I Never
Told You
Autora:
Karen Jobim
Classificação: NC-17
Gênero: AU
Advertências: Drama, Romance – Kate POV – S4.
Capítulos: One-shot
Completa: [ x ] Sim [ ] Não
Classificação: NC-17
Gênero: AU
Advertências: Drama, Romance – Kate POV – S4.
Capítulos: One-shot
Completa: [ x ] Sim [ ] Não
Resumo: Kate
Beckett acabara de passar por uma experiência traumática. O principal caso de
sua vida quase a levou à morte. Sentindo-se perdida, ela toma decisões
drásticas para seguir adiante, mas seriam elas as mais acertadas?
Nota da
Autora: Uma canção faz toda a diferença para qualquer história. Essa fic é
baseada na música “I never told you”, aqui executada por Colbie Caillat. Um
momento de introspecção para nossa valente Kate. Letícia, adorei a experiência
de falar de Caskett através da canção. Fazia muito tempo que não escrevia uma
songfic. Bem, essa não será bem isso, terá elementos. Chega de falar. Desconsiderem
tudo que aconteceu em Castle após Knockout, há uma mistura desse episódio e de
Rise, porém considerem uma história alternativa. É só uma brincadeira para
divertir. Obrigada,Let! Enjoy!
P.S.: Desculpe
pelo final clichê... juro que tentei evitar! Segue o link da música para acompanhar a fic:
Atenção: NC-17...
I Never Told You
Kate estava
sentada na varanda. Uma caneca de café em mãos e uma paisagem alaranjada
registrada nas folhas das arvores a sua frente. Desde que saíra do hospital,
ela refugiou-se no interior da cabana de seu pai localizada a vários
quilômetros de Manhattan. Era parte da recuperação necessária após tomar o tiro
durante o funeral de Montgomery. Foram 48 horas de descobertas e reviravoltas
na vida de Kate. Perdera seu mentor, encontrara algumas explicações nada
agradáveis sobre o caso de sua mãe, estivera por um fio. Vira a sua vida passar
em frente aos seus olhos. Terminara seu namoro com Josh e se isolou.
Mesmo estando
junto com seu pai pelo último mês, esteve muito debilitada para pensar ou
planejar o próximo passo de sua vida. O velho Jim cuidava dela sem reclamar,
dava tempo a filha. Havia muitos anos que não opinava sobre as decisões que sua
menina fazia. Quando Kate precisava de conselhos, ela podia pedir. Não era esse
o caso.
Faltavam duas
semanas para retornar a NYPD. Sentia-se melhor fisicamente. O mesmo não podia
dizer de sua mente. Mais de dez anos de polícia nunca preparam um policial para
levar um tiro ou matar. Claro que há o risco da profissão, aprende-se isso numa
das primeiras aulas na academia. Essa era uma das lições que todos esperam
conhecer apenas a teoria. Enfim, era a hora de colocar as coisas em
perspectiva.
Estava
novamente sozinha, por escolha. Seu rompimento com Josh foi amigável. No fim,
ele nunca foi um namorado em potencial. Gostava dele, admirava-o pelo que fazia
no campo da medicina. Contudo, sua admiração tornou-se um problema. Josh nunca
estava por perto para apoia-la, celebrar, ouvi-la. Haveria sempre um paciente
crítico, um programa social em outra cidade, o médico sem fronteiras. No fundo,
ela constatou que eles nunca foram, nem seriam um casal. Josh era a versão
masculina de Kate. Nenhum dos dois abriria mão do seu trabalho. No tempo que
estivera com ele, Josh perdera todos os momentos importantes inclusive o dia
dos namorados. E não era somente isso.
Havia um outro
motivo. Algo que acontecera meses antes do atentado a sua vida. Um motivo capaz
de deixa-la confusa, em conflito consigo mesma. Precisava entender o que esse
aperto no coração significava. Ela não estava falando de dor física. O que
sentia era psicológico. Seu motivo tinha 1,87 e lindos olhos azuis.
Não. Esse não
era o momento de pensar sobre esse assunto. Necessitava de foco. Sua vida na
NYPD, essa era a sua prioridade.
Já ouvira
muitas vezes que é natural fazer uma análise de toda a sua vida quando se passa
por um evento traumático. Uma espécie de tradição como as realizações de fim de
ano. Kate deveria enfrentar seus medos, expor seus sentimentos diante de um
terapeuta. Era mandatório para ter seu distintivo de volta. Não se julgava
confiante o bastante para discutir seu estado de espírito com um psicólogo. Porém,
amanhã seria sua primeira consulta para convencer o profissional que estava bem,
em condições de exercer suas funções como detetive. Seria uma tarefa árdua.
Kate continuava tendo pesadelos com o episódio que enfrentara meses atrás. Ela
precisava ter seu registro de volta, sua arma. Sem um distintivo, não havia
Kate Beckett. Sorveu o resto do café
olhando para o pequeno lago. Em outro momento, talvez ela apreciasse o lugar
como deveria, ou não. A quem queria enganar, era uma garota da cidade, uma
típica novaiorquina. Levantando-se, entrou em casa para arrumar as malas.
À noite, o
sono agitado a perseguiu. Era o mesmo pesadelo das outras noites.
“Eles mataram
minha mãe o que você espera que eu faça? Beckett, todos ligados a esse caso
estão mortos, deixe para lá.
Da última vez que chequei era a minha vida, não seu brinquedo pessoal! Eu sei
que você rastejou para dentro do caso de sua mãe e não saiu mais, como você se
esconde em relacionamentos com homens que não ama. Você tem medo. Nós
terminamos. Kate! Quem matou minha mãe? Castle, tire-a daqui. Nãooooo. O
barulho de tiro. Montgomery caído. Novo tiro. Fique comigo, Kate. Eu te amo. Eu
te amo, Kate. “
Então ela
acordava ofegante com a imagem daqueles olhos azuis cobertos de medo sobre ela.
Manhattan –
dia seguinte
Ela passava a
manhã viajando. Seu encontro com o psicólogo era na parte da tarde. Kate estava
sentada esperando o momento para entrar no consultório. A secretária
ofereceu-lhe café. As imagens do pesadelo ainda vagavam em sua mente. O que a
fez lembrar-se dos últimos momentos com Castle no quarto do hospital. Ele
estava abalado ao vê-la, sabia que deveria ter sofrido com tudo aquilo. Kate
tomou sua decisão de afastar-se porque precisava achar seu equilíbrio
novamente. Passaram-se quase três meses e ela não falou com Castle. Seus
pensamentos foram interrompidos ao ser chamada ao consultório. O psicólogo a
recebeu com um sorriso, Kate era boa em ler pessoas. Ele era um homem sério,
talvez um tanto austero, mas ela gostou da sinceridade que viu em seus olhos.
