o suficiente.

-Deus. Temos que sair daqui.

-Você acha?

- Não vai demorar para os caras de Dolan arrombarem a porta.

-Desculpe. Dolan? Mickey Dolan, o mafioso? Deus. Acabaremos boiando no rio com sapatos de cimento.

- Tecnicamente, se tem sapatos de cimento, não estará boiando.

Finalmente Kate conseguiu arrebentar uma das grades da janela. Olhava para ele de forma contrariada.

-O quê? Tem razão. Não está adiantando.

-Vamos.

Eles desceram pela janela e correram até o lugar onde ela estacionara.

- Cara, cadê seu carro?

-Cadê o meu carro?

-Cadê o seu carro?

- Estava bem aqui.

- Você estacionou aqui? Está brincando? Você não reparou na vizinhança? Disse Leo impressionado. Ela olhou para Castle que claramente parecia querer falar alguma coisa mas ela se antecipou.

- Não – ela ouviu o barulho dos caras correndo - Vão. Vão, vão, vão!

No distrito, Ryan e Esposito mostravam o que descobriram a Gates. Realmente, o padre McMurtry brigou com Mickey Dolan. Confirmaram com a câmera. O telefonema recebido foi feito de um orelhão o que não ajudava. A frente da família O'Reilly, ele é suspeito de vários assassinatos. Vasculharam o apartamento dele mas nem sinal ate o momento. Nem o pessoal do crime organizado sabe porém suspeitam que algo grande está para acontecer. Não havia o bastante para prisão. Gates ordenou que enviassem uma foto para Beckett para que a testemunha pudesse identifica-lo.

Enquanto isso no Bronx, Beckett, Castle e Leo se esconderam atrás de uma lixeira. Viram um carro passar.

-São eles?

-É, são eles.

- Nossa noite foi para o lixo, oficialmente.

Beckett avistou um telefone e já foi dizendo para Castle - Corra para o orelhão antes que voltem.

- Ainda não creio que eles existem. Alguém tem... US$ 1? Está brincando?

- Não é preciso moedas para ligar para 19.. – e então Castle mostra para ela que o telefone está arrancado da base, Beckett já toma a frente - Temos que andar.

- Ótimo. Simplesmente ótimo. Presos no subúrbio, com mafiosos tentando nos matar e sem contato com o mundo exterior.

- Leo, relaxe, está bem? Só precisamos achar um telefone. Há negócios 24h por aqui?

-Não que eu saiba.

-Talvez possamos pegar um celular emprestado. Castle sugeriu.

-De quem? Por aqui, só sai a esta hora da noite quem quer morrer. Meu Deus. Isso é loucura – Leo reclamava quando caminhavam numa voz apavorada - Essas coisas não acontecem comigo. Sou vendedor de papel. Eu vendo papel.

-Leo, concentre-se. Beckett parou e ordenou a ele.

-Certo.

- Você vai ficar bem. Vamos todos ficar bem.Só precisamos contatar minha delegacia.

-Como?

-Acho que já sei.

Ryan e Esposito foram até Gates com um problema. Eles não conseguiram enviar a foto para Beckett nem mesmo falar com ela, tentaram rastrear o radio do carro e o avistaram na estrada de Jersey. Até contataram a mãe de Castle e nada. Gates ordenou uma patrulha para interceptar o carro dela e mandou Esposito até o endereço da testemunha algo muito estranho estava acontecendo.

- Castle, não está funcionando.

Ele insistia tocando a campainha enlouquecidamente.

- Mas vai. Estou perturbando a paz. Eles não têm escolha a não ser... – e viu uma garrafa voando em sua direção - me oferecer cerveja.

- Da próxima, não vou errar – disse o cara muito contrariado - Sabem que horas são?

- Sim. Por favor, precisamos de ajuda!

- Vão precisar de ajuda mesmo, se não pararem de tocar. Então parem, antes que eu faça algo.

- Vai fazer o quê? Chamar a polícia? – Castle provocou - Na verdade, vá em frente. Não irei parar até que chame. E enviou o dedo com vontade na campainha.

- Polícia? Os tiras não vêm aqui, mané. Nesta vizinhança, estamos por conta própria. Continue com isso que descerei até aí e te machuco para valer.

- Esse é seu plano, fazer mais gente querer nos matar?

-Não.

-Vamos.

-Talvez briga chame a polícia.

- Sim, claro. Ou talvez os caras que nos perseguem.

- Se sobrevivermos.

- Estou tentando nos tirar dessa.

- Castle, é por sua causa que estamos nessa – Beckett deixou escapar com um pouco de raiva não apenas pela situação que se encontravam mas por tudo que já acontecera a eles naquela noite.

-O quê?

-Da próxima vez que dois caras forem nos atacar e eu disser "cuidado", por que você não me escuta?

- Se tivesse me escutado sobre o carro... – ele não deixou por menos.

- Sinto uma tensão aqui e acho que não tem a ver com os loucos nos seguindo e sim com vocês. E como minha vida está em suas mãos... mas eles ignoraram Leo.

- Quer saber? Estamos bem – disse Castle mas viu Beckett quebrando a janela de um carro com uma pedra - Uns mais do que outros. O que está fazendo?

-Tem um celular no carro.

- Graças a Deus.

Ela checou o iphone - E é protegido por senha.

- Bom trabalho. O alarme trouxe os caras de volta. E eles botaram pra correr. Eles se esconderam numa casinha de boneca no parque.

-Mas não vão parar de procurar.

- Talvez eu deva tentar falar com eles – Castle e Beckett olharam para Leo como se fosse louco - Então o quê? Fico aqui esperando que nos encontrem?

- Talvez não seja a única opção. Se eu descobrir a senha do telefone, podemos usá-lo.

- Agora você é adivinho? Tem umas 10.000 possibilidades – disse Beckett.

- Tem uma ideia melhor?

- Onde fica o metrô mais perto? Beckett não queria dar o braço a torcer.

- Agora ela quer pegar o metrô – Castle resmungou.

- A linha C fica a 6 quarteirões.

- Certo. Dia de semana, após a meia-noite, passa a cada meia-hora, na hora cheia. Que horas são?
-1h20.

-1h20. Certo. Não pegaremos o de 1h30, mas podemos pegar o das 2h. Esperamos 10 min e corremos.

- Metrô não é trem. Não há horário fixo – disse Castle.

- Tem sim.

- Vivi aqui a vida toda. Não tem horário. Ele continuou afirmando.

