domingo, 17 de abril de 2016

[Castle Fic] One Night Only?! - Cap.50


Nota da Autora: Não estou abordando nenhum episódio aqui. Ainda é o reflexo de Kill Shot. O capítulo não é tão grande, mas está cheio de momentos importantes e revelações. Por que não dizer shipper em vários paragrafos? Boa leitura! Enjoy! 



Cap.50
Beckett teve um dia calmo no distrito. Ela dedicou-se a fazer o relatório do caso encerrado. Precisava escrever muitos detalhes quando havia troca de tiros ou mortes em casos policiais. Não foi uma tarefa fácil porque as dificuldades, os sentimentos ainda persistiam. Era parte de quem ela era, suas experiências a moldavam dia após dia, tornavam-na melhor independente do sacrifício e da dor que lhe causavam.
Castle não apareceu no 12th como já era esperado. Papelada e o escritor não era uma combinação amigável. No fundo, ela esperava que ele a visitasse. Depois de ontem, tinha ficado com a expectativa de um novo joguinho entre eles, ele a deixara na seca. Ansiando por um beijo, um toque. Abandonou-a em meio a um momento de provocação. A parceria com benefícios era reflexo disso. Depois de um caso tão estressante usar esse artificio lhe parecia perigoso. Ainda não tivera um tempo para si, para colocar as ideias que fervilharam na noite de ontem em sua mente em perspectiva. O jogo de gato e rato era excitante, porém podia tornar-se frustrante especialmente quando um dos jogadores está passando por uma fase de carência, uma espécie de crise existencial.
- Meu Deus... acho que estou passando muito tempo com a Dana – revisando suas últimas palavras no relatório, ela levantou-se da cadeira para pegar um café visto que seu parceiro não viera fazer isso por ela hoje. Na mini copa, ela bebia o liquido pensando no que deveria fazer em seguida. A sua capitã entrou no recinto naquele instante.
- Beckett.
- Olá, Capitã.
- Bom trabalho ontem na caçada ao atirador. Você é uma boa policial.
- Obrigada, senhora. Estou terminando o relatório para lhe enviar.
- Ótimo. Depois vá para casa, faça algo que a agrade. Você merece a folga. Não é todo o dia que se vence uma batalha com um assassino frio como aquele. Especialmente após se expor e considerando seu histórico. Sim, o detetive Esposito me contou o que fez, como o distraiu. Você tem coragem, detetive – Gates sorriu para ela saindo da sala com uma caneca de café nas mãos. Um pouco surpresa, Beckett ficou pensando sobre as palavras da capitã. Coragem. Se ela soubesse o que estava por trás de tudo... apreciava a folga, mas ela não iria curti-la como uma pessoa comum. Precisava conversar sobre tudo o que acontecera e trazer essa coragem mencionada por Gates para ajudá-la a solucionar outro problema em sua vida.
Ao retornar para sua mesa, ela ligou para Dana. Acertara um horário. Como sempre, a terapeuta estava disposta a limpar sua agenda por ela. Enviou o relatório e seguiu para o consultório. Seria uma longa tarde.
Ao vê-la entrar em seu consultório, Dana reparou que a amiga tinha o semblante cansado. Noites mal dormidas, o problema da PTSD, preocupações constantes. Porém, algo dizia que Kate Beckett viera ali porque não apenas precisava conversar, mas também porque tomara ou queria tomar uma decisão. Era sempre assim, quando Kate a procurava estava com algo fixo em mente.
- Olá, Kate. Vi que prenderam o atirador. É por isso que está aqui? Quer conversar sobre isso?
- Também. Tenho algumas coisas a ponderar, Dana. Por incrível que pareça, e por mais difícil que seja admitir, você me ajuda a organizar os pensamentos soltos em minha mente – a terapeuta sorriu enquanto Kate sentava-se no divã.
- Quer café? – Dana levantou-se para pegar duas canecas, sabia que ela não recusava a bebida.
- Obrigada.
- Por que não começa me contando como estão as crises de PTSD?
- Você já sabe que tive crises durante esse caso. Você também me ajudou de certa forma a enfrenta-las. Eu entendi que elas não vão parar de repente, entendi que depende do meu esforço também. Dana, eu não contei a você antes. Na noite anterior ao dia que me ligou, eu tive talvez a minha pior crise. Eu não me reconheci. Bebi, fui dominada pelo medo, pavor. Não consigo explicar quem era aquela mulher – ela puxou a manga do casaco, tirou o curativo que cobria o corte rente ao pulso. Estava limpo, ainda inchado e um pouco roxo – esse foi o resultado. Por centímetros eu poderia estar morta.
