Nota da Autora: Não estou abordando nenhum episódio aqui. Ainda é o reflexo de Kill Shot. O capítulo não é tão grande, mas está cheio de momentos importantes e revelações. Por que não dizer shipper em vários paragrafos? Boa leitura! Enjoy!
Cap.50
Beckett teve um dia calmo no distrito. Ela
dedicou-se a fazer o relatório do caso encerrado. Precisava escrever muitos
detalhes quando havia troca de tiros ou mortes em casos policiais. Não foi uma
tarefa fácil porque as dificuldades, os sentimentos ainda persistiam. Era parte
de quem ela era, suas experiências a moldavam dia após dia, tornavam-na melhor
independente do sacrifício e da dor que lhe causavam.
Castle não apareceu no 12th como já era
esperado. Papelada e o escritor não era uma combinação amigável. No fundo, ela
esperava que ele a visitasse. Depois de ontem, tinha ficado com a expectativa
de um novo joguinho entre eles, ele a deixara na seca. Ansiando por um beijo,
um toque. Abandonou-a em meio a um momento de provocação. A parceria com
benefícios era reflexo disso. Depois de um caso tão estressante usar esse
artificio lhe parecia perigoso. Ainda não tivera um tempo para si, para colocar
as ideias que fervilharam na noite de ontem em sua mente em perspectiva. O jogo
de gato e rato era excitante, porém podia tornar-se frustrante especialmente
quando um dos jogadores está passando por uma fase de carência, uma espécie de
crise existencial.
- Meu Deus... acho que estou passando
muito tempo com a Dana – revisando suas últimas palavras no relatório, ela
levantou-se da cadeira para pegar um café visto que seu parceiro não viera
fazer isso por ela hoje. Na mini copa, ela bebia o liquido pensando no que
deveria fazer em seguida. A sua capitã entrou no recinto naquele instante.
- Beckett.
- Olá, Capitã.
- Bom trabalho ontem na caçada ao
atirador. Você é uma boa policial.
- Obrigada, senhora. Estou terminando o
relatório para lhe enviar.
- Ótimo. Depois vá para casa, faça algo
que a agrade. Você merece a folga. Não é todo o dia que se vence uma batalha
com um assassino frio como aquele. Especialmente após se expor e considerando
seu histórico. Sim, o detetive Esposito me contou o que fez, como o distraiu.
Você tem coragem, detetive – Gates sorriu para ela saindo da sala com uma
caneca de café nas mãos. Um pouco surpresa, Beckett ficou pensando sobre as palavras
da capitã. Coragem. Se ela soubesse o que estava por trás de tudo... apreciava
a folga, mas ela não iria curti-la como uma pessoa comum. Precisava conversar
sobre tudo o que acontecera e trazer essa coragem mencionada por Gates para ajudá-la
a solucionar outro problema em sua vida.
Ao retornar para sua mesa, ela ligou para
Dana. Acertara um horário. Como sempre, a terapeuta estava disposta a limpar
sua agenda por ela. Enviou o relatório e seguiu para o consultório. Seria uma
longa tarde.
Ao vê-la entrar em seu consultório, Dana
reparou que a amiga tinha o semblante cansado. Noites mal dormidas, o problema
da PTSD, preocupações constantes. Porém, algo dizia que Kate Beckett viera ali
porque não apenas precisava conversar, mas também porque tomara ou queria tomar
uma decisão. Era sempre assim, quando Kate a procurava estava com algo fixo em
mente.
- Olá, Kate. Vi que prenderam o atirador.
É por isso que está aqui? Quer conversar sobre isso?
- Também. Tenho algumas coisas a ponderar,
Dana. Por incrível que pareça, e por mais difícil que seja admitir, você me
ajuda a organizar os pensamentos soltos em minha mente – a terapeuta sorriu
enquanto Kate sentava-se no divã.
- Quer café? – Dana levantou-se para pegar
duas canecas, sabia que ela não recusava a bebida.
- Obrigada.
- Por que não começa me contando como
estão as crises de PTSD?
- Você já sabe que tive crises durante
esse caso. Você também me ajudou de certa forma a enfrenta-las. Eu entendi que
elas não vão parar de repente, entendi que depende do meu esforço também. Dana,
eu não contei a você antes. Na noite anterior ao dia que me ligou, eu tive
talvez a minha pior crise. Eu não me reconheci. Bebi, fui dominada pelo medo,
pavor. Não consigo explicar quem era aquela mulher – ela puxou a manga do
casaco, tirou o curativo que cobria o corte rente ao pulso. Estava limpo, ainda
inchado e um pouco roxo – esse foi o resultado. Por centímetros eu poderia
estar morta.