- Também vivi aqui a vida toda e tem sim, você que não sabe porque ele nem sempre passa na hora.

- Que é a mesma coisa que não ter horário – e Castle puxou discussão - E então? Vamos lá, o trem atrasa. E aí? Viramos alvo fácil.

-Somos alvo fácil agora. Retrucou ela.

- Estou começando a achar que lá fora é mais seguro. Claramente referindo-se a briga dos dois.

- Se eu não descobrir a senha, vamos até o metrô – Castle propôs para acabar com a discussão.

- Tudo bem. Disse Beckett ainda contrariada.

- Eu vou morrer.

Esposito comunicou a Gates que o apartamento da testemunha tinha sido arrombado provavelmente por dois homens, o que os levou a crer que os caras do Dolan chegaram à testemunha antes de Castle e Beckett ou que eles também viraram prisioneiros. Gates comentou que o carro de Beckett fora roubado por uns delinquentes que queriam se divertir. Esposito já estava coordenando a busca no apartamento e Gates pediu para ele retornar assim que possível, ela temia o pior. Ao desligar o telefone, viu ninguém menos que a mãe de Castle chamando por ela.

- Capitã Gates?

-Capitã Gates.

-O que fazem aqui? Ótimo, ela pensou após ver que o pai de Beckett estava com ela.

- Depois da ligação do detetive Esposito, fiquei preocupada, aí liguei...

- Não consigo falar com a Kate – disse Jim - Qual a situação?

- Não precisam se preocupar. Só estamos com problemas em achar a localização exata.

- Pare, por favor. Você é uma péssima atriz – disse Martha - Ninguém me ligaria se não estivesse muito preocupado. E quero saber o que está acontecendo.

- Tudo bem. Eles foram falar com uma testemunha e perdemos contato. Mas estamos fazendo tudo para encontrá-los. Sugiro que os dois vão para casa e eu ligo assim que tiver notícias.

- Não vou embora até saber o que houve com nossos filhos.

-Nem eu.

- Certo, onde está a cafeteira chique que o Richard comprou, fica ali?

- Na sala de descanso.

E os dois foram saindo rumo ao lugar. Gates suspirou e viu Ryan se aproximando.

- Não quero dizer aos dois que perdi os filhos deles. Diga que tem algo do Dolan.

- Nada, mas procurei os associados. Semana passada, todos saíram da cidade. Pode ser a guerra de território, mas consegui localizar um dos caras do Dolan, Colin Clarke. Ele vai para Dublin amanhã de manhã.

-Traga-o aqui.

Enquanto isso, Castle continuava tentando descobrir a senha e nada.

SENHA ERRADA

Beckett espiava a rua aparentemente não via os caras. Fato era que ela não conseguia olhar pra Castle, estava chateada demais e precisava fazer alguma coisa. Naquele momento, ela não era somente a detetive que busca solucionar o caso da melhor maneira, ela era a namorada chateada com tudo o que ouvira numa noite. Ela estava irritada com ele.

-Vê alguma coisa?

-Não.

- Mas não significa que não estejam lá.

-Consegui.

-Conseguiu. Como?

- Só precisei entrar na mente da dona do telefone. Ele dirige um mini, certo? Tentei isso. Nada. Olha a capa, corações. Tentei "Amor". Ainda nada. Mas olhe a tela.

- O quê?

- A senha é o nome do gato. Beckett disse revirando os olhos.

-Exato.

-Qual o nome do gato?

-Ele não sabe. Ela retrucou ainda irritada.

-Não sei, mas descobrindo...

-Estamos salvos.

- Castle, ache soluções reais.

- Estou oferecendo uma.

- Como focar em um telefone que nunca... e de repente a melodia de “Call me maybe” começou a tocar.

- O que estava dizendo? Não preciso da senha para atender.

- Alô, você caiu do céu. Graças a Deus que ligou.

- Seja quem for, melhor devolver meu telefone.

-Espere. É seu telefone?

-É, preciso dele.

- Todas as fotos da Lola estão aí, aplicativos, músicas.

- Mande ligar para a emergência e dizer onde estamos – sussurrou Beckett.

- Certo. Ouça, estamos no Parque Leimart.

- Eu sei onde estão. Usei o GPS para achar vocês.

- Usou? Ótimo! Ligue para a emergência. Estamos com problemas.

- É? Com certeza estão, especialmente se eu pegar vocês.

- Fale sobre o assassino – Leo sugeriu um tanto alto e a pessoa escutou.

- O quê? Assassinar? Está me ameaçando?

- Não. Não assassinar. Assassino. Estão nos caçando.

-Preciso que ligue... Alô?

-Não me ameace. E desligou.

- Deixou-a desligar? Quase conseguimos – disse Leo.

- É, eu deixei. Nem tudo está perdido. Ela falou a senha. O nome do gato é Lola – ele digitou e o telefone destravou - Bingo. Quem é o gênio agora? Só preciso... Não.

- O quê?

- Ela desabilitou o telefone remotamente.

Beckett e Leo resmungaram juntos. Isso não parecia nada bom. Ela resolveu checar novamente a situação na rua.

- Tem um táxi lá fora. Está devagar. Acho que podemos alcançar.

Eles desceram correndo para tentar chegar ao taxi. Porém, Leo tropeçou.

- Meu tornozelo. Meu tornozelo. Beckett parou mas Castle não iria deixar eles desperdiçarem outra chance.

- Vá, pare o taxi, vá! Eu ajudo Leo.

- Sério, cara? Você está me matando.

Quando Beckett chegou ao taxi já foi mal recebida - Não estou trabalhando.

- Não, por favor. Isto é uma emergência. Eu sou policial.

-E eu sou o sultão do Sião – debochando de Beckett - Estes são meus súditos fiéis.

- Não, você não entende. Isto não é uma piada. Precisamos da sua ajuda.

- Você tem "problemas" escrito no rosto.

- Eu te dou US$ 1.000 para nos levar até a cidade.

- Sério? Deixe-me ver o dinheiro.

-Bom, não está comigo... mas eu tenho este lindo relógio.

E o taxi arrancou.

-Não! Não, não. Beckett não acreditava nisso.

-Ele é à prova d'água – Castle continuava gritando mesmo sem chance do taxista ouvir - Ele marca a hora em 3 diferentes fusos horários – eles avistaram os capangas de Dolan - E agora ele está dizendo que é hora de ir.

-Vamos! Mexam-se!