- Como isso aconteceu?
- Não sei bem. Pânico. Vidro da garrafa de Bourbon, acho. Está tudo confuso. Tenho pequenos flashes, tentei me lembrar do todo, não consegui. Esse não é o ponto. Por sorte, tive apenas um corte, poderia ter sido mais – ela engoliu em seco – Castle. Eu não sei como, nem porque ele apareceu no meu apartamento naquela noite. Talvez não tenha ideia do que fez. Eu sei. Ele cuidou de mim, do corte, de tudo. Quando acordei, ele não estava mais lá, só que suas ações estavam. Limpou a sala, não queria que eu visse os cacos de vidro, os estragos, era como se quisesse evitar uma nova reação. Eu me senti estranha, embaraçada por encara-lo depois de tudo. Na verdade, ele me salvou outra vez. 
- E após toda essa experiência, como se sente?
- Dana, é difícil. Ontem eu tirei um tempo para pensar sobre tudo. Sobre a minha vida. Desde o atentado, com as crises de PTSD estive culpando os meus algozes, me colocando como a vítima da situação. Estava com a ótica errada.
- E qual seria a certa? Qual a sua nova perspectiva disso tudo?
- Após a morte de Lee Travis eu pensei que vencê-lo fosse resolver as coisas, mas... continuam lá. Como você mesma me disse.
- Você ainda não superou totalmente o que aconteceu com você. O atentado.
- Não, eu sentia isso antes de ser baleada. E não estou me referindo ao caso de Josh. Acho que sempre esteve lá, no fundo da minha alma, desde aquela noite.
- A noite em que sua mãe foi morta.
- Fui definida por isso, guiada. Isso me fez quem eu sou. Mas agora...
- Mas agora? – Dana perguntou gostando do rumo da conversa.
- Eu quero ser mais do que sou. Consegue entender? Para fazer isso, eu preciso de ajuda. Mas acho que não sei fazer isso sem decepcionar minha mãe – ela não olhava para Dana, tentava lidar com a emoção, com as lágrimas.
- Ela está morta, Kate. Não pode decepciona-la. A única pessoa que pode decepcionar é a você mesma – Kate enxugava as lágrimas – a morte dela é parte de você. E você terá que conviver com isso, da mesma forma que conviverá com a cicatriz de seu tiro. Mas não tem que limita-la. Impedi-la de seguir em frente, viver sua vida. Vem fazendo isso pelos últimos treze anos. 
- Como posso superar? – ela continuava chorando.   
- Eu posso ajuda-la. Quero ajuda-la. Já deixei isso claro como amiga e como terapeuta. Mas a questão é: você está pronta? – Kate suspirou. Segundos de silêncio pairaram entre elas.
- Sim, acho que estou pronta.
- Ótimo. Começaremos daí. Esse é o primeiro passo, Kate. Aceitação. Você já percorreu um longo caminho. Venceu barreiras difíceis, mas o muro continua aí. Impedindo-a. Seu senso de justiça é guiado pelo que você não obteve no caso de sua mãe. Isso a faz querer sempre fechar casos, cuidar das vítimas e dar o consolo as famílias. Isso tornou-se sua marca, mas também sua obsessão. Há muito mais em Kate Beckett que uma justiceira, que uma detetive. Existe uma mulher inteligente, bonita, com necessidades como todo o ser humano. Você falou de decepcionar sua mãe. Olhe para você, o que acharia que sua mãe pensaria de você agora? Do que é sua vida agora? Tente responder.
Por alguns minutos, ela ficou calada. Olhando para o céu através da janela.
- É tão difícil responder?
- Um pouco. Sei que ficaria orgulhosa pelo que já conquistei. Por lutar pelas minorias e pelo certo como ela faria.
- Ela também veria a bela mulher, forte e decidida. Mas quer saber minha opinião? Consegue escutar a voz de sua mãe dizendo: Já fez o suficiente, Katie. Viva um pouco. Você tem um sorriso tão bonito, mostre-o. Eu e ela também concordaríamos que você precisa não se levar tão a sério. Porque enxergamos o lado frágil, vulnerável e tudo bem, todos nós temos isso, precisamos disso.
- Você está falando da minha vida pessoal?