- Olá, Kate. Por
favor, sente-se. Primeiramente, gostaria de dizer que você não precisa ficar na
defensiva. O que acontece aqui nessa sala diz respeito apenas a mim e a você.
Quero que saiba, minha missão é analisa-la no intuito de coloca-la de volta à
ativa o mais rápido possível. Eu li sua ficha, uma detetive realmente
impressionante devo dizer. Agora, vamos falar do que aconteceu a quase três
meses. Conte-me, Kate. Como você se sente após sua experiência, seus primeiros
pensamentos – Kate respirou fundo, a partir de agora ela entraria em um terreno
perigoso.
- Eu não me
lembro muito do que aconteceu. Estávamos em um funeral. Capitão Montgomery. Estava
fazendo o discurso no púlpito e de repente tudo ficou escuro, não me lembro de
mais nada.
- Tem certeza?
– Kate não respondeu – vamos falar um pouco de sua vida pessoal e o
relacionamento com o caso da sua mãe. Isso virou uma espécie de obsessão para
você. Na sua ficha diz que já passou por terapia para esquecer sua vingança
pessoal. O que a fez voltar a procurar? Por que remexer em velhas feridas?
- Porque
descobri novas pistas. Castle encontrou furos na investigação feita pelo
investigador oficial do caso. Eu apenas fiz o trabalho que na época ele não se
dispôs a fazer. Eu preciso da verdade, sou uma policial, luto por justiça.
- A qualquer
custo? Pela forma que eu vejo, o caso da morte de sua mãe a fez fechar-se para
outros aspectos importantes da vida. Você respira trabalho, casos e mais casos
fechados com louvor. Tem uma das melhores pontuações na NYPD. Poderia
classifica-la como workaholic, mas esse não é o caso, certo Kate? Em minha
opinião profissional, você tem medo de seguir adiante. Não, pegar o assassino
de sua mãe não pode ser sua meta de vida. Kate, você está se escondendo atrás
de um motivo que tem mais de dez anos para não ser feliz, viver sua vida.
- Você não
entende, eu não posso decepcionar minha mãe. Devo isso a ela.
- Não. Sua mãe
está morta. Você não pode decepciona-la, Kate. O que você acha que sua mãe
gostaria que fizesse com sua vida?
- Ela gostaria
que eu seguisse em frente.
- Muito bem. O
que o trabalho na NYPD significa para você?
- Tudo. Eu não
sei quem sou sem meu distintivo. Eu entrei para a academia por causa do
assassinato da minha mãe, porém lá descobri que podia ajudar outros que
sofreram perdas como eu. Depois do meu período negro, a cada novo assassinato,
a cada nova vítima, pensava em como aquele ato cruel devastava uma família, uma
namorada, um marido. Eu me via neles, ainda me vejo. Todo novo caso é uma forma
de honra-la, de mostrar que a justiça pode ser exercida para o bem comum.
Algumas vezes, me esqueço disso. Quando isso acontecia, Castle estava ao meu
lado para lembrar-me – um pequeno sorriso surgiu no canto dos lábios.
- Já que
mencionou, fale sobre Castle. Ele é parte importante da sua vida, não?
- Castle é
meu... – de repente sentiu dificuldade em rotula-lo – meu amigo, um espécie de
parceiro na NYPD. Castle conseguiu sua entrada em meu distrito através da sua
amizade com o prefeito. No início era realmente irritante tê-lo me seguindo
para todos os lados, cenas de crimes, necrotério, perambulando e se metendo em
todos os assuntos. Obediência não era o forte dele, não é – corrigiu – mas, depois,
aprendi a lidar com ele. Castle se tornou importante para o trabalho, para os
casos e de certa forma amenizou o meu dia a dia. Tornou-se meu amigo, apesar de
ter feito voltar a analisar o assassinato da minha mãe, não o culpo. Abrimos
novas portas juntos. De todas as pessoas, ele é quem talvez mais me compreenda
– novamente a dor no peito apareceu, Kate engoliu em seco. Sua linguagem
corporal não passou desapercebida ao terapeuta.
- Interessante
você dizer isso. Talvez você precise pensar um pouco mais sobre a real
importância de Castle para você e para sua vida. No momento, vou me ater ao
objetivo principal dessa nossa conversa. Você é uma mulher decidida, sabe o que
quer. O título de melhor detetive da NYPD é seu por direito. Sua reputação
mostra isso, comprova a policial que é. Vou lhe entregar meu parecer favorável
ao seu retorno ao trabalho. Poderá voltar para o seu distrito – ele pegou um
papel na pasta, assinou e carimbou – gostaria apenas de fazer uma observação.
Você ainda tem uma carga emocional bastante elevada pelos últimos
acontecimentos, porém não é somente seu stress pós-traumático que gera essa carga.
Você tem uma lição de casa para fazer. Descobrir o que quer para sua vida
pessoal. Temos batalhas demais para enfrentar na vida. Luta-las sozinho pode
ser um erro. Sabe o que é ainda um erro maior? Acreditar que ninguém estaria
disposto a lutar e seguir esse caminho ao seu lado. A você foi dada uma segunda
chance. Reflita sobre isso – entregou o documento para Kate, sorria – aqui
está.
- Obrigada,
doutor.
- Se eu não a
vir em outra oportunidade – estendeu a mão para cumprimenta-la – boa sorte,
Kate. Eu espero que encontre o que procura e dê uma chance a si mesma – ela
retribuiu o aperto de mão, deixou o consultório rumo ao seu apartamento.
Assim que
entrou, sua primeira reação foi fechar os olhos. Sentiu o choro apertar-lhe a
garganta. Ali naquele mesmo lugar ela dividiu suas teorias e seu conhecimento
sobre o caso de sua mãe com Castle. A janela ainda estava lá, intacta. Foi
também naquela sala onde discutiu com Castle. Lembrar-se disso agora trouxe
lagrimas aos olhos. Castle fora duro com ela, não fora a primeira vez, porém
fora a discussão mais séria entre eles, apertara botões que a fizeram se odiar.
Tanto que ela o enxotou de seu apartamento. Ficara com raiva dele porque lhe
dissera algumas verdades. Algumas vezes, ela não aceitava bem críticas, pelo
menos não no primeiro momento. Passando as mãos pelo rosto para enxugar as
marcas deixadas pelas lágrimas, balançou a cabeça decidindo esquecer toda essa
historia por um tempo.
