Nota da Autora: Capitulo no minimo interessante... Kate está tentando lidar com sentimentos e uma vida solitária, consequencias de sua própria escolha. Essa dança está longe de acabar, mas confesso que está sendo prazerosa de escrever... obrigada pelos ótimos comentários! Adoro cada um deles... enfim, enjoy!
Cap.57
Era sábado à noite. Sem qualquer programa
para o fim de semana, Kate estava sentada no sofá de frente para a televisão.
Nenhum dos canais parecia chamar sua atenção enquanto ela surfava por eles.
Parou em um canal de culinária. Ficou observando o chef comentar sobre alguns
ingredientes da cozinha italiana e quinze minutos depois, ele começou a fazer
um spaguetti a carbonara.
- Ótimo! – Kate resmungou – agora além de
estar com fome, vou me lembrar de Castle. Tudo o que não preciso hoje. Vou
pedir uma pizza – ela se levantou do sofá atrás de seu celular. Na verdade, ela
estava lutando contra a solidão. Conforme falara para Dana na última consulta,
o rompimento da parceria com benefícios a deixara um pouco órfã de companhia.
Não era que ela não tivesse amigos, porém sair pela noite em bares ou boates
não era realmente o programa preferido de Beckett. Por isso os momentos
domésticos com Castle mexeram tanto com ela. Gostava de programas calmos.
Checou o relógio. Eram cinco e meia da
tarde. Podia tentar fazer algo melhor com o seu sábado. Talvez um cinema,
não... sozinha é meio deprimente. Um musical. Sim, porque não assistir uma peça
na Broadway? Ouvir música de qualidade, fazia um bom tempo que ela não se dava
esse pequeno prazer. Pegou o jornal do dia e checou que peças estavam em
cartaz.
Escolheu uma e decidida, seguiu para seu
quarto a fim de se arrumar. Aquele pensamento a deixou mais animada. Ela
escolhera ver um clássico. O fantasma da Opera. Com um vestido preto simples e
elegante, colocou seu casaco vermelho, sapatos de salto agulha e saiu de casa.
O teatro não ficava tão longe da estação
do metrô, essa era a beleza de Nova York, as pessoas não se incomodavam com o
que você vestia mesmo usando transporte público. Ao chegar na bilheteria do
teatro, ela conseguiu comprar seu ingresso sem problemas e em um lugar muito
bom. Ao entrar no saguão antes do espetáculo, ela se dirigiu ao bar. Pediu uma
taça de vinho tinto. Ainda tinha meia hora para começar o musical, portanto
ficou ali mesmo no balcão bebendo e observando as pessoas que chegavam para a
noite. Eram, na sua grande maioria, turistas, alguns cheios de sacolas. Ela
sorria.
Um outro pensamento lhe ocorreu. Ela não
se lembrava a última vez que tirara férias de verdade. Aqueles meses na cabana
do pai não poderiam ser considerados. Ela estava se tratando, se cuidando.
Sentiu-se triste. Seria verdade que ela realmente não aproveitava a vida? É
claro que ela se lembrava. Roma. Kate tinha certeza de que o que quer que
acontecesse em sua vida, eles sempre teriam Roma.
Mas afinal Castle tinha razão quando dizia
que ela fugia ao invés de aproveitar os bons momentos? Não, ela estava fazendo
isso agora. Após três taças de vinho, ela entrou no teatro para curtir o
musical.
O espetáculo de Andrew Lloyd Webber era
fantástico. O clássico dos clássicos. Assistira a peça anos atrás quando ainda
estava na academia. As músicas, os instrumentos da orquestra, a história,
extremamente poderoso. E mais uma vez, em meio ao seu momento de diversão, ela
se lembrou de Castle. Ele certamente diria que o fantasma era real. Por que ela
continuava pensando nele?
No intervalo, ela retornou ao bar.
Novamente, tomou mais duas taças de vinho. Beckett era conhecida por ter ótima
resistência a bebida, porém não comera nada antes de vir ao teatro. De volta ao
espetáculo, foi a vez dela se emocionar com as vozes e a música maravilhosa.
Ao sair do teatro, enquanto algumas
pessoas se ocupavam comprando souvenires, ela bebeu mais uma taça. Saiu de lá
direto para a estação de metro. Chegando em casa, ela ainda murmurava a canção
principal. O momento mais romântico da peça. All I ask of you. Foi direto para
a geladeira e pegou uma garrafa de vinho que estava pela metade. A letra da
canção a fez pensar em Castle. Não era tudo o que ele estava pedindo? Para
ama-lo e ele a seguiria onde quer que fosse?
- O que você está pensando? – ela
conversava consigo mesmo em um monologo – você não pode falar nada ainda para
ele. Não está pronta. As perguntas, você sequer consegue responder as perguntas
– a bebida estava falando mais alto, pegando desprevenida. Kate estava alegre,
de pilequinho e de repente, a tristeza e a solidão voltaram a incomoda-la. Sem
enxergar direito os nomes no celular, ela buscou a foto dele. A garrafa de
vinho já se fora. Ela tocou a foto sorridente do escritor e a ligação foi
feita.
Quando percebeu o que fizera e ouviu o
toque, ela rapidamente apertou o botão vermelho.
- O que foi isso? Quer saber, hora de ir
para cama, Kate. Você não está pensando direito – ela foi para o quarto, tirou
o vestido, o sutiã e vestiu uma camiseta velha da NYPD enfiando-se debaixo das
cobertas. Olhava para o telefone na cabeceira ao lado, outra vez tocou o botão
e acabou fazendo mais uma ligação que acabou se perdendo quando ela deitou na
cama acionando o botão principal.