- Não completamente. De um misto das duas, talvez. A detetive pode ser vulnerável é assim que seu parceiro a ajuda. A mulher pode querer receber carinho, atenção. Necessidades básicas de todo o ser humano. Aos poucos você começará a identificar esses momentos em sua vida. Não quero entrar muito a fundo nos seus sentimentos sobre Johanna e a sua morte. Você teve dias difíceis. Deixaremos para as próximas sessões. Tem algo mais que você queira me dizer? Algum tópico ou motivo que tenha passado em branco?
- Castle. Você não perguntou sobre ele.
- Você quer falar sobre ele? – Kate olhou séria para a amiga. Em seguida, abriu um sorriso.
- Acho que ando convivendo muito com você. Estava pensando sobre o que Castle me disse ontem. Que carrego o peso do mundo nas costas. Talvez não do mundo. Tem a ver com o meu senso de justiça. Eu perdi o ponto. Não era isso que queria dizer. Quero falar de superação. Sobre superar, quero mais.
- Mais? – isso estava ficando bom, pensou a terapeuta.
- Derrubar os muros. Ser capaz de seguir em frente – ela mordiscou os lábios – olhar tudo a minha volta com outros olhos.
- Quando se refere ao “mais” posso entender que está falando de seu relacionamento com Castle? Quer mais que a parceria com benefícios?
- Talvez.
- Resposta errada, Kate. Essa pergunta é direta. Sim ou não.
- Sim, quero mais – ela passou a mão no rosto – eu não sei explicar. Ele mexe comigo como ninguém antes o fez. Joga, pressiona e se afasta em menos de cinco minutos. Me deixa zonza e confusa. As vezes não sei se ele está falando sério, expondo o que quer ou apenas me provocando.
- Jogo de sedução é um dos métodos mais antigos da humanidade na busca pela conquista do outro. É instigante, apaixonante. Diria que Castle está obtendo sucesso. Você está entrando no jogo, o que eu esperaria de você. Acabou de confessar isso.
- Como sei que não é apenas uma brincadeira para me levar para cama?
- Você sequer deveria fazer essa pergunta. Sabe a resposta. Porque ele te ama. Mesmo que tivesse vontade de te levar para cama, o que eu acredito que deseja todos os dias, existe um sentimento lindo por parte de tudo que ele faz. Castle brinca com você porque ele sabe que a sutileza é a maneira correta de chegar até você. Kate, você falou de muros. Castle está batendo neles ao fazer isso. Aos poucos, pedaço por pedaço, ele tenta derruba-los. E sabe por que você está confusa? Porque não sabe se pode ceder. Como sua terapeuta, posso entender. Não está pronta.
- Wow! Essa não era a resposta que esperava ouvir de você, Dana, achei que ia dizer para eu me jogar nos braços dele.
- Claramente você faz uma ideia muito errada de mim – Dana riu – por mais que eu esteja louca para te ver bem e feliz nos braços daquele homem, sei que você não está pronta. Que tipo de terapeuta eu seria se dissesse para fazer isso? Você acabou de admitir seus problemas, dizer que quer ser mais do que é. Está na hora de fazer a sua viagem interior, é meu dever faze-la encontrar-se, derrubar os muros para então vê-la feliz. O caminho pode ser longo ou curto, quem determina é você.
- Você me influencia, Dana!
- No bom sentido?
- Defina você – ela puxou o caderno azul da bolsa – está vendo isso? Foi através dele que cheguei a raiz do problema e parei de culpar a PTSD. Culpa sua – a terapeuta olhava incrédula. Influenciava tanto a detetive assim? – seu método funciona. E não há relatos apenas sobre a PTSD, escrevo sobre Castle, sobre a parceria com benefícios, como isso me afeta – ela estendeu o caderno para a amiga. Dana o pegou nas mãos. Segurando-o em suas mãos reparou que já estava na metade. Deu uma rápida folheada e fechou-o outra vez.
- Não. Eu não quero ler agora. Você irá continuar escrevendo. Irá ajuda-la nessa nova jornada que começamos hoje. Quando o preencher por completo, eu leio. No entanto, tenho algumas observações quanto ao seu relacionamento com Castle.
- Sabia que não ia ficar totalmente quieta.
- Você quer minha opinião, certo? Se não quisesse não teria trazido o assunto para a discussão. Sobre a confusão, o jogo. Lembra do que me disse sobre sua individualidade? Disse que não era um relacionamento porque são capazes de funcionarem sozinhos. Isso pode ser bom para você. Se Castle a provoca, faça o mesmo. Se você acha que precisa de um tempo para satisfazer uma necessidade tão básica quanto sexo, use o acordo de vocês. Isso não faz de você oferecida ou fútil.