- Música. É
disso que preciso. Um pouco de música – Kate ligou o som que ficava sobre sua
bancada da cozinha. Iria cozinhar algo, retomar a rotina. Ainda tinha quase
duas semanas para voltar ao trabalho. Usaria parte delas para colocar sua vida
nos trilhos. Enquanto preparava uma massa, ela se entretia ouvindo canções
agitadas, dançantes e bons rocks. Não se preocupou em montar uma playlist, quis
por uma vez experimentar. A rádio conseguiu devolver parte do astral alegre que
perdera esse tempo. Tinha seu laudo, retornaria ao trabalho que adorava
executar. Aos poucos a experiência ruim seria esquecida. Serviu-se do macarrão
acrescentando uma porção generosa de queijo parmesão.
Sentou-se no
sofá para apreciar um pouco da sua culinária, um momento totalmente
individualista. O prazer de experimentar os temperos, a mistura de tomate,
parmesão, manjericão fizeram-na suspirar. Levantou-se para pegar o vinho na
geladeira. Após um longo gole, retornou ao seu lugar colocando outra garfada
generosa na boca. Em meio a esse pequeno momento de introspecção, uma nova
canção ecoou pelo apartamento. Uma canção que tornou impossível para Kate não
voltar seus pensamentos para alguém especial. Rick Castle.
“I miss those blue eyes, how you kiss me at night. I miss the
way we sleep like there's no sunrise like the taste of your smile I miss the
way we breathe. But I never told you what I should have said. No, I never told
you I just held it in. And now, I miss everything about you I can't believe
that I still want you and after all the things we've been through. I
miss everything about you without you…”
A imagem do
homem encheu sua mente. Aqueles olhos azuis tão profundos a cativavam. Sim, ele
era seu amigo, seu parceiro mas... poderia ser mais do que isso? Ele a acusou
de sabotar sua felicidade. Por que dissera aquilo? O que estava insinuando? Ela
recordava as palavras dele quando ela o pressionou “eu não sei o que somos, nos
beijamos e nunca falamos sobre isso, quase morremos congelados nos braços um do
outro e nunca falamos sobre isso, então não, eu não tenho a mínima ideia do que
somos. O que eu sei é que não quero vê-la jogar sua vida fora.”
Ela virou o
resto da bebida de uma vez. Encheu a taça novamente. Escorada no sofá, deixou a
mente vagar por aquela noite. Era apenas mais um dia comum no principio,
todavia ela findou por encontrar ligações suspeitas com o caso da sua vida
quando o detetive responsável pela investigação a ligou. Muitas pistas
apareceram, mesmo após a morte de Reglan. Seu mais novo inimigo estava
torturando Ryan e Esposito. Eles estavam ali estacionados, próximo a casa onde
os rapazes estavam. Ela precisava de ideias, algo para despistar o segurança de
tocaia. Castle sugeriu se passarem por um casal de namorados voltando meio de
pileque de uma noitada. No momento que colocou os olhos no segurança, Kate
sabia que não ia funcionar. Então, ela foi surpreendida por um movimento que
não esperava. Castle a impediu de puxar a arma, puxando-a pela nuca e tomando-a
em um beijo. Afastou-se, porém não estava surpresa por buscar-lhe os lábios de
forma urgente, beijava-o, quase de maneira avassaladora.
Fechou os olhos.
Um beijo. Um único contato íntimo em três anos convivendo com ele foi capaz de
tira-la de seu eixo. Por um momento, esquecera que era um disfarce. As emoções
estavam em seu limiar. Kate levou a mão à boca. Ela podia recordar-se com
precisão da profundidade daqueles olhos azuis a fitando antes de envolvê-la em
uma dança de lábios. Ela sentia falta disso, do jeito de olhar, do beijo,
sentia falta dele. Por mais difícil que fosse para Kate Beckett, admitia pela
primeira vez que as palavras pronunciadas por Castle antes de ver o mundo
escurecer a emocionavam. Criavam uma mistura de medo e confusão que a
aterrorizavam. Ele a amava, dissera sem qualquer ressalva. No fundo, ela sabia
disso, era recíproco. Negava sempre que o pensamento aparecia em sua mente.
Ainda podia ver a cara de decepção de Castle no hospital quando ela falou não se
lembrar de nada referente ao tiroteio.
Não estava
mentindo quando disse a ele que precisava de tempo. Não sabia como lidar com
isso. Medo. Deveria render-se ao sentimento que nutria pelo escritor? Ela quase
fizera isso quando foram a Los Angeles. Considerou que sua reação era
justificável pela montanha russa de emoções que vivia caçando o assassino de
Royce. Era apenas mais uma tentativa de enganar-se. “Você poderia ser feliz,
você merece ser feliz, mas tem medo”.
Sim, ela
optara por sabotar sua felicidade. O medo de perder o seu companheiro, seu
amigo e parceiro caso nada disso funcionasse. Ela estava acostumada a tê-lo ao
seu lado. Castle já dera várias provas de sua lealdade, de que estava disposto
a seguir com ela onde a estrada os levasse. Se pudesse arriscar...
O aperto no
peito voltou a dar sinais. Finalmente, ela compreendia o que aquilo significava.
Saudade.
A garrafa de
vinho estava pela metade. Ela não quis continuar naquela fossa. Não sem levar a
si mesma a momentos de angustia e extremo stress. Largou as louças na pia da
cozinha, tomou um comprimido para dor de cabeça e deitou-se na cama. Tentou em
vão fechar os olhos para afastar da mente os pensamentos com relação a Castle.
Recordou o beijo diversas vezes antes do analgésico a derrubar.
A noite não
provou ser tranquila quanto ela esperava. Os pesadelos voltaram. O mesmo de
todas as noites. Na mesma sequencia. A sensação ao acordar no meio da noite era
de queda livre. Por duas vezes durante a madrugada, ela reviveu aqueles
momentos.
“Eles mataram
minha mãe o que você espera que eu faca? Beckett, todos ligados a esse caso
estão mortos, deixe para lá.
Da última vez que chequei era a minha vida, não seu brinquedo pessoal! Eu sei
que você rastejou para dentro do caso de sua mãe e não saiu mais, como você se
esconde em relacionamentos com homens que não ama. Você tem medo. Nós
terminamos. Kate! Quem matou minha mãe? Castle, tire-a daqui. Nãooooo. O
barulho de tiro. Montgomery caído. Novo tiro. Fique comigo, Kate. Eu te amo. Eu
te amo, Kate. “
Da última vez,
porém, um novo elemento se juntou ao pesadelo. Psicólogos podiam justificar
como parte do subconsciente afetado por lembranças de um dia intenso. Como
fotografias permanentes. Kate entendia que não era essa a explicação apropriada
em seu caso. Após a declaração, a sequência do sonho trouxe o beijo deles.