- Como isso aconteceu?
- Não sei bem. Pânico. Vidro da garrafa de
Bourbon, acho. Está tudo confuso. Tenho pequenos flashes, tentei me lembrar do
todo, não consegui. Esse não é o ponto. Por sorte, tive apenas um corte,
poderia ter sido mais – ela engoliu em seco – Castle. Eu não sei como, nem
porque ele apareceu no meu apartamento naquela noite. Talvez não tenha ideia do
que fez. Eu sei. Ele cuidou de mim, do corte, de tudo. Quando acordei, ele não
estava mais lá, só que suas ações estavam. Limpou a sala, não queria que eu
visse os cacos de vidro, os estragos, era como se quisesse evitar uma nova reação.
Eu me senti estranha, embaraçada por encara-lo depois de tudo. Na verdade, ele
me salvou outra vez.
- E após toda essa experiência, como se
sente?
- Dana, é difícil. Ontem eu tirei um tempo
para pensar sobre tudo. Sobre a minha vida. Desde o atentado, com as crises de
PTSD estive culpando os meus algozes, me colocando como a vítima da situação.
Estava com a ótica errada.
- E qual seria a certa? Qual a sua nova
perspectiva disso tudo?
- Após a morte de Lee Travis eu pensei que
vencê-lo fosse resolver as coisas, mas... continuam lá. Como você mesma me
disse.
- Você ainda não superou totalmente o que
aconteceu com você. O atentado.
- Não, eu sentia isso antes de ser
baleada. E não estou me referindo ao caso de Josh. Acho que sempre esteve lá,
no fundo da minha alma, desde aquela noite.
- A noite em que sua mãe foi morta.
- Fui definida por isso, guiada. Isso me
fez quem eu sou. Mas agora...
- Mas agora? – Dana perguntou gostando do
rumo da conversa.
- Eu quero ser mais do que sou. Consegue
entender? Para fazer isso, eu preciso de ajuda. Mas acho que não sei fazer isso
sem decepcionar minha mãe – ela não olhava para Dana, tentava lidar com a
emoção, com as lágrimas.
- Ela está morta, Kate. Não pode
decepciona-la. A única pessoa que pode decepcionar é a você mesma – Kate
enxugava as lágrimas – a morte dela é parte de você. E você terá que conviver
com isso, da mesma forma que conviverá com a cicatriz de seu tiro. Mas não tem
que limita-la. Impedi-la de seguir em frente, viver sua vida. Vem fazendo isso
pelos últimos treze anos.
- Como posso superar? – ela continuava
chorando.
- Eu posso ajuda-la. Quero ajuda-la. Já
deixei isso claro como amiga e como terapeuta. Mas a questão é: você está
pronta? – Kate suspirou. Segundos de silêncio pairaram entre elas.
- Sim, acho que estou pronta.
- Ótimo. Começaremos daí. Esse é o
primeiro passo, Kate. Aceitação. Você já percorreu um longo caminho. Venceu
barreiras difíceis, mas o muro continua aí. Impedindo-a. Seu senso de justiça é
guiado pelo que você não obteve no caso de sua mãe. Isso a faz querer sempre
fechar casos, cuidar das vítimas e dar o consolo as famílias. Isso tornou-se
sua marca, mas também sua obsessão. Há muito mais em Kate Beckett que uma
justiceira, que uma detetive. Existe uma mulher inteligente, bonita, com
necessidades como todo o ser humano. Você falou de decepcionar sua mãe. Olhe
para você, o que acharia que sua mãe pensaria de você agora? Do que é sua vida
agora? Tente responder.
Por alguns minutos, ela ficou calada.
Olhando para o céu através da janela.
- É tão difícil responder?
- Um pouco. Sei que ficaria orgulhosa pelo
que já conquistei. Por lutar pelas minorias e pelo certo como ela faria.
- Ela também veria a bela mulher, forte e
decidida. Mas quer saber minha opinião? Consegue escutar a voz de sua mãe
dizendo: Já fez o suficiente, Katie. Viva um pouco. Você tem um sorriso tão
bonito, mostre-o. Eu e ela também concordaríamos que você precisa não se levar
tão a sério. Porque enxergamos o lado frágil, vulnerável e tudo bem, todos nós
temos isso, precisamos disso.
- Você está falando da minha vida pessoal?
- Não completamente. De um misto das duas,
talvez. A detetive pode ser vulnerável é assim que seu parceiro a ajuda. A
mulher pode querer receber carinho, atenção. Necessidades básicas de todo o ser
humano. Aos poucos você começará a identificar esses momentos em sua vida. Não
quero entrar muito a fundo nos seus sentimentos sobre Johanna e a sua morte.