-Meu Deus. Meu Deus.

- Vá, vá, vá...

E saíram correndo pela rua com um Leo machucado a tiracolo. Finalmente Beckett achou um porão e eles entraram.

- Machuquei feio meu tornozelo. Não posso ficar em pé.

- Não demorará para descobrirem onde estamos. Mas se ele não pode andar, será difícil nos movermos.

- Sim, e mais difícil ainda será correr.

- Eles devem estar aqui em algum lugar.

Colin Clark chegou ao distrito e foi logo ser interrogado por Gates mas aquilo que ela imaginara ser fácil de fazer tornara-se bem difícil, o cara não apenas era arrogante como também não dera uma pista sequer de onde estava Dolan e muito menos de onde estavam Beckett e Castle. Esposito queria interroga-lo mas Ryan já sabia que dali não iam ter muita informação e decidiu checar se os técnicos tinham alguma novidade. 


No porão...


Beckett dava uma última espiada lá fora. Os caras realmente não desistiam fácil.

- Eles ainda estão lá fora. Parece que não sabem onde estamos, mas irão descobrir eventualmente.

- Eles não passarão por aqui, mas a porta no andar superior abre por fora.

- Ótimo. Quando nos descobrirem, poderão entrar por lá.

-Estaremos longe até lá – disse Beckett.

-Como? Estamos ainda mais longe do metrô e torci o tornozelo.

-Vou achar fita para apertá-lo.

- Dane-se a fita! Pode achar outro tornozelo? Ou não andarei 8 quadras.

-Não precisamos fazer isso – ela tinha um papel na mão - Um menu de um restaurante chinês 24 horas, a 2 quadras daqui. Se chegarmos lá, conseguiremos ajuda, só precisamos esperar este cara sair.

Castle já voltava com a fita e algo mais.

-Encontrou alguma fita?

-Sim, encontrei. Eu também achei... uma caixa de ferramentas e um rádio transmissor quebrado. Mas posso consertá-lo.

-Ótimo. É engenheiro ou tem experiência?

- Não, mas já vi todos os episódio de MacGyver.

Kate segurou o riso diante dessa declaração e balançou de leve a cabeça. Castle e suas ideias fantasiosas.

-O quê?

- Eu não disse nada.

- Não, você não precisa.

- Ao menos sugiro opções reais, Castle. Não as da TV. E mais uma alfinetada.

- Certo, licença. O que há de errado com vocês? Há gente tentando nos matar. Qual o problema?

-Não há problema. Definitivamente há sim, um grande problema, nós dois pensou Kate.

- Há sim.

- Não é nada – mas Castle sentiu a necessidade de falar, a situação não estava boa entre eles e precisavam resolver isso para poder resolver o caso - Jantamos com nossos país e o pai dela...

- Meu pai? Mais a sua mãe. Beckett retrucou.

- Então vocês não são apenas parceiros. Vocês são... parceiros. Entendi. Certo – Beckett e Castle se entreolharam de banda - Já fiz mais de mil horas de terapia, gratuitas, como paciente, aprendi algumas coisas, e posso dizer uma coisa. Isto não é sobre seus pais. Certo? Isso é só uma desculpa. Esta briga... é sobre vocês dois.

De alguma forma, as palavras de Leo acabaram mexendo com eles, especialmente com Beckett. Ela estava incomodada com tudo o que acontecera e estava tentando evitar de pensar nisso mesmo sabendo que não estava ajudando muito visto que de vez em quando ela soltava alguma farpa para Castle.

No distrito, Martha e Jim esperavam ainda por notícias dos filhos. Ambos visivelmente preocupados e apesar de não terem se entendido durante o jantar, agora eles queriam mesmo era saber se Castle e Beckett estavam bem. Não conversar sobre isso não era a melhor ideia, então Martha deu o primeiro passo.   

- Eu duvido que a polícia de Nova Iorque gostará do buraco que fiz andando pela sala de descanso. Então pensei em te fazer companhia. Trouxe para você.

-Obrigado.

- Está horrível.

- Está tudo bem. Eu normalmente tomo café preto.

-Bom m...

-Você sabe, simples, chato.

-Não acha que eu te acho...

-Não, está tudo bem.

-Chato?

-Está tudo bem. Toda esta coisa de jantar parecia tão absurdo.

-Basebol é...

-Está tudo bem.

- Sim... Está tudo bem.

Mas Martha não estava tão certa disso. Tentando segurar as lágrimas, ela falou.

- Jim... Não sei como você faz isso. Pensei que me acostumaria com essa... nova parte da vida de Richard. O perigo constante e o nunca saber e eu... Mas eu realmente pensei que chegaria um momento, apenas um momento, quando a preocupação acabaria.

- Katie faz isso há mais de uma década e eu tenho... Eu sinto este frio no estômago desde que lhe entregaram o distintivo. Ela diz que sempre se sente segura quando o seu filho está ao lado dela.

- Ele diz a mesma coisa sobre ela. Bom... pelo menos, onde quer que estejam, eles têm um ao outro para se apoiarem.

Porém, as coisas não estavam tão bem assim para eles. Castle continuava a mexer no rádio e Beckett o observava mantendo uma certa distância. Várias ideias povoavam sua mente naquele momento e nenhuma delas era sobre o caso. Como em uma noite ela conseguira voltar a ter tantas dúvidas a respeito deles, do relacionamento deles? Porque insistia em brigar ao invés de conversar sobre isso? Ela sabia que fazia parte de seu mecanismo de defesa mas prometera a ele que não esconderia nada do que a incomodasse nesse relacionamento. Viu Castle gritar após tomar um choque e se aproximou. Talvez devessem falar a respeito.  

- O que Leo disse que era loucura, certo?

- Era. Fala sério. Somos um casal de idiotas que não se lembra por que briga – ele sabia que algo a incomodava por isso insistiu - Então... por que estávamos brigando?

- Eu não sei.

- Eu não sei bem...- ele decidiu falar do jantar - Eu só... queria que o jantar corresse bem e quando isso não aconteceu... então Beckett finalmente se abriu.

- Você disse: "mundos diferentes".

- O quê?

- Disse que eles são de mundos diferentes e que deveríamos esperar por isso. E então eu comecei a pensar em nós. Você é mundialmente famoso. Autor de best-sellers. E eu sou apenas uma policial e... estamos neste relacionamento, que não faz sentido algum na teoria. E, às vezes, fico me perguntando... se estamos apenas nos enganando. E se esta bolha estourar? O que será de nós?