Sim, ela
acordara ofegante novamente. Dessa vez, não por medo. Por prazer.
Kate checou o
relógio de cabeceira. Cinco e meia da manhã. Precisava ocupar sua mente com
outra coisa que não seu atentado ou sua vida pessoal. Hora de voltar à ativa e
continuar a investigação que a colocou de cara com a morte.
12th Distrito
Kate Beckett
chegou silenciosa a sua segunda casa. Ficou por uns instantes fitando a sua
mesa. A cadeira ao lado, lugar cativo de Castle, estava vazia. De repente, as
pessoas notam sua presença e a recebem com uma salva de palmas. Era bom estar
de volta. Enquanto arrumava suas coisas, os rapazes se aproximaram dela.
Estranharam vê-la de volta uma semana antes. Ela justificou o tédio da cabana
como a desculpa. Em seguida, perguntou por novidades.
- Tiramos DNA
da arma, mas não encontramos nada no sistema – disse Ryan – espere, Castle não
te contou nada sobre isso?
- Não –
respondeu Beckett rapidamente.
- Estranho… -
retrucou Ryan pensativo – por que ele esconderia isso de você?
- Ele não está
escondendo nada. Não falo com ele há um tempo.
- Há quanto
tempo, exatamente?
- Praticamente
desde o tiro.
- Por que? O
que aconteceu?
- Nada
aconteceu. Eu só precisava de um tempo.
- Ele te
deixou sozinha por três meses? – Ryan estava mesmo impressionado.
- Gente, não é
culpa dele. Eu disse que ligaria.
- Por que não
ligou? – perguntou Esposito – porque ele esteve aqui, trabalhando no caso por
meses – Kate não escondeu a surpresa ao descobrir - Ainda estaria aqui se a
nova capitã não o tivesse expulsado.
- Ela o
expulsou? Por que? – pela primeira vez, ela ficou preocupada com o que
acontecera e com o que fizera com ele.
-
Aparentemente sua delegacia não é lugar para um escritor delirante brincar de
policial.
Ela ainda iria
conhecer a capitã. Primeiro ouviu a história do banco, como Castle fez um
trabalho reverso chegando à trilha de dinheiro. Fez sozinho a descoberta. Todas
as novidades apenas serviram para deixa-la preocupada e sentindo-se culpada por
tê-lo afastado. O aperto no peito voltou
a incomodar. O caso de seu atentado for a arquivado por Gates devido a falta de
provas e pistas. Na linguagem da policia, esfriou. Os arquivos com a trilha do
dinheiro estavam com Castle. Respirando fundo, tomou o resto de seu café, pegou
o documento do psicólogo e preparou-se para exigir seu distintivo e sua arma de
volta.
A Capitã, apesar
de tudo, gostou de conhecê-la. Como o próprio psicólogo dissera, sua reputação
a precedia. Após examinar o laudo, Gates entregou-lhe o distintivo, porém, para
a arma, ela teria que passar pela prova de tiro, requalificar-se. De volta a
sua mesa, ela refletiu sobre qual seria seu próximo passo. Os rapazes deixaram
o distrito para atender a um novo homicídio. Pensando sobre tudo o que lhe foi
contado nessa volta ao trabalho, sabia que precisava fazer algo para redimir o
possível mal que causara a alguém. O olhar voltou-se para a cadeira vazia ao
seu lado. Nunca pensou que sentiria tanta falta de tê-lo ao seu lado. Checando
seu paradeiro pela internet, Kate pegou sua jaqueta e saiu.
Era mais uma
tarde de autógrafos de seu novo livro. O terceiro da série. Heat Rises. Ele
atendia os fãs agradecendo pela lealdade e pela dedicação ao seu autor
preferido. Infelizmente, essas pequenas reuniões perderam um pouco o sentido. Fora
difícil terminar o livro devido a tudo que acontecera. Estava em um lugar
sombrio após ser praticamente dispensado por Kate. Descobrir que ela não se lembrava
de nada que dissera, voltar a estaca zero, era muito doloroso. A ausência, ser
ignorado depois de tudo o que passaram juntos o irritava. Continuava louco por
ela, talvez nunca amasse ninguém da maneira como amava Kate Beckett. O
reconhecimento disso o corroia por dentro. Mesmo assim, ele continuava a fazer
seu trabalho de escritor.
Um após outro,
os fãs se aproximavam com seus exemplares, davam seus nomes para receber o autógrafo
e agradeciam. Castle sorria, procurava ser cordial. Dependia deles para manter
a memória de sua musa perto de si. Perdera a conta de quantos livros assinara
nas últimas semanas. Essa tarde já estava particularmente cansado por responder
e perguntar sempre as mesmas cosas. Perdera a conta de quantas vezes disse a
mesma frase.
- Devo dedicar
a quem? – quando o novo exemplar surgiu na frente dele.
- Kate – a voz
era inconfundível. Ergueu a cabeça para então seus olhos a encontrarem – pode
dedicar a Kate.
O choque o fez
engolir em seco. Ela continuava linda. Assinou o livro como se nada tivesse
acontecido, mais uma fã ele procurou acalmar a si mesmo. Tão rápido como
surgiu, ela saiu da frente dele. Nenhuma palavra além do repetitivo obrigada.
Castle tentava não se abalar por isso. Seus esforços eram em vão. Aquela mulher
o tirava do sério em todos os sentidos. Ela mexia com sua cabeça, seu corpo.
Droga! Sentiu raiva de si por se deixar amolecer tão facilmente. Lembrou-se que
não estavam se falando a três meses, não facilitaria como antes. Se Kate achava
que podia aparecer em sua vida após tanto tempo sem ao menos um telefonema,
estava enganada. Ainda nutria muita raiva por tê-lo esquecido, por julgar que
ele não fosse importante em sua vida. Ele estava magoado, mesmo apaixonado ele
ainda tinha orgulho próprio.
Quando
encerrou o evento despediu-se de todos os que o ajudaram e não ficou surpreso
por encontra-la esperando por ele na calçada. Era teimosa a esse ponto. Ele
passou pela frente dela ignorando-a sabendo que ela o chamaria. Não deu outra.
- Castle,
espere.
- Eu esperei
três meses, você nunca ligou.
- Olha, eu
entendo que está com raiva – virou-se para encara-la.