Você teve dias difíceis. Deixaremos para as próximas sessões. Tem algo mais que
você queira me dizer? Algum tópico ou motivo que tenha passado em branco?
- Castle. Você não perguntou sobre ele.
- Você quer falar sobre ele? – Kate olhou
séria para a amiga. Em seguida, abriu um sorriso.
- Acho que ando convivendo muito com você.
Estava pensando sobre o que Castle me disse ontem. Que carrego o peso do mundo
nas costas. Talvez não do mundo. Tem a ver com o meu senso de justiça. Eu perdi
o ponto. Não era isso que queria dizer. Quero falar de superação. Sobre
superar, quero mais.
- Mais? – isso estava ficando bom, pensou
a terapeuta.
- Derrubar os muros. Ser capaz de seguir
em frente – ela mordiscou os lábios – olhar tudo a minha volta com outros
olhos.
- Quando se refere ao “mais” posso
entender que está falando de seu relacionamento com Castle? Quer mais que a
parceria com benefícios?
- Talvez.
- Resposta errada, Kate. Essa pergunta é
direta. Sim ou não.
- Sim, quero mais – ela passou a mão no
rosto – eu não sei explicar. Ele mexe comigo como ninguém antes o fez. Joga,
pressiona e se afasta em menos de cinco minutos. Me deixa zonza e confusa. As
vezes não sei se ele está falando sério, expondo o que quer ou apenas me
provocando.
- Jogo de sedução é um dos métodos mais
antigos da humanidade na busca pela conquista do outro. É instigante,
apaixonante. Diria que Castle está obtendo sucesso. Você está entrando no jogo,
o que eu esperaria de você. Acabou de confessar isso.
- Como sei que não é apenas uma
brincadeira para me levar para cama?
- Você sequer deveria fazer essa pergunta.
Sabe a resposta. Porque ele te ama. Mesmo que tivesse vontade de te levar para
cama, o que eu acredito que deseja todos os dias, existe um sentimento lindo
por parte de tudo que ele faz. Castle brinca com você porque ele sabe que a
sutileza é a maneira correta de chegar até você. Kate, você falou de muros.
Castle está batendo neles ao fazer isso. Aos poucos, pedaço por pedaço, ele
tenta derruba-los. E sabe por que você está confusa? Porque não sabe se pode
ceder. Como sua terapeuta, posso entender. Não está pronta.
- Wow! Essa não era a resposta que
esperava ouvir de você, Dana, achei que ia dizer para eu me jogar nos braços
dele.
- Claramente você faz uma ideia muito
errada de mim – Dana riu – por mais que eu esteja louca para te ver bem e feliz
nos braços daquele homem, sei que você não está pronta. Que tipo de terapeuta
eu seria se dissesse para fazer isso? Você acabou de admitir seus problemas,
dizer que quer ser mais do que é. Está na hora de fazer a sua viagem interior,
é meu dever faze-la encontrar-se, derrubar os muros para então vê-la feliz. O
caminho pode ser longo ou curto, quem determina é você.
- Você me influencia, Dana!
- No bom sentido?
- Defina você – ela puxou o caderno azul
da bolsa – está vendo isso? Foi através dele que cheguei a raiz do problema e
parei de culpar a PTSD. Culpa sua – a terapeuta olhava incrédula. Influenciava
tanto a detetive assim? – seu método funciona. E não há relatos apenas sobre a
PTSD, escrevo sobre Castle, sobre a parceria com benefícios, como isso me afeta
– ela estendeu o caderno para a amiga. Dana o pegou nas mãos. Segurando-o em
suas mãos reparou que já estava na metade. Deu uma rápida folheada e fechou-o
outra vez.
- Não. Eu não quero ler agora. Você irá
continuar escrevendo. Irá ajuda-la nessa nova jornada que começamos hoje.
Quando o preencher por completo, eu leio. No entanto, tenho algumas observações
quanto ao seu relacionamento com Castle.
- Sabia que não ia ficar totalmente
quieta.
- Você quer minha opinião, certo? Se não
quisesse não teria trazido o assunto para a discussão. Sobre a confusão, o
jogo. Lembra do que me disse sobre sua individualidade? Disse que não era um
relacionamento porque são capazes de funcionarem sozinhos. Isso pode ser bom
para você. Se Castle a provoca, faça o mesmo. Se você acha que precisa de um
tempo para satisfazer uma necessidade tão básica quanto sexo, use o acordo de
vocês. Isso não faz de você oferecida ou fútil.