- Kate... – era isso que ela estava remoendo - não somos os nossos pais. Certo? E quando eu disse dois mundos diferentes, eu não quis dizer... e de repente o rádio começou a funcionar.

-Levante-se. Estou em um acidente na rodovia.

- Olá. Olá. Pode me ouvir? Talvez eu não esteja falando a linguagem correta. Câmbio, câmbio. Estou com uma mamãe urso e dois filhotes que precisam voltar para sua caverna. Já escrevi que Derrick Storm batia em um caminhoneiro.

Kate sorriu para ele.

-Alguém interferiu no sinal. É apenas estática – era o que vinha da transmissão.

- Olá. Você está ouvindo? Você pode me ouvir? – Castle tentou mais uma vez.

- O microfone deve estar quebrado. Beckett sugeriu.

- O cara foi embora – disse Leo.

- É nossa melhor chance para ir ao restaurante chinês.

- Certo, eu vou. Disse Castle. 

-Não. Vamos juntos – Beckett insistiu.

- Com esse tornozelo? E não podemos deixá-lo sozinho. E sendo um só, posso passar despercebido.

-Castle, eu sou policial.

-E deve ficar com a testemunha. Além disso, é ele que querem morto, não eu.

- Obrigado por me lembrar.

- Não se preocupe – ele se aproximou dela e a surpreendeu com um beijo - Eu te trago as sobras.

Castle caminhava pela rua tentando manter a calma.

- Tudo bem. Basta ser... imperceptível. Só um cara branco normal andando no Bronx, no meio da noite. O que poderia dar errado? Restaurante chinês. Restaurante chinês. Algo cheira... delicioso – finalmente ele avistara o restaurante mas quando ia ao seu encontro foi interceptado por um carro e dele saiu o mesmo capanga que ele já havia brigado antes.

- Você não quer fazer isso – ele apontou a arma para Castle e enquanto ele falava, o capanga jogou-o dentro do carro. Castle deu de cara com Dolan. Engoliu em seco.

Beckett sentara na frente do rádio e apertava o botão sem parar. Não que ela estivesse querendo estabelecer contato. Estava nervosa, arrependida até. Não deveria ter deixado Castle ir sozinho. E se algo acontecesse com ele? Ele não tinha uma arma para se defender... bem tecnicamente nem ela. Estavam jogados à sorte. Eles não terminaram a conversa mas aquele beijo...fora tão espontâneo. Ela não esperava por aquilo.   

- Nervosa?

- Não. Só estou tentando enviar uma mensagem – o que era uma mentira deslavada - Eles ouvem a estática quando pressiono o botão, então pensei em mandar um SOS, mas...

- Não tem problema em se preocupar.

- Ele vai ficar bem. Ele é inteligente e engenhoso.

- Maior do que a vida de outro mundo.

- Como você...

- Por favor. Estamos em um porão. O som viaja. Eu ouvi.

- Aquilo foi uma conversa privada – ela não gostava quando as pessoas se intrometiam em sua vida, especialmente um estranho.
- Sobre o quanto são diferentes e isso te preocupa, não é?

- Não quero falar disso agora.

- E as diferenças que são tão charmosas agora podem acabar afastando vocês.

- Quem é você, o dr. Phil? – disse ela visivelmente irritada.

- Não. Só um cara que pode morrer hoje, percebendo que a vida é curta. Vá por mim. Viver sua vida no momento faz muito mais sentido que se preocupar com o futuro.

E de alguma forma, as palavras de Leo tocaram na ferida. Será que ela estava se preocupando demais? - pensava Kate – será que ela não estava usando o lance do jantar como uma desculpa para tentar sabotar seu próprio relacionamento com Castle? A verdade era que eles pertenciam a mundos diferentes mas foram unidos pelo mundo dela e aos poucos ela foi entrando na vida dele. Talvez isso os fizesse ser tão diferentes mas ao mesmo tempo tão complementares. Ela nunca esqueceu algo que Castle disse a ela logo depois que se conheceram. Ele disse que ela não pertencia aquilo ali, a vida na polícia e se estava ali era por um motivo muito importante. Isso era uma verdade, se sua mãe ainda fosse viva, ela estaria provavelmente advogando ao lado dela ou sendo juíza do supremo. Estaria vivendo outra vida. Talvez até estivesse casada com alguém poderoso e então ela não estaria tão distante do mundo dele. Se isso tivesse acontecido, essa suposta vida, Kate sabia que em nenhum momento Castle estaria com ela. Mas no seu mundo real, tudo ficara claro para ela.

Precisava de Castle a seu lado. Aprendera com ele e crescera ao lado dele emocionalmente. Sim, eles tinham diferentes opiniões, suas diferenças, porém era isso que os tornava tão parecidos, tão bons juntos. Ela sabia que apesar de discordarem, eles sempre chegavam a um denominador comum, sempre apoiavam um ao outro. Isso era muito importante para ela. Não imaginaria que seu apego a Castle a fizesse querer enfrentar fantasmas que já havia aceitado. Ela quis seguir em frente, por ela e pelos dois. Mundos diferentes sim, na teoria podem não dar certo. Na prática? Kate sabia apenas de uma coisa, se acostumara a tê-lo por perto e nesse momento ele estava lá fora, sozinho e seu coração estava apertado. Nada poderia dar errado. Ele tinha que estar bem.


XXXXXXXX


Dolan olhava sério para Castle.        

- Onde está Leo?

- Que Leo?

- Você é engraçado. Gosto disso. Sei que a garota é tira, mas você não cheira a NYPD. Qual o seu interesse nesta história?

- Sou... Sou escritor. Trabalho com a polícia.

- É? O que você escreve?

- Livros de mistério.

- Não tenho saco para livros. Mas quando leio, vou direto para a última página.

- Isso acaba com a graça, não acha?

- É, talvez. Mas fiquei muito bom em descobrir os finais. Como no caso da nossa historinha. Tenho certeza de que vai acabar de uma única maneira. Vai me dizer onde aquela tira escondeu minha testemunha.

- Sabe o que está pedindo? Por que diria onde eles estão? Vou morrer mesmo. Por que eu deixaria você pegá-los também?

- Você joga pôquer?

-Já ganhei bastante fichas.

-Eu também. E a chave é ler o blefe de um homem. Então vamos testar sua habilidade para blefar. Quando te pegamos, você ia buscar ajuda, certo? Então Leo e a tira estão em um prédio perto, quietos. Esse prédio fica no lado norte ou sul da rua?