- Pode ter
certeza que estou. Vi você morrer naquela ambulância. Sabe como é? Ver a vida
se esvair de alguém – ele hesitou – de alguém que você gosta? – não, ela não
havia experimentado nada parecido.
- Eu disse que
precisava de mais tempo.
- Você disse
uns dias.
- Eu precisei
de mais.
- Deveria ter
avisado – e sai andando novamente. Ela o segura pelo braço chamando sua
atenção, fazendo-o olhar para ela.
- Eu não
poderia ter ligado, não sem reviver todo aquele pesadelo. Tudo o que estava
procurando me afastar. O que me fez mal. Tinha que digerir tudo aquilo.
- Josh te
ajudou? – disse sarcástico, porém logo se arrependeu por ver o olhar no rosto
dela. Kate virou as costas para evitar que ele visse as lágrimas que embaçavam
seus olhos. A última coisa que faria era chorar na frente dele, não quando
Castle estava tão irritado com ela, não ao perceber que o magoara. Isso não
deveria ter acontecido. Tudo o que queria era trazê-lo de volta para o seu
lado. Abraça-lo. Queria voltar a lutar suas batalhas ao seu lado. Percebera que
talvez fosse tarde demais. Estragara tudo. Caminhou até a praça próxima de onde
estavam. Avistou um balanço, sentou-se. Acariciava a capa do livro onde ele
assinara seu nome. Leu a dedicatória. Sorriu. Mordiscava o lábio inferior. Por
que fizera isso com ele? Por que insistia em dar cabeçadas? Percebeu quando ele
sentou-se ao lado dela. Não sabia o que dizer, um pedido de desculpas não era
suficiente naquele momento, portanto esperou que ele desse o primeiro passo.
- Está de
volta ao trabalho?
- Sim, fui
liberada pelo psicólogo.
- Ótimo – ele
esperou alguns segundos para fita-la. No instante que vira aqueles olhos azuis
tão escuros, sombrios, engoliu em seco. Esse não era o mesmo Castle que olhara
para ela no dia do tiroteio. Será que estaria guardado por trás daquele olhar
ou dentro do seu próprio coração? – você se lembrou de algo do tiroteio?
- Apenas
pedaços aqui e ali. Eles vem até mim em pesadelos quase todas as noites –
aquilo prendeu a atenção dele e amoleceu um pouco o olhar dele perante Kate. O
aperto no coração voltara. Os olhos perderam-se nos lábios a sua frente por
alguns segundos. Não estava preparada para contar a verdade a ele – sempre
termina com o barulho do tiro e a escuridão. Não importa. Deve ser melhor
assim. Eu preciso trabalhar, ocupar a mente. Tenho um exame de requalificação
para fazer. Quero minha arma de volta.
- Certo. É
melhor assim. O trabalho vai ajudá-la – ele se levantou – espero que se cuide,
Kate.
- Castle não…
- Você estava
certa. O que quer que tínhamos, acabou. Boa sorte, Kate – saiu caminhando
deixando-a atônita olhando para o nada. De repente, uma ânsia de enjoo a
invadiu. Sua cabeça doía. Dessa vez, ela não lutou contra as lágrimas,
simplesmente as aceitou.
A angústia e o
momento de solidão não acabou naqueles balanços. Encolhida na cama, ela chorou
por longas horas até ser vencida pelo sono. Os pesadelos retornaram. Pela
manhã, ela se arrastou da cama para o trabalho. Os olhos não conseguiam
esconder a noite mal dormida. Após uma caneca de café, ela retornou a sua mesa.
Tudo ali lembrava Castle. A cadeira parecia um fantasma perseguindo-a,
lembrando que o seu parceiro, seu menino dos olhos azuis e de sorriso fácil não
voltaria a se sentar naquele lugar. Estava sozinha agora. O mundo não parava,
novos homicídios surgiam e nenhum deles traria Castle para o seu lado.
Não sabia bem
por onde começar. Deveria insistir no caso da sua mãe e correr o risco de ser
pega pela capitã? Era o correto a fazer, porém precisava de seu parceiro. Tinha
que conversar com alguém. Nesse momento somente conseguia pensar em uma pessoa.
Pegou seu casaco e deixou o distrito.
Ela andava de
um lado a outro da antesala esperando por sua vez. Por alguns instantes fitou o
celular em um dilema de ligo ou não ligo. Desistiu de apertar o botão verde
quando a secretária mandou que entrasse. Kate sentou-se na poltrona de frente
para o psicólogo.
- Kate, não
esperava vê-la novamente por aqui.
- Eu imagino,
nós policiais evitamos ao máximo nos submeter a qualquer análise de nossas
mentes. Não foi por isso que voltei. Eu não estou bem. É difícil para mim
admitir isso. Não se trata do trabalho, estou falando da minha vida. Eu menti.
Eu me lembro do tiroteio.
- Quanto você
se lembra?
- Tudo. Eu me
lembro de tudo.
- Deve ter um
motivo muito sério para você ter omitido essa informação antes. É por isso que
está aqui?
- Sim. Eu não
consigo dormir à noite. Os pesadelos estão lá revivendo tudo o que aconteceu
antes, o momento do tiroteio. E a informação que me abalou mais do que o
próprio tiro. Eu não sei como lidar com isso. Castle. Ele disse que me ama. Eu
disse que não lembrava nada do que acontecera. Não estava pronta para discutir
esse assunto com ele. Pedi um tempo. Demorei três meses e agora ele está com
raiva de mim. Castle não irá voltar ao distrito, eu perdi meu parceiro, meu
amigo para sempre.
- Conte-me os
detalhes – Kate repassou tudo o que via em seus pesadelos, cada detalhe
incluindo o beijo. Para o psicólogo estava muito claro o que tinha a sua frente
– você disse que perdeu Castle para sempre. Tem certeza disso? Você já
desistiu?
- Não é tão
simples assim. Você não viu a mágoa no olhar dele.
- Kate,
deixe-me perguntar uma coisa: você o ama?
- Sim, eu
estou apaixonada por ele a um bom tempo. Achei que não precisaria experimentar
algo como o que está acontecendo agora, nunca pensei que ele iria embora.
- E por isso
você nunca falou de seus sentimentos para ele. Imaginando que Castle estaria
ali para sempre. Quase como um animal de estimação, seguindo-a para onde
ordenasse.
- Não! – ela
ficou irritada – Castle é meu amigo, meu parceiro. Nós já enfrentamos muitas
coisas juntos, perigos. Gosto de tê-lo ao meu lado, de ouvir sua opinião. Sem
ele, eu não teria chegado tão longe no caso da minha mãe. Ele é importante para
mim, ele me entende como ninguém já entendeu. Castle é a pessoa mais importante
da minha vida.