Deitada, ela suspirava com ele no
pensamento. Não. Nada de olhar para a foto dele, pensou, mas pegou o aparelho e
ficou olhando vidrada para a imagem de Castle, o dedo voltou a tocar no botão
verde. O toque soou outra vez.
- Burra, burra! Não deveria ficar sentindo
pena de si mesma. Por que ele faz tanta falta? – colocou o telefone ao seu
lado, não percebera que a ligação ainda corria e caíra na caixa de mensagem –
você decidiu focar na terapia, esquece Castle. Nada de benefícios.... droga de
beijo bom... arfff ... vai dormir, Kate – a voz claramente embriagada.
Finalmente ela virou-se na cama e apagou. Nos sonhos, ela voltou a Roma.
Na segunda pela manhã, Castle aparece no
distrito trazendo seu café todo sorridente. Tivera uma excelente surpresa ao
acordar no domingo. Ficou feliz em saber que a detetive estava sentindo sua
falta, porém não ia jogar isso na cara dela, era um trunfo que pretendia
guardar para um momento mais apropriado.
Eles tinham um novo caso. Não parecia nada
complicado apesar da arma do crime leva-los ao suspeito rapidamente, Castle
insistia que a história não batia. O motivo era ridículo e Beckett o contestou
dizendo que iria interrogar o suspeito e provar para ele que não tinha nada de
misterioso no caso. Para azar dela, estava errada.
A arma tinha sido roubada e o dono
inclusive prestara queixa. Ao fim do dia voltaram à estaca zero, o que deixou
Castle sorridente. Fazendo uma pausa para o último café do dia antes de decidir
qual seria seu próximo passo, ele a seguiu até a minicopa.
- Como foi seu fim de semana? – perguntou
ao entrega-la a caneca com a bebida fumegando.
- Foi bom.
- Tem certeza? Você saiu? Se divertiu ou
ficou trancada em seu apartamento, Beckett?
- Não que seja da sua conta, mas eu sai,
sim. Dei a mim mesma um tratamento especial.
- Humm, isso soa meio pervertido
detetive...- claro que fizera de proposito, Beckett podia ter dado uma trégua a
sua parceria com benefícios, mas isso não o impedia de implicar e provoca-la
sempre que possível.
- Castle! Que mente essa sua! Fui assistir
um musical.
- Ah, uma noite cultural... interessante.
E por que me ligou no domingo? Ou melhor, na madrugada?
- Não liguei para você – ela afirmou com
toda a certeza – de onde tirou isso? Está inventando coisas agora?
- Não inventei nada. Você me ligou três
vezes e posso provar – ele pegou o celular e mostrou as chamadas não atendidas.
Três ligações feitas por volta de duas da manhã. Ela não fizera isso, não se
lembrava de nada e... o vinho...será que ela, ah não! Desminta, invente
qualquer coisa, ela gritava intimamente em sua mente embora ele já pudesse
notar que ela estava envergonhada.
- Não liguei para você. Aposto que isso
foi algum problema na sua operadora e você recebeu ligações perdidas
tardiamente. Acontece sabia?
- Hum, talvez embora se for verdade seria
a primeira vez e ...ah, tudo bem, se você diz que não ligou...
- Não liguei... – e lá estava o rubor em
seu rosto outra vez. Castle não ia comentar nada sobre o pequeno monólogo
deixado em sua caixa de mensagem. Teria tempo para isso. Pegando sua caneca,
ela virou-se e deixou-o sozinho na minicopa. Não podia olhar para Castle agora.
Será que ela realmente ligara para ele? Cuidadosamente, tentava recordar seus
passos naquela noite. Bebera muito naquele sábado e o pouco que se lembrava...
ela tinha o celular na mão, olhava a foto dele. Droga! Ela ligara. Beckett
sentou-se em sua mesa com a cabeça apoiada nas mãos. Tudo o que ela não queria
era demonstrar carência. Queria que ele entendesse a importância de parar com
os benefícios, que não sentia falta deles e que o foco era sua terapia. Ele não
vai esquecer isso tão cedo...
Mas Castle voltou a sentar-se em sua
cadeira e não fez qualquer menção a conversa anterior.
- Qual será nosso próximo passo, Beckett?
Perdemos nosso suspeito.
- Pedi para Ryan checar com o pessoal de
roubos se tinham alguma pista de onde a arma teria ido parar. Talvez possam nos
ajudar.
- E quanto ao passado da vítima? Nada relevante?
- Não que tenha saltado aos meus olhos.
Acho que estou cansada. Melhor encerrarmos por hoje e começarmos de cabeça fria
amanhã cedo.
- Por mim tudo bem – ele se levantou,
vestiu seu casaco e perguntou – vai para casa? Quer comer alguma coisa? – apesar
da ideia ser tentadora, ela precisava demonstrar que estava tranquila e passar
um tempo longe dele não era de todo mal.
- Não, eu passo. Vou para casa.
- Você que sabe, vou pegar um
cheeseburguer no Remy´s e um milk-shake de chocolate. Se ficar com saudades de
mim, pode ler meus livros, Beckett. É sempre válido me enxergar na imagem de
Rook – ela ergueu a sobrancelha intrigada. Por que ele falara isso? Saudades?
Ele estava testando-a. Era a única explicação – até amanhã, Beckett.
- Boa noite, Castle.