-Norte.

-Então é o sul. Pegamos você na esquina da Rua 225 com a Av. Lex. Então eles estão a poucos quarteirões. Eles estão na 227? – Castle não falava nada apenas mantinha o olhar para Dolan, não podia dar bandeira - 226? – Dolan ia falando como num jogo de “quente e frio” lendo as expressões de Castle - 224? – Castle não sabia como mas fora pego - Então é na Rua 224. Vá buscá-los.

Através de uma pista, Gates e os rapazes souberam que Dolan estava sendo investigado pelos federais e portanto chamaram um dos agentes ao distrito. Gates explicou a situação ao agente e que gostaria de saber o paradeiro de Michael Dolan, porém o agente disse que não podia comentar. Gates irritou-se e falou do padre, afinal para ela, McMurthy deveria estar trabalhando para eles.  

- O padre McMurtry não era nosso informante.

- Dolan é seu informante?

- Ainda não, mas sabemos que ele e McMurtry eram amigos. McMurtry tentava convencer Dolan a entregar evidências contra a família O'Reilly em troca de imunidade. Acabamos de trazer Dolan para discutir os termos. Mas, hoje, quando descobriu que o padre foi baleado, ele perdeu a cabeça. Dolan escapou dos dois agentes que faziam sua guarda e fugiu do esconderijo.

- Espere aí. Se ele estava sob custódia federal na noite do assassinato...

- Então ele não matou McMurtry.

- Então quem foi? Quem tinha motivo? Gates se perguntava.

- Os O'Reilly. Era o testemunho de Dolan que os mandaria para a prisão – Ryan tentava ligar as informações - Por isso estão fugindo da cidade e mataram McMurtry. Para atraí-lo.

- Então Dolan está caçando quem matou o padre e os O'Reilly estão caçando Dolan.

- E ambos os lados eliminarão quem entrar em seu caminho.

XXXX

Beckett estava alerta quando a porta do porão foi arrombada. Ela partiu para cima do cara quebrando uma garrafa na cabeça dele. Lutou com ele dando-lhe socos e pontapés fazendo-o cair e soltar a arma.  

- A arma! Pegue a arma!

Mas Leo avançou para o cara e o acertou em cheio apagando-o. Pegou a arma e apontou para ela.  

- O que você está fazendo,Leo?

- Meu trabalho.

- Quem é você? – Leo apontava a arma para a cabeça dela fazendo-a prender o cara de Dolan com fita adesiva.

- Digamos que sou um contratado independente tentando se aproximar de seu alvo.

- Então não é testemunha? Só estava fingindo – ela entendeu o jogo, como se deixou levar por isso? - Você matou McMurtry para se aproximar de Dolan, sabia que, se bancasse a vítima, ele viria a você.

-Entendeu rápido.

-Por que o fingimento? Por que você apenas não matou Castle e eu?

- É meio difícil bancar a testemunha inocente deixando dois cadáveres para trás, então tive que seguir com essa coisa de fuga. Mas agora o tempo acabou e preciso dar o próximo passo. Você, cadê seu telefone?

Castle tentava convencer Dolan a não matar Kate.

- Você não quer fazer isso. Matar uma policial? Você sabe quanta encrenca isso traz.

- Matá-la? Confie em mim, não pretendo matá-la.

- McMurtry confiou em você e olhe no que deu.

- Acha que matei Joey? Joey era meu melhor amigo, mesmo quando nossas vidas tomaram rumos diferentes. Ele nunca desistiu de mim. Eu jamais o machucaria. Não posso dizer o mesmo de quem o apagou. Por isso preciso falar com a testemunha antes que vocês o coloquem sob custódia protetora, para que eu descubra quem foi o filho da mãe que matou Joey.

- Como eu vou saber se posso confiar em você?

- Não saberá. Mas não precisará. Você só tem que ficar aqui e esperar meu telefone tocar. Quando eu conseguir o que quero... cada um segue seu caminho. Vivos. Acreditando ou não em mim.

Leo ordenou que Beckett pegasse o telefone e falasse com Dolan. Essa talvez fosse sua única chance de se comunicar com Castle e precisava usa-la bem para que ele entendesse o que realmente estava acontecendo. O telefone de Dolan tocou. Castle estava atento à conversa.

-Você os pegou?

-Lamento, Mickey, deveria ter mandado mais capangas.

- Talvez. Eu te subestimei, detetive.

- Não cometeria esse erro de novo,sobretudo se machucar o Castle. E ela falava sério.

- Que tal fazermos uma troca? Devolvo seu escritor e você me dá a testemunha.

- Não, não. Não concordarei com nada até saber se Castle está bem.

- Shakespeare, é para você. Dolan entregou o telefone para ele.

-Kate.

-Castle. Você está bem?

- Estou, sim. Então... por mais que pareça loucura, realmente acho que Mickey só quer conversar. Vai ficar tudo bem.

- Espero que sim - ela estava tensa - E então podemos programar algo com nossos pais. Talvez possamos ir ver um jogo de basebol juntos. Algo que os 4 gostem.

Mas ela não pode continuar pois Dolan pegou o telefone de Castle.

- Satisfeita?

- Onde nos encontramos?

- Sob a ponte Costello, em 15min, fica a 3 quadras daí.

Enquanto caminhavam para o lugar do encontro, Leo com a arma apontada para ela conversava. Beckett apenas estava buscando uma maneira de sair dessa, o que estava se tornando bem difícil com as mãos amarradas, sem sua própria arma e na mira de outra. E ainda tinha Castle.  

- Nem tudo que te disse era mentira. Eu ia a um psicólogo. Diagnosticou-me como sociopata com tendências homicidas, então precisei matá-lo.

- Leo, você não quer fazer isso. Matar uma policial só te trará problemas com a polícia de NY, com o FBI... Deixe-me ir.

- Lamento, não posso. Mas achei seu relacionamento fascinante. Você e Castle têm problemas sérios. Que pena que não terá a chance de resolvê-los. Mas, é como eu disse, a vida é muito curta. Ali estão eles.

Leo pouco se importou em deixa-la sozinha e se aproximar do carro preto. Beckett o observava sem saber o que ele ia fazer, as últimas palavras de Leo a deixaram realmente irritada então quando ela ouviu a rajada de tiros disparados contra o carro, ela se desesperou.