- Eu meio que o provoquei, talvez tenha sido a culpada. Depois do caso, eu o segui, eu o beijei. Era para ser uma espécie de agradecimento, até me ofereci para ir ao loft. Fiz errado? Algo me diz que ele recuou por causa dos últimos acontecimentos. Talvez tenha achado que eu estivesse buscando uma válvula de escape para o problema da PTSD.
- De certa forma, não está errado. O que me leva a segunda observação que preciso fazer. Castle é seu parceiro, a salvou, ainda assim está no escuro quanto a tudo isso. Você não foi clara sobre a crise com ele. Fale, abra o jogo sobre aquela noite. Ele merece mais que um agradecimento, Kate. Merece uma explicação.
Kate ficou calada.
- Terceiro e não menos importante. Os últimos dias foram pesados. Ambos sofreram de maneira diferentes ao se depararem com os acontecimentos. Faça uma pausa. Respire profundamente. Por que não aproveita a oportunidade para agradece-lo adequadamente? Una o útil ao agradável.
- Em outras palavras, você está me dizendo para transar com Castle?
- Não! Meu Deus! Você deve me achar uma pervertida mesmo. Por que tudo que eu falo você relaciona com sexo? Já estou começando a achar que existe algum complexo freudiano a seu respeito que não descobri, Kate. Não estou falando de sexo. Agradecimento. Pode ser um jantar, cozinhe para ele. Será um bom momento para vocês relaxarem, beberem e conversarem. Conte sobre a sua experiência com a PTSD. O caso. Você irá sentir-se melhor e a sua dúvida sobre ele ter se afastado em meio a uma provocação será respondida, tenho certeza.  
- O que ele vai pensar se eu o convidar para jantar?
- Nada demais se você não quiser que ele pense. Diga porque, é um agradecimento pela noite em que cuidou de você. Eu me recordo que ele e a mãe fizeram o mesmo com o caso do banco, não?
- Sim.
- Então, não haverá confusão. Ele saberá o que você quer. Sem segredos, Kate. Você já carrega um grande o bastante pelos dois.    
- Tudo bem. Vou pensar a respeito. Acho que terminamos por hoje, não?
- Sim, terminamos – Dana se levantou no mesmo instante que Kate, acompanhou-a até a porta. Então, abraçou a amiga – estou feliz pelas suas descobertas. Vamos acabar com esses muros mais rápido do que você imagina. 
- Em três sessões? – elas riram.
- Você está superestimando minha capacidade como terapeuta e psicóloga. Tenho um diploma e experiência, não uma varinha mágica. Você levou treze anos para admitir qual o seu problema. Vou precisar de alguns meses para conserta-la. Roma não foi feita em um dia, Kate.
Sorrindo outra vez, ela se despediu e deixou o consultório. Dana estava satisfeita com a conversa. Duas grandes revelações naquela tarde. Duas caixas abertas. A primeira, pequena, Kate estava usando o recurso terapêutico de escrever para se ajudar. A segunda, talvez a mais importante decisão de todas até aqui. Não seria correto denomina-la pandora? Kate finalmente admitiu conhecer a causa de seu problema. Um passo gigantesco na recuperação e na descoberta de si mesma.
Dana sabia que fora difícil e que levaria um certo tempo especialmente pela teimosia tão característica da paciente. Contudo, estava confiante. Venceriam as barreiras, derrubariam os muros. Afinal, parte do trabalho já vinha sendo feito discretamente por Castle. Mesmo que a detetive não se desse conta disso.
XXXXXXX  
Andando pelas ruas de Nova York, Kate Beckett pensava sobre o que passara as últimas duas horas conversando. Havia muito o que processar. Um cheiro característico a fisgou. O aroma de café inundava suas narinas mexendo com seus sentidos. Ela bem que estava precisando de uma boa dose de café. Estava prestes a entrar na cafeteria quando o celular tocou. Pedia para não ser um homicídio. Não queria voltar para a delegacia. Gates lhe dera uma tarde de folga, não era sempre que isso acontecia.
Ao olhar para o visor, não pode evitar o sorriso. Castle.
- Hey...
- Detetive Beckett, que história é essa de se ausentar do 12th distrito? Você, a melhor detetive da NYPD, não pode fazer isso.