No dia seguinte, a investigação finalmente
começou a trazer respostas coerentes para eles. Além do motivo, eles
encontraram algumas ações no passado da vítima que os ajudara a chegar ao
possível ladrão da arma. Ao final da tarde, identificaram dois suspeitos. Ryan
e Esposito encarregaram-se de traze-los para interrogatório.
Infelizmente, os rapazes encontraram
apenas um dos caras e após um interrogatório pesado por parte de Beckett ao
qual Castle assistiu animado, descobriram que aquele não era o culpado.
Chateada pela reviravolta da investigação, ela se recusava parar de trabalhar.
Em certo ponto, ela liberou os rapazes ficando apenas com Castle. Como
resultado, eles continuaram mexendo nos arquivos, examinando o quadro de evidências
e foram obrigados a pedir comida. Chinesa, do lugar preferido dela. Ele pediu
propositalmente um dos pratos que ela adorava e Beckett escolheu outro
preferido.
Sentados em uma das salas de reunião, eles
saboreavam a comida. Era a primeira vez desde que romperam a parceria que
desfrutavam de um momento sozinhos, de certa forma, mais íntimo apesar de
estarem na delegacia. Enquanto comiam, Kate teve que se policiar para não
roubar nada da caixinha dele como já estava acostumada a fazer. Castle percebe
a luta interna que ela travava, sorri por dentro.
- Nossa! Esse porco está particularmente
bom hoje, não sei o que eles colocaram no molho, mas está diferente, saboroso.
Não lembro de estar tão bom da última vez que comi.
- É mesmo? O meu está bom também – disse
Beckett querendo parecer indiferente ao comentário dele.
- Sério, está mais do que bom. Está
delicioso – ele a viu mordiscando o lábio. Adorava quando ela fazia isso, era
um dos gestos que indicava sua indecisão em agir com relação a alguma coisa, as
vezes também significava que estava pensando besteira. Aprendera isso ao
conviver em um relacionamento com ela antes de toda essa loucura de atentado e
PTSD. Ela conseguiu se manter firme apesar das insinuações dele.
Ao pegar seu biscoito da sorte, ele
quebrou-o ao meio e retirou o papel lendo o conselho.
- Você tem a paciência de um monge
tibetano. Eu diria a informação está acurada. E quanto a sua sorte, Beckett? O
que o biscoito disse? – ela quebrou o doce e retirou o papel – leia, vamos.
- Não reprima seus desejos secretos, eles
são parte de quem você é.
- Bem sugestivo, detetive. Qual seria seu
desejo secreto hoje? – ele a olhava intensamente, estavam bem próximos, a voz
era baixa num tom sensual. Isso fez Kate engolir em seco. Respirou fundo antes
de responder.
- Desejo pegar esse assassino, portanto –
ela entregou uma pilha de papeis numa pasta para ele – trate de encontrar algo
importante.
- Chatooo... – ele falara cantando
obviamente reclamando da resposta dela. Com a pasta nas mãos, ele se moveu para
o sofá. Começou a ler as informações sentado, porém logo se esticara deitando o
corpo cansado. Beckett permaneceu na mesa. Era importante manter uma certa distância
dele naquele momento. Estava tão entretida na leitura que não percebera que
Castle adormecera com os papeis sobre o estomago.
O silêncio do ambiente fora quebrado com o
barulho da pasta que escorregara de seu colo espalhando parte dos papeis no
chão. Ao perceber o que acontecera, Beckett se levantou. Ele dormia
tranquilamente. Agachou-se para juntar a papelada, o movimento a deixara a
centímetros dele. Reparou que a camisa dele tinha os primeiros botões desfeitos
deixando a amostra parte do peito. A tentação de tocar a pele exposta pela
camisa era grande, podia sentir o cheiro delicioso dele. A respiração de Castle
indicava que não era apenas um cochilo, parecia dormir pesado.
Será que acordaria se ela o tocasse? O
rosto de Kate estava bem próximo a abertura, com os olhos fechados, ela
inspirou o perfume dele colocando o nariz bem rente ao peito. As mãos moviam-se
ansiosas por toca-lo, desejava-o como quem deseja o proibido. Ela estava quase
o tocando quando Castle se mexeu no sofá. O movimento a assustou e Kate perdeu
o equilíbrio caindo de bunda no chão apenas para tornar toda a situação mais
desconfortável. Seu rosto estava quase colado no de Castle quando ele abriu os
olhos, os lábios quase na posição perfeita para um beijo.
- O que está fazendo? – ele sussurrou. Ela
ensaia dizer algo, os lábios abrem e fecham várias vezes, o rosto ruborizado
até que consegue se recompor e levanta-se rapidamente.
- Estava juntando os papeis, arrumando a
bagunça que você fez. Se não vai me ajudar com o caso, melhor ir para casa.
- Eu só estava descansando a vista. Muita
leitura.
- Você estava dormindo!
- E você, Kate? Não me pareceu que estava
interessada no caso também. Parecia querer outra coisa... – ele se sentou no
sofá, os olhos azuis olhavam-na tão intensamente que ela se sentia nua na
frente dele.
- Quer saber? Chega por hoje. V-vou para
casa.
- Tudo bem – ele se levantou do sofá nem
um pouco preocupado com o jeito que a camisa aberta deixava parte do seu peito
exposto e percebeu que os olhos da detetive estava diretamente fitando o local.
Sorriu – vamos dormir. Até amanhã, Beckett – ao passar por ela, fez questão de
esbarrar em seu braço – eu diria para ter doces sonhos, mas algo me diz que
serão mais que doces... – com a maior naturalidade saiu da sala deixando-a
plantada revirando os olhos e bufando enquanto uma das mãos pousavam em seu
pescoço tentando se acalmar respirando fundo.