- Não. Não! Ela saiu correndo em direção a ele e quando viu o carro vazio, prendeu a respiração. Leo não acreditava.

- O que...

- Parece que você errou. Chega disso – era Dolan que estava de pé na frente dele, ao seu lado um capanga e Castle - Ambos sabemos que você esvaziou seu cartucho atirando no carro.

- Como descobriram?

- Gostaria de dizer que fui eu, mas foi o Shakespeare aqui quem percebeu.

- Quando falou sobre minha mãe gostar de basebol... Ainda estamos longe de fazer piada sobre isso. Algo deveria estar errado – Kate sorriu, ele entendera.

- Só queria te perguntar quem matou meu amigo – e apontou a arma para ele - Acho que não preciso mais perguntar.

- Mickey, não. Castle tentava convencê-lo a não matar Leo.

- Ele matou Joey a sangue frio.

- Eu sei, mas o que Joey ia querer? Disse que ele nunca desistiu de você. Se puxar o gatilho... estará desistindo dele.

O momento era de tensão e expectativa. Mickey ainda tinha a arma apontada para Leo mas as palavras de Castle sobre o amigo surtiram efeito e ele baixou a arma. Mesmo assim, Leo o provocou. 

- Isso não acaba aqui. Os O'Reillys mandarão outra pessoa. Você é um homem morto.

- Quer saber? Posso viver com isso. Pegue a arma dele.

Nesse momento, um carro da polícia apareceu. Saíram já dando as ordens que tanto Mickey quanto Leo obedeceram. Beckett correu ao encontro de Castle e erguendo as mãos ainda presas com a fita, pendurou-se nele abraçando-o.

-Achei que tivesse te perdido.

-Não, nunca. Nunca - ele sorriu abraçando-a de volta - Deixe-me tirar isso – ele soltou as mãos dela e sorrindo continuou - E isto é para você – entregou a arma e o distintivo dela - Agora, vamos sair daqui.

- Ótima ideia – disse Beckett sorrindo.

- Com licença – disse Beckett mostrando o distintivo ao policial - Pode nos arrumar um transporte?

- Ficaremos presos aqui por um tempo. Por que não pedem um táxi? E num assobio, um taxi apareceu do nada.

- Sério? Como fora tão difícil para eles quando precisaram? Ah não importa mais - Vamos...

Kate entrou no carro e Castle lembrou que não tinha dinheiro algum.

- Pode me emprestar US$ 20?

De volta ao distrito, Ryan e Esposito atualizaram aos dois sobre as prisões. Leo confessou ter assassinado o padre para uma policial que manteve refém, vai ficar preso por muito tempo. Dolan voltou para a custódia federal. Ele quer cumprir pena por alguns de seus crimes. Castle ainda não acreditava que Leo era o bandido. Nesse instante, Gates os encontra.

- Detetive Beckett, sr. Castle, é bom tê-los de volta.

-É bom estar de volta – disse Castle.

-Estávamos preocupados, mas não tanto quanto seus pais.

-Nossos pais? Beckett indagou confusa.

-Pois é. Liguei para eles quando tentávamos encontrar vocês. Sua mãe está...

- Não diga mais nada – foram as palavras de Castle.

- Podem achá-los na sala de descanso. Informou Gates.

- Obrigado.

- Acho que não podemos evitá-los para sempre – Beckett disse ainda receosa após tudo aquilo. Mesmo sabendo que não estava disposta a tirar Castle da sua vida, ela ainda não sabia o que ele realmente pensava sobre isso, afinal ele também ficou frustrado ao ver o desastre do jantar. Castle virou-se para ela e falou.

- Mas quer saber? E daí se eles não se deram bem? Eles não são a gente. E daí se não fazemos sentido na teoria? Não vivemos na teoria. Se fosse assim, nunca ficaríamos espantados... ou surpresos.

E então ele calou-se. Ambos olhavam para a imagem a sua frente ainda sem acreditar. Martha e Jim conversavam de maneira civilizada e até sorriam! Martha chegara a tocar no rosto dele. 

-Como isso aconteceu? Indagou Kate totalmente surpresa.

-Não tenho ideia, mas vamos entrar na onda.

- Sim – ela concordou e saiu correndo ao seu encontro – Pai – abraçou-o por um momento e sorriu para Martha, Castle caminhava ao encontro deles e foi logo abraçado pela mãe – está tudo bem.

- Tudo bem? – questionou Martha – vocês quase nos matam de susto! Sumiram e ninguém sabia de vocês!

- Tudo bem, mãe. Estamos aqui, fim do ato.

- Sério, Martha. Está tudo bem. Castle acabou salvando a todos.

- Oh, mesmo? Ah, kiddo... – agora ela estava orgulhosa.

- Tudo por causa da sua dica... Castle a olhava com ternura e sorria pra ela.

Jim percebera a felicidade nos olhos da filha e isso não podia deixa-lo mais satisfeito. Foi ele quem sugeriu.

- Acho que podemos ir para casa. Já tivemos muitas aventuras por hoje.

- Concordo – disse Castle. Eles saiam abraçados cada um ao seu respectivo pai/mãe. Ao chegarem na rua, foi Kate quem acabou surpreendendo a todos.

- Sabe, estive pensando. Nós fomos interrompidos no nosso encontro e eu certamente gostaria de passar uma noite agradável com meu pai e com você Martha. Não acho justo que você teve todo aquele trabalho e sequer aproveitamos direito. Eu quero começar de novo.

- Kate querida foi só um jantar... tudo bem... – disse Martha.

- Não, eu realmente gostaria de jantar novamente com vocês, eu e Castle gostaríamos.

- Ok, que tal um restaurante? Assim ficamos tranquilos, ninguém tem trabalho. Posso agendar algo para nós. Alguma preferência sobre a cozinha?

- Não Castle – ela segurou a mão dele – eu quero fazer esse jantar. Cozinhar para nós. Será mais aconchegante...

- Bem, você realmente cozinha bem... isso não posso negar.

- E seria uma forma de passar mais tempo com você, pai. Eu ainda tenho muitas receitas da mamãe e você poderá matar a saudade de uma comidinha caseira – ela sorriu para o pai – então podemos fazer isso? Amanhã à noite?

- Será um prazer, Kate – disse Martha sorrindo e beijando-a no rosto. Ela virou-se para Castle e falou – você tem uma garota de ouro nas mãos Richard. Não faça besteira – ela avisou séria apontando o dedo indicador para ele o que fez Kate rir.