- Também tenho direito a algumas horas de folha sabia? Até Gates reconhece.
- Eu sei, foi ela quem me disse que você não estava aqui.
- Você está na delegacia? Por que? – isso realmente a surpreendeu - Não é para me ajudar com a papelada, tenho certeza.
- Não, mas imaginava que você estaria precisando de um estímulo no meio do tédio que é fazer relatório. Vim lhe trazer café – diante da revelação, Kate abriu o sorriso e sentiu as pernas bambearem. Ele não esquecera do café – já que você não está aqui, serei obrigado a entrega-lo a Ryan porque Espo nunca beberia um skim latte com vanilla – ele ouviu a risada dela.
- Pode dar o meu café ao Ryan com uma condição. Venha me encontrar para pagar outro para mim.
- Tudo bem, posso fazer esse sacrifício desde que entre para aquela conta de cafés que me deve.
- Você disse que eram sessenta da última vez, não? Então o novo número é 61. Estou na Starbucks da Broadway com 63rd. Vou espera-lo em uma mesa. Apenas não demore porque eu estou desejando café.
- Parece que li sua mente, detetive. Eu sou bom nisso. Te vejo em alguns minutos – desligou sorrindo. Gostara do tom de sua voz. Ela parecia bem melhor do que ontem. Mesmo assim, gostaria que ela se abrisse sobre a crise de PTSD. Podia confiar nele pelo menos para isso depois do que já vira algumas noites atrás.
Quinze minutos depois, Castle chegava ao local indicado. Logo a vira. Era fácil, Kate se destaca em qualquer ambiente. Entrou na cafeteria indo diretamente para o balcão, ela o seguiu com o olhar. Ele vestia uma camisa roxa. Uma das cores preferidas de Beckett. Fazia um belo contraste com os olhos azuis, mas ele estava de costas agora e seus olhos não podiam deixar de fixar-se em seu traseiro. Era seu fraco. Sim, Dana mesmo comentara sobre necessidades básicas do ser humano. Essa era uma das suas. Ela tinha a cabeça inclinada enquanto apreciava a vista. Suspirou.
Ao vê-lo virar-se caminhando em sua direção, demorou um pouco para se recompor. Castle não sabia ao certo porque ela tinha um olhar enigmático, uma mistura entre perdido e, por que não dizer, sonhador. O que obviamente o deixava ainda mais curioso a respeito da mulher a sua frente.
- Aqui está, Kate. Skim latte com vanilla do jeito que você gosta, um brownie para mim e um bolo de banana e nozes para você. Bom apetite.
- Obrigada – ela sorriu e tomou o primeiro gole – nossa... estava precisando. Você quer um pedaço do bolo de banana?
- Não, minha dose de chocolate é suficiente. Posso saber o que você estava fazendo próximo ao Central Park em seu dia de folga? Apreciando a vista? Não está com roupas de corrida.
- Não, estava fazendo outra coisa não tão longe daqui – ele sabia que o consultório de Dana ficava a três quarteirões dali, podia ser a resposta. Também justificaria a melhora no semblante, ela ainda demonstrava cansaço, contudo tinha uma leveza – eu estava pretendendo te ligar.
- Hum, novamente meu truque da mente em ação. Cada vez mais acredito na nossa sincronia, Beckett.
- Quer parar, Castle? Estou querendo falar de algo importante – ele balançou a cabeça concordando e fazendo sinal para que continuasse – eu... nos últimos dias eu experimentei situações difíceis, enfrentei sensações desconhecidas e ainda assim familiares. Eu falei que aprecio seu comportamento diante disso. A maneira como me apoiou sem pressionar, sem fazer perguntas.
- Posso ser uma pessoa brincalhona, piadista e implicante, mas sei reconhecer a seriedade de certos momentos da vida, Beckett. Eu apenas agi como parceiros devem agir.
- Você fez mais do que isso, por isso quero agradecer da maneira correta. Você está convidado para ir ao meu apartamento amanhã à noite. Sete horas. Vou fazer o jantar. Não se preocupe em trazer nada e antes que pense besteira, isso não é um encontro, porém é tão importante quanto.    
- Tudo bem embora não precisasse se dar ao trabalho.
- Eu quero. É importante – ele sorriu. Dana operava milagres. Ele tinha certeza que isso tinha dedo da terapeuta.
- Obrigado pelo convite – vendo que o copo dela estava quase vazio, ele ofereceu – mais café?
- Por que não?