- Eu meio que o provoquei, talvez tenha
sido a culpada. Depois do caso, eu o segui, eu o beijei. Era para ser uma
espécie de agradecimento, até me ofereci para ir ao loft. Fiz errado? Algo me
diz que ele recuou por causa dos últimos acontecimentos. Talvez tenha achado
que eu estivesse buscando uma válvula de escape para o problema da PTSD.
- De certa forma, não está errado. O que
me leva a segunda observação que preciso fazer. Castle é seu parceiro, a
salvou, ainda assim está no escuro quanto a tudo isso. Você não foi clara sobre
a crise com ele. Fale, abra o jogo sobre aquela noite. Ele merece mais que um
agradecimento, Kate. Merece uma explicação.
Kate ficou calada.
- Terceiro e não menos importante. Os
últimos dias foram pesados. Ambos sofreram de maneira diferentes ao se
depararem com os acontecimentos. Faça uma pausa. Respire profundamente. Por que
não aproveita a oportunidade para agradece-lo adequadamente? Una o útil ao
agradável.
- Em outras palavras, você está me dizendo
para transar com Castle?
- Não! Meu Deus! Você deve me achar uma
pervertida mesmo. Por que tudo que eu falo você relaciona com sexo? Já estou
começando a achar que existe algum complexo freudiano a seu respeito que não
descobri, Kate. Não estou falando de sexo. Agradecimento. Pode ser um jantar,
cozinhe para ele. Será um bom momento para vocês relaxarem, beberem e
conversarem. Conte sobre a sua experiência com a PTSD. O caso. Você irá
sentir-se melhor e a sua dúvida sobre ele ter se afastado em meio a uma
provocação será respondida, tenho certeza.
- O que ele vai pensar se eu o convidar
para jantar?
- Nada demais se você não quiser que ele
pense. Diga porque, é um agradecimento pela noite em que cuidou de você. Eu me
recordo que ele e a mãe fizeram o mesmo com o caso do banco, não?
- Sim.
- Então, não haverá confusão. Ele saberá o
que você quer. Sem segredos, Kate. Você já carrega um grande o bastante pelos
dois.
- Tudo bem. Vou pensar a respeito. Acho
que terminamos por hoje, não?
- Sim, terminamos – Dana se levantou no
mesmo instante que Kate, acompanhou-a até a porta. Então, abraçou a amiga –
estou feliz pelas suas descobertas. Vamos acabar com esses muros mais rápido do
que você imagina.
- Em três sessões? – elas riram.
- Você está superestimando minha
capacidade como terapeuta e psicóloga. Tenho um diploma e experiência, não uma
varinha mágica. Você levou treze anos para admitir qual o seu problema. Vou
precisar de alguns meses para conserta-la. Roma não foi feita em um dia, Kate.
Sorrindo outra vez, ela se despediu e
deixou o consultório. Dana estava satisfeita com a conversa. Duas grandes
revelações naquela tarde. Duas caixas abertas. A primeira, pequena, Kate estava
usando o recurso terapêutico de escrever para se ajudar. A segunda, talvez a
mais importante decisão de todas até aqui. Não seria correto denomina-la
pandora? Kate finalmente admitiu conhecer a causa de seu problema. Um passo
gigantesco na recuperação e na descoberta de si mesma.
Dana sabia que fora difícil e que levaria
um certo tempo especialmente pela teimosia tão característica da paciente.
Contudo, estava confiante. Venceriam as barreiras, derrubariam os muros.
Afinal, parte do trabalho já vinha sendo feito discretamente por Castle. Mesmo
que a detetive não se desse conta disso.
XXXXXXX
Andando pelas ruas de Nova York, Kate
Beckett pensava sobre o que passara as últimas duas horas conversando. Havia muito
o que processar. Um cheiro característico a fisgou. O aroma de café inundava
suas narinas mexendo com seus sentidos. Ela bem que estava precisando de uma
boa dose de café. Estava prestes a entrar na cafeteria quando o celular tocou.
Pedia para não ser um homicídio. Não queria voltar para a delegacia. Gates lhe
dera uma tarde de folga, não era sempre que isso acontecia.
Ao olhar para o visor, não pode evitar o
sorriso. Castle.
- Hey...
- Detetive Beckett, que história é essa de
se ausentar do 12th distrito? Você, a melhor detetive da NYPD, não pode fazer
isso.
- Também tenho direito a algumas horas de
folha sabia? Até Gates reconhece.
- Eu sei, foi ela quem me disse que você
não estava aqui.
- Você está na delegacia? Por que? – isso
realmente a surpreendeu - Não é para me ajudar com a papelada, tenho certeza.