- Espero vocês no meu apartamento às 7h ok?

- Convite aceito.

Antes de entrarem no carro, Castle aproximou-se dela e sussurrou.

- Você precisa de ajuda?

- Não, eu me viro.

- Viu? Mais uma surpresa...cadê a teoria agora? E piscou para ela.

No dia seguinte, Kate já tinha decidido o que ia cozinhar. O cardápio lembrava demais sua mãe. Ela escolhera algumas das receitas que o pai mais gostava e resolveu prepara-las. Rosbife ao molho de champignons, suflê de brócolis, arroz a piamontese e uma salada caesar para a entrada. Para a sobremesa, algo bem simples que sua mãe apelidara de delícia de morango mas no fundo era apenas morango, creme de leite e chantilly, nada sofisticado. Era bom ser domingo porque ela tinha tempo livre para se dedicar ao jantar.

Enquanto cortava os temperos e as verduras, Kate se pegou pensando na mãe. Remexer naquele livro de receitas trazia sua mãe de volta de alguma maneira. Aqui estava ela, preparando um jantar para seu pai e para a família do seu namorado sem a presença dela. Até ontem, ela ainda não tinha se perguntado realmente se todo aquele relacionamento fazia sentido. Talvez até o encarasse como um flerte apesar de saber que isso era algo que ela gostava de impor a sua mente. O lance da sabotagem como diria seu terapeuta. E de repente esse jantar fez com que ela pensasse além sobre o que vivia. Nessas horas, Johanna fazia falta. Esse era o tipo de conversa que ela gostaria de ter com a mãe. Castle é tão melhor que ela nessa história de relacionamento. Apesar do jeito mulherengo, ele se compromete, ele investe e sabe o que dizer. Sim, é parte do charme dele mas Castle também sabe que isso não funciona bem com ela. A sensação de perda que sentira no momento que viu Leo atirando contra o carro fora enorme. Kate sentiu o coração parar ao pensar que ele estava morto. Isso a fez perceber que no fim, apenas eles importam.

Ao virar a pagina do livro para ver outra receita, Kate se deparou com a própria letra quando mais jovem.

“Prato preferido do papai quando fizer esse é obrigatório fazer delicia de morango pra mim. Viu, mãe? Desculpe por escrever aqui. ILY, Katie...” e um coraçãozinho desenhado ao lado do nome.      

Kate não pode deixar de sorrir e tocar a escrita. Deixou escapar um sussurro e um desejo – Queria que estivesse aqui, mãe...

As sete e quinze, a campainha do seu apartamento tocou. Kate deu mais uma olhada para a mesa de jantar improvisada e passou as mãos 
nos cabelos. Ao abrir a porta deparou-se com Castle segurando um buque de flores e Martha uma garrafa de vinho.

- Castle não precisava, tenho vinho.

- Ela insistiu.

- Claro! Se a Kate me convidou para jantar eu acho no mínimo cortês retribuir um gesto nobre com um bom vinho.

- Obrigada, Martha. Entrem. Meu pai já telefonou, está a caminho. Sente-se e fiquem a vontade. Castle você sabe onde ficam os copos. Pode servir o vinho para nós? Vou dar uma última olhada na carne.

- Oh, de onde veio essa mesa de jantar?

- Improvisação Castle...apenas improvisação.

- O que está cheirando tão bem? Ele se aproximou dela que mexia o molho na panela sobre o cook top e envolveu-a pela cintura beijando-lhe e cheirando o pescoço – ah, esse é o cheiro... – você reparou que não me deu nem um beijo? Será que tem algo que possa fazer para se redimir? Como me deixar provar esse molho?

Ela balançou a cabeça e desligou o fogo. Derramou o molho em uma molheira deixando ainda um resto na panela para jogar depois sobre a carne. Pegou a colher que usava e ofereceu a ele virando-se para fita-lo. Castle provou e fechou os olhos.

- Delicioso...

- Mesmo? Mais que isso? E ela se inclinou e beijou-lhe os lábios vagarosamente.

- Não nada barra isso, exceto por talvez... algemas...sim definitivamente algemas...

- Sério? E eu pensando que você fosse dizer chantilly... – ela o empurrou de leve para fazer companhia a Martha. Sentou-se no sofá ao lado dela e começaram a conversar. Cinco minutos depois, a campainha toca e Kate pede para Castle atender enquanto ela providencia mais vinho para elas.

Jim está sorridente e cumprimenta Castle. Assim que fala com a filha, ele vai até Martha e a cumprimenta com um beijo no rosto. Um clima bem diferente do dia anterior. Eles sentaram-se para conversar por um tempo ainda sobre os acontecimentos de ontem e logo depois Kate decidiu servir o jantar. Quando estavam todos sentados à mesa, Kate apresentou o menu.

- Fiz um jantar bem simples. Eu preparei o prato preferido do meu pai, rosbife ao molho de champignons, não está igual o da mamãe mas o que vale é a intenção. Suflê de brócolis, arroz piamontese e uma salada que não pode faltar.

- Tudo tirado do livro de receitas da sua mãe, Katie...

- É, ainda os tenho.

- Parece maravilhoso – disse Martha.

- Então, vamos começar?

O jantar ocorreu sem maiores problemas. A comida estava realmente maravilhosa e Kate ouviu elogios de todos. Satisfeita por ver o sorriso no rosto do pai, ela sabia que tinha tomado a decisão correta ao decidir fazer esse jantar.

- Kate está tudo delicioso. Não deixou nada a desejar à comida da sua mãe. É como se ela estivesse aqui.

- É uma maneira de ver isso. Mais vinho Martha?

- Aceito querida, obrigada.

- Castle você pode fazer um café para nós enquanto retiro essas comidas e pego a sobremesa?

- Claro!

- E vocês, podem ir para sala. Já vamos para lá também – disse isso estendendo a taça a Martha.

Castle transitava naturalmente pelo apartamento de Beckett como se vivesse ali a bastante tempo. Ela não se importava com isso. Caminhavam e trabalhavam em sincronia. Martha os observava de longe quando comentou.

- Olha para eles... parecem tão bem juntos. Richard gosta de cozinhar mas geralmente deixa a cozinha toda bagunçada mas agora, ele está limpando os pratos para ela - Kate sorria com algo que Castle dissera – eles parecem tão felizes!

- É, devo admitir que seu filho conseguiu quebrar a proteção que Kate se impôs durante anos. Essa cena que estamos vendo, pode-se considerar algo inédito. Conheço minha filha, ela realmente está feliz.