Não deu outra. Beckett acordou por volta
das quatro da manhã suada e ofegante. Acabara de ter um sonho bem picante com
Castle. Sim, ela simplesmente revivera a cena de mais cedo na sala da delegacia
de outra forma. Castle e ela fazendo sexo naquele sofá. Meu Deus! Por que isso
agora? Levantou-se, tomou um copo com agua bem gelada e xingou a si mesma baixinho
por se deixar levar pelo clima e as palavras de mais cedo do escritor. Ainda
demorou para voltar a dormir e quando parecia ter por fim descansado, seu
despertador tocou.
Ela chegara ao distrito com uma cara nada
boa. O acontecimento da noite anterior mudara seu humor, não pelo sonho porque
esse fora muito bom, o problema era exatamente isso. Nem deveria ter sonhado em
primeiro lugar. Mal sentou-se na sua mesa, ela foi distribuindo ordens para os
rapazes. Precisava manter a mente ocupada, precisava resolver aquele caso e
Deus! Precisava de café!
O destino realmente gostava de implicar
com Kate Beckett porque foi só desejar café que o escritor apareceu sorridente
na frente dela com duas canecas de café fumegantes. Ele vestia uma camisa roxa
e não usava seu blazer, o que fez ela reparar no contorno do tórax e dos braços
contra o tecido. Chegou a prender a respiração antes de suspirar ao fitar o
rosto dele.
- Bom dia, detetive. Sabia que ia chegar
desejando o café.
- De onde você veio?
- Da minicopa, cheguei há, pelo menos,
meia hora. Queria retomar a pesquisa que interrompemos ontem – surpresa, ela
tentou formular alguma frase abrindo a boca pelo menos duas vezes e como
nenhuma ideia lhe vinha em mente, ela foi obrigada a fechar a boca sem emitir
uma única palavra. Contentou-se em beber um pouco do café. O liquido quente e
do jeito que ela gostava a acalmou – quer ouvir o que descobri? Pode não ser
nada especial, mas me pareceu no mínimo estranho.
- Manda, Castle.
Ele sentou-se na frente dela e começou a
mostrar o que encontrara. Eles passaram a discutir as possibilidades de aquilo
os levar a algum lugar. Dali a investigação tornou a fluir e Beckett ficou
grata por ter algo diferente dos pensamentos de ontem para focar. Contudo, nem
sempre as coisas acontecem como queremos e quatro horas depois encontraram
outro beco sem saída. A irritação dela voltou. Tentava espremer os rapazes de
todo o jeito para solucionar o caso. Precisava de suspeitos.
Castle observava o modo como a detetive se
comportava. Algo dizia que não era apenas o caso que estava deixando-a tão
irritada. Sim, ela tendia a ficar arredia ou emburrada quando sua investigação
se perdia ou empacava, porém, não era somente esse tipo de comportamento que
ela apresentava. Parecia incomodada, inquieta e mais nervosa que o normal.
Tinha outra coisa perturbando a mente da detetive. Será que conseguia descobrir
o que era?
Aproveitando um momento que ela se dirigiu
a minicopa, ele a seguiu. Beckett estava se servindo de café outra vez, o tal
nervosismo que percebera antes estava lá. Castle viu que ela errara fazendo o
café derrubando um pouco do leite vaporizado em sua mão.
- Filha da p... droga! – ela largara a
xicara e levara a mão aos lábios tentado conter a dor.
- Hey... calma – ele acudiu-a tomando a
frente da máquina. Com toda a experiência, ele preparou o café para ela
entregando-lhe uma nova xicara perfeita, até com um desenho de uma carinha
smiley. Beckett estava sentada numa das cadeiras, a mão estava um pouco
vermelha – aqui está seu café. Você quer me contar o que está acontecendo?
Claro que eu perguntar se está tudo bem não procede porque está bem aparente
que algo a incomoda, Beckett. Nem venha com a resposta automática do “estou
bem”.
- Essa droga de caso! Por que tantas
pistas erradas e sem resultado?
- Certo, sei que essa investigação está
sendo um pouco frustrante, mas não é apenas isso que está te deixando nervosa e
irritada. Tem algo mais acontecendo? Algum problema com sua terapia? Oh... você
teve outra crise de PTSD? – ela olhou para Castle erguendo uma das
sobrancelhas. Ele parecia preocupado e como podia notar que ela estava chateada
com outro assunto? – sabe que pode falar comigo, somos parceiros e bem, sou o
único que sabe dos seus outros problemas.
- Castle, agradeço sua preocupação, mas
não é algo que eu queira conversar, tudo bem? Eu estou irritada com esse caso e
estou com outras coisas em mente. Não quero falar sobre isso, será que você
pode respeitar minha vontade? – ele sorriu. Colocando a mão em seu ombro, ele
deixou-a deslizar acariciando o braço dela num gesto tão simples que fez o
coração de Beckett acelerar. Para ela, aquilo fora um toque íntimo demais
embora tenha ficado claro para a detetive que não fora essa a intenção dele.
- Claro. Eu entendo. E se depois você
quiser conversar, sabe onde me encontrar.
Ele estava saindo da minicopa quando Ryan
adiantou-se chamando por eles.
- Pessoal, vocês precisam ver isso que
achamos – Beckett tomou o ultimo gole do café e o seguiu até a mesa dele.