- Não, mas imaginava que você estaria
precisando de um estímulo no meio do tédio que é fazer relatório. Vim lhe
trazer café – diante da revelação, Kate abriu o sorriso e sentiu as pernas
bambearem. Ele não esquecera do café – já que você não está aqui, serei
obrigado a entrega-lo a Ryan porque Espo nunca beberia um skim latte com
vanilla – ele ouviu a risada dela.
- Pode dar o meu café ao Ryan com uma
condição. Venha me encontrar para pagar outro para mim.
- Tudo bem, posso fazer esse sacrifício
desde que entre para aquela conta de cafés que me deve.
- Você disse que eram sessenta da última
vez, não? Então o novo número é 61. Estou na Starbucks da Broadway com 63rd.
Vou espera-lo em uma mesa. Apenas não demore porque eu estou desejando café.
- Parece que li sua mente, detetive. Eu
sou bom nisso. Te vejo em alguns minutos – desligou sorrindo. Gostara do tom de
sua voz. Ela parecia bem melhor do que ontem. Mesmo assim, gostaria que ela se
abrisse sobre a crise de PTSD. Podia confiar nele pelo menos para isso depois
do que já vira algumas noites atrás.
Quinze minutos depois, Castle chegava ao
local indicado. Logo a vira. Era fácil, Kate se destaca em qualquer ambiente. Entrou
na cafeteria indo diretamente para o balcão, ela o seguiu com o olhar. Ele
vestia uma camisa roxa. Uma das cores preferidas de Beckett. Fazia um belo
contraste com os olhos azuis, mas ele estava de costas agora e seus olhos não
podiam deixar de fixar-se em seu traseiro. Era seu fraco. Sim, Dana mesmo
comentara sobre necessidades básicas do ser humano. Essa era uma das suas. Ela
tinha a cabeça inclinada enquanto apreciava a vista. Suspirou.
Ao vê-lo virar-se caminhando em sua
direção, demorou um pouco para se recompor. Castle não sabia ao certo porque
ela tinha um olhar enigmático, uma mistura entre perdido e, por que não dizer,
sonhador. O que obviamente o deixava ainda mais curioso a respeito da mulher a
sua frente.
- Aqui está, Kate. Skim latte com vanilla
do jeito que você gosta, um brownie para mim e um bolo de banana e nozes para
você. Bom apetite.
- Obrigada – ela sorriu e tomou o primeiro
gole – nossa... estava precisando. Você quer um pedaço do bolo de banana?
- Não, minha dose de chocolate é
suficiente. Posso saber o que você estava fazendo próximo ao Central Park em
seu dia de folga? Apreciando a vista? Não está com roupas de corrida.
- Não, estava fazendo outra coisa não tão
longe daqui – ele sabia que o consultório de Dana ficava a três quarteirões
dali, podia ser a resposta. Também justificaria a melhora no semblante, ela
ainda demonstrava cansaço, contudo tinha uma leveza – eu estava pretendendo te
ligar.
- Hum, novamente meu truque da mente em
ação. Cada vez mais acredito na nossa sincronia, Beckett.
- Quer parar, Castle? Estou querendo falar
de algo importante – ele balançou a cabeça concordando e fazendo sinal para que
continuasse – eu... nos últimos dias eu experimentei situações difíceis,
enfrentei sensações desconhecidas e ainda assim familiares. Eu falei que
aprecio seu comportamento diante disso. A maneira como me apoiou sem
pressionar, sem fazer perguntas.
- Posso ser uma pessoa brincalhona,
piadista e implicante, mas sei reconhecer a seriedade de certos momentos da
vida, Beckett. Eu apenas agi como parceiros devem agir.
- Você fez mais do que isso, por isso
quero agradecer da maneira correta. Você está convidado para ir ao meu
apartamento amanhã à noite. Sete horas. Vou fazer o jantar. Não se preocupe em
trazer nada e antes que pense besteira, isso não é um encontro, porém é tão
importante quanto.
- Tudo bem embora não precisasse se dar ao
trabalho.
- Eu quero. É importante – ele sorriu.
Dana operava milagres. Ele tinha certeza que isso tinha dedo da terapeuta.
- Obrigado pelo convite – vendo que o copo
dela estava quase vazio, ele ofereceu – mais café?
- Por que não?
Apartamento de Beckett
Ela chegara do trabalho por volta das
cinco. Imaginando que não teria muito tempo para cozinhar, Beckett começou os
preparativos do jantar na noite anterior depois que deixou a companhia de
Castle. Ele a acompanhara até a porta de casa, apenas conversaram. O lombo de
porco marinara durante toda a noite, estava pronto para ir ao forno. Espalhou
os temperos, pimenta preta, molho agridoce, batatas e abacaxi.