O psicólogo
sorriu. Deixou a caneta dentro da pasta, fechando-a.
- Kate, você
mesma disse. Se sabe o que sente, por que não o procura? Por que não diz a ele
o que me disse? O que a impede, que medo é esse que a consome?
- Eu não sei
como ele vai reagir. E se ele interpretar como uma forma de trazê-lo para o
distrito novamente? Se achar que eu estou usando-o? Eu não estou preparada para
um relacionamento. Eu terminei um logo após o meu tiroteio. Estou menos ainda
preparada para ser dispensada.
- Kate, você
ouve tudo o que diz? Do meu ponto de vista e pelo que pude observar, Castle é
louco por você. Tenho certeza que ele levaria aquele tiro por você se lhe
dessem a chance. Tem que encarar as verdades que me contou hoje. Você o ama.
Sente falta dele. Por que luta contra um sentimento tão bonito como o amor?
Prefere ficar com os pesadelos, enfiar a cara no trabalho e esquecer-se de
viver?
Ela passava as
mãos pelos cabelos. As lágrimas caiam sem receio pelo rosto.
- O que você
tem não é um problema, Kate. Você tem uma decisão a tomar. Não sou eu quem vai
dizer o que deve fazer. O aconselhamento eu já dei. O medo não serve para nos
paralisar, serve para nos fazer crescer, desafiar nossos limites. Não se renda.
Você está bem, melhor que muitas pessoas no mundo. Sabe por que? Porque ama e é
amada. Decida-se, Kate. Ser feliz nunca me pareceu tão fácil. Faça um favor a você, não é tarde.
Ela suspirou.
Limpou o rosto, ergueu-se da poltrona. Viu o psicólogo sorrir.
- Adeus, Kate.
Fique à vontade para voltar se quiser. Algo me diz que não vai precisar.
Kate deixou o
consultório pensativa. Na frente, havia um café. Entrou e fez seu pedido. Optou
por sentar-se numa mesa de canto esperando não ser incomodada. Por um bom
tempo, ela contentou-se em tomar o café e observar o movimento. Passava o polegar
de leve no copo. O liquido já acabara. Estava pensando em pedir mais um. Ela
sempre gostou de café, porém Castle apenas a deixou mais viciada desde que veio
trabalhar na NYPD. Acostumara-se a receber sua dose matinal de café todas as
manhãs dele. Acostumara-se a tantas outras coisas vindas dele.
Uma garçonete
se aproximou pedindo licença. Perguntou se ela desejava mais um café. Kate
aceitou. Após o primeiro gole, tornou a pensar em Castle. Suas teorias malucas.
A forma como criava histórias mirabolantes para explicar casos que apenas
serviam para diverti-la mesmo que fingisse irritação. O jeito moleque e a
fascinação por coisas dignas de um menino de nove anos.
Alguém falou
alguma coisa para a garçonete, no instante seguinte uma melodia encheu a
cafeteria.
“I see your blue eyes everytime I close mine. You make it
hard to see where I belong to when I'm not around you. It's like I'm alone with
me. But I never told you what I should have said. No, I never told you. I just
held it in and now, I miss everything about you (still you're gone). I can't
believe that I still want you (and loving you, I never should've walked away). And
after all the things we've been through (I know I never gonna go away). I miss
everything about you without you.”
A mesma música. Kate não acreditava em
coincidências. Mesmo assim, reservou-se o direito de continuar relembrando seus
momentos com Castle ao som da canção. Ele a fizera rir muitas vezes, estivera ao
seu lado em momentos difíceis como após atirar em Coonan para salvá-lo. Em
outra época, eles implicavam um com o outro, Kate teve sua blusa manchada de
café por Castle. Houve ciúmes de ambas as partes. Sorriu ao lembrar como o
provocara naquele caso da boate, dançando na frente dele sensualmente. Gostaria
de fazer isso novamente. Gostaria de ver um sorriso naquele rosto, o brilho
naquele olhar.
Fechou os
olhos e imaginou a carinha de felicidade no dia em que foram beber no The Old
Haunt. Cantando, ente amigos. Tantas histórias, tantos momentos. Por que
deveria escolher seguir em frente? Por que virar as costas a tantas lembranças
boas, por que ele escolheu virar a pagina? Ir embora, abandonar uma das
melhores épocas da sua vida?
Muitas
perguntas sem resposta. Muitas dúvidas para a vida de duas pessoas. Virando o
copo a sua frente, Kate levantou-se para ir embora. Por que não contou como se
sentia antes? Entrou em seu carro, dirigiu a esmo sem qualquer plano, apenas a
cidade de Manhattan agitada e iluminada. Era uma garota urbana, típica
novaiorquina. O barulho das ruas, as luzes da Broadway e da Times Square a
acalmavam.
Novamente se
viu pensando nele. Agora as imagens que vinham em sua mente eram dos
obstáculos. Castle a protegera e a salvara quando seu apartamento pegou fogo.
Acolheu-a. Enfrentou bandidos a seu lado mesmo não estando armado. Quebrou com
vontade a cara de Lockwood de porrada. Arriscava-se por ela. Apesar dos
momentos irritantes, ele tinha domínio das palavras, fácil quando se é
escritor, mas ele parecia ter sempre uma palavra de conforto. Ela nunca
esqueceu a dedicatória de seu primeiro livro. Sabia que ele acreditava mesmo em
ela ser extraordinária.
O radio que
até a pouco tocava uma balada antiga do bom jazz americano, trouxe mais uma vez
a mesma melodia de horas atrás na cafeteria. A letra invadiu a mente de Kate
remetendo-a novamente ao beijo trocado alguns meses antes.
“I miss those blue eyes, how you kiss me at night. I miss the
way we sleep like there's no sunrise like the taste of your smile I miss the
way we breathe. But I never told you what I should have said. No, I never told
you I just held it in. And now, I miss everything about you I can't believe
that I still want you and after all the things we've been through. I
miss everything about you without you…”
Não foi apenas
o beijo que encheu seu coração com uma sensação gostosa. Recordar o tempo que
ficaram congelados dentro daquele container. Jogados a própria sorte. Vendo
seus corpos sendo desafiados a cada minuto por uma temperatura não suportável
pelo corpo humano. Aos poucos, eles foram se entregando à hipotermia. Seus
dedos congelaram, seus rostos, lutavam para manter-se acordados. Ali, nos
braços um do outro, ela também não tivera coragem de dizer o que sentia.