Finalmente uma boa notícia. Um novo suspeito fora encontrado. Após analisar
suas opções, checar todos os vínculos entre a vítima e o novo nome, quase uma
hora depois, Beckett não quis perder mais tempo. Mandou os rapazes busca-lo
para interrogatório.
Dana encerrara suas atividades naquela
terça por volta das quatro da tarde. Apesar de saber que era dia de consulta
com Kate, ela resolveu fazer uma pequena mudança de planos. Desde a última
conversa, ela ficara pensando nos momentos solitários que a amiga estava
enfrentando devido sua teimosia. Resolveu fazer diferente. Ao invés de esperar
a detetive vir ao seu consultório, preferiu ir encontra-la no distrito e
convida-la para um programa mais divertido.
Quando Castle viu Dana chegando no salão,
estranhou. Será que havia algum problema com Kate? Teria tido alguma recaída?
Poderia inclusive explicar as ligações que fizera para ele. De repente, ele se
viu preocupado com a parceira.
- Dana... que surpresa! Está tudo bem?
- Tudo ótimo. O que você está fazendo aqui
ainda, são mais de seis horas. O expediente não acabou? Pensei que Kate já
estivesse livre.
- E desde quando Beckett cumpre horário? O
expediente termina ou com uma pista quente ou uma pendência do laboratório ou
quando ela prende o culpado. Acredite, as vezes acho que Beckett gostaria que
os caras do laboratório trabalhassem 24 horas. Ela não tem limites em alguns
casos.
- Então, isso apenas prova que minha
visita é providencial. Vim busca-la para sair.
- Espera, quando você diz sair está
falando de ir para um bar ou uma boate e beber e paquerar? Dana pensei que
estava do meu lado! Você não pode leva-la para ficar exposta a um bando de
solteiros.
- Relaxa, Castle. É um programa de
mulheres. Nada perigoso, apesar de eu estar precisando. Uma noite de garotas
para conversar, sorrir, Kate precisa disso especialmente agora.
- Certo, já que é assim, vou aproveitar
para lhe dar um pequeno aviso de amigo. Ela não está muito bem hoje. Está
particularmente irritada e não é apenas com o caso que estamos trabalhando. Tem
algo mais. Uma certa inquietação, um nervosismo. Não consigo dizer exatamente
com que, porém, está incomodada com algo que está maquinando naquela cabecinha
teimosa dela.
- Mesmo? Por que você acha que não é só
com o caso?
- Porque eu a conheço. Ela está mais
arredia que o normal e quando eu tentei descobrir o que era, ela disse que não
queria falar sobre o assunto, eu tentei. Quando toquei seu ombro, notei que ela
quase pulou, como se estivesse no limite, sabe? – Dana ergueu uma sobrancelha.
A informação que Castle lhe dera era preciosa – agora que parei para pensar,
será que ela está de TPM? Pode explicar um pouco seu comportamento...
- Talvez... aliás, onde ela se meteu?
- Foi pegar café.
- Achei que essa era a sua função.
- Haha! O primeiro sim, durante o dia nos revezamos.
Acho que você escolheu um péssimo dia para tentar tira-la daqui. Finalmente
conseguimos uma pista sólida de um suspeito e ela mandou os rapazes traze-lo
para cá. Quer apostar quanto que ela não irá sair com você enquanto não
interrogar o cara ou prendê-lo? – ao fazer a pergunta, Dana sorriu porém não
teve tempo de responder porque Beckett surgiu com duas canecas de café.
Entregando uma delas a Castle, ela fitou a amiga intrigada.
- Dana? O que faz aqui? Oh... você veio
por causa da nossa consulta? Desculpe, eu não tive tempo de ligar para
cancelar. Estou muito ocupada com esse caso e...
- Castle já me disse que está tendo
problemas na investigação. Não vim aqui cobrar sua presença na consulta. Vim
aqui como amiga, para te convidar para uma noite agradável entre amigas.
- Dana, desculpe, não posso. Preciso interrogar
um suspeito assim que Ryan o trouxer e não sei qual será o resultado. Podemos
suspender esse convite? Deixa-lo para uma outra hora, outro dia?
- Não é negociável, Kate. Algo me diz que
você precisa e muito espairecer hoje – Beckett olhou para Castle procurando
algum sinal de que ele contara algo para a terapeuta, mas ele sabiamente se fez
de desentendido e deu de ombros.
- Eu disse que você estava enrolada com o
caso e que não ia ter tempo. Dana não acreditou em mim.
- Não é questão de acreditar, apenas não
abro mão do que vim fazer aqui. Não se preocupe, eu espero você terminar com o
seu suspeito, Kate – a detetive já entendera que não teria escolha diante do
exposto. Dana não era uma pessoa fácil de se negociar. Suspirando, ela balançou
a cabeça.
- Que seja! Melhor se sentar, vai demorar
um pouco – tornou a beber o café.
- Aceita um café, Dana? – Castle ofereceu.
- Por que não? Kate, posso ver você
interrogando o suspeito?
- Fique à vontade – Castle se levantou
para buscar o café para a terapeuta. Dez minutos depois, Ryan apareceu no salão
informando que o suspeito esperava por ela na sala de interrogatório. Dana
acompanhou Castle para observarem a entrevista através do vidro enquanto
Beckett entrou afiada acompanhada de Ryan.