Os legumes ao vapor, brócolis e couve-flor
seriam a última contribuição do jantar. Não podia faltar a salada e um arroz
especial. O vinho já estava na geladeira. De sobremesa, ela fez uma pequena
mousse de limão e sabendo do vício de Castle por chocolate, ela comprara umas
pastilhas para servir com o café.
Sentindo-se confiante de que poderia fazer
aquilo, conversar com ele, terminou de arrumar a mesa e foi se vestir.
A campainha tocou as sete e quinze.
Vestindo nada em especial, uma calça preta e uma blusa amarela de alças, ela
abriu a porta para se deparar com a imagem de Castle em vermelho. Adorava vê-lo
usando essa cor.
- Oi, entre.
- Boa noite, detetive Beckett. Sei que me
disse para não trazer nada, porém a educação sempre me move – ele estendeu uma garrafa
de vinho tinto para ela.
- Obrigada. Vou colocar para gelar um
pouco para tomarmos mais tarde. Já tenho um na temperatura certa. Sente-se. Está
quase tudo pronto. Não pretendo servir nada muito tarde – ele a seguiu até a
cozinha. Vendo-a abrir a porta da geladeira e tirar a outra garrafa, ele
tirou-a da mão dela.
- Deixa que eu faço isso. Vá olhar nosso
jantar. Confesso que estou curioso para saber o que cozinhou para mim.
- Nada gourmet se é isso que está
pensando. Uma receita simples de família – ela checou o porco – mais cinco
minutos e podemos comer – ele entregou a taça para Kate, segurou a sua na mão,
olhando para ela – devemos brindar.
- A que exatamente?
- A coragem, a amizade e a parceria. Sem
esses três elementos, talvez esse jantar não fosse possível – ele a fitava
esperando o complemento do comentário – precisa mais? Vamos brindar. Depois eu
explico – as taças bateram levemente e Castle tomou um gole do vinho. Kate fez
o mesmo e virou-se para tirar o porco do forno. Minutos depois, sentavam-se a
mesa.
- Lombo de porco, arroz e verduras ao
vapor. Sou uma pessoa saudável. Deixei um molho com pimenta a parte caso não
quisesse comida apimentada.
- Está querendo insinuar alguma coisa,
Beckett? O cheiro é bom – ela pegou o prato dele e serviu, fez o mesmo com o
dela – bom apetite. Ele cortou um pedaço do porco levando-o a boca. Beckett
olhava para ele na expectativa de saber o que achara – hum... está muito bom.
Esse tom adocicado do molho é o que?
- Abacaxi e favas de vanilla.
- Ótimo – sorrindo colocou outra garfada
na boca, vendo que ele realmente gostara da comida, ela passou a jantar mais
aliviada. Ele quis saber mais da receita e o papo do jantar resumiu-se a
culinária. Ficou contente ao vê-lo repetir três vezes, mas alertou-o para guardar
um espaço para a sobremesa. Abriu a segunda garrafa de vinho, aquela que ele
trouxera. Recolhendo os pratos, ela disse para Castle ir para a sala e levar o
vinho e as taças.
Ela surgiu com uma bandeja contendo pratos
de sobremesa, colheres e a tal mousse de limão. Entregando um dos pratos para
Castle, sentou-se ao seu lado no sofá ficando de uma maneira que pudesse
fita-lo. Enquanto saboreava o doce, ela decidiu que estava na hora de falar o
que gostaria, o que fora de fato o propósito do jantar.
- Castle, eu disse que o convidei para
jantar porque queria agradecer.
- E eu disse que não havia necessidade,
mas não me arrependo de ter aceitado o convite. Estava maravilhoso. Gostei do
seu agradecimento.
- Exceto que ainda não agradeci como
deveria – ela viu o sorriso maroto aparecer no rosto dele – não é esse tipo de
agradecimento, Castle. O que tenho a dizer é sério.
- Tudo bem, estava apenas checando. Pode
falar, Beckett.
- Eu quero lhe contar o que vem
acontecendo comigo. Eu comecei a ter pesadelos há um mês. Eles surgiram do
nada. Pelo menos era o que eu achava. Na verdade, eles surgiram após o caso do
assalto ao banco. Não eram tão constantes quanto há duas semanas. Naquele dia
na sua casa, era esse pesadelo. Sempre o mesmo. Montgomery, você, meu atentado
e você e eu baleados e... você morto em meus braços. Quase toda noite nas últimas
duas semanas. Quando o caso do atirador apareceu, todo o medo também voltou.
Tenho PTSD. Não queria que ninguém soubesse, mas agora já está evidente depois
da crise na rua. Quando falei sobre coragem, amizade e parceria estava me
referindo as pessoas que me ajudaram e isso inclui você.