Apartamento de Beckett

Ela chegara do trabalho por volta das cinco. Imaginando que não teria muito tempo para cozinhar, Beckett começou os preparativos do jantar na noite anterior depois que deixou a companhia de Castle. Ele a acompanhara até a porta de casa, apenas conversaram. O lombo de porco marinara durante toda a noite, estava pronto para ir ao forno. Espalhou os temperos, pimenta preta, molho agridoce, batatas e abacaxi.
Os legumes ao vapor, brócolis e couve-flor seriam a última contribuição do jantar. Não podia faltar a salada e um arroz especial. O vinho já estava na geladeira. De sobremesa, ela fez uma pequena mousse de limão e sabendo do vício de Castle por chocolate, ela comprara umas pastilhas para servir com o café.
Sentindo-se confiante de que poderia fazer aquilo, conversar com ele, terminou de arrumar a mesa e foi se vestir.
A campainha tocou as sete e quinze. Vestindo nada em especial, uma calça preta e uma blusa amarela de alças, ela abriu a porta para se deparar com a imagem de Castle em vermelho. Adorava vê-lo usando essa cor.
- Oi, entre.
- Boa noite, detetive Beckett. Sei que me disse para não trazer nada, porém a educação sempre me move – ele estendeu uma garrafa de vinho tinto para ela.
- Obrigada. Vou colocar para gelar um pouco para tomarmos mais tarde. Já tenho um na temperatura certa. Sente-se. Está quase tudo pronto. Não pretendo servir nada muito tarde – ele a seguiu até a cozinha. Vendo-a abrir a porta da geladeira e tirar a outra garrafa, ele tirou-a da mão dela.
- Deixa que eu faço isso. Vá olhar nosso jantar. Confesso que estou curioso para saber o que cozinhou para mim.
- Nada gourmet se é isso que está pensando. Uma receita simples de família – ela checou o porco – mais cinco minutos e podemos comer – ele entregou a taça para Kate, segurou a sua na mão, olhando para ela – devemos brindar.
- A que exatamente?
- A coragem, a amizade e a parceria. Sem esses três elementos, talvez esse jantar não fosse possível – ele a fitava esperando o complemento do comentário – precisa mais? Vamos brindar. Depois eu explico – as taças bateram levemente e Castle tomou um gole do vinho. Kate fez o mesmo e virou-se para tirar o porco do forno. Minutos depois, sentavam-se a mesa.
- Lombo de porco, arroz e verduras ao vapor. Sou uma pessoa saudável. Deixei um molho com pimenta a parte caso não quisesse comida apimentada.
- Está querendo insinuar alguma coisa, Beckett? O cheiro é bom – ela pegou o prato dele e serviu, fez o mesmo com o dela – bom apetite. Ele cortou um pedaço do porco levando-o a boca. Beckett olhava para ele na expectativa de saber o que achara – hum... está muito bom. Esse tom adocicado do molho é o que?
- Abacaxi e favas de vanilla.
- Ótimo – sorrindo colocou outra garfada na boca, vendo que ele realmente gostara da comida, ela passou a jantar mais aliviada. Ele quis saber mais da receita e o papo do jantar resumiu-se a culinária. Ficou contente ao vê-lo repetir três vezes, mas alertou-o para guardar um espaço para a sobremesa. Abriu a segunda garrafa de vinho, aquela que ele trouxera. Recolhendo os pratos, ela disse para Castle ir para a sala e levar o vinho e as taças.
Ela surgiu com uma bandeja contendo pratos de sobremesa, colheres e a tal mousse de limão. Entregando um dos pratos para Castle, sentou-se ao seu lado no sofá ficando de uma maneira que pudesse fita-lo. Enquanto saboreava o doce, ela decidiu que estava na hora de falar o que gostaria, o que fora de fato o propósito do jantar.
- Castle, eu disse que o convidei para jantar porque queria agradecer.
- E eu disse que não havia necessidade, mas não me arrependo de ter aceitado o convite. Estava maravilhoso. Gostei do seu agradecimento.
- Exceto que ainda não agradeci como deveria – ela viu o sorriso maroto aparecer no rosto dele – não é esse tipo de agradecimento, Castle. O que tenho a dizer é sério.
- Tudo bem, estava apenas checando. Pode falar, Beckett.
- Eu quero lhe contar o que vem acontecendo comigo. Eu comecei a ter pesadelos há um mês. Eles surgiram do nada. Pelo menos era o que eu achava. Na verdade, eles surgiram após o caso do assalto ao banco. Não eram tão constantes quanto há duas semanas. Naquele dia na sua casa, era esse pesadelo. Sempre o mesmo. Montgomery, você, meu atentado e você e eu baleados e... você morto em meus braços. Quase toda noite nas últimas duas semanas. Quando o caso do atirador apareceu, todo o medo também voltou. Tenho PTSD. Não queria que ninguém soubesse, mas agora já está evidente depois da crise na rua. Quando falei sobre coragem, amizade e parceria estava me referindo as pessoas que me ajudaram e isso inclui você.
Ela tomou um gole do vinho antes de continuar.