- Isso vale todo o sacrifício não? Depois de tudo que passei para cria-lo e vocês também tiveram momentos muito difíceis. Vale muito a pena ver isso.

- Tem razão, tenho certeza que Johanna iria adorar seu filho.

Kate vinha carregando uma bandeja com as cubinhas de sobremesa, Castle trazia canecas.

- Quem quer café?

- Eu quero...não espere! Quero é essa sobremesa. O que é isso, Kate?

- Eu chamo de...

- Delícia de morango – Jim respondeu – toda vez que a mãe dela fazia meu prato preferido, Kate exigia essa sobremesa, dizia que não era justo só eu ganhar o que queria. Acabou virando uma espécie de ritual entre nós, se o almoço fosse rosbife, não podia faltar a sobremesa de morango. Nunca vi alguém que goste tanto de frutas vermelhas como Kate, especialmente morangos.

- E cerejas... Castle completou olhando fixamente para a taça com os morangos cobertos de chantilly – sim.... chantilly. Jim não entendeu o que Castle queria dizer com aquilo mas Kate segurava o riso, sabia exatamente o que estava se passando na mente dele.

- Castle...cadê o meu café? – ele não dissera nada – Castle!           

- O que?!

- Meu café... – olhou para ele erguendo a sobrancelha. Castle reparou que ela estava colocando uma colher cheia de chantilly na boca. Mordeu o lábio e levantou-se apressado para buscar o café. Martha entendeu o que se passava e riu.

- Como você consegue? Ah, não me diga... Richard é muito fácil de manipular.

- Eu não diria isso. Ele é bem teimoso quando quer e implicante mas ainda assim um galanteador.

- Isso ele aprendeu comigo. Sempre ensinei como ele deve tratar as mulheres. E nem precisei contar o segredo para domina-lo. Você descobriu sozinha. Ele adora mulheres poderosas e independentes como você.

- Já percebi.

- O que você já percebeu? Ele sentou ao lado dela e entregou a caneca com café.

- Obrigada. Ele roubou um morango da taça dela.

- Estávamos falando dos dotes da Kate.

- É sou um homem de sorte. Ela cozinha, é linda e ainda mata qualquer bandido para salvar minha vida. Ah! E ainda é minha fã! Se ela tivesse bom gosto para a ficção cientifica e gostasse de videogames seria a mulher perfeita.

- Gostar de videogame? Castle por favor! Você já jogou com ela? – os olhos de Kate se arregalaram para o pai quase implorando para ele não falar – nunca entregue um controle a essa mulher. Você nunca jogou com ele?

- Pai, por favor...

- Não! Você joga? Porque não me disse?

- Ela é obstinada. Quando pega um jogo só larga quando zera. Fique longe dela em jogos de luta também.

Castle olhava para ela surpreso.

- Eu não queria competir com você. Sei o quanto você gosta e isso não ia fazer bem pra nós, acredite.

- Que outros segredos o senhor pode me contar dela? Castle dirigia-se a Jim com a cara mais lavada.

- Castle... nem tente ou você sabe... – ela colocou outra colher de chantilly na boca e todos caíram na gargalhada.

Conversaram juntos por mais algum tempo até a hora que Jim declarou que já ia embora. Tinha que estar cedo no tribunal no dia seguinte. Despediu-se de todos, agradeceu a filha pelo jantar e ao cumprimentar Castle, ele sorriu.

- Obrigado. Continue cuidando bem dela. Sabia que ela o escolhera por uma razão. Você é um bom homem. Acredito que isso seja mérito da sua mãe.

- Obrigado, Jim. Eu faço tudo que puder por Kate. E quanto a minha mãe, não fale isso perto dela, ela já é muito modesta. Eles riram.

Nem Martha nem Kate ouviram a conversa dos dois. Elas estavam em seu próprio mundo também conversando.

- Obrigada, Kate. Sei o quanto esse jantar era importante para vocês, acho que dessa vez foi perfeito.

- Não tanto quanto a sua “morte por chocolate”.

- Eu te dou a receita mas aposto que Alexis vai preferir a sua. Se cuida, Kate.

Ela beijou Kate no rosto e os dois acompanharam seus pais até a porta. Quando estavam finalmente a sós, Castle a puxou para si envolvendo-a em seus braços.

- Parece que foi tudo perfeito, estava tudo delicioso e ninguém agrediu ninguém. Exceto você que ficou me provocando com a colher de chantilly.

- Estava comendo minha sobremesa, não tenho culpa se sua mente só pensa em besteiras.

- Foi você que começou com o papo de “do que você gosta” bla bla bla e que história é essa de videogame?

- Ah, Castle.... – ela beijou-lhe os lábios – esquece isso – beiju de novo – não vale a pena...- mais um beijo.

- Vou esquecer por agora... mas o que nós vamos fazer então?

- Ah, não sei... podemos “dormir”, esse lance de jantar me deixou cansada, talvez uma massagem me deixe mais relaxada...

- Massagem? De novo? Onde está sua criatividade Kate?

- Não preciso dela hoje – e voltou a beija-lo agora com paixão a ponto de deixa-lo sem fôlego – aparentemente – ela olhou para baixo – nem do chantilly. E voltou a beija-lo já o empurrando na direção do quarto. 


Continua....


Um comentário:

larynhapaulista disse...

Oi Karen, esse episódio me surpreendeu e muito. Até a hora que o Leo apontou a arma para Kate achei que ele era realmente uma testemunha.

Meu coração ficou apertadinho quando vi a cena dele atirando no carro e da kate saindo correndo e não podendo fazer nada, mas imaginei que Castle ia pegar a dica que algo estava errado quando ela disse que os 4 iriam assistir uma partida de baseball juntos.
Amei a Kate toda insegura sobre o relacionamento dos dois e depois Castle dizendo que ele não vivem na teoria e dizendo que ele poderiam sim dar certo.
Quem diria que depois de um começo de muitas discuções Jim e Martha iriam se dar bem, ou melhor mais do que bem, até acariciando o rosto do Jim a Martha estava o final. Amei a cara de Casckett quando viram a cena.
E o final que você acrescetou foi lindo, Kate cozinhando o prato preferido do seu pai e a sobremesa dela preferida. Fiquei emocionada só de ler imagina se tivesse realmente essa cena no episódio. E claro que Kate não ia deixar de provocar Castle com o chantilly.

Abraços e até o próximo comentário.