Ela tomou um gole do vinho antes de
continuar.
- Você e Espo provaram o quanto presam
pela nossa amizade. Ambos me ajudaram de maneira diferente, ele falando em como
enfrentar o meu medo, foi ali que recuperei a coragem. Você ficando na minha
retaguarda e sempre me incentivando, mesmo em silêncio, dizendo e demonstrando
que eu era capaz de chegar ao fim e superar tudo. Dando-me força e coragem. E parceria
porque... – ela baixou a cabeça, ao tornar a encara-lo, mostrou o braço – se
você não tivesse aparecido naquela noite, eu não sei se estaríamos aqui
conversando. Eu não lembro muito do que aconteceu, eu bebi, estava em crise e
não sei porque segurava a minha arma. Talvez pela PTSD. Era minha forma de me
defender. Não tenho a mínima noção de como você chegou aqui. Eu apenas sei que
você salvou a minha vida, outra vez.
Castle tocou o braço dela delicadamente. O
corte começava a sarar. Fora muito rente ao pulso, há milímetros de uma das
veias principais. O dedo dele roçava o local para cima e para baixo. O olhar
encontrou-se com o dela.
- Você me ligou. Não porque quisesse falar
comigo. Eu sai do distrito muito preocupado com você. Mesmo calado, não
conseguia ficar bem observando o que estava se passando com você, Beckett. Eu
já havia feito umas dez ligações, sabia que você não me retornaria e
provavelmente brigaria comigo no dia seguinte. Por isso, quando seu nome
apareceu no meu celular achei estranho. Atendi e tudo que escutei foi uns
gemidos e uma respiração ofegante. Sabia que tinha algo errado. Por sorte me
lembrei da sua chave reserva.
Ele pegou a mão dela na sua.
- Kate, eu fiquei apavorado ao encontrar
você daquele jeito. Em transe e sangrando. Você apontou a arma para mim. Os
detalhes não importam mais. Você está bem, o caso encerrado. Não quero mais
falar sobre isso. Apenas tenho um pedido a fazer. Sei que a PTSD não some de
uma hora para outra. É um processo lento de análise e cura. Não pare de se
tratar. Não assuma que está melhor, faça algo por você, Kate. Continue o
tratamento. Fale com Dana. E se quiser, fale comigo. É como disse, somos
parceiros.
- Eu não vou parar, prometo. Quanto a
conversar com você, não me entenda mal, Castle. Esse assunto é muito difícil
para ser conversado ou compartilhado. Não me sinto à vontade fazendo isso.
Consegue entender?
- Sim, de certa forma. Você precisa querer
falar, sentir-se pronta.
- Obrigada.
- Always – ele levou a mão dela até os
lábios beijando-a.
- Quer café? Comprei algo especialmente
para você – os olhos dele brilharam – pastilhas de chocolate e menta e
mashmallow.
- Hum... se me permite, Kate. Vou preparar
um café diferente para nós, a la Rick Castle.
- Por favor, fique à vontade! – a mistura
dele funcionou. A combinação de menta e café era algo refrescante, o açúcar do
mashmallow quebrava a acidez do café. Eles saborearam cada um uma caneca.
Passava das onze da noite, Castle decidiu ir embora. Ela o acompanhou até a
porta. Quando Castle inclinou-se e beijou-a na bochecha, Beckett sorriu. Ele
levara as recomendações dela a sério.
- Foi um prazer, detetive. Foi um jantar
maravilhoso. E estou feliz por você ter me contado o que aconteceu, por ter
confiado em mim. Se tivesse sido um encontro talvez não fosse tão perfeito.
- Sim, concordo. Exceto pelo beijo de boa
noite – eles ficaram se encarando por alguns segundos, Castle não sabia dizer
se ela estava lhe dando permissão para beija-la nos lábios. Dessa vez, não
sabia como agir. Beckett sorriu diante do olhar confuso que se formou bem a sua
frente. Dando um passo para colar seu corpo ao dele, ela puxou-o pelo pescoço
beijando-o delicadamente nos lábios. Ao afastar-se, pode ver o sorriso bobo no
rosto dele e o olhar ainda perdido – boa noite, Castle.
- Até amanhã, detetive – ele disse quase
em um sussurro, buscando forças para reagir aquele momento inesperado. A porta
se fechou atrás dele. Castle caminhava devagar até a rua. Quando se viu na
esquina longe o suficiente do prédio dela, ele soltou um grito alto de pura
satisfação.
- Há! Yes! – rindo, ele chamou um taxi. Em
sua mente, um pensamento. Abençoada, Dana.