Perdera a chance de revelar o que escondia a sete chaves em seu coração.
“But I never told you what I should have said. No, I never
told you I just held it in and now, I miss everything about you (still you're
gone). I can't believe that I still want you (and loving you, I never should've
walked away) and after all the things we've been through (I know I never gonna
go away). I miss everything about you without you.”
Parada no
sinal vermelho, ela ouviu os últimos acordes da canção. Podia ser o fim de uma
era ou o início de algo realmente importante em sua vida. A escolha era sua.
Arriscar nossos corações é a razão de estarmos vivos, foram as palavras de
Royce. Assim que o sinal abriu, Kate virou a esquerda indo no caminho contrário
ao seu apartamento.
Apartamento de
Castle
Castle estava
sentado no sofá, um copo de vinho nas mãos. Olhava para o nada. Havia se
passado apenas um dia que vira Kate. Porém, como um fantasma, ela estava
presente em seus pensamentos 24 horas por dia. Não, era errado compara-la com
um fantasma. Ele a amava, agradecia por ter sobrevivido aquele tiroteio mesmo
que isso significasse ficar longe dela para sempre. Seu coração doía. Teria uma
missão muito difícil pela frente. Independente da raiva que sentia por ter sido
deixado de lado, cortado abruptamente de sua vida, um sentimento tão forte como
o dele não desaparecia instantaneamente. Não havia um botão ou um aplicativo
que ordenasse seu coração a parar de ama-la, deseja-la. Três anos convivendo
diariamente não podia ser esquecidos. Tiveram seus momentos. Muitas histórias
para contar. É difícil deixar tudo para trás, abrir mão da melhor época de sua
vida.
Não mais Nikki
Heat. Teria que encontrar outro personagem. Talvez ressuscitasse Storm. Tomou
um outro gole da bebida. Então ouviu as batidas na porta. Não esperava ninguém.
Alexis estava passando a semana na casa de uma amiga estudando, sua mãe disse
que ia para a noitada. Quem poderia ser às – consultou o relógio – dez horas da
noite? Ao abrir a porta deparou-se com Kate Beckett. Ela estava vestida para
trabalhar. Percebeu as olheiras abaixo de seus olhos. No mínimo virara no
distrito e estava trabalhando até agora.
- Beckett...
- Castle,
eu... preciso conversar...
- Acho que já
dissemos tudo que podíamos um ao outro, não? – reparou nos olhos. Estava
determinada e ao mesmo tempo parecia vulnerável, triste. O aperto no coração
apareceu diante das palavras, porém a alegria de fitar aqueles olhos azuis
rapidamente encheram-no com uma sensação de paz que nem ela conseguia explicar.
- Não, isso
não é verdade. Eu nunca disse o que devia. Preciso que me escute – relutante,
ele afastou-se para que ela adentrasse o loft. Ficaram frente a frente.
Percebera que ela parecia observa-lo de uma maneira diferente – Castle, eu não
sou uma pessoa fácil de se conviver ou entender. Minha vida é complicada, tem
sido assim desde o assassinato da minha mãe. Vivia para o trabalho. Fechada
numa redoma que criei com o simples propósito de afastar as pessoas. Odeio
sofrer. A dor que senti com a perda da minha mãe não quero senti-la tão cedo.
Esse é o motivo de me isolar. Nesses três anos que você esteve ao meu lado,
excetuando os primeiros meses em que eu realmente te detestava, foram muito
diferentes do que eu estava acostumada. Você me mostrou que posso me divertir
trabalhando, que a vida é mais que vítimas de homicídios. Somos humanos, nos é
permitido errar, rir, viver. Não tinha me atentado até me sentir ameaçada a
ponto de perder minha vida, minha carreira, meu melhor amigo.
- O que você
pretende com essa história? Quer me convencer a esquecer o que senti? Abandonar
a raiva que você me fez?
- Não é uma
história, Castle. Não sou escritora, você é. Estou aqui contando para você como
eu me sinto. O que você significa para mim. Você é meu melhor amigo, mas não é
o suficiente. Meu parceiro, também não é o ideal. Não quero o escritor, o
palhaço da turma, o ajudante ou o menino. Quero o homem que você é. Quero Rick
Castle, a pessoa que me acompanhou em momentos difíceis, que me deu conselhos,
que arriscou sua vida para me salvar tantas vezes. Quero seu beijo, seu cheiro,
o calor dos braços que me aqueceram uma vez quase estando congelados. Quero a
pessoa que me trás café todos os dias, sabe exatamente como eu sou, meus
defeitos e minhas qualidades. Quero o homem que amo.
Kate se
aproximou dele que ouvia atentamente, havia lagrimas novamente em seus olhos.
Ela colocou as mãos sobre o peito dele, o olhar conectado ao dele. Passou uma
das mãos em seu rosto.
- Eu nunca
disse que estava apaixonada por você, o quanto senti sua falta nesses três
meses. Seu sorriso, seus olhos, sua voz. Tudo – uma lágrima escorreu pelo seu
rosto – quando vi a mágoa nesses olhos azuis, o quanto eu o feri, meu coração
doeu. Demorei para perceber que dar voz ao medo, apenas o afastava de mim. A
saudade que senti por não tê-lo ao meu lado foi esmagadora.
- Kate... por
favor...
- Eu me
lembrei, Castle. Eu sinto tanto por ter feito você sofrer. Não merecia nada
disso. Não você – ela passou a mão nos lábios dele – eu te amo, Rick Castle –
ela não esperou pela resposta dele. Com as duas mãos tomou seu rosto colando os
lábios nos dele. Dessa vez o beijo não foi urgente como o primeiro. Foi
carinhoso, sensual e cheio de sentimento. Castle a envolveu com os braços. Ela
se aconchegou suspirando no corpo dele. Há muito não sentia o frisson de ser
tão querida e amada. Ele se afastou para fita-la. Kate sorria.
- Se soubesse
que sumir da sua vida a faria perceber o quanto eu te amo, teria feito isso
antes. Ela riu.
- Não foi
somente isso, bobo. Eu quase cedi uma outra vez. Parece que a nuvem cinza que
rodeava seus olhos sumiu. Somente vejo o azul cor de oceano – beijou-o
novamente, ao se separar dele, pediu – faça amor comigo, Castle.
Ele se curvou
para beija-la novamente, dessa vez havia uma certa urgência para provar-lhe os
lábios, o pescoço, o colo. As mãos de Kate encontraram os botões da camisa
desfazendo-os um a um. A jaqueta de Kate foi ao chão. A camiseta seria a
próxima a ser descartada, porém ela se ateve aos beijos mantendo uma mão no
rosto dele que se perdeu pelos cabelos obrigando Castle a puxa-la contra si.