- Você e Espo provaram o quanto presam pela nossa amizade. Ambos me ajudaram de maneira diferente, ele falando em como enfrentar o meu medo, foi ali que recuperei a coragem. Você ficando na minha retaguarda e sempre me incentivando, mesmo em silêncio, dizendo e demonstrando que eu era capaz de chegar ao fim e superar tudo. Dando-me força e coragem. E parceria porque... – ela baixou a cabeça, ao tornar a encara-lo, mostrou o braço – se você não tivesse aparecido naquela noite, eu não sei se estaríamos aqui conversando. Eu não lembro muito do que aconteceu, eu bebi, estava em crise e não sei porque segurava a minha arma. Talvez pela PTSD. Era minha forma de me defender. Não tenho a mínima noção de como você chegou aqui. Eu apenas sei que você salvou a minha vida, outra vez.  
Castle tocou o braço dela delicadamente. O corte começava a sarar. Fora muito rente ao pulso, há milímetros de uma das veias principais. O dedo dele roçava o local para cima e para baixo. O olhar encontrou-se com o dela.
- Você me ligou. Não porque quisesse falar comigo. Eu sai do distrito muito preocupado com você. Mesmo calado, não conseguia ficar bem observando o que estava se passando com você, Beckett. Eu já havia feito umas dez ligações, sabia que você não me retornaria e provavelmente brigaria comigo no dia seguinte. Por isso, quando seu nome apareceu no meu celular achei estranho. Atendi e tudo que escutei foi uns gemidos e uma respiração ofegante. Sabia que tinha algo errado. Por sorte me lembrei da sua chave reserva.
Ele pegou a mão dela na sua.
- Kate, eu fiquei apavorado ao encontrar você daquele jeito. Em transe e sangrando. Você apontou a arma para mim. Os detalhes não importam mais. Você está bem, o caso encerrado. Não quero mais falar sobre isso. Apenas tenho um pedido a fazer. Sei que a PTSD não some de uma hora para outra. É um processo lento de análise e cura. Não pare de se tratar. Não assuma que está melhor, faça algo por você, Kate. Continue o tratamento. Fale com Dana. E se quiser, fale comigo. É como disse, somos parceiros. 
- Eu não vou parar, prometo. Quanto a conversar com você, não me entenda mal, Castle. Esse assunto é muito difícil para ser conversado ou compartilhado. Não me sinto à vontade fazendo isso. Consegue entender?
- Sim, de certa forma. Você precisa querer falar, sentir-se pronta.
- Obrigada.
- Always – ele levou a mão dela até os lábios beijando-a.
- Quer café? Comprei algo especialmente para você – os olhos dele brilharam – pastilhas de chocolate e menta e mashmallow.
- Hum... se me permite, Kate. Vou preparar um café diferente para nós, a la Rick Castle.
- Por favor, fique à vontade! – a mistura dele funcionou. A combinação de menta e café era algo refrescante, o açúcar do mashmallow quebrava a acidez do café. Eles saborearam cada um uma caneca. Passava das onze da noite, Castle decidiu ir embora. Ela o acompanhou até a porta. Quando Castle inclinou-se e beijou-a na bochecha, Beckett sorriu. Ele levara as recomendações dela a sério.
- Foi um prazer, detetive. Foi um jantar maravilhoso. E estou feliz por você ter me contado o que aconteceu, por ter confiado em mim. Se tivesse sido um encontro talvez não fosse tão perfeito.
- Sim, concordo. Exceto pelo beijo de boa noite – eles ficaram se encarando por alguns segundos, Castle não sabia dizer se ela estava lhe dando permissão para beija-la nos lábios. Dessa vez, não sabia como agir. Beckett sorriu diante do olhar confuso que se formou bem a sua frente. Dando um passo para colar seu corpo ao dele, ela puxou-o pelo pescoço beijando-o delicadamente nos lábios. Ao afastar-se, pode ver o sorriso bobo no rosto dele e o olhar ainda perdido – boa noite, Castle.
- Até amanhã, detetive – ele disse quase em um sussurro, buscando forças para reagir aquele momento inesperado. A porta se fechou atrás dele. Castle caminhava devagar até a rua. Quando se viu na esquina longe o suficiente do prédio dela, ele soltou um grito alto de pura satisfação.
- Há! Yes! – rindo, ele chamou um taxi. Em sua mente, um pensamento. Abençoada, Dana.
Kate também dormiria com um sorriso no rosto após aquela noite. Sentia-se mais leve por ter conversado com Castle, ouvido os conselhos de Dana. Antes de deitar em sua cama, ela contemplou mais uma vez a cicatriz do seu tiro no espelho. Também olhava para o corte no braço. Marcas que contam uma história, sua própria história. O solitário da mãe estava próximo a marca da bala. Ela o ergueu até a altura dos olhos, admirando-o antes de tira-lo do pescoço. Ela chegara até ali por sua mãe. Era hora de fazer um pouco por si mesma.
Deitada na cama, seu último pensamento foi para Castle. Ansiava como nunca pelo momento que ele traria seu café no dia seguinte. Adormeceu.   