Kate também dormiria com um sorriso no
rosto após aquela noite. Sentia-se mais leve por ter conversado com Castle,
ouvido os conselhos de Dana. Antes de deitar em sua cama, ela contemplou mais
uma vez a cicatriz do seu tiro no espelho. Também olhava para o corte no braço.
Marcas que contam uma história, sua própria história. O solitário da mãe estava
próximo a marca da bala. Ela o ergueu até a altura dos olhos, admirando-o antes
de tira-lo do pescoço. Ela chegara até ali por sua mãe. Era hora de fazer um
pouco por si mesma.
Deitada na cama, seu último pensamento foi
para Castle. Ansiava como nunca pelo momento que ele traria seu café no dia
seguinte. Adormeceu.
12th Distrito
Kate Beckett chegara com outro astral para
trabalhar. Os olhos atentos de detetive procuravam especificamente por alguém
naquela manhã. Nem sinal de Castle. Nem
de café em sua mesa, reparou. Sentando-se em sua cadeira, ela ligou o
computador. Ryan apareceu cumprimentando-a e pedindo para segui-lo até a sala
de vídeo. Queria sua opinião sobre uma filmagem de um caso que surgira ontem à
noite e começara a investigar.
- Por que não me ligou se tínhamos um caso
novo?
- Soubemos por volta das seis. Não era
justo chama-la para trabalhar. E não é um caso tão difícil. Só queria que
analisasse comigo esse cara. Acho que ele já passou por aqui antes, o rosto me
é familiar. Não o prendemos por algum motivo. Dê uma olhada.
Ela avaliou as imagens. Pediu para que ele
aumentasse o zoom. Percebendo o perfil do cara, ela reparou na tatuagem no
ombro direito.
- Tem razão. Ele prestou depoimento aqui.
Acho que foi a umas três semanas. O caso que entregamos para a narcóticos.
- Sim! Resolvemos o assassinato. Ele não
foi preso porque tinha um álibi, mas trabalhava vendendo drogas. Obrigado,
Beckett. Vou contatar o meu conhecido na delegacia de narcóticos – ela sorriu
voltando para sua mesa. Sua primeira reação foi sorrir.
Sobre sua mesa, próximo ao computador havia
um copo do seu café e um saquinho com um pequeno laço. Colado ao copo, um
post-it amarelo com os dizeres.
“Seu café favorito e uma pequena dose de
menta. Infelizmente não pude misturar. 62, detetive. Pelo jantar. RC”
Rindo, ela tirou o post-it mantendo-o
preso a um dos dedos e levou o copo até os lábios sorvendo o liquido quente.
Sentiu uma presença em suas costas, ao virar-se deu de cara com ele.
- Bom dia, detetive Beckett. É uma bela
manhã para saborear um café, não? – ele sorria.
- Sim, especialmente se tiver um toque de
menta.
XXXXXX
Em outro canto de Manhattan, a manhã iniciava-se
também para Dana. Ao chegar em seu consultório, teve uma grata surpresa. Em
cima da mesa, encontrou um buquê enorme de flores e uma caixa do melhor
chocolate belga com um cartão. Intrigada, ela pegou o envelope endereçado a
ela, sentou-se em sua cadeira, levou uma das trufas na boca e leu o que estava
escrito no pequeno bilhete.
“Querida Dana,
Obrigado por sua orientação e conselhos,
sem eles eu não teria conseguido ajudar a pessoa que mais amo na vida. Também
quero agradecer por cuidar dela tão bem quanto eu e claro, pelo delicioso
jantar que pude saborear na companhia de Kate. O discurso de sinceridade e a
razão do mesmo acontecer devo a você.
Você não apenas tem em mim um admirador,
mas também um amigo. Conte comigo para o que precisar.
Com amor, Rick Castle.
PS.: Não me importo se continuar fazendo
elogios a minha pessoa e me proporcionando jantares. Acho que você já tem o
posto de madrinha quando subirmos ao altar. Não desisti disso. É como dizem a
terceira vez... é definitivamente a que vale. “
Ela ria da nota. Essa era uma ótima forma
de começar o dia, elogios, chocolates e a certeza que dois apaixonados
começavam a caminhar pela estrada a procura de algo diferente e não tardariam a
fazer disso o verdadeiro encontro para o resto de suas vidas.
Continua....
3 comentários:
Simplesmente incrível! Fico imaginando como será sua versão de Always, mal posso esperar!
A cada capítulo melhora e muito! Esperando ansiosa a postagem no qual eles se entreguem ao amor que sentem um pelo outro. Abraços.
Tão amor esse capítulo 😍
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