Era sempre uma aula e um prazer observar
Beckett em um interrogatório. Castle adorava essa parte do trabalho da
detetive. Dana a avaliava com os olhos de terapeuta. Não havia dúvida que ela é
muito boa no que fazia, a firmeza na voz, a forma como fazia as perguntas
encurralando o entrevistado. Ela sabia trabalhar o lado forte e frágil
envolvendo o outro para arrancar tudo o que queria. Se ao menos tivesse essa
desenvoltura em sua vida pessoal, pensou a terapeuta. Virando o rosto, ela
passou um tempo observando Castle.
Ele tinha os olhos vidrados nela. Sua
atenção estava completamente voltada a mulher que andava e gesticulava através
do vídeo. Dana percebia a devoção e o olhar maravilhado de alguém apaixonado,
orgulhoso. Castle percebeu que era observado, virou-se sorrindo.
- Ela é uma tigresa nessa sala. É
maravilhoso de ser ver.
- Deus! Você está babando, Castle – ela
ria – tão bonitinho... – ele ficou vermelho diante do comentário da terapeuta,
sem graça – queria arranjar alguém que me olhasse com tanta ternura e orgulho
como você olha para Kate.
- Eu apenas queria que ela notasse isso,
Dana.
- Tudo a seu tempo, Castle...
- Olha, agora ela o encurralou. Vai já
arrancar a confissão dele – ele apontou para a sala e não estava errado, cinco
minutos depois o cara vomitava o como, o porquê e sua raiva alegando que não
era culpado, que fora um erro. O show acabara. Eles voltaram para o salão. Ryan
saiu escoltando o cara para ser fichado. Beckett exibia um sorrisinho de
vitória no rosto.
- Sente melhor agora que colocou seu
assassino atrás das grades, detetive? – Castle perguntou sorrindo – ah, o senso
de justiça servida. Vê o sorriso, Dana? Bem melhor, Beckett. Eu digo que ela
deveria sorrir mais, claro que ela não aceita meu conselho.
- É um ótimo conselho, Castle – concordou
Dana – agora que já resolveu seu caso, será que podemos curtir nossa noite
somente para garotas?
- Dana, eu não estou a fim de ir a bares,
beber e ver um bando de gente louca para arranjar a próxima transa ou o próximo
romance. Estou cansada.
- Não precisamos fazer nada disso. Você
escolhe onde vamos.
- Se conheço Beckett, vai dizer que quer
um hambúrguer do Remy´s.
- Funciona para mim – disse Dana – como
disse, a escolha da noite é dela. Sei que está precisando espairecer. Não
negue, Kate – a detetive suspirou.
- Tudo bem, vamos sair Dana.
- Acho que essa é a minha deixa para ir
embora. Tenham uma ótima noite, belas damas. E por favor, não precisam falar
muito da minha pessoa. Sei que sou um assunto irresistível, porém contenham-se
até que eu tenha deixado o prédio. Será que conseguem?
- Você bem que queria, não? Vai sonhando,
Castle – disse Beckett.
- Ah, Beckett. Não precisa disfarçar.
Divirtam-se e juízo – ele caminhava calmamente em direção ao elevador, mas
virou-se para dar um último conselho – e Kate? Não fique acordada até tarde,
você não dormiu bem essa noite e as olheiras não combinam com o seu rosto – ali
estava a reação que queria. Uma Beckett boquiaberta ao comentário feito. Rindo,
ele seguiu seu caminho.
- Tem que admitir, Kate. Ele te conhece
mesmo. Então, onde iremos para que você relaxe e me conte o que está te
perturbando? – Beckett franziu o cenho – não é apenas Castle que pode enxergar
além do seu disfarce.
- Já que você não vai desistir desse seu
programa, quero ir a um lugar onde possa comer doces, muitos doces, chocolate
de preferência.
- Oh, entendo. Conheço o lugar perfeito
para isso. Nada que uma taça caprichada do Serendipidy não resolva, Kate.
XXXXXX
Elas escolheram uma mesa com vista para a
rua, perto do grande janelão que era a vitrine convidativa do lugar. Dana
estava ansiosa para começar a conversa com Kate. Quando pensou em animar um
pouco a amiga não tinha ideia de que a situação estava assim tão crítica. Pelos
poucos comentários de Castle, ela entendera que o aviso dado em uma das suas últimas
consultas sobre Kate sentir falta do parceiro havia definitivamente mexido com
a detetive.
Os gestos nervosos dela apenas provavam
que Dana tinha razão. Ao serem atendidas pela garçonete, Dana pediu um tempo
para examinarem as opções do cardápio indicando que agua estava de bom tamanho
por hora. Ao ver a garçonete se afastar depois de servi-las e colocar uma jarra
bem gelada sobre a mesa, resolveu cutucar a fera.
- Essa não era bem a ideia que tinha para
hoje, mas dada as circunstancias creio que foi a melhor escolha. Qual o seu nível
de necessidade de chocolate, Kate?
- O máximo possível. Você queria me levar
para um bar e me jogar para cima de algum cara, aposto.
- Não necessariamente desse modo. Estava
pensando mais em usa-la como uma companhia, sabe? Minha wing woman? Preciso encontrar
alguém que me faça bem. Preciso voltar a sentir o que você está sentindo. Faz
quase oito meses que terminei um relacionamento – ao olhar o semblante
intrigado de Kate, Dana completou – não que eu esteja sem sexo todo esse tempo.
Para isso servem as noitadas. Estou falando de relação mesmo. E claro, se
durante a minha procura surgisse algo para você, por que não?
- Dana, não quero falar sobre isso, tive
um dia bem difícil. Que tal nos concentrarmos no chocolate?