Ele entrelaçou os dedos aos dela levando-a para o quarto.
De frente para
sua cama, Castle tirou cuidadosamente a blusa que ela vestia deixando à amostra
o soutian. Livrou-se da sua camisa também. Kate colocou as mãos sobre o peito
dele, querendo sentir o calor da pele. As mãos deslizaram para o botão da
calça, porém antes que ela continuasse, ele a impediu deitando-a na cama,
colocando o corpo sobre ela, perdendo-se em beijos.
Aos poucos, o
restante das peças foi sumindo. Castle tirou a calça e o boxer. Também
desabotoou a calça de Kate, aproveitando para fazer um belo passeio nas pernas
longas dela, deixando uma trilha de beijos por onde passava. Depois, ele deixou
suas mãos vagarem pela lateral do corpo até encontrar os seios. Com os
polegares, acariciava os mamilos sobre o tecido do soutian. Desfez o fecho
frontal, jogando a peça longe. Os dedos roçaram a pele dos belos mamilos.
Então, beijou-lhe o colo rumo aos seios. Seus lábios roçaram o mamilo antes de
abocanha-lo. Ao sentir o toque sugando-lhe o seio, ela arqueou o corpo gemendo.
Repetiu o gesto no outro par, porém dessa vez usou a língua para brincar com
ele. As mãos dela estavam em seus cabelos estimulando-o a continuar. Podia
sentir a umidade tomando conta do seu centro.
Kate estava
extasiada com o toque de Castle, com o calor de sua pele. Queria mais. Ele
continuou vagando pelo corpo dela, abdômen, umbigo, as mãos retornavam aos
seios apertando-os até dedicar sua atenção à última peça de roupa, a lingerie
que cobria a parte mais desejada de seu corpo, antes de tira-la, Castle
beijou-lhe o interior das coxas. Com a ponta dos dedos, puxou a peça de uma vez
fazendo-a deslizar ao longo das pernas. Quando retornou colocando-se sobre o
corpo dela, Kate o puxou para si em um beijo apaixonado. Pele contra pele. Era
sua vez de explorar seu corpo.
Trocando de
posição, Kate acomodou-se na cintura dele, mordiscou-lhe os lábios descendo por
seu pescoço. As mãos vagavam pelo peito nu, vários beijinhos cobriam o caminho
do pomo de adão até o tórax. Foi capaz de sentir o gosto dele, misturado a um
perfume amadeirado, o suor masculino mexia com todos os seus sentidos. Roçou os
dentes de leve próximo a um dos mamilos dele. Aproveitou para fita-lo. Os olhos
azuis estavam representados em uma fina faixa, as pupilas dilatadas e a ereção
armada contra sua coxa, tudo isso apenas a deixava mais excitada. Ela segurou o
membro dele nas mãos, sorrindo acomodou-se para recebê-lo. Ao sentir-se sendo
invadida pelo membro dele, Kate gemeu. As mãos apoiadas em seu peito para
desfrutar do momento único antes de debruçar-se para beija-lo novamente.
Começou a mover-se devagar. Experimentando a sensação de tê-lo dentro de si,
aos poucos, o ritmo aumentou. Castle segurava em sua cintura. Juntos eles
encontraram o movimento perfeito. Ela não conseguiu segurar o prazer que a
invadia por muito tempo, em questão de minutos o orgasmo a atingiu como uma
explosão. Castle estimulou o momento continuando a mover-se dentro dela.
Quando Kate
debruçou-se sobre o corpo de Castle, ele a envolveu nos braços mudando de
posição. Queria fazer esse momento durar por muito tempo. Afastando-lhe as
pernas, ele a penetrou com os dedos. Ela gritou arqueando o corpo. Massageando
seu clitóris, ele a trouxe de volta ao prazer usando os lábios para prova-la.
Kate tremia debaixo de seu corpo, ele beijou-lhe os seios, sugou-os mais uma
vez roçando seus dentes na pele macia. Então, ele a penetrou novamente.
Castle
acariciou o rosto dela, beijou-a.
- Olhe para
mim, Kate – ela abriu os olhos, uma das mãos dele, entrelaçou-se a sua – eu te
amo, Kate – beijou-a novamente afundando-se dentro dela. Prestes a gozar, ela
manteve os olhos nele, o corpo tremia, a pele arrepiava-se. Não podendo mais
suportar, entregou-se completamente a Castle gritando seu nome fazendo-o
atingir o êxtase junto com ela.
O quarto
estava na penumbra. A respiração dela ainda demonstrava uma certa agitação.
Castle deitou-se de lado para admira-la. A ponta dos dedos circulava a cicatriz
recente. Ela colocou a mão sobre a dele. O solitário da mãe pendia caído para
cima do seio direito. Os olhares se encontraram. Kate sorriu. A mesma mão que
se juntara a dele, agora acariciava-lhe o rosto. Castle debruçou-se sobre o
meio dos seios dela beijando a cicatriz.
- Eu devia ter
protegido você.
- Shhhh – ela
colocou o indicador nos lábios dele – não, era para acontecer. Recebi uma
segunda chance, Castle. Escolhi você. Lembra uma vez que você me perguntou
quando sabíamos que estamos apaixonados? Eu respondi todas as canções fazem
sentido. Você pode achar estranho o que vou contar agora, eu estava muito
confusa em como encara-lo, como contar o que eu sentia por você. Mas, foi através
de uma canção que criei coragem, isso, alguns pensamentos e conselhos.
- Ah, detetive
Beckett... não sabia que era tão romântica! Qual era a canção? O que ela dizia?
- Eu não sei o
nome. Falava de saudade. De como sentia falta de seus olhos azuis, seu beijo,
tudo em você – ele sorriu beijando-a - Promete uma coisa para mim?
- O que você
quiser.
- Promete não
me deixar, não virar as costas para mim?
- Nunca mais. Não
sou mais somente seu amigo. Sou seu parceiro no crime e na vida. Eu te amo,
Kate.
- Eu também te
amo. Obrigada por não desistir de mim.
- Always – ela
o puxou para si beijando-o apaixonadamente. Segurou sua mão na dela, beijou-lhe
a palma, respondendo.
- Always.
THE END.
Um comentário:
ESSA MÚSICA É TUDO!!!!
Confesso que sempre que ouço lembro de Nathan, ai vem vc é faz uma fic tendo ela como tema.Tem como pedir mais??!!!
Amei♡
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