12th Distrito

Kate Beckett chegara com outro astral para trabalhar. Os olhos atentos de detetive procuravam especificamente por alguém naquela manhã.  Nem sinal de Castle. Nem de café em sua mesa, reparou. Sentando-se em sua cadeira, ela ligou o computador. Ryan apareceu cumprimentando-a e pedindo para segui-lo até a sala de vídeo. Queria sua opinião sobre uma filmagem de um caso que surgira ontem à noite e começara a investigar.
- Por que não me ligou se tínhamos um caso novo?
- Soubemos por volta das seis. Não era justo chama-la para trabalhar. E não é um caso tão difícil. Só queria que analisasse comigo esse cara. Acho que ele já passou por aqui antes, o rosto me é familiar. Não o prendemos por algum motivo. Dê uma olhada.
Ela avaliou as imagens. Pediu para que ele aumentasse o zoom. Percebendo o perfil do cara, ela reparou na tatuagem no ombro direito.
- Tem razão. Ele prestou depoimento aqui. Acho que foi a umas três semanas. O caso que entregamos para a narcóticos.
- Sim! Resolvemos o assassinato. Ele não foi preso porque tinha um álibi, mas trabalhava vendendo drogas. Obrigado, Beckett. Vou contatar o meu conhecido na delegacia de narcóticos – ela sorriu voltando para sua mesa. Sua primeira reação foi sorrir.
Sobre sua mesa, próximo ao computador havia um copo do seu café e um saquinho com um pequeno laço. Colado ao copo, um post-it amarelo com os dizeres.
“Seu café favorito e uma pequena dose de menta. Infelizmente não pude misturar. 62, detetive. Pelo jantar. RC”
Rindo, ela tirou o post-it mantendo-o preso a um dos dedos e levou o copo até os lábios sorvendo o liquido quente. Sentiu uma presença em suas costas, ao virar-se deu de cara com ele.
- Bom dia, detetive Beckett. É uma bela manhã para saborear um café, não? – ele sorria.
- Sim, especialmente se tiver um toque de menta.
XXXXXX 
Em outro canto de Manhattan, a manhã iniciava-se também para Dana. Ao chegar em seu consultório, teve uma grata surpresa. Em cima da mesa, encontrou um buquê enorme de flores e uma caixa do melhor chocolate belga com um cartão. Intrigada, ela pegou o envelope endereçado a ela, sentou-se em sua cadeira, levou uma das trufas na boca e leu o que estava escrito no pequeno bilhete.
“Querida Dana,
Obrigado por sua orientação e conselhos, sem eles eu não teria conseguido ajudar a pessoa que mais amo na vida. Também quero agradecer por cuidar dela tão bem quanto eu e claro, pelo delicioso jantar que pude saborear na companhia de Kate. O discurso de sinceridade e a razão do mesmo acontecer devo a você.
Você não apenas tem em mim um admirador, mas também um amigo. Conte comigo para o que precisar.
Com amor, Rick Castle.
PS.: Não me importo se continuar fazendo elogios a minha pessoa e me proporcionando jantares. Acho que você já tem o posto de madrinha quando subirmos ao altar. Não desisti disso. É como dizem a terceira vez... é definitivamente a que vale. “

Ela ria da nota. Essa era uma ótima forma de começar o dia, elogios, chocolates e a certeza que dois apaixonados começavam a caminhar pela estrada a procura de algo diferente e não tardariam a fazer disso o verdadeiro encontro para o resto de suas vidas.    

Continua....

3 comentários:

CYBERBULLYING NÃO disse...

Simplesmente incrível! Fico imaginando como será sua versão de Always, mal posso esperar!

rita disse...

A cada capítulo melhora e muito! Esperando ansiosa a postagem no qual eles se entreguem ao amor que sentem um pelo outro. Abraços.

Silma disse...

Tão amor esse capítulo 😍