- Tudo bem. Dado seu pedido, eu recomendaria
o Sundae “Chocolate Explosion”. Sorvete de chocolate, calda de chocolate amargo
quente 80%, pedaços de chocolate amargo, chantilly e cerejas. Não pode ficar
melhor que isso, apesar de ter a leve impressão que não irá suprir sua real
necessidade de endorfina no momento.
- Necessidade do que? – Kate olhou para a
amiga.
- Endorfina. O hormônio do prazer. Da pura
satisfação, sabe? Nosso melhor amigo. Aquele que nos faz sentir bem, felizes,
revigoradas após uma boa noite de sexo ou de amor. Na falta de um parceiro, o
chocolate é, indubitavelmente, a melhor fonte do hormônio, e acredite minha
amiga, você está desesperadamente precisando de endorfina – ela não deixou Kate
retrucar fazendo sinal para a garçonete e pedindo duas taças de “Chocolate
Explosion”. Depois, suspirou sorrindo. Hora de começar a sessão, pensou.
- Pode me contar agora porque essa súbita
necessidade de chocolate? O que de fato está acontecendo para você estar tão
irritada, Kate?
- Já disse, tive um caso difícil. Um monte
de pistas sem sentido e que acabaram em becos sem saída, detesto quando isso
acontece. É como um desafio pessoal a mim e as minhas habilidades de detetive.
- Mas você encerrou o caso e prendeu o
culpado. Não seria um bom whisky uma maneira melhor de comemorar essa vitória
em vez de chocolate?
- Não estou no clima para ir a um bar,
Dana. E será que dá para parar de me analisar? Pensei que o proposito dessa
saída era nos divertirmos, falar de coisas para como você mesma disse, me fazer
espairecer. Pare de bancar a psicóloga.
- Desculpe, você está certa. É quase
natural como você também banca a detetive uma vez ou outra, Kate. Só que não
estou realmente te analisando, se não reparou estou dando opiniões e não faço
isso no consultório. Isso é uma conversa normal. Quer me dizer o que está
acontecendo? O que se passa nessa sua cabecinha? Posso ver que não está
relaxada. Seu corpo fala. Está tensa, inquieta.
- Já disse, ainda não me desliguei
completamente do caso.
- Sei. Então faça isso – ela falou no
exato momento que as taças chegaram – vai com vontade, Kate. Você precisa se
render aos efeitos do chocolate – pegando a colher, Dana provou a maravilha que
estava a sua frente. Fechou os olhos – é muito bom, não? – disse ao ver que a
amiga se deleitava com o chocolate gemendo baixinho - Só não ganha de um
orgasmo – Kate lançou aquele olhar característico para Dana que não se
intimidou e continuou sua exploração a mente de Beckett. Ela queria ouvir da
boca da detetive o porquê de tanta ansiedade, mesmo que soubesse a resposta.
- Voltando ao desejo por chocolate. Há
apenas duas explicações para o nível de necessidade que você apresenta: você
está naquela época do mês, da TPM, o que justificaria toda a sua irritabilidade
ou Kate Beckett está sentindo muita falta de fazer amor com um certo alguém,
está com muita saudade e isso está te deixando mais do que incomodada. Algo me
diz que não é a primeira opção... – ela completou ao ver o semblante de Kate se
assustar e ruborizar ao comentário de fazer amor. Tinha sido pega pela sua própria
linguagem corporal – vamos, Kate, admita. Somos apenas nós duas aqui.
- Você insiste em tocar nesse assunto.
- Não, você me leva a falar disso já que
sua mente não consegue parar de pensar nele. O que aconteceu? Sei que não
chegou ao ponto de ter uma recaída porque se tivesse acontecido, Castle
certamente mencionaria algo do tipo. A solidão pegou você no fim de semana
outra vez?
Kate colocou outra colher do sorvete na
boca. Suspirou profundamente. Não havia porque não contar para Dana, ela era,
de fato, a única pessoa capaz de ouvi-la e compreender o que acontecia. Tinha
todas as informações para isso. Ainda assim, era vergonhoso admitir sua reação
adolescente, seu comportamento ridículo diante de Castle. Por outro lado, se
não se abrisse com a amiga, talvez não conseguisse superar essa sensação de
impotência e, Deus! Carência, que sentia.
- Tudo bem. Admito. Você está certa, mais
uma vez. Por que é tão difícil tentar ser apenas a detetive investigando casos?
Por que tenho que me incomodar por não poder conversar com ele? Sair e...
droga, Dana! Eu deveria estar me concentrando no meu tratamento e não em que
Castle está fazendo no fim de semana ou em qual seria a opinião dele sobre o
filme que assisti ou como eu gostaria de estar apenas estar sentada ao lado
dele e sentir seu toque outra vez.
Ela colocou outra colher de sorvete na
boca na esperança que fizesse o mesmo sentido que os beijos de Castle. Não
chegava nem perto.
- É natural que sinta falta, Kate. Você
estava acostumada. Essa é uma das consequências que você tem que lidar depois
que optou por encerrar a parte dos benefícios. Eu não disse que seria fácil.
- Fácil? Você disse que seria complicado,
insinuou que não resistiria. Dana, é terrivelmente difícil! Eu estou me
sentindo uma adolescente que não consegue largar o namorado. Sabe aquela fase
que você precisa estar junto, fazer amor várias vezes no dia tanto quanto
puder? Isso não é normal! Devo estar enlouquecendo! – Dana riu. Era mais sério
do que pensava.
- Kate, você terá que lidar com isso se
quiser manter seu objetivo principal no foco. Lembre-se que foi sua escolha,
não minha, não de Castle. Sua.
- Eu sei! Não esperava que fosse tão
difícil... existe uma injeção de endorfina? Um remédio que iniba essa sensação
ou que cause a mesma resposta que uma noite de sexo pode fazer, somente para eu
me livrar desse aperto no peito? Usar minha mente para algo mais produtivo como
meu tratamento?
- Não, Kate. Infelizmente, droga nenhuma
substitui o poder de um orgasmo, do toque de alguém que a gente gosta. Não
posso ajuda-la nessa área. Satisfaça uma curiosidade, nesse período que você
está separada, digamos assim, de Castle, aconteceu algo mais complicado de
lidar?
- Além do fato de que eu aparentemente
liguei para ele três vezes no fim de semana e não me lembro?
- Oh, você fez isso e não se lembra? Você
bebeu? – o jeito como Kate a olhou respondeu à pergunta – você tem ideia se
disse algo?
- Não, ele apenas disse que havia três
ligações perdidas na madrugada de sábado para domingo.
- Bem, pense pelo lado positivo, você
poderia ter falado várias besteiras inclusive o que não devia.
- Essa não foi a pior parte... – Dana a
olhou erguendo a sobrancelha questionando – eu...quando estávamos investigando
o caso, ontem à noite, nós ficamos até tarde no distrito. Em algum momento, ele
adormeceu no sofá. Eu me aproximei para juntar alguns papeis que ele deixara
cair no chão. A proximidade, Dana, ele tinha alguns botões da camisa desfeitos,
eu podia ver a pele exposta do peito dele, sentir seu cheiro. Isso é
embaraçoso... – ela passou a mão nos cabelos – eu o cheirei, não sei se ele percebeu,
mas se mexeu e eu perdi o equilibro. Cai pra trás, meu rosto quase colado no
dele. Castle abriu os olhos e perguntou o que eu estava fazendo. Eu congelei!
Por uns instantes, eu quase me rendi...
- Kate, tudo bem... foi quase um deslize, porém
não aconteceu. Não se recrimine por isso.
- Dana, eu sonhei com ele. Naquele mesmo
sofá... – o rosto dela estava vermelho.
- Você teve um sonho erótico com Castle? –
Kate baixou o rosto. Não tinha condição de encarar a amiga – você acordou
excitada – não era uma pergunta. Era uma afirmação – isso explica totalmente o
jeito como está agindo.
- É ridículo... - ela sussurrou.
- Não, Kate. É humano. Você gosta dele.
Tem duas opções: pode desistir da distância e voltar atrás no fim da parceria
com benefícios ou concentra toda sua energia em seu tratamento se afogando no
chocolate para conter esse desejo de agarra-lo. Não a recriminaria se voltasse
atrás e acredito que Castle também não.
- Como não, Dana? O que ele vai pensar?
Que não tenho palavra ou que estou tão carente que não consigo ficar longe dele
ou...ou... pode achar que eu estou querendo mais...
Dana sorriu. Pobre Kate. Essa indecisão e
teimosia ainda podia causar-lhe um ataque cardíaco ou pior, coloca-la em uma
situação bem complicada.
- E se ele não a julgar de jeito nenhum?
Se apenas ficar feliz por você se render e admitir que pode conviver com as
duas coisas, seu tratamento e os momentos entre vocês?
- Você não conhece Castle. É claro que a
primeira coisa que ele jogaria na minha cara é que sabia que não resistiria ao
charme dele.
- E estaria errado ao dizer isso? Ah,
Kate! Por favor! Novamente, a decisão é sua. Não vou dizer o que deve fazer.
Contente-se com o sundae.
- Wow! Pensei que estava falando com a
minha amiga, mas parece que a terapeuta entrou em ação...
- Não, quem está aqui é a sua amiga Dana,
porém, mesmo que tenha uma opinião formada sobre o seu problema, essa decisão é
inteiramente sua. Não quero que se volte contra mim qualquer que seja o rumo
que escolha – ela esticou a mão tocando a da amiga – mas estarei sempre pronta
a ouvir. Sempre que quiser desabafar, chorar ou mesmo gritar comigo para
liberar essa tensão que a assombra.
Kate sorriu.
- Acho que sou a amiga e a paciente mais
chata que você tem.
- Pelo contrário, Kate. Você é a melhor, o
caso mais delicioso que já tratei até hoje. Um super desafio e os resultados
são extremamente gratificantes. Mas como amiga, não me interessa a teoria,
apenas sua felicidade – ela pode perceber que a amiga estava emocionada,
querendo evitar o choro de Kate, ordenou - Acabe logo esse sundae, seu corpo
grita por endorfina, detetive.
Mais tarde, Dana fez questão de pagar a
conta. Ao caminharem em direção ao metro, ela percebeu que Kate estava um pouco
mais relaxada mesmo que ainda indicasse estar pensativa sobre o assunto
envolvendo Castle. Ao chegarem na estação que a terapeuta desceria, ela deu um
último conselho.
- Não pense demais sobre isso, Kate. Você
irá achar as respostas eventualmente.
- Eu já me decidi, Dana. Vou manter as
coisas como estão.
- Tudo bem, assim seja. Boa noite, Kate.
Enquanto ela subia as escadas para sair da
estação, Dana sorria. Tinha certeza que em algum momento, Kate seria vencida
pelo próprio desejo de se entregar a Castle. Infelizmente para o azar de Kate,
a atração que sentia era maior que sua própria resistência. O que, no ponto de
vista de Dana, era perfeito.
